Fotografia: Fototeca de Guimarães
Encontrei casualmente no blogue "Fototeca de Guimarães" esta fotografia da "Casa das Gravatas" um estabelecimento comercial no Largo do Toural, em Guimarães, que está fortemente ligado às minhas mais antigas recordações de infância.
A "Casa das Gravatas" era uma sociedade entre o meu avô, Luís Carvalho, e o senhor Aníbal Dias (Avô de amigos meus de infância) e manteve-se em actividade durante cinquenta anos sempre no mesmo local e com o mesmo ramo de negócio.
Que basicamente era constituído por produtos para homem.
Gravatas (daí o nome), chapéus, camisas, camisolas, meias, perfumes, águas de colónia, cachecóis, desodorizantes, luvas e mais alguns artigos do género que tinham uma clientela certa e que dava ao estabelecimento um movimento permanente.
Lembro-me bem de ainda miúdo nas vindas da escola e depois do liceu passar muitas vezes por lá para ir lanchar com o meu avô ao "Café Oriental" (esse estabelecimento único estupidamente destruido para dar lugar a uma agência bancária) e depois da desaparição deste ao "Café Toural " ou ao "Milenário" que eram os estabelecimentos de restauração mais típicos do Toural.
Mas a recordação mais viva que tenho é mesmo de estar na "Casa das Gravatas" a ouvir o meu avô, o sócio e os amigos de ambos a discutirem futebol em autênticas tertúlias vitorianas que tinha à segunda feira a sua expressão mais alta nos comentários aos jogos do dia anterior.
Foi lá que ouvi expressões que nem sabia o que significavam como "back", "corner", "liner", "off side", "keeper",que faziam parte de uma terminologia futebolística ainda muito usada nos anos sessenta, de forte tendência inglesa, mas que depois cairam em completo desuso e hoje as gerações mais novas nem as associam ao futebol propriamente dito.
E para mim era um encantamento ouvir falar do Mendes, do Peres, do Pinto, do Caiçara, do Roldão, que sabia quem eram, porque já ia ao futebol , mas também as recordações de outros que nunca vi jogar como o Edmur, o Carlos Alberto, o Ernesto, o Silveira, o Ricoca, o Machado e que nessas tertúlias eram muitas vezes lembrados como grandes jogadores que tinham vestido a camisola do Vitória e que muito jeito teriam dado no domingo anterior se o resultado tivesse sido negativo.
Na "Casa das Gravatas", ouvindo essas conversas (e tantas foram), aprendi a conhecer melhor o Vitória e os valores que lhes estavam e estão subjacentes completando uma educação vitoriana que vinha do meu Pai e do meu Avô desde a mais tenra idade.
No final dos anos setenta o meu avô e o sócio, depois de uma vida de trabalho, resolveram reformar-se e gozarem um justo descanso pelo que a "Casa das Gravatas" fechou perdendo asssim o Toural, e Guimarães, um dos seus mais típicos estabelecimentos comerciais.
Mas ficou na memória para toda a vida de quem a conheceu e frequentou.
Depois Falamos.
P.S. Dito isto não será difícil perceber de onde vem o meu gosto por gravatas.
2 comentários:
Tem ideia das marcas de gravatas que vendiam na loja do seu avô?
Caro Anónimo:
Não faço ideia.
Das camisas lembro-me que uma das marcas era TABU.
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