segunda-feira, maio 04, 2020

Os Reis Magos

O meu artigo desta semana no zerozero.
Pode parecer que falar dos Reis Magos logo a seguir à Páscoa é estranho mas os insondáveis caminhos do futebol português levam a que aquilo que noutro contexto podia considerar-se  insólito aqui acabe por fazer sentido.
Como se sabe os Reis Magos da antiguidade, Baltasar, Gaspar e Belchior ter-se-iam dirigido a Belém, guiados por uma estrela, para  ofertarem ouro, incenso e mirra a um Jesus Cristo acabado de nascer em representação dos seus povos.
Provavelmente mais lenda do que outra coisa qualquer.
Cá a história é um pouco diferente ou não estivessemos em Portugal onde a improvisação é regra.
Os Reis Magos não foram a Belém mas a S. Bento, não se chamavam Baltasar, Gaspar e Belchior mas Jorge, Luís e Frederico, não foram guiados por uma estrela nos céus mas sim por umas estrelas que na terra dirigem a FPF.
Quanto aos presentes não levavam incenso (embora não lhes falte tão incensados são pela generalidade da comunicação social), ao invés de mirra levaram o Proença que foi o que lhes arranjaram à última hora e quanto ao ouro não levavam nenhum mas iam com a firme intenção de trazerem quanto pudessem.
E se os Reis Magos que foram a Belém são suspeitos de serem uma lenda burilada ao longo dos tempos já quanto aos Reis Magos que foram a S.Bento esses são bem reais (em vários sentidos do termo) porque de lenda nada tem.
Contudo foi nos presentes que o problema se pôs, põe e vai continuar a pôr tanto quanto é possível prever face à reacção dos “súbditos” que se fizeram por eles representar mas não gostaram do resultado obtido pela régia comitiva.
Pelo menos aqueles que sobre ela se pronunciaram.
Porque tendo enviado os Reis Magos a S.Bento, numa altura de prolongada crise originada por uma pandemia que trouxera aos pequenos reinos e grande reinos enormes problemas financeiros, a expectativa dos pequenos reis dos pequenos reinos era que a luzidia presença dos Reis Magos soberanos dos grandes reinos tivesse como resultado a obtenção de ouro com fartura que ajudasse a resolver os problemas de todos e a ultrapassagem da crise com o mínimo de dor possível.
Qual não foi o seu espanto, a sua desilusão, a sua fúria até, quando constataram que os Reis Magos enviados em nome de todos, com tudo de submissão, de subserviência, de ajoelhamento, de perda de soberania dos pequenos reinos que  isso representava, uma vez postos perante o “Deus menino” trataram foi de resolver a sua vidinha, providenciar para que os problemas dos seus grandes reinos fossem resolvidos e os outros que se entendessem com o tal Proença que foi em vez da mirra!
Caso para dizer que tiveram o que mereciam porque pese embora a dimensão dos reinos ser diferente, o número de habitantes diverso, as ambições proporcionais às respectivas realidades e o seu currículo de conquistas incomparável todos merecem respeito por igual e os problemas maiores ou menos de cada merecem um tratamento em plano de absoluta igualdade com todos os outros sendo que os primeiros a deverem velar por isso são os respectivos reis ao invés de  entregarem a defesa dos  destinos dos seus reinos a quem manifestamente (e era tão fácil de prever) não tinha qualquer outro interesse neles que não fosse o poderem  reivindicar em nome de muitos para depois poderem receber em nome de três.
Precisamente dos três reinos dos três Reis Magos.
Uma realidade aliás já conhecida, bastas vezes repetida, mas que os pequenos reis dos pequenos reinos de agora, a exemplo dos seus antecessores ao longos dos anos, teimam em não aprender de uma vez por todas.
E por isso o “ouro” vindo de S.Bento, ou a vir porque em Portugal nunca fiando, consagra uma solução que serve alguns interesses, poucos, lesa outros, muitos, e globalmente acabará por não servir a ninguém por enfraquecer uma causa que devia ser comum a todos mas não é e, por este caminho, nunca será.
Razão tem, com profundo conhecimento de causa (e das causas) diga-se de passagem, uma das estrelas que guiou os Reis Magos até S.Bento, para a adoraçao aos “Deus menino” seguida do “cravanço” possível , quando escreveu depois dessa peregrinação que “o futuro do futebol não está garantido” (sic).
Ai não está não!

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