Pode parecer que falar dos Reis Magos logo a seguir à Páscoa é estranho mas os insondáveis caminhos do futebol português levam a que aquilo que noutro contexto podia considerar-se insólito aqui acabe por fazer sentido.
Como se sabe os Reis Magos da antiguidade, Baltasar, Gaspar e Belchior ter-se-iam dirigido a Belém, guiados por uma estrela, para ofertarem ouro, incenso e mirra a um Jesus Cristo acabado de nascer em representação dos seus povos.
Provavelmente mais lenda do que outra coisa qualquer.
Cá a história é um pouco diferente ou não estivessemos em Portugal
onde a improvisação é regra.
Os Reis Magos não foram a Belém mas a S. Bento, não se chamavam
Baltasar, Gaspar e Belchior mas Jorge, Luís e Frederico, não foram guiados por
uma estrela nos céus mas sim por umas estrelas que na terra dirigem a FPF.
Quanto aos presentes não levavam incenso (embora não lhes falte tão
incensados são pela generalidade da comunicação social), ao invés de mirra
levaram o Proença que foi o que lhes arranjaram à última hora e quanto ao ouro
não levavam nenhum mas iam com a firme intenção de trazerem quanto pudessem.
E se os Reis Magos que foram a Belém são suspeitos de serem uma lenda
burilada ao longo dos tempos já quanto aos Reis Magos que foram a S.Bento esses
são bem reais (em vários sentidos do termo) porque de lenda nada tem.
Contudo foi nos presentes que o problema se pôs, põe e vai continuar a
pôr tanto quanto é possível prever face à reacção dos “súbditos” que se fizeram
por eles representar mas não gostaram do resultado obtido pela régia comitiva.
Pelo menos aqueles que sobre ela se pronunciaram.
Porque tendo enviado os Reis Magos a S.Bento, numa altura de prolongada
crise originada por uma pandemia que trouxera aos pequenos reinos e grande
reinos enormes problemas financeiros, a expectativa dos pequenos reis dos
pequenos reinos era que a luzidia presença dos Reis Magos soberanos dos grandes
reinos tivesse como resultado a obtenção de ouro com fartura que ajudasse a
resolver os problemas de todos e a ultrapassagem da crise com o mínimo de dor
possível.
Qual não foi o seu espanto, a sua desilusão, a sua fúria até, quando
constataram que os Reis Magos enviados em nome de todos, com tudo de submissão,
de subserviência, de ajoelhamento, de perda de soberania dos pequenos reinos que
isso representava, uma vez postos
perante o “Deus menino” trataram foi de resolver a sua vidinha, providenciar
para que os problemas dos seus grandes reinos fossem resolvidos e os outros que
se entendessem com o tal Proença que foi em vez da mirra!
Caso para dizer que tiveram o que mereciam porque pese embora a
dimensão dos reinos ser diferente, o número de habitantes diverso, as ambições
proporcionais às respectivas realidades e o seu currículo de conquistas
incomparável todos merecem respeito por igual e os problemas maiores ou menos
de cada merecem um tratamento em plano de absoluta igualdade com todos os
outros sendo que os primeiros a deverem velar por isso são os respectivos reis
ao invés de entregarem a defesa dos destinos dos seus reinos a quem manifestamente
(e era tão fácil de prever) não tinha qualquer outro interesse neles que não
fosse o poderem reivindicar em nome de
muitos para depois poderem receber em nome de três.
Precisamente dos três reinos dos três Reis Magos.
Uma realidade aliás já conhecida, bastas vezes repetida, mas que os
pequenos reis dos pequenos reinos de agora, a exemplo dos seus antecessores ao
longos dos anos, teimam em não aprender de uma vez por todas.
E por isso o “ouro” vindo de S.Bento, ou a vir porque em Portugal
nunca fiando, consagra uma solução que serve alguns interesses, poucos, lesa
outros, muitos, e globalmente acabará por não servir a ninguém por enfraquecer
uma causa que devia ser comum a todos mas não é e, por este caminho, nunca
será.
Razão tem, com profundo conhecimento de causa (e das causas) diga-se de passagem, uma das estrelas que guiou os Reis Magos até S.Bento, para a adoraçao
aos “Deus menino” seguida do “cravanço” possível , quando escreveu depois dessa
peregrinação que “o futuro do futebol não está garantido” (sic).
Ai não está não!
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