No passado sábado à noite não estava em Lisboa nem no Porto, nem em Esposende ou Guimarães.
Estava em Cabeceiras de Basto onde, aliás, vou com grande frequência por razões familiares e é terra que conheço bem.
No final de jantar fui a um café que frequento com alguma regularidade para tomar o indispensável...café e constatei que o mesmo, bem ao contrário do habitual nas noites de inverno, estava quase cheio com duas dezenas de pessoas interessadissimas em acompanharem a transmissão televisiva do Porto-Benfica que tinha começado há escassos minutos.
Tomei o café e deixei-me ficar quase até ao final da primeira parte ,embora o meu interesse no referido jogo fosse diminuto (ainda por cima de barriguinha cheia com os sete golos do Vitória em Famalicão) , observando com interesse o comportamento daqueles que quase faziam das mesas do café as bancadas do estádio do "Dragão".
A grande maioria era pelo Benfica , alguns pelo Porto (não mais de meia dúzia incluindo o dono do café mas esse prudentemente não se manifestava),mas todos eles imbuídos daquele fanatismo tão próprio de quem é adepto televisivo dos clubes a quem chamam "grandes" mas que dos respectivos estádios apenas conhece a existência sem lhe acrescentar a frequência.
Os famosos adeptos de sofá ou de mesa de café.
Claro que a falta de interesse pelo jogo aliada a uma enorme falta de paciência para aturar fanatismo, ainda por cima ignorante, não me permitiu sequer continuar no café até ao fim da primeira parte e optei por dar uma volta pelas ruas da vila que permitiu fazer exercício a par de melhorar substancialmente a higiene mental.
E isso permitiu-me uma constatação curiosa embora sem nenhuma novidade.
Cabeceiras de Basto fica a 100 klm do Porto e a 400 klm de Lisboa , era uma noite de inverno nada rigorosa e a vila não prima nesta altura do ano por grande movimento nocturno, mas a verdade é que não se via vivalma na rua.
Nem a pé (cruzei-me apenas com uma pessoa em todo o percurso que fiz) , nem de carro, era um deserto total que contrastava com os vários cafés por onde passei que estavam repletos de pessoas a verem o futebol e imagino que com o mesmo fanatismo daquelas que estavam no café onde tinha estado.
E sem ter qualquer duvida que a grande maioria era pelo Benfica como acontece em muitos sítios deste país.
E interroguei-me pela milésima vez, sabendo que nunca encontrarei uma resposta que me satisfaça cabalmente, qual a razão de as pessoas serem por um clube que fica a centenas de quilómetros, que a esmagadora maioria nunca terá visto jogar ao vivo e menos ainda terá ido ao seu estádio, ao invés de apoiarem o clube da sua terra ou ao menos um clube da sua região com o qual teriam seguramente muito mais afinidades e uma proximidade incomparável.
É o ganhar mais vezes que os outros?
Será, mas é uma pobre razão a todos os níveis.
Especialmente quando as pessoas que se ufanam de ser por esse clube porque ganha mais vezes não perdem um minuto a interrogar-se sobre como muitas dessas vitórias são conseguidas seguramente ao arrepio dos princípios de vida e dos valores que muitas delas honradamente possuem.
E isto se se aplica à maioria dos que enchiam esses cafés no apoio a um dos clubes é igualmente válido para os que neles estavam em minoria que fique bem entendido.
Entender o "vale tudo" como algo de legítimo para que os seus clubes ganhem de qualquer maneira é de uma pobreza moral horripilante mas ajuda a perceber porque neste país há tantos a quererem combater a corrupção da boca para fora mas depois na realidade muito pouco é feito.
Porque combater a corrupção dos outros é fácil mas já quando ela toca no que nos e´caro torna-se uma grande chatice.
Mergulhado nestas reflexões , e noutras que não exprimo porque seria...demais, continuei o meu passeio de sábado á noite até inopinadamente ter ido dar à rua identificada pela fotografia acima publicada.
Aí desisti e fui para casa.
"Isto" ainda está pior do que às vezes se pensa.
Depois Falamos.
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