Por vezes há comparações que são quase impossíveis de não fazer, pelo menos nalguns parametros, e que tem na sua origem a dificuldade em compreender as decisões eleitorais dos portugueses em eleições legislativas.
Uma delas é entre os partidos Aliança e Livre.
A Aliança e Livre foram fundados por personalidades que anteriormente tinham militado noutros partidos (Pedro Santana Lopes no PSD e Rui Tavares no Bloco de Esquerda) e nos seus núcleos fundadores reuniram pessoas que acompanharam os líderes na saída dos anteriores partidos a par de muitos cidadãos que nestes partidos fizeram a sua primeira experiência de militância política.
Ambos, Aliança e Livre, não conseguiram a eleição de deputados nas primeiras eleições a que se apresentaram com o Livre a não eleger nas Europeias de 2014 e nas Legislativas de 2015 e a Aliança nas Europeias e Legislativas de 2019 com a curiosidade de os scores eleitorais em termos de legislativas terem sido semelhantes ainda que o Livre em 2015 tivesse uma votação ligeiramente inferior à da Aliança em 2019.
A verdade é que o Livre resistiu aos insucessos de 2014 e 2015, perseverou, e nas legislativas deste ano conseguiu pela primeira vez eleger uma deputada para o Parlamento mais por força de algumas características muito especificas da candidata do que pela qualidade das propostas apresentadas aos portugueses.
Passados apenas três meses das eleições sabe-se como as coisas estão entre partido e deputada perante a perplexidade dos eleitores do partido que seguramente não entendem as guerras e guerrinhas que por lá se vão travando.
Acresce a isto que o Livre não tem uma presença efectiva em todo o país (recordar-se-ão os mais atentos que até andou na net a tentar arranjar candidatos às legislativas) e é essencialmente um partido acantonado em Lisboa e Porto em volta de duas ou três pessoas o que leva a que ao fim de cinco anos de vida faça um congresso com uma centena de participantes!
A Aliança também não elegeu candidatos nas primeiras eleiçoes a que concorreu, contra a expectativa geral que apontava noutro sentido, mas é um partido implantado em todo o país, com actividade política em todos os distritos, que quatro meses depois de legalizado fez um congresso com quase mil participantes e ainda no passado fim de semana fez uma convenção autárquica com uma centena de pessoas de todo o país.
Acresce a isso que antes e depois das eleições (mas tem especial relevo o depois) toma regularmente posição sobre as principais questões do país e ainda recentemente fez uma análise critica e exaustiva do Orçamento de Estado para 2020.
O que quero com isto dizer?
Muito simples.
Que os eleitores tomam por vezes decisões estranhas como esta de eleger uma deputada com base nos tais critérios muito específicos, sem olharem a programas nem à existência real do partido pelo qual se candidatou, ao mesmo tempo que recusam essa possibilidade a um partido com existência nacional, com posições de grande coragem como as tomadas sobre o novo aeroporto de Lisboa e que nas suas candidaturas não foi por modas momentâneas com tudo para correrem mal (como no Livre estão a correr) mas sim por escolhas criteriosas sem riscos de falta de lealdade ao partido.
Esperemos que esta triste história da deputada Joacine Moreira e do Livre sirva, ao menos, para no futuro os eleitores serem mais criteriosos, mais exigentes, mais rigorosos na hora de entregarem os seus votos a quem quer que seja independentemente de modas e "características especificas" dos candidatos
Mas o exemplo do Livre que resistiu a dois insucessos e conseguiu agora a primeira representação parlamentar é também um factor de esperança para a Aliança que um ano e pouco depois da sua fundação tem uma estrutura nacional e um caminho já feito que são bem superiores aqueles que o Livre ( e outros partidos recentes) tinha com esse tempo de vida e tem ainda agora.
Para além de ter em todo o país um conjunto de militantes e simpatizantes que são o sustentáculo de todos os sonhos e cujo potencial permite ter como expectativa um futuro político auspicioso se forem aproveitados na plenitude das suas capacidades e no âmbito de uma indispensável motivação.
Em suma ,e face ao que se vai vendo no conjunto do panorama político português, diria que Aliança tem tudo para continuar a crescer enquanto o Livre me parece que após o efémero sucesso se encontra já na rampa inclinada que o vai devolver à quase clandestinidade.
A ver vamos.
Depois Falamos
P.S. Esta análise cinge-se praticamente à comparação entre Aliança e Livre mas é evidente que no percurso que se vaticina a ambos pode ter alguma influência aquilo que se vai passar noutras forças políticas em tempo de decisões como o PSD (ups...) , o CDS e o PCP.
Sem comentários:
Enviar um comentário