Não será segredo para ninguém que ande minimamente atento o facto de o
futebol português ser um daqueles em toda a Europa em que é maior a percentagem
de participação de futebolistas estrangeiros.
Nem sempre foi assim, é verdade, e durante muitos anos existia uma
limitação à inscrição de futebolistas que não possuíssem a nacionalidade
portuguesa com a excepção única dos nascidos no Brasil em função de acordos
então existentes e de âmbito para lá do meramente desportivo.
Era assim em Portugal e era assim na Europa onde durante muitas
décadas , e nos principais campeonatos, era muito limitada a autorização à
inscrição dos não nascidos no respectivo país que raramente podiam ser mais de
dois e depois três numa fase já “pré Bosman”.
Recordo que em 1966 a Itália, ao tempo o principal campeonato da
Europa em termos competitivos e financeiros, chegou a fechar as fronteiras
proibindo totalmente a participação de estrangeiros no respectivo campeonato
como consequência da desastrosa presença da “squadra azurra” no Mundial de
Inglaterra.
Grande prejudicado dessa medida foi o português Eusébio, ao tempo um
dos dois ou três melhores jogadores do mundo ( a par de Pelé e George Best) ,
que tendo tudo acertado para se transferir para o Inter acabou por ver a
transferência gorada por essa proibição perdendo a possibilidade de ir jogar
para um país onde seria pago em função do seu valor e onde jogaria num
campeonato e num clube à altura da sua extraordinária qualidade.
Tal como bastantes anos mais tarde, já com o mercado aberto de forma
limitada, o fabuloso Milan de Arrigo Sachi tinha no plantel quatro estrangeiros
de grande valia (Van Basten, Gullit, Rijkaard e Papin) mas só podia utilizar
três em simultâneo o que dava naturais dores de cabeça ao seu treinador e
impedia a equipa de se apresentar na sua máxima força.
Ou como não recordar aquela final da Liga dos Campeões de 1994 entre o
Milan (que curiosamente completa hoje a bela idade de 120 anos) e o Barcelona
que os italianos venceram por sensacionais 4-0 e em que ficou para a pequena
história a decisão tomada por Johan Cruyff, treinador dos espanhóis, de na
opção obrigatória por três estrangeiros ter escolhido Romário, Koeman e
Stoichkov (quem o poderia criticar?) deixando de fora Michael Laudrup
precisamente o jogador que Fábio Capello , treinador do Milan, mais temia em
termos de organização do jogo do Barcelona.
A limitação de estrangeiros tinha esse problema de condicionar as
equipas na utilização de todos os seus melhores recursos, é verdade, mas também
defendia os futebolistas nacionais e contribuía de alguma forma para um menor
desiquilibrio entre os mais fortes e os mais fracos em termos de capacidade
financeira.
Um ano e pouco depois dessa célebre final de Atenas, atrás referida,
foi implementada a chamada “Lei Bosman” e o panorama do futebol mudou
radicalmente com o fim da limitação dos jogadores estrangeiros nos campeonatos
europeus e a sua invasão por futebolistas oriundos um pouco de todo o mundo mas
com natural preponderância dos sul americanos.
Naturalmente que também entre países europeus a circulação de
futebolistas se tornou absolutamente livre com os principais campeonatos (mas
também os outros em boa verdade) a serem
inundados por futebolista vindos da Europa de leste e de paises aos quais por
razões políticas terminadas em 1989 estava vedada a exportação de jogadores.
Portugal, sempre atrasado a implementar o que é bom mas pioneiro na importação do que
é mau, tornou-se desde então um país preferencial para jogadores estrangeiros
que afluíram em número absolutamente disparatado ao nosso futebol, desde a
primeira divisão aos campeonatos distritais, sem quaisquer critérios de
qualidade ou de exigência bastando o ser estrangeiro para ter as portas abertas
de par em par.
Ao ponto de ao longo dos anos se assistir ao deprimente espectáculo de
alguns clubes terem no respectivo plantel mais estrangeiros que portugueses e
até ao exagero de alinharem em jogos de competições nacionais e internacionais
sem nenhum futebolista português no seu onze inicial!
A titulo de exemplo bastará dizer que esta época, só na na primeira
liga há mais de 300 estrangeiros numa percentagem que ronda uns vergonhosos 65%
do total de jogadores inscritos.
Isto num país que já teve três futebolistas a serem considerados “o
melhor do mundo” (Eusébio, Figo e Ronaldo) , um dos quais por cinco vezes, e
que é o actual campeão da Europa em título.
Para lá dos títulos europeus e mundiais conquistados pelo seu futebol
de formação.
É absolutamente inacreditável que um país onde existe tanto talento
natural para o futebol, que exporta alguns grandes jogadores para os principais
campeonatos europeus, exista uma tão elevada percentagem de estrangeiros
inscritos sendo que boa parte deles não tem o talento e a capacidade dos
jogadores portugueses.
Ao ponto de até as equipas B, em teoria criadas para darem
oportunidades de evolução aos jovens jogadores da formação dos clubes, se terem
tornado em autênticos alfobres de jovens
jogadores estrangeiros oriundos , em boa parte, de África.
E por isso urge modificar este estado de coisas.
Pondo termo a esta importação desenfreada de jogadores, acabando com
este paraíso para os empresários em que se transformou o futebol português,
substituindo os dirigentes que trabalham
para a comissão por dirigentes que trabalhem para os clubes e deem
oportunidades à verdadeira formação.
Sob pena de tudo que de bom vem sendo feito, por alguns clubes e pela
FPF, não servir de nada e Portugal caminhar a prazo para a irrelevancia
futebolística.
Sem comentários:
Enviar um comentário