Se há áreas que nasceram bem distintas mas tem vindo a convergir
aceleradamente, quando não a misturar-se de forma obscena, elas são a política
e o desporto ao ponto de muitas vezes não sabermos onde começa uma e acaba a
outra.
Com a política a perseguir a popularidade que o desporto e as suas
grandes figuras lhe podem trazer e com o desporto a ver, muitas vezes mas nem
sempre, na política o recurso onde pode ir buscar os recursos que lhe faltam.
Entenda-se o dinheiro.
Não é questão nova bem entendido.
Porque tendo nascido separadas e bem separadas a aproximação entre ambas as áreas começou a
tornar-se visível nos anos trinta do século passado com um enfoque muito
especial nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, instrumentalizados até à
medula pelo regime nazi de Adolf Hitler para tentar provar a supremacia da raça
ariana sobre todas as outras demonstrando assim a supremacia do povo alemão.
Sabemos que não foi bem assim, que os seus intuitos ficaram bem longe
de serem alcançados muito por força de um certo Jesse Owens, mas foi a primeira
tentativa visível de misturar a política com o desporto.
E como as ditaduras podem divergir na ideologia mas convergem muitas
vezes nos métodos, propósito e objetivo, todos conhecemos o que foram as
décadas seguintes com a URSS e os então países satélites do lado de lá da “coritna
de ferro” a usarem o desporto como arma de propaganda ideológica e a tentarem
traduzir vitórias olímpicas e em campeonatos europeus e mundiais (em todas as
modalidades sem excepção) como o resultado dos benefícios trazidos pelo
socialismo à prática desportiva.
Sabe-se hoje, como aliás já se desconfiava na altura, que essa
relativa supremacia dos atletas de Leste em JO e outras provas assentava , em
muitos casos, em duas enormes mentiras que o tempo se encarregou de
desmascarar:
No falso amadorismo e no uso de doping.
Com o doping a potenciar as capacidades desportivas dos atletas, ou
seja fazendo batota e adulterando a verdade desportiva das competições, e o
mito do amadorismo a querer fazer crer que mesmo sendo amadores os atletas “socialistas”
eram melhores que os profissionais dos países capitalistas.
Como todas as ditaduras, sejam de esquerda sejam de direita, assentam
em mentiras eram, afinal, apenas mais duas que a URSS e os países satélites
usaram descaradamente até ao dia em 1989 em que todas as suas mentiras caíram
por terra.
Em democracia, sejamos claros, também não há inocentes na matéria e
por isso não admira que de governos a autarquias, passando por chefes de
Estado, todos gostem de capitalizar os triunfos desportivos de selecções ,
clubes e atletas procurando fazer reverter a favor dos agentes políticos o
capital de simpatia, entusiasmo e paixão que as vitórias desportivas sempre
geram nas populações.
Não é um fenómeno exclusivamente português, embora por cá os exageros
sejam levados até ao ridículo puro e simples, porque todos constatamos que
noutros países os sucessos desportivos também são aproveitados pelos
governantes para a “selfiezinha” com os vencedores do momento.
Mas Portugal é Portugal.
E já nem falando do caso daquele ex primeiro ministro que em campanha
eleitoral pagou (pagamos queria eu dizer...) bem pago um mediático pequeno
almoço com um futebolista então no galarim, o que constituiu um dos tais
exageros levados ao ridículo, podemos de norte a sul constatar que se
multiplicam os actos de veneração do poder político ao fenómeno desportivo.
É no futebol, é no basquetebol, no hóquei em patins, no voleibol, no
ténis, no atletismo, na canoagem, no polo aquático e sei lá em quantas mais
modalidades que o sucesso desportivo,às vezes mínimo, dá logo direito a
recepção com pompa e circunstância na Câmara Municipal mais à mão.
Ainda recentemente tivemos o caso, que considero insólito, da selecção
nacional de futebol mal venceu a Liga das Nações ir a correr para a Câmara
Municipal do Porto como se esse fosse um ritual indispensável à conquista do
troféu.
Como já tivemos, em Guimarães, o facto deplorável de um troféu de
campeão nacional de juvenis (em futebol) conquistado pelo Vitória ser entregue no salão nobre da Câmara e não no
estádio D.Afonso Henriques perante os adeptos vitorianos como seria adequado.
E estes são apenas dois exemplos das centenas que seriam possíveis
dar.
Há política a mais no desporto.
E há um aproveitamento cada vez mais excessivo dos triunfos
desportivos para promover os agentes políticos que em muitos casos festejam
triunfos de clubes que nem são os deles e de modalidades a que jamais
assistiram a uma competição.
Quando, ao invés, nunca vi (e aí bem) um dirigente político ir
festejar um triunfo eleitoral para um estádio ou um pavilhão desportivo!
É preciso bom senso.
Especialmente dos dirigentes dos clubes e federações no permitirem os
aproveitamentos políticos dos triunfos desportivos.
É evidente que política e desporto, por muitas razões, não podem nem
devem ser compartimentos estanques da vida em sociedade.
Mas como está...é demais!
4 comentários:
Há mais de 15 dias que não existem comentários aos seus postes. Porque será ?
Caro Anónimo:
Ora aí está uma preocupação que me persegue.
Porque será? Será do guaraná?
Ou outra coisa será?
Ainda bem que apareceu o seu comentário a quebrar esse longo(em sua opinião) deserto de comentários.
Muito obrigado
Então vou comentar eu, e logo para discordar.
Não estou de acordo que todos as "colagens" do poder político ao desporto sejam aproveitamentos.
Ora vamos ver: os governantes, quer nacionais quer municipais, são representantes do povo que os elegeu.
Não será legítimo que, em representação desse mesmo povo, recebam e congratulem aqueles que representarem prestigiadamente o país ou o município?
Eu sinceramente acho que, além de ser legítimo, é mesmo uma obrigação. Por isso nunca me senti desconfortável que a minha câmara municipal receba o Vitória, sempre que o Vitória represente dignamente e com glória, a nossa terra.
Luso
Caro Luso:
Esteja sempre à vontade para discordar.
Por mim, sinceramente, acho que os festejos devem ser nos palcos das conquistas desportivas.
Só muito excepcionalmente devem ocorre rnoutros locais
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