Depois Falamos
Portugal, velha nação a caminho de se tornar milenar e com as
fronteiras mais antigas da Europa, é um país que foi forjado numa longuíssima
tradição monárquica a que se seguiram sessenta anos de ditaduras diversas e
depois quarenta anos, apenas, de uma democracia que também ela conheceu faces
diversas.
Portugal foi, pois, fruto dessa sua História criado e habituado a
cultivar diversos valores dos quais aquele que mais tempo durou foi sem
qualquer dúvida a do respeito ao “chefe”, a quem manda, a quem tem o poder.
Oitocentos anos de reis, mais uma longa ditadura assente, como quase
todas as ditaduras, no culto do chefe levaram a que apesar de alguns ventos
progressistas que sopraram nas últimas décadas ainda hoje neste país se viva
muito em função do que os chefes, seja a que nível for, querem. dedicam e
mandam.
E por isso somos, mesmo governados por uma desvairada geringonça em
que a extrema-esquerda tem um peso desproporcional ao seu peso eleitoral, um
país profundamente conservador nos seus usos e costumes.
Desde o futebol, onde ainda nem ao 25 de Abril chegamos, à política
onde cada vez mais as decisões dos órgãos colectivos tendem a ser submetidos à
vontade do chefe seja em que escalão for.
Seja o chefe primeiro-ministro, presidente de câmara, presidente de
junta de freguesia, presidente da distrital, presidente da concelhia e por aí
fora.
Com o natural efeito multiplicador de em torno de cada chefe existirem
os “chefezinhos”, e em torno destes outros “chefezinhos” ainda, não se sabendo
lá muito bem onde e como essa multiplicação acaba mas reconhecendo-se que esse
conservadorismo em volta da figura do chefe empobrece a qualidade da
democracia.
Não deixando de ser curioso que em 1975 os legisladores constituintes,
aquando da definição do sistema político a plasmar na Constituição de 1976,
fugiram do presidencialismo como o diabo da cruz (precisamente para quebrar
essa imagem do chefe tão associada à ditadura) e optaram por um sistema semi
presidencial com o governo a depender da confiança mas dando ao presidente da
república o poder de dissolução do parlamento naquilo a que se convencionou
chamar a “bomba atómica”constitucional.
E se é verdade que em sucessivas revisões constitucionais se tem
adequado o sistema à evolução dos tempos, nomeadamente com a retirada de
poderes ao presidente da república, é igualmente verdade que no que toca ao
aperfeiçoamento do sistema politico, nomeadamente nas leis eleitorais, tem
existido um enorme receio de proceder às radicais mudanças que os novos tempos
exigem de molde não só a que as leis eleitorais correspondam à realidade do
país mas também para que contribuam para trazer mais eleitores às urnas.
O tal conservadorismo no seu pior!
E se hoje entendo que a lei eleitoral que preside à eleição do
presidente da república não necessita de alterações por estar bem assim de
igual modo estou convicto que quer parlamento quer autarquias locais tem de
sofrer profundas alterações nos seus sistemas eleitorais.
Todos, ou quase, reconhecemos que existem hoje deputados que são
eleitos no relativo anonimato de uma lista de que fazem parte e que em bom
rigor para pouco mais servem do que para discursarem sobre o feriado do
Carnaval ou para na sua actividade politica local tomarem atitudes ao arrepio
do mais elementar bom senso, decoro e respeito por situações que não podem nem
devem ser politizadas, o que obviamente empobrece e desprestigia a função.
E por isso entendo, de há muito, que a lei eleitoral para a assembleia
da república deve ser alterada com a criação de círculos uninominais onde para
se ser eleito é preciso ter currículo de cidadania e ser conhecido dos
eleitores e para se ser reeleito é precisar mostrar serviço quer no parlamento
quer no circulo eleitoral.
E quando assim for parece-me que não fará qualquer sentido estender a
limitação de mandatos ao exercício do cargo de deputado precisamente ao
contrário do que acontece hoje em que o estabelecimento dessa limitação já peca
por tardio.
Também no que toca às autarquias é mais que tempo de aperfeiçoar a
lei.
Desde logo estendendo a limitação de mandatos também aos vereadores e
aos membros dos executivos das freguesias que, ao contrário dos seus
presidentes, podem exercer os cargos a vida toda.
Mas também aumentando os poderes de fiscalização e a periodicidade das
assembleias municipais, deixando de nelas terem assento os presidentes das
juntas de freguesia, instituindo os executivos monocolores sem a presença de
vereadores da oposição que é uma figura que não faz sentido num executivo e
permitindo que o presidente de câmara possa remodelar o seu executivo com a
mesma liberdade e campo de escolha com que um primeiro-ministro remodela o
governo.
Admito que algumas destas ideias podem ser polémicas mas,
sinceramente, é com medidas concretas e de fundo que se vai acabando com o tal
conservadorismo que mina a qualidade da nossa democracia.
E já se perdeu demasiado tempo…
2 comentários:
Caro Cirilo, talvez esteja aqui a razão para a arbitragem de Domingo: http://www.maisfutebol.iol.pt/taca-da-liga/sp-braga/pedro-martins-o-arbitro-tiago-martins-humilhou-e-coagiu-o-rio-ave
Há malta muito rancorosa.
Cumprimentos,
Caro Pedro:
Pode bem ser. Não me lembrava desse episódio
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