Não existe, naturalmente, uma bitola universal que permita medir a
qualidade da democracia, o sentir democrático das pessoas e a prática
civilizada de uma convivência em sociedade que permita ultrapassar as naturais
divergências de opinião e posicionamento perante factos.
Cada um terá a sua.
Eu dou imenso valor à tolerância.
A tolerância com que se ouve, a tolerância com que se dialoga, a
tolerância com que ao entrarmos num debate nos permite estarmos receptivos à
opinião e aos pontos de vista com quem debatemos.
Essa tolerância inclui, embora de forma sempre capaz de ser melhorada,
o sermos capazes de aceitar a diferença, respeitarmos aquilo com que não
concordamos e acima de tudo capacitarmo-nos que quando há duas opiniões
razoavelmente diferentes sobre algo isso não significa que uma das opiniões
vise céu e a outra o inferno.
Creio que a democratização das opiniões expressas que atinge o seu
expoente na comunicação social e nas redes sociais ao mesmo tempo em que
permite a todos terem uma opinião publicada, mais que não seja no facebook ou
twitter, tem o perverso efeito colateral de exacerbar alguns tipos de
radicalismo, alguns fundamentalismo bem dispensáveis e fazer aumentar o grau de
intolerância tal a ferocidade com que se opina e a facilidade com que se
transforma quem não pensa da mesma forma num autêntico inimigo a abater.
Para tudo tem de haver um limite.
Mais que não seja a educação, o bom senso e a humildade de se saber
que nem sempre se tem razão e às vezes os “outros” também a tem.
Nos últimos dias, quer a nível nacional quer a nível local, tem
aparecido alguns fenómenos de intolerância que me custam a perceber embora
andando há tantos anos na vida pública, quer na política quer no desporto, já
consiga reduzir o espanto a níveis próximos da insignificância.
Um ex Presidente da República entendeu, mais de um ano após deixar
funções, publicar um livro sobre os dez anos em que por votações expressas,
claras e maioritárias dos portugueses exerceu esse cargo.
Fê-lo como já o tinha feito quando deixara o cargo de ministro das finanças
e depois o de primeiro-ministro por entender prestar contas aos portugueses da
forma como exercera os cargos.
Contou a sua versão, a sua verdade e naturalmente sujeita-se ao
contraditório de outros personagens que aparecem na narrativa e à crítica dos
leitores e dos comentadores políticos como é de bom tom em democracia.
Mas não tem que se sujeitar, nem ele nem ninguém seja de que área
politica for, ao chorrilho de mentiras, insultos, calúnias e invenções de que
foi alvo quer nas redes sociais quer por parte de alguns políticos com
responsabilidades, e alguns deles com frágeis telhados de vidro, desde que a
obra veio a público.
Seguramente que muitos deles nem o livro leram mas o ódio e o
ressabiamento contra o seu autor é de tal ordem que tiveram como primeira
prioridade insultar, mentir, caluniar, denegrir fosse de que forma fosse antes
de terem o rigor e a honestidade intelectual de lerem a obra.
Naturalmente que nas redes sociais, especialmente no facebook que é
terreno fértil para os cobardes, o fenómeno multiplicou-se para pior porque
anda por lá gente que de facto não tem os mínimos de educação, bom senso e
inteligência e para os quais “vale tudo”.
Mas mesmo tudo.
Naturalmente que esse fenómeno da falta de tolerância repercute-se
depois a nível local nas mais diversas áreas sociais assistindo-se a
demonstrações recentes de pessoas com responsabilidades em instituições de fins
diversos a aceitarem muito mal a critica, o contraditório, o afirmar de
opiniões diferentes.
Agindo como se as instituições fossem delas, olhando quem diverge como
perigosos agentes subversivos, arrogando-se de uma infalibilidade que nem o
Papa Francisco quer embora o Sumo Pontífice tenha com ele o dogma da
infalibilidade.
Em Guimarães é preciso mais tolerância, mais democracia, mais fair
play em várias áreas.
Porque Guimarães é de todos.
E todos querem, de forma diferente como é normal em democracia, o
melhor para o concelho e para as suas instituições.
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