O meu artigo desta semana no Duas Caras
A questão do estacionamento no centro histórico de Guimarães, e zonas
adjacentes, é quase tão antiga como a existência de automóveis na nossa cidade
passe o exagero.
De facto a ideia de se construir um grande parque de estacionamento na
zona central da cidade que servisse a zona comercial e os moradores que ainda
vão resistindo vem a ser discutida desde há décadas a esta parte sem que até
hoje tenha sido resolvida a contento.
Naturalmente que a questão do estacionamento é indissociável da
coragem e visão estratégica que nunca houve de olhar de frente a questão de
redefinir a circulação automóvel no centro da cidade e criar zonas apenas para
as pessoas.
Em imensas cidades europeias, e em muitas portuguesas, existem essas zonas
pedonais que se revelam de enorme importância quer para os negócios do comércio
tradicional quer para zonas de animação nocturna que funcionam como chamariz
para o turismo e para a animação
de centros históricos de outra forma muito mais vazios.
Mas em Guimarães é mais difícil e mais lento.
Num autarquia em que tradicionalmente o voto à esquerda é maioritário
subsistem formas de conservadorismo que emperram o progresso, mantém o status
quo e condicionam um poder local sempre muito sensível às questões do
descontentamento popular ainda que
transitório.
Recordo bem no tempo de António Xavier como presidente, e de Cândido
Capela Dias como vereador com a tutela
dessa área, quando tentaram a experiência pioneira de encerrarem ao trânsito a
rua de santo António (e apenas a titulo experimental…) e foram alvo de tamanha
contestação que tiveram de desistir da ideia.
Ainda por cima tratando-se de
uma Câmara liderada pelo PSD em minoria e em que embora contasse com a
colaboração do vereador da CDU tal não chegava para fazer frente a uma maioria
de bloqueio constituída por PS e CDS!
De lá para cá não me recordo de mais alguma vez se terem dado verdadeiros
passos nesse sentido e a História apenas regista o encerramento do trânsito
numa ou outra zona e apenas por períodos limitados de tempo geralmente à noite
e aos fins de semana.
Ao contrário de Braga, um município que o poder local socialista
outrora tanto gostava de citar e de que agora foge como o diabo da cruz, onde
no tempo do socialista Mesquita Machado (no PSD não temos nenhum problema em
atribuir mérito a quem o tem) foi tomada a decisão estratégica de enorme
relevância que foi a construção de um enorme parque de estacionamento da
avenida central e o encerramento definitivo ao trânsito de artérias tão importantes
como a rua de Souto, a rua dos Capelistas, a rua dr.Justino Cruz,a zona da
Arcada e a parte inferior da Av.Central criando uma enorme zona só para as
pessoas e, simultaneamente, um enorme centro comercial ao ar livre que muito
beneficiou o comércio tradicional.
Decisões tomadas há mais de vinte anos!
Por cá, bem, por cá nada disso aconteceu.
E o poder socialista ao mesmo tempo que foi implementando uns parques
e uns parquezinhos na periferia do centro, alguns dos quais escassamente
utilizados, foi adaptando o seu discurso à volatilidade das circunstâncias e à
predisposição de quem os ouvia a cada momento.
Desde a recusa liminar de um parque na zona Toural/Alameda, onde
fatalmente acabará por ser construído diga-se de passagem, à tese defendida ao
longo dos anos de que os parques existentes no estádio e na Alameda Alfredo
Pimenta pela sua capacidade resolviam o problema (pena os vimaranenses e quem
nos visita nunca terem confirmado essa peregrina tese com estatísticas de
ocupação convincentes…)até à penúltima actualização da sua posição vendendo uma
convicção, pelos vistos pouco sustentada, de que o futuro parque da rua de
Camões era a solução milagrosa e definitiva.
E isto foi dito, ouvido e registado em dezenas de reuniões de Câmara e
da assembleia municipal.
Mas eis que agora o poder socialista faz uma última (até à próxima é
claro…) actualização da sua posição quanto ao assunto revelando ter encomendado
um estudo sobre o estacionamento automóvel no município que posteriormente será
submetido a apreciação pública.
Pasme-se quem ainda o conseguir.
Depois de décadas perdidas com grave prejuízo do nosso comércio
tradicional e progressiva desertificação do centro da cidade, do assobiar para
o ar ignorando a importância de servir o centro
com estacionamento condigno e de proximidade, depois de tantas
intervenções de arranjo urbanístico em toda a zona património mundial que agora
podem ser postas em causa pelos resultados desse estudo ( e o dinheiro que elas
custaram é positivamente atirado fora), depois de tanto tempo a fechar os olhos
a evidências a câmara socialista em ano de eleições resolve mandar fazer um
estudo que devia estar feito há trinta anos quiçá com receio de que fosse a
oposição a, uma vez mais, levantar essa bandeira como tantas vezes já o fez no
passado quer individual (vereadores e deputados municipais) quer colectivamente
através de tomadas de posição dos partidos.
Guimarães, mais dia menos dia , terá o seu centro histórico servido
por um estacionamento subterrâneo adequado às suas necessidades em termos de
dimensão e eficaz nos propósitos de servir o comércio tradicional e os
moradores.
E esse dia chegará tão mais depressa quanto os vimaranenses
“estacionarem” por uns bons anos este cansado poder socialista e derem a
oportunidade de governar o concelho a quem tem ideias, energia e capacidade de
fazer diferente.
1 comentário:
Caro Luis,
Estando muitas vezes de acordo contigo em vários assuntos, vou desta vez discordar, pois não me parece que a construção de um parque de estacionamento subterrâneo seja a solução do problema da desertificação do centro histórico.
Numa altura em que a cidade se prepara para a candidatura a Capital Verde Europeia, eu preconizo outra solução, que me parece bem mais eficiente e amiga do ambiente.
A cidade deve pensar de maneira efectiva na mobilidade inteligente e ambientalmente sustentável das pessoas. Tal como acontece em muitas cidades europeias, o que deve ser feita é uma aposta séria, credível e fiável nos transportes públicos (eléctricos), com mais linhas, mais veículos e mais frequentes e fiáveis horários.
E, quem sabe, porque não isentar as pessoas de pagarem o parqueamento nos arredores da cidade desde que usem um transporte público (eléctrico, claro) para entrar na cidade? Isso sim, seria fazer como se faz por toda a Europa.
Comparar Braga a Guimarães é difícil neste ponto, dado que Braga tem mais população que Guimarães e tem também um comércio muito mais pujante, já que muita da economia da cidade se baseia em comércio e serviços e não na indústria, como é o caso de Guimarães. E isso traz gente aos centros das cidades. As indústrias, essas ficam sempre nos arredores das cidades, por questões de espaço e de acessibilidade.
Daí que o centro de Braga atraia muita mais gente que o nosso centro e seja, por isso, uma cidade muito mais propícia a ter grandes aglomerados de gente em zonas pedonais. Em Guimarães, fechar ruas ao trânsito significaria para já a desertificação acelerada do centro da cidade. Basta caminhares em zonas adjacentes ao Toural (o centro de Guimarães, por excelência) e verás que algumas das ruas, se não fosse o trânsito de viaturas, estariam completamente desertas, seja de noite, seja de dia.
Não digo com isto que o importante é trazer trânsito para dentro da cidade, mas antes de fechar as ruas ao trânsito, a opção de efeito mais rápido seria mais trazer mais pessoas ao centro (através de uma rede de transportes públicos fiável) e depois sim, criar formas de permanência mais prolongada no mesmo, fechando ruas à circulação e potenciando o comércio. Só depois de consolidada esta opção se deveria partir, caso fosse necessário, para o parque de estacionamento subterrâneo.
Além dos exagerados custos de construção e os evidentes entraves à circulação que criariam durante a sua construção, Guimarães já tem vários parques periféricos (vazios). Criando mais um (no centro), as estruturas já existentes ficariam ainda mais ao abandono, sendo mais uma fonte de despesa que de lucro.
O que Guimarães precisa, na minha humilde opinião de cidadão que se preocupa com a sua terra, é de repensar as estruturas existentes e não criar novas, mais dispendiosas para o erário público, em suma, para todos nós.
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