Ao tempo exercia o cargo de governador civil do distrito de Braga e tinha por hábito,sempre que a agenda me permitia , assistir aos jogos entre os quatro clubes da 1º liga do distrito (na altura os mesmos de hoje) e a um ou outro jogo desses clubes com clubes de fora do distrito.
Foi assim que para além dos jogos do Vitória assisti a jogos como o Gil Vicente-Braga, Moreirense -Braga, Gil Vicente-Porto ou Braga-Sporting entre outros de que já nem me recordo.
Num desses jogos em conversa com o presidente de um desses clubes( no cargo há pouco tempo) ele confidenciou-me uma coisa curiosa que nunca esqueci e ainda hoje me vem com frequência à memória.
Dizia-me ele que antes de chegar à presidência (tinha apenas ocupado um lugar nos órgãos sociais mas sem funções directivas) se admirava da enorme rotação de jogadores que o seu clube fazia todos os anos sem visíveis resultados desportivos nem progressão que se visse nas classificações.
Chegado á presidência (na altura da conversa estava a meio de um mandato de dois anos creio) resolveu tirar a limpo as razões pelas quais isso se verificava.
E descobriu.
Que o deixaram tão indignado que acredito estarem na origem desse desabafo que teve comigo.
Havia um pequeno grupo, dentro e fora do clube mas em associação perfeita, que tinham descoberto uma pequena galinha dos ovos de ouro.
As comissões nas transferências.
E como o clube raramente vendia jogadores essa "área de negócio" não rendia pelo que era nas entradas que o "pé de meia" se compunha.
Todos os anos chegavam dez,doze ou mais jogadores a cujos empresários eram pagas as respectivas comissões. Uma parte ficava para eles e a outra revertia para quem contratava e dava aval ás contratações.
No fim da época parte desses jogadores (alguns quase nem jogavam durante a temporada toda) eram dispensados e vinha nova vaga de contratações e respectivas comissões para os "gerentes" do negócio.
O clube não progredia, em termos de classificação andava pelo meio da tabela e raramente melhor do que isso, mas a vida corria ás mil maravilhas ao grupinho das comissões.
No qual alguns exibiam sinais exteriores de riqueza até então desconhecidos.
O presidente desse clube, profundamente indignado com essa pouca vergonha, disse-me que ia fazer o possível e o impossível para acabar com o esquema.
E a nossa conversa ficou por ali.
No final do mandato não se recandidatou e abandonou o mundo do futebol de forma radical.
Há meia dúzia de anos reencontrei-o,por mero acaso, na sala de embarque de um aeroporto.
Eu em viagem para Bruxelas e ele para Londres em tarefas profissionais.
Conversamos uns minutos, nomeadamente sobre futebol e os nossos dois clubes, e uma coisa ele me garantiu.
Continuava a ver o seu clube, ora nos estádios ora na televisão, mas tinha uma certeza para a vida toda.
Dirigismo nunca mais.
Fácil foi perceber quem tinha ganho a "guerra das comissões".
Depois Falamos
P. S. Para que não existam duvidas o jogo em que essa conversa ocorreu não foi em Guimarães, nele não participava o Vitória e o interlocutor(ex presidente) nada tem a ver com o Vitória.
7 comentários:
Acho que isso ainda acontece em clubes nacionais e também noutros paises e ligas bem mais ricas!
Para mim tem a ver com a desregulação do futebol, culpa máxima da FIFA e aqui na Europa da UEFA!!
Atente-se às provas profissionais nos EUA (de vários desportos): como e quem é contratado pelas equipas profissionais? com que regras? quantos por época? como são integrados os que despontam nos campeonatos universitários?
É fácil de ver que, com regras bem definidas e controlo apertado, quem ganha é o espectaculoso em beleza, competitividade e dinheiro é claro!
Mesmo no "Soccer" que é afiliado da FIFA eles conseguiram impor regras diferentes da Europa e América do Sul!
Podem dizer que também há aproveitamentos, lavagens de dinheiro, magnatas a dominar as "franchisings" (que é como eles chamam às equipas) mas isso, a acontecer, nunca prejudica (ou quase nunca) o espectáculo e os seus intervenientes.
Ninguém trabalha de graça. Como o Sr. Luís Cirilo sabe até os bancos cobram comissões por niquices. Nós, comsumidores, concordamos sobre a legitimidade dessas cobranças, sem a mínima contestação, sendo algumas bem exageradas quando o trabalho é feito por sistema totalmente informatizado sem necessidade de assistência humana. Fica-se a remoer por dentro, mas barafustar é tempo perdido. Nada a fazer.
O mercado de transferências no desporto em geral é um negócio como outro qualquer. A rede de informadores, olheiros ou facilitadores merece ser paga porque presta um serviço ao clube de acordo com as promessas que se comprometeu a alcançar diante dos sócios. Aqui, quanto maior é a ambição, maior é a comissão.
Por exemplo, no meu caso, aos meus vendedores, pago salário + comissão por objectivos para os ajudar a puxar pela imaginação. Faço todos os esforços para os incentivar a aumentar as vendas. Eu até podia ganhar mais se não pagasse comissão, mas iria facturar menos e obviamente isso traduzir-se-ia numa menor percentagem de lucro.
No futebol passa-se exatamente a mesma coisa. Ninguém ganha campeonatos com jogadores medianos. Os melhores pagam-se caro aos comissionistas para usarem as suas estratégias de persuasão em incentivar um jogador talentoso a alinhar por um qualquer emblema por uma ou duas épocas. O truque usado é um bocado parecido à mulher bonita, desmazelada, malcheirosa porque não toma banho a ficar em desvantagem em relação à feia simpática, depilada, perfumada e toda maquilhada.
O que soa mal na sua história, Sr. Luís Cirilo, é o comodismo dessa rede de comissionistas em colocar uma qualidade de jogadores que não fazem o clube crescer. Se não há ambição, obviamente que as comissões não serão grande coisa. Logo, os comissionistas apenas trabalham pelo jogador e quase nada pelo clube. Um Presidente inexperiente que seja apanhado desprevenido com essas comissões pagas por entre o mercado de transferências, até pode lutar contra o fim das comissões, mas o clube, garanto-lhe, nunca passará de cêpa torta.
Outra coisa. É bom não esquecer que de comissão passa a suborno quando esses facilitadores, olheiros ou vendedores pagam da sua parte a pessoas da direcção dos clubes para lhes «adoçar o bico». Aí, é grave. Porque todos são considerados indivíduos impolutos até ao momento em que deixam de o ser.
Para terminar, desejo ao Sr. Luís Cirilo umas boas férias e que o Vitória tenha sorte em arranjar 2 ou 3 atacantes ou pontas-de-lança de prestígio que necessita urgentemente.
Os campos de golfe do Algarve chamam por mim e eu não resisto. Vou perder a Marcha Gualteriana, mas paciência. Deixo cá gente a representar-me. Até porque tenho contas a ajustar no green com dois ingleses e um irlandês. Vamos a ver se é desta que lhes dou cabo do canastro com o menor número de tacadas possível do tee ao último buraco.
Lá para depois do dia 20, já estarei de volta e aí vamos dar tudo pelo Vitória. Novamente. A ver se é desta.
Fique bem.
Quim Rolhas
Caro Francisco:
A responsabilidade maior é das pessoas que vão para os clubes não para os servirem mas para melhorarem a própria qualidade de vida.
E é sobre esses que devem incidir a acção da Justiça num plano e a exigência dos adeptos noutro.
Estou farto de ver "zés ninguéns" a tornarem-se "gente" quando conseguem ser dirigentes de clubes.
Alguns até aprendem a usar gravata.
Caro Quim Rolhas:
O problema está nessas redes de corrupção impingirem aos clubes, com a conivência dos seus dirigentes, jogadores sem qualquer interesse apenas para gerarem comissões e ganhos indevidos.
Porque se um empresário traz um jogador útil é evidente que tem de ganhar a sua remuneração com o serviço prestado.
Isso é uma coisa.
Outra é trazerem contentores cheios.
Quanto aos pontas de lança...faço minhas as suas palavras. Boas férias para si também
Admiro a sua tenacidade em tentar entrar nesse mundo do futebol tão corrompido. Para mudar o estado das coisas, não duvido... porque não o estou a ver com tanta vontade de se meter no Vitória para ser mais um desses das comissões.
Caro Anónimo:
Não sei onde descobriu essa minha tenacidade em entrar no mundo do futebol. Já lá estive, por mais que uma vez, e saí sempre pelo meu pé. Tem razão quanto ao Vitória. Nas duas vezes que lá estive nunca me passou sequer pela cabeça beneficiar financeiramente disso. Estive lá para servir o clube e nada mais. Estou de consciência completamente tranquila.
Vê-se claramente que a equipa em causa era o Braga, e até nem deve ser difícil identificar a pessoa em causa.
Há informações a mais no texto, caro L.C, se era para manter a privacidade do cavalheiro
Caro Anónimo:
A dedução é sua mas eu não confirmo. Embora a identidade do ex presidente e do clube seja o menos importante neste contexto.
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