sexta-feira, março 28, 2014

Opção Clara

No confronto Oeste-Leste que vem da II guerra mundial tenho opçoes claras.
Prefiro a América à Rússia.
Prefiro o "pior" presidente americano ao "melhor" ditador russo.
Prefiro a democracia à ditadura.
Vem isto a propósito da anexação da Crimeia pela Rússia onde Vladimir Putin, no melhor estilo e argumentação hitleriana, chamou "seus" aos territórios de um país independente ao arrepio das leis internacionais e do respeito entre nações soberanas.
No que em nada se distinguiu, em boa verdade, dos seus antecessores Estaline ou Brejnev.
Nunca se pode esquecer que com a Europa debaixo de uma guerra de agressão da besta nazi o ditador Estaline celebrou um pacto de não agressão com Hitler e ao abrigo dele apossou-se da Polónia!
Aliás, ainda hoje, a assembleia geral das Nações Unidas condenou essa ocupação e a farsa de referendo montada pelos russos  pela expressiva votação de 100 contra 11!
Naturalmente que nestas alturas, e face à impossibilidade de defenderem o indefensável, aparecem sempre uma vozes de esquerda a tentarem colocar no mesmo plano América e Rússia ("já que os nossos fazem asneiras vamos realçar as asneiras dos outros") citando o Vietname, o Iraque ou o Kosovo como prova de guerras injustas travadas e/ou apoiadas pelos americanos e em que essas opiniões vesgas equiparam os dois países.
A América não é nada inocente em muitas guerras que travou, mandou travar, ou apoiou e em que procurou antes do mais defender os seus interesses ainda que também ele atropelando as leis internacionais.
Mas a ultima a poder dar-lhe lições de moral é a Rússia e os seus desastrados defensores.
Até porque na América os presidentes ganham e perdem eleições e não me recordo de um único ditador russo que tenha perdido uma eleição.
Uma que fosse!
São muitas e variadas as vantagens de imperfeita democracia americana sobre a perfeita ditadura russa.
Mas há ainda uma diferença história que fará a diferença para todo o sempre:
No final da II Guerra Mundial a Rússia (então chamada União Soviética)apoderou-se pela força de metade da Europa(como se vê pelo mapa)e nela instaurou ditaduras de partido único que demoraram mais de 40 anos a serem derrubadas.
Os únicos territórios que a América deixou ocupados na Europa, depois de terem dado contributo decisivo para derrotar o nazismo e o seu painel de imensos horrores, foram os dos cemitérios onde ficaram sepultados muitos milhares de soldados americanos que deram as suas vida para ajudarem a libertar a Europa do terror e da ditadura.
Parecido não é?

Por isso me rio, e rirei sempre, daqueles que tentam comparar América com Rússia em questões de liberdade e democracia.
E que hoje tem o português, e não o alemão, como língua oficial muito por força da intervenção americana na II guerra mundial.
Não tem nada a ver uma realidade com outra.
Depois Falamos

19 comentários:

MF disse...

Convém não exagerar. A Crimeia Ucraniana tem exatamente 60 anos (1954-2014), e graças, não a um referendo, mas sim a ser oferecia como presente por um ditador.
Se a não estou errado a Crimeia Russa tem um pouco mais do que isso.

Mr.Karvalhovsky disse...

Caro Luis Cirilo, relativamente a este tema já o debati na sua página do Facebook.
Onde explico o porquê da minha opinião favorável em relação à Rússia, no que respeita à Crimeia enquanto parte da Federação Russa.
E que me parececem ser razões bastante legítimas.
Tendo em conta que são razões históricas, assim como a inegável vontade do povo da Crimeia em que isso acontecesse.

Mas não resisto a voltar a comentar este tema, também aqui neste seu espaço.

E a minha opinião não tem palas partidárias, ao contrário de opiniões que vou vendo por aí.
Até porque até hoje nunca votei em nenhum partido de esquerda...

Colocar Putin ao nível de Hitler e Estaline, é de facto injusto e também não faz qualquer sentido para mim.
Os ditadores com quem o compara causaram milhões de mortos.
Putin, que eu saiba, não provocou nenhuma morte.
Já não se pode dizer a mesma coisa sobre qualquer um dos últimos presidentes dos seus "amigos" americanos...
Mas não vamos falar em guerras provocadas e apoiadas pelos EUA, porque senão o debate fica muito extenso! LOL

Falando em factos históricos, a União Soviética foi claramente a potência que mais contribuiu para a queda da Alemanha Nazi.
Com a França sob o domínio Nazi, e a Inglaterra completamente destruída, não estando também sobre o domínio da Alemanha apenas devido a condições geográficas que favoreceram a sua resistência.
Os EUA tiveram também a sua palavra, mas numa guerra que também era sua.
Ao contrário do que diz (no Facebook).
Com um cenário de uma Europa sobre o domínio Nazi, a Alemanha iria virar-se para a América.
Além disso, então e o ataque de Pearl Harbor por um aliado da Alemanha?
A guerra não lhe dizia respeito?
Hmmm... Não concordo de todo.

Até temos muitas opiniões convergentes, mas não nesta sua aversão à Rússia e adoração pelos EUA.
Espero que não seja devido a questões partidárias.
Ou a uma lavagem cerebral dada pelos media.
Acredito que não, até pelas opiniões que vou tendo o gosto de ler por aqui, sobre outros temas.

De qualquer modo, discordo em absoluto sobre o seu ponto de vista relativamente a esta situação...

Anónimo disse...

Claro que concorso. Só acho que a anexação da Crimeia, quanto a mim, abre um precedente grave que poderá dar ideias e alguns dos nossos actuais "aliados". Imaginemos que a população inglesa no Algarve crescesse a ponto de se tornar maioritária. Dentro de alguns anos, a população aumenta, chega-se alguém à frente e resolve fazer um referendo com números na ordem dos 90% por cento. O Reino Unido apercebe-se da oportunidade passa a reclamar aquela região como solo de Sua Majestade sob o prextexto da comunidade inglesa estar em maioria. Posto isto, alguém acha que Portugal abriria mão do Algarve para o entregar de mão beijada aos ingleses sem dar luta? Eu podia morrer, mas levava comigo 10 ingleses antes que eles ficasse a rir.
Foi este precedente que a Crimeia permitiu que ocorra no futuro, ou seja, a anexação de territórios noutros países pela via demográfica.
Enfim, foi mais ou menos isto que os russos fizeram com a Crimeia, Sr. Luís Cirilo. E num futuro próximo poderão fazê-lo no Chipre e outras localidades onde os russos gostam de assentar poiso.
Neste caso, o argumento da população serve para realizar um referendo ridículo e encapotar a intenção de reclamar o território por questões geo-estratégicas e militares.
O povo ucraniano não gosta do povo russo. Morre de medo. Porquê? Entre 1932-33, os russos, a mando de Estaline, mataram sete milhões de ucranianos à fome, naquele que foi o maior holocausto na Europa antes dos nazis. Isto aconteceu quando a Ucrânia ainda era uma província, parte integrante da Rússia.
Ao fim destes anos, há muitas mazelas por sarar. A Ucrânia não reagiu militarmente porque não tem arsenal militar e não namorou que baste Ocidente europeu e os EUA para que os ajudem a defender a integridade do território pela via armada.
Veja, Sr. Cirilo, que este impasse permitiu à Rússia avançar devagarinho, sempre com cautela, acabando por justificar-se de forma pacífica, reclamando quase sem oposição um território que dificilmente voltará ao domínio ucraniano.
Apesar de ter a mesma posição que a sua em relação aos EUA, sobretudo por entender que o ideário americano é essencialmente fruto do interculturalismo europeu, não me parece que o Obama tenha argumentos fortes para eclodir uma guerra, até porque o gesto de paternidade de Putin, embora dissimulado, é bem maior em termos de Humanidade que a desgraça que abalou a dinâmica política ucraniana que estava sob influênça russa.
Com as vltas que o Mundo dá, diria, por fim, que a Rússia, finalmente, arranjou uma maneira airosa de sair da Ucrânia, e na hora do adeus leva uma recordação, um espojo de guerra, chamado «Crimeia», como garantia de que um dia ainda poderá voltar para expandir uma vez mais o seu território.

Quim Rolhas





luis cirilo disse...

Caro MF:
Já respondi a este comentário noutro post.
Caro mr Karvalhovsky:
Comecemos por Putin.
Que obviamente não é um criminoso ao nível de Hitler e Estaline mas já tem a sua contabilidade de mortos a crédito.
Seja na Chechénia seja na Geórgia.
A União Soviética foi aliada da Alemanha nazi e só deixou de ser porque Hitler a atacou. Porque até esse dia foram belos amigos e entretiveram-se a desmembrar nacões soberanas como a Polonia e os Estados Balticos.
É verdade que URSS pagou um elevadissimo preço em vidas humanas para derrotar o nazismo. Mas isso nunca incomodou Estaline que por sua conta ainda matou mais compatriotas que os nazis. Só ucranianos foram mais de sete milhões.
Vamos ao essencial:
A minha adoração pelo América é resultante da minha adoração pela democracia. A rejeição pelos regimes russos a aversão pelas ditaduras.
Caro Quim Rolhas:
Estou inteiramente de acordo consigo.
O problema agora é que as democracias ocidentais, incluindo os EUA não estarão nada sensiveis ao uso da força para travar o expansionismo russo. E Putin vai aproveitar isso até ao limite dos limites.

Anónimo disse...

Entre um e outro venha o diabo e escolha.

O urso tem as unhas cortadas e cow-boy face a isso dispara ou manda disparar em todas as direcções quando quer ou pode (nesta caso da Crimeia encolheu-se porque o urso mostrou-lhe os dentes).

Entre um e outro venha o diabo escolher.

Também já fui admirador da América mas Iraque, Kosovo, Líbia, Afeganistão e Angola acordaram-me.

luis cirilo disse...

Caro Anónimo:
Uma escolha entre democracia e ditadura não se deixa ao diabo. Fazê-mo-la nós próprios.
Eu prefiro uma democracia imperfeita que uma ditadura perfeita. Assemelhá-las é fazer o jogo da ditadura sem coragem de o assumir.

MF disse...

Caro Luis Cirilo,

Se a sua adoração pela América é resultante da sua adoração pela democracia, então aconselho-o a moderar essa adoração, porque de democrático o sistema americano tem cada vez menos: Eleições em que o dinheiro é que fala mais alto, distritos eleitorais desenhados a regra e esquadro para facilitar eleições, leis restritivas impondo regras cujo objectivo é afastar minorias, um sistema bipartidário bloqueado, etc, etc.

Para isso adore o Reino Unido ou até a Grécia, o suposto berço da democracia!!!

luis cirilo disse...

Caro MF:
a) a comparação era entre América e Russia. E nessa comparação a América, em termos de democracia, ganha 10-0.
Quanto ao desenho dos circulos eleitorais ela vem do século 19 pelo que nada tem a ver com "geometrias" do presente. Tinha a ver,isso sim, com a dimensão do país e a preocupação da igualdade entre todos os Estados. Embora seja,isso sim, um sistema eleitoral muito complexo

Defreitas disse...

Tenho prazer em voltar ao seu blogue, Caro Amigo. Para lhe dizer que não estou de acordo com quase tudo aquilo que escreveu. Mas como sei que é um democrata, exprimo a minha opinião.
Também eu, ao sair do Jordão, após aquelas noites de cinema onde a "cultura" e o modo de vida americano , "made in" Hollywood, me impressionavam, ao ponto de crer que "todos" os Americanos viviam assim, que as casas tinham todas vastos jardins e os vizinhos viviam em boa harmonia, conservei por alguns anos essa imagem. Até ao dia em que lá fui, dezenas de vezes, para o meu trabalho, e vi uma América diferente. Esta resta um grande continente extraordinário onde há maravilhas da natureza, grandes espaços, gente corajosa, liberdade de expressão e religiosa, e, sobretudo, um mundo de oportunidades.

A América, posta em musica por Dvorack e Gershuin, para um o "Novo Mundo" e para o outro o mundo contemporâneo, sublimada pelo negro spiritual, musica vocal e sagrada dos escravos negros, na origem do gospel, foi engendrada pela violência e resta um pais violento, o mais violento do planeta.

A violência americana pode ser conjugada em vários tempos: O assassinato ou exterminação dos nativos índios e a destruição duma cultura e civilização, a escravatura de 5 milhões de negros arrancados pela força à sua África ancestral, aos quais a América actual deve a sua riqueza. Foram 2 séculos de trabalho gratuito!

Lincoln em 31 de Janeiro 1865: decide de acabar com a escravatura, ao adoptar o 13° amendamento à Constituição. O sul esclavagista não aceita.
Uma guerra civil vai marcar esta decisão: 650 000 mortos.

Quando Henry Ford começava a construir automóveis em Detroit em cadência industrial automatizada, o "moujik" russo vivia ainda no esclavagismo, servo da elite do Tsar.

Em 1917, o "moujik" procurou na revolução o estatuto de cidadão, varrendo a aristocracia. As potências ocidentais vão atacar a Revolução, alimentando em armas e dinheiro os "Brancos" contra os "Vermelhos"! Duas forças em presença:
O Exército Vermelho, que defendia os objectivos da Revolução de Outubro.
O Exército Branco que os queriam exterminar.
O canto dos Brancos dá uma ideia das suas convicções. http://www.youtube.com/watch?v=3R5j..
A guerra civil, sucessiva à Revolução de Outubro durou cinco anos: 20 milhões de mortos. Em 1922, 5 milhões de crianças russas não têm pai, nem mãe, nem família!

Nesta altura, a América recebeu já dezenas de milhões de imigrantes: 1 milhão por ano durante uma parte do XX século! Os melhores e mais corajosos europeus e muitos outros, doutros continentes, vão semear a riqueza americana.

Em 1918, no fim da primeira guerra mundial, a União Soviética e a Europa estão de joelhos.

Vinte anos mais tarde, a Alemanha lança de novo a Europa na guerra. A América, pelas razoes muito bem expostas no comentário precedente de, não podendo deixar cair o vasto mercado europeu nas mãos de Hitler, entra no conflito. A América sai da guerra ainda mais rica, apesar das perdas humanas, embora estas não se possam comparar às da URSS: 60 milhões de mortos e o pais destruído, enquanto que a América se desenvolveu e, salvo em Pearl Harbour não sofre nenhuma destruição no seu território.

Defreitas disse...

A história dos dois países é, como vê, muito diferente. Um pais novo, onde se exterminou a população inicial, para implantar outros povos, e um velho pais, vivendo sob o despotismo feudal mais abjecto, que sofre duas guerras e uma guerra civil no espaço de 100 anos ! Comparar estes dois países é uma aberração. Mesmo se, e aqui creio que estaremos de acordo,
considero que a ideologia experimentada no velho pais foi um fracasso absoluto na maneira como evoluiu depois , pela falta ... dos homens! A aristocracia feudal deixou o lugar à burocracia partidária.

Quando escreve que sem a América falaríamos todos alemão, eu diria que sem os 60 milhões de mortos soviéticos, isso sim, falaríamos todos alemão, embora isto seja uma imagem. A América não teria ganho a guerra porque não dispunha dos homens em número necessário, (como não ganhou mais tarde a da Coreia, a do Vietname, do Iraque, e do Afeganistão). Porque a força mecânica não pode ocupar o terreno. E que não é destruindo até à raiz uma nação que se conquista um povo.

A União Soviética é o resultado de Yalta. As zonas de influência foram delimitadas pelos três Grandes. Para os Russos, a Polónia, a Ucrânia e os países de leste foram o corredor de passagem das duas invasões que sofreram na história: Napoleão e Hitler. Jamais os Russos permitirão que o inimigo potencial se instale à sua porta. A NATO é este inimigo. Estive do lado de John Kennedy quando este significou ao Kruchtchev que haveria uma guerra nuclear se trouxesse os seus mísseis nucleares para Cuba, a 150 km de Miami. E JFK tinha razão.

No caso da Crimeia, antiga terra russa, habitada por mais de metade de Russos, base de segurança imprescindível, Putin tinha a mesma razão que JFK: proteger a fronteira dos mísseis da NATO, que mesmo assim se encontram na Polónia.
Kruchtchev não imaginava, ao fazer o presente a Ucrânia da península da Crimeia, que esta terra, mesmo ficando na URSS, como a Ucrânia, podia um dia ser...independente, porque nunca pensou que a URSS, o Estado Soviético se desmantelaria! E portanto foi o que aconteceu, quando o muro caiu.
Mas como prever que a NATO e o Ocidente aproveitariam a oportunidade para se instalar à porta da casa!

Agora o assunto está arrumado. Como o Kosovo, arrancado à Sérvia, após o bombardeamento da NATO sobre uma capital europeia: Belgrado.

Quando se fala da URSS e da sua hegemonia na Europa, seria bom não esquecer a hegemonia da América no mundo. Qual é a diferença com a doutrina de Monröe : a América ( toda a América, incluindo a Latina) para os Americanos? Quem derrubou com "pronunciamentos" sem fim todos os governos dos países da América Latina, para os submeter aos interesses americanos? Quantas guerras civis, quantas centenas de milhares de mortos nestes pobres países vizinhos dos USA? Quem despojou estes países de todas as suas riquezas senão as multinacionais americanas?
E no resto do mundo? Que foram fazer os Americanos ao Iraque? Sem o acordo da ONU. 500 000 mortos? 1 milhão? Um pais destruído para aceder ao petróleo? E talvez ainda pior : quem garante que não haverá uma guerra civil entre Shis e Sunitas após a partida dos GI ?

Defreitas disse...

Não, Putin não é Hitler, mas Bush e Obama procedem da mesma maneira.
Quanto à democracia, é verdade que na América se vota, mas se analisar bem, isso passa-se entre dois partidos, que têm os mesmos objectivos , os mesmos métodos uma vez no poder, e se o nome deles é ligeiramente diferente, não vejo diferença nenhuma entre um democrata liberal, e um republicano liberal. Sim, talvez este último seja ainda mais liberal porque votou contra a protecção médica e social de 43 milhões de Americanos pobres!

E a politica estrangeira dos dois partidos, resta profundamente hegemónica, imperialista e brutal, mesmo com os seus aliados, que a América espiona sem vergonha, trazendo o mundo sempre cada vez mais próximo da guerra para satisfazer os seus interesses geoestratégicos. Não é por acaso que possuem mais de 200 bases militares disseminadas no mundo, incluindo Portugal. A base de Putin, na Crimeia , em terra própria, é ridícula em comparação.

Melhores cumprimentos

Freitas Pereira

Anónimo disse...

Caro Luis Cirilo, o essencial do que poderia dizer-lhe já ficou dito nos comentários anteriores. Reforço apenas a verdade dos factos, é mais devido ao enorme contributo do exército vermelho do que ao contributo americano que hoje não falamos alemão. Inclusive quem entrou no coração do inimigo, ou seja, quem entrou em Berlim e derrotou definitivamente o nazismo no dia 5 de Maio de 1945 após cerca de um mês de batalhas foi o exercito soviético e não o Americano.
No entanto, também não queria deixar passar outra passagem do seu texto:
"Nunca se pode esquecer que com a Europa debaixo de uma guerra de agressão da besta nazi o ditador Estaline celebrou um pacto de não agressão com Hitler e ao abrigo dele apossou-se da Polónia!" ou seja, em referência ao famoso acordo Molotov-Ribbentrop.
Bem, para quem fale de história superficialmente, digamos que é uma afirmação redutora mas aceitável. Não creio que o Luis Cirilo conheça a história apenas superficialmente, como tal, fica uma afirmação que isolada inquina a leitura da própria história.
Assim, acho que esta afirmação deve ser complementada com a verdade histórica de alguns factos que mencionarei no comentário seguinte

Rogério Silva

Anónimo disse...

Continuando e situando:
1 - Escreveu Hitler em 1924, no penúltimo capítulo de Mein Kampf :
Nós, os nacionais-socialistas, fazemos parar a eterna corrente germânica em direção ao sul e ao ocidente da Europa e lançamos a vista para as terras de leste. Quando, hoje em dia, falamos, na Europa, de nosso solo, pensamos, em primeira linha, somente na Rússia e Estados adjacentes, a ela subordinados. O próprio destino parece querer nos indicar a direção. O destino ao abandonar a Rússia o bolchevismo, roubou ao povo russo a classe educada que criara e garantira a sua existência como Estado. Devemos enxergar no bolchevismo russo a tentativa do judaísmo, no século vinte, de apoderar-se do domínio do mundo. Não é a orientação para o Ocidente e para o Oriente que deve ser o futuro objetivo de nossa política externa e, sim, a política do Oriente necessária ao nosso povo.
2 - Em novembro de 1937, Lord Halifax, ministro das relações exteriores inglês, elogiou publicamente a Alemanha nazista “como o baluarte da Europa contra o bolchevismo. Num encontro com Hitler fez saber que a Inglaterra aceitaria algumas alteração territoriais desde que fossem “por meio da evolução pacífica e se evitem métodos que possam causar perturbações de longo alcance.” As observações de Halifax eram um convite a Hitler para promover a agitação nacionalista alemã em Dantzig, Checoslováquia e Áustria, e uma garantia de que a agitação não encontraria resistência externa.

Stanley Baldwin, primeiro ministro inglês entre 1933 e 1935 justificaria assim a passividade da Inglaterra relativamente ao avanço nazi: “Todos nós temos conhecimento do desejo da Alemanha de avançar em direção ao Leste, exposto por Hitler no seu livro. Se avançasse para o Leste, o meu coração não se partiria... Se na Europa surgisse uma disputa, eu gostaria que fosse entre os bolcheviques e os nazistas.
3 -Em Março de 1938 A Alemamha nazi ocupa a Austria.
A Inglaterra e a França reconhecem imediatamente a anexação. Os Estados Unidos fecham a embaixada em Viena e a substituem por um Consulado. O Vaticano tampouco se opõe à ocupação da Áustria católica.
a URSS condenou a agressão e conclamou todos a se oporem aos invasores. A resposta do primeiro-ministro Neville Chamberlain, foi de que ele não queria estabelecer “um grupo exclusivo de nações que torpedeasse as perspectivas de paz na Europa.”
Ou seja, A Europa esperava que o nazismo se expandisse para o leste e não para o ocidente. O que justifica a assinatura do “pacto de Munique” que antecede o tal “Pacto Molotov-Ribbentrop”.
Falar de um sem falar do outro, é ler só uma parte da história.
4 - Em Setembro de 1938 á assinado o “Pacto de Munique” entre a Alemanha, Inglaterra e França que entrega a Checoslováquia à Alemanha.
5 - Em 17 de abril de 1939, a União Soviética propôs a assinatura de um pacto de assistência mútua e de um convênio militar entre a União Soviética, a Inglaterra e a França, além da concessão de garantias a todos os países fronteiriços à URSS, do Báltico ao Mar Negro.
A 8 de Maio a Inglaterra e a França deram finalmente uma resposta. Mais uma vez negativa. Alegavam que isso podia ser interpretado pela Alemanha como uma agressão.
Estimulado pela postura de Chamberlain e Daladier, Hitler iniciou uma intensa campanha contra a Polônia, exigindo a devolução de Dantzig e o livre trânsito alemão pelo corredor polaco.

Era evidente que a URSS, naquele momento e isoladamente, não tinha meios para se defender de uma invasão Alemã. Assim perante as recusas europeias de aliança e a inevitável expansão nazi para leste só lhe restava contemporizar.

Continua...

Anónimo disse...

6 – Em Agosto de 1939 é assinado o “Pacto Molotov-Ribbentrop”. Que é definido assim pelo historiador Roy Medvedev:
“O governo Soviético viu-se obrigado a assinar esse pacto porque a Inglaterra e a França favoreciam o fascismo alemão e impediam que fossem consumadas negociações que levassem à assinatura de um pacto de assistência mútua com a URSS. (...) a França e a Grã-Bretanha entregavam-se a um jogo político perigoso: as duas esperavam conseguir um acordo com Hitler e procuravam desviar a agressão alemã na direção do Leste. (...) Foram os meios dirigentes da Inglaterra e da França (...) que permitiram à Alemanha reconstruir uma poderosa máquina militar, na esperança de que essa força se voltasse contra o bolchevismo. (...) Tais circunstâncias obrigavam a União Soviética a se proteger, procurando aproveitar-se dos conflitos em que se achavam envolvidos os Estados imperialistas: em 1939, o pacto de não-agressão com a Alemanha serviu a esse fim.“

Apenas umas achegas sobre factos históricos associados à sua afirmação e que ajudam a perceber que não se tratou apenas de um pacto soviético-nazi como pode ser entendido se afirmado assim de forma "solta" e isolada.

Cumprimentos,
Rogério Silva

Anónimo disse...

Este fim de semana ouvi atentamente o MNE russo, Sergei Lavrov. O que ressalta no dicurso dele é que a Rússia pretende federalizar de novo a Ucrânia, retirando-lhe a auto-determinação (a independência), por entender que o poder foi surrupiado do anterior presidente de forma ilegal, um mau exemplo que poderá contagiar outros países na região.
A Crimeia é apenas a primeira batalha ganha. Não se mantendo a oposição dos EUA, a Rússia voltará a colocar a Ucrânia sob a sua administração.
É tudo muito imprevisível. Nesta altura, actual celeiro da Europa perdeu a sua instância balnear a favor dos Russos. Se a Rússia quisesse ficar só com a Crimeia já tinha retirado as tropas da fronteira com a Ucrânia.
Vamos andando e vamos vendo.

Quim Rolhas

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
Como o meu Amigo sabe convivo bem com as divergências de opinião. E são tantas as vezes em que estamos de acordo que não vem mal ao mundo, antes pelo contrário, se aqui e ali não concordarmos.
Até porque ,grosso modo, não discordamos.
Não pus em causa o papel do exército vermelho na derrota do nazismo mas tenho as mais fundamentadas razões para pensar que se Hitler não atacasse a URSS continuariam aliados a espartilhar a Europa como vinham fazendo até então.
Sei bem o que saiu de Yalta. Mas também sei que nos 69 anos seguintes enquano a América, com todos os defeitos que aponta, continuou a ser uma democracia já a URSS continuou a ser uma ditadura que oprime antes de mais o seu próprio povo.
Sei bem que a América é um país de emigrantes que quase exterminaram os povos de lá naturais nos séculos 18 e 19 ma stambém sei que já em pleno século 20 a Russia conduziu massacres contra os povos dominados como foi o caso da Ucrânia.
É verdade o que diz sobre as pequenas, mas existentes, diferenças entre os dois partidos americanos.Mas há uma diferença para mim fundamental em relaçãà Rússia. É que na América, ao menos, pode-se derrotar nas urnas quem governa mal. Na Rússia não.
De resto, e na certeza de que este assunto dava para uma bela conversa, devo dizer que a democracia americana não é o meu ideal de democracia. Mas entre ela e a russa não tenho duvidas na escolha.
Caro Rogério Silva:
De facto na resposta ao amigo Freitas Pereira já respondi a algumas das questões que levanta. Direi apenas que o exercito vermelho entrou em Berlim porque assim foi combinado entre os aliados. E para que isso fosse um facto os exércitos americanos depois de passarem o Reno fizeram um compasso de espera.
Quanto aos factos que cita direi o seguinte: A "minha" Inglaterra é a de Churchil e não a de Chamberlain. A "minha" França é a de De Gaulle e não a de Pétain. E essas duas já combatiam o nazismo quando o pacto entre alemães e russos foi celebrado. Não tivesse Hitler atacado a Russia que também não seria a Russia a atacar Hitler. Provavelmente, como ditaduras que eram, continuariam a partilhar a Europa entre elas.
Caro Quim Rolhas:
Cesteiro que faz um cesto faz um cento. Se lhe derem verga e tempo digo eu. É o que Putin espera.

Defreitas disse...

Caro Amigo: Desculpe se volto ao seu "post" e, sobretudo ao fundo das suas convicções, absolutamente respeitáveis. Como o meu Amigo, também dou um valor absoluto à democracia. Ontem fui batido, ou antes a minha lista, socialista, foi batida, nas eleições municipais. O vencedor foi o meu vizinho da porta ao lado! Ele é UMP e eu sou socialista. Mas saudamo-nos todos os dias e bebemos um aperitivo de vez em quando!

Estamos de acordo sobre valores essenciais, tais como a liberdade de expressão, mas não estamos de acordo sobre as leis sobre a emigração, que ele quer mais restritivas, frisando a xenofobia. Que belo espectáculo de ver filhos de republicanos espanhóis, fugidos ao franquismo, uma, Anne Hidalgo, eleita Maire de Paris e o outro, Manuel Valls, Primeiro-ministro! Sem contar o presidente da Assembleia Nacional, Bartolone, Siciliano. Esta diversidade e esta democracia explicam o meu afecto pela França.

Estamos de acordo sobre os valores da sociedade, contrariamente a muitos dos seus correligionários, e divergimos sobre as medidas económicas necessárias para resolver aquilo que me parece essencial hoje: o desemprego. Porque para mim, muitos problemas da sociedade tais como a violência, a perda dos valores da família e outros, são causados pela miséria provocada pelo desemprego. As contas sociais influem sobre o equilíbrio do Estado. Mas a falta de crescimento económico também. Não pode haver equilíbrio financeiro do Estado se não houver crescimento económico, investimento, produção, que geram empregos e salários, que suscitam poder de compra e actividade comercial. Tudo isto criando rendas para o Estado – impostos, taxas, IVA, etc. O contrário é a corrida permanente ao empréstimo da finança internacional e aos esforços desmedidos para reembolsar.

Para voltar aos EUA, o modelo americano dominou as representações politicas, ideológicas e culturais do mundo ocidental desde o fim da segunda guerra mundial. A hegemonia deste modelo, explica-se pela vitoria militar que validou a sua eficácia, o poder económico que lhe deu uma imagem material à escala mundial e pelo peso politico e militar apercebido como a protecção do Ocidente perante o bloco de leste.

Esta influência considerável não suscitou só admiração mas muitas criticais, por causa das contradições que caracterizam o sistema americano. Poderia evocar o facto que a democracia americana funciona somente com menos de 50% de votantes, o que é pouco para uma democracia que quer ser um modelo. Entre o partido republicano, o dos WASP, da burguesia e das classes médias, e o partido democrata, ligeiramente mais progressista, talvez mais Estado-Providência, não existem grandes diferenças.

Os dois partidos têm entretanto uma linha comum: a defesa intransigente dos interesses americanos," manu militari" se necessário. E é aqui que queria chegar. Podemos pegar-lhe de não importa qual maneira, a defesa dos interesses americanos e o sistema económico que defendem e propagam no mundo, ou seja o liberalismo "thatcherista" ou reganiano" estão na origem das crises frequentes da economia mundial e provocam a miséria actual no ocidente.

Quando a Lehman Brothers, a maior banca mundial faliu, e com ela centenas de outras no mundo, não foi só o sistema americano que sofreu: foi o mundo inteiro (e continua a sofrer). As subprimes são uma invenção americana, Caro Amigo, e a crise actual tem a sua origem nesse terramoto financeiro. Não foi a Rússia que o provocou.

Defreitas disse...

Contradição: Em principio, a economia repousa na livre empresa e a não intervenção do Estado no domínio económico. Mas para salvar os outros bancos, e grandes empresas da indústria automóvel, o Estado injectou através da FED triliões de dólares!
O mesmo Estado (Reagan) para diminuir as despesas públicas (excepto no domínio militar!) massacrou a política social e desmantelou o Estado Providência. Assim se explica o estado calamitoso das estruturas sociais, da protecção contra a doença: 43 milhões de Americanos não têm protecção nenhuma.

A pobreza explodiu: Ela toca mais de 40% dos Americanos, afectando sobretudo os Negros, mulheres isoladas e minorias étnicas. O que explica a violência; Em proporção, há 10 vezes mais assassinatos (e 7 vezes mais condenações à morte) nos EUA que na Europa.

O nível escolar baixou tremendamente. Excepto para as classes médias que podem pagar as escolas privadas. Quanto à Universidade é uma das mais caras do mundo.
A existência desta miséria de massa afecta o prestigio do modelo americano e deixa transparecer uma larga parte de sombra .

O imperialismo da finança internacional de Wall Street e da City, puseram o mundo numa situação extremamente perigosa para a sustentabilidade do nosso modelo democrático.

Não foi a Rússia que desequilibrou a economia mundial, Caro Amigo. E ninguém pode contestar o direito a esta Nação de proteger as suas fronteiras dos inimigos potenciais.

Uma nuvem negra paira sobre a Europa, tanto mais que os EUA através do seu braço armado , a NATO, entendem manter a sua influência militar sobre a politica estrangeira europeia.

Melhores cumprimentos. Desculpe o espaço "açambarcado" !

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
É sempre com muito gosto que vejo o meu Amigo açambarcar espaço neste blogue.
Por isso disponha.
Quanto ao comentários estamos totalmente de acordo na questão do desemprego que é hoje o maior flagelo da Europa e que traz por arrastamento todos os outros problemas conhecidos e aos quais os Estados europeus não tem sabido dar resposta.
Muito por força de verdadeiras lideranças, sejam de esquerda ou de direita, capazes de encontrarem um caminho corajoso para sair da crise.
E estou de acordo consigo, por inteiro,quanto ao crescimento económico ser o motor do desenvolvimento. Infelizmente a Europa prefere atacar os problemas pelo lado da despesa e do aumento de impostos.
E nesse contexto receio bem que tudo isto vá acabar muito mal.
Quanto á democracia americana não a considero um modelo longe disso. E a taxa de abstenção que refere é aquela para que "evoluem" os países europeus e significam que os povos cada vez acreditam menos nos sistemas politicos e nos próprios politicos.
Também isso corre o risco de acabar muito mal.
Quanto ao resto, e está aí a nossa divergência, mesmo reconhecendo que a Russia não é culpada dos desiquilibrios financeiros actuais e tem todo o direito de se defender perante inimigos potenciais, continuo a preferir a imperfeita democracia americana ao totalitarismo russo.
Até porque neste caso da Crimeia o que está em causa não me parece ser a defesa de ameaças externas mas sim o tentar restaurar paulatinamente o velho império.
De resto nos tempos modernos são impensáveis invasões como as que Napoleão e Hitler protagonizaram. Todos sabemos que se passasse pela cabeça aos americanos atacar a Rússia não seria pela via terrestre e para além deles não existe mais nenhuma nação que pudesse sequer ter a veleidade de guerrear a Rússia.
Infelizmente, e aí convergimos, a "guerra" de hoje é financeira. E essa pode ter origem aqui ou ali mas não tem Pátria.
A prazo pode, isso sim, ser ainda mais devastadora que as guerras convencionais.