Publiquei este texto no site "Top Futebol"
Um dos princípios basilares que deve presidir a uma competição desportiva é o da igualdade de tratamento dada aos competidores pelos agentes desportivos.
E quando aqui se fala de agentes desportivos não estamos apenas a falar de arbitragem, disciplina ou comunicação social.
Falamos também de quem organiza provas (federações ou ligas) e deve zelar por princípios mínimos de igualdade já que para fazer a diferença já bastam a ordem de grandeza dos clubes e o apoio popular que recolhem juntos dos adeptos.
E uma dessas formas de igualdade passará, mais cedo ou mais tarde, pela imposição de tectos salariais ao clubes consoante a modalidade e o nível da competição.
É óbvio, pelo menos para mim, que existirão sempre diferenças orçamentais consoante a dimensão do clube, a forma como se torne atractivo para patrocinadores e o dinamismo comercial que saiba impor à “venda” da sua imagem e dos objectivos que se propõe alcançar.
Seria utópico, e até contraproducente, impor que todos os clubes tivessem orçamentos iguais.
Mas já não é aceitável que encontremos a disputar os mesmos campeonatos clubes com orçamentos de poucos milhares e outros com orçamentos de muitos milhões assentes não nos tais pressupostos puramente comerciais mas sim num colossal endividamento bancário de todos conhecido.
Porque isso gera desigualdade.
Não desigualdade com base em factores desportivos, ou de boa gestão comercial, mas apenas traduzida pela capacidade (?) de endividamento que uns tem e outros não.
Especialmente porque os que não tem sabem que tem de pagar as suas dívidas enquanto hoje é cada vez mais duvidoso que alguns desses que se endividam até ao escandaloso dificilmente algum dia pagarão o muito que devem.
E não há pior desigualdade, e tão lesiva para as competições, como essa de permitir que clubes com base no endividamento bancário comprem literalmente títulos.
Toda a gente que se interessa pelo fenómeno desportivo sabe que o Vitória atravessa hoje a mais difícil situação de uma longa história de noventa anos.
Conhecem-se as razões, deploram-se os efeitos, está-se a fazer um tremendo esforço para resolver a crise e devolver ao clube a tranquilidade financeira, e a capacidade de solver atempadamente compromissos, que durante muitos anos foram seu apanágio.
A nossa “dor” tem origem num passivo de cerca de 23 milhões de euros.
Que nos “estrangula” financeiramente e nos condiciona em termos desportivos.
Competimos, em várias modalidades, com clubes que tem passivos de 200 e 300 milhões de euros.
Que jamais pagarão como é evidente.
Que tal como nós tem salários em atraso mas a que é dado muito menos mediatismo por razões que tem a ver com outras (des)igualdades que não tratarei hoje aqui.
Quando em tudo o resto tem “direito” a muito maior tratamento mediático.
Diz-se por aí, para justificar esses passivos escandalosos, que são marcas muito mais fortes, capazes de gerarem maiores receitas e possuidores de patrimónios valiosos.
Será.
Mas gostava de ver como reagiam se fossem encostados á parede como o está a ser o Vitória e o estão a ser outros clubes.
Ou seja se os credores os obrigassem a apresentar planos de pagamento realistas para as suas dívidas.
Desconfio que seria uma verdadeira revolução nas competições desportivas em Portugal.
Infelizmente não é assim.
E por isso se veem os atletas de basquetebol e voleibol do Vitória a competirem semanalmente com colegas que são pagos ao nível de profissionais de futebol o que levou, aliás, a que vários deles trocassem o nosso clube por alguns desses emblemas.
E por isso, já nem falando do drama dos salários em atraso, fiquei particularmente sensibilizado enquanto dirigente do clube pela extraordinária exibição da equipa de basquetebol frente ao Porto na passada 6ª feira.
Porque em condições de absoluta desigualdade, até pela ausência de dois colegas entre os quais o MVP da temporada regular, souberam jogar ao nível do campeão nacional e bem mereciam ter vencido.
E esse é mais um argumento em favor da exigência de igualdade nas competições.
Porque Benfica, Porto, Sporting terão sempre mais dinheiro e teoricamente melhores equipas.
Mas se existirem regras conducentes ao equilíbrio das competições, e à verdade salarial de cada modalidade incluindo o futebol, é o desporto que ganha.
Sempre!
Porque existirá mais competição, maior equilíbrio, mais interesse do público e maior retorno dos investimentos publicitários.
Também desportivamente, e antes que seja por via da troika, temos de saber viver dentro das nossas realidades e da nossa circunstância.
Antes que seja tarde…
terça-feira, abril 24, 2012
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9 comentários:
Lol
A direção equeceu-se foi de tratar todos os atletas do VSC de forma igual...
Palavras leva-as o vento...
Caro Anónimo:
Belo comentário.
Caro Anónimo:
O que o vente lava,felizmente,é a irresponsabilidade e a ignorância subjacente a alguns comentários.
excelente análise.
é bom ver que no Vitória há finalmente gente que diz o que pensa e pensa o que diz. uma grand emudança em relação aos ultimos anos
Cirilo:
Vejo com agrado esse seu anti-imobilismo em relação ás desogualdades do desporto. Gostava era de saber com o querem fazer vingar esse v/ sentimento e se não serão meros D. Quixotes a lutar contra o vento...
Em relação ao futebol, por exemplo, gostava de saber o que vão fazer para contornar o "escandaloso" arranjinho do calendário. O mesmo para as receitas de televisão.
Vão "botar a boca no trombone"? Vão contra o establishment ou conseguem juntar e reunir clubes que se sensibilizem por esta luta? Não serão ridicularizados por estarem sós apesar de todos sabermos que são causas justas?
Se isto não for só da boca para fora, o Vitória está no bom caminho.
E digo isto porque infelizmente ainda não vi qualquer desmentido em relação ao possivel adiantamento de verbas por parte da oliverdesportos. Espero que sejam só rumores.
Triste o caminho que está a seguir...
Caro J.B.Lopes:
Mudanças necessárias.
Caro Anónimo:
Vamos fazer tudo que pudermos. NA LPFP,na comunicação social, na opinião publica.
Caro Anónimo:
Triste é a desigualdade
Lolada!
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