A Aliança levou a cabo, no passado fim de semana em Torres Vedras, o seu segundo congresso cerca de ano e meio depois do congresso fundador em Évora.
Fê-lo num contexto completamente diverso, quer em termos internos quer externos, em relação a esse primeiro congresso porque em Fevereiro de 2019 o partido encontrava-se numa fase de expansão, de crescimento, de entusiasmo mobilizador enquanto agora o fez num cenário pós duas derrotas eleitorais que o deixaram fragilizado em termos financeiros (por não conseguir subvenções estatais), em termos de militância com um número que creio inferior de militantes e com várias saídas de ex dirigentes e ex candidatos e de espaço político que é hoje menor do que o era em 2019.
Bem contra minha vontade , face a compromissos inadiáveis, não pude estar presente em Torres Vedras como tanto gostaria.
Porque seria a oportunidade de rever amigas e amigos de todo o país, porque gostaria de lá deixar a minha opinião sobre o futuro do partido, porque seria a oportunidade de repor algumas verdades face a coisas que lá foram ditas e que não correspondem à realidade dos factos.
Mas como nada acabou em Torres Vedras haverá sempre, num futuro mais ou menos próximo, a oportunidade de rever amigas e amigos e de esclarecer os mal informados, os esquecidos e outros (com os mal intencionados nem vale a pena perder tempo) do que realmente aconteceu num passado que já lá vai mas de que não me esqueço.
Quanto à minha opinião sobre o futuro do partido vou deixá-la aqui de forma sucinta sem prejuízo de a voltar a reafirmar na assembleia distrital de Braga único orgão do patido que actualmente integro.
E o que penso é simples.
A Aliança eleitoralmente teve em 2019 um "ano horribilis" em que nas três eleicões em que participou (europeias, regionais da Madeira e legislativas) não conseguiu eleger ninguém nem sequer atingir votações que lhe permitissem o acesso às subvenções estatais que tanto jeito lhe dariam para a subsistência do partido sem preocupações de maior nessa matéria.
Um fracasso em toda a linha, de que assumo a minha quota parte de responsabilidade enquanto cabeça de lista por Braga nas legislativas e enquanto director executivo que fui no primeiro ano de vida do partido, que condiciona fortemente toda a vida da Aliança no pós Outubro de 2019.
É com essse contexto de derrota, de ser o décimo primeiro partido em termos de votação nas legialativas, de não ter hoje expressão nem visibilidade no panorama político, de ter menos militantes que há um ano atrás que a Aliança tem de estruturar o seu futuro e pensar nas melhores formas de sobreviver a estes tempos difíceis que tem pela frente.
Do meu ponto de vista há um problema central de cuja resolução depende o futuro.
É a capacidade de a nova direcção e o novo líder encontrarem as soluções financeiras que permitam ao partido cumprir com os seus compromissos e ter fundo de maneio para fazer política com o mínimo de meios que assegurem ao partido ter uma actividade regular, crescer e organizar-se, ganhar visibilidade e não ser apenas mais um que aparece apenas nas eleições para picar o ponto e ter resultados confrangedores como MRPP, MPT, PNR, PDR,PPM e outros.
Politicamente a Aliança tem quatro desafios pela frente.
O primeiro é já este mês com as eleições regionais nos Açores um desafio para o qual o Aliança/Açores tem trabalhado de forma competente, organizada e persistente que abrem ao partido a expectativa de ter no arquipélago os seus primeiros eleitos a nível nacional.
E como será importante isso acontecer para animar, mobilizar e moralizar todo o partido.
Tenho acompanhado, desde sempre, o excelente trabalho que o Paulo Silva e a sua equipa tem desenvolvido nos Açores e tenho uma grande esperança que os eleitores açorianos os premeiem com um bom resultado.
Depois vem os outros três desafios.
Presidenciais em Janeiro de 2021, Autárquicas em Setembro/Outubro de 2021 e Legislativas em 2023 (ou antes...) porque as europeias de 2024 já não contam para esta análise.
E o que penso quanto a isso, que gostaria de ter dito em Torres Vedras, é muito simples.
Creio que a Aliança deve apoiar a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa sem qualquer hesitação.
Porque independentemente do que qualquer um de nós pense sobre o primeiro mandato do Presidente creio que institucionalmente não resta à Aliança outra hipótese que não seja o apoio a Marcelo.
Não tem candidato próprio, não vai apoiar o completamente desconhecido candidato da IL, não vai apoiar André Ventura e por isso resta-lhe estar com aqueles que na noite de eleições vão estar ao lado do vencedor partilhando de alguma forma da sua vitória.
E a Aliança bem precisa de poder participar de um triunfo depois de três penosas derrotas.
Foi pena que do congresso não tivesse saído já uma declaração de apoio a Marcelo porque adiar a questão é não só um erro estratégico como não serve de forma alguma o interesse do partido. Que é o único que deve preocupar os seus dirigentes.
Em termos de autárquicas é minha opinião que o partido não as deve olhar como algo de prioritário nem nelas empenhar um esforço maior do que exactamente aquele que o seu actual estado lhe permitir.
O partido tem de ter consciência das suas fragilidades, da impossibilidade de ter candidaturas próprias na esmagadora maioria dos concelhos do país e por isso deve privilegiar,onde isso lhe for possível, a participação em coligações com outros partidos que visem ganhar câmaras ao PS criando assim condições para coligações futuras de outro âmbito.
Onde lhe for possível concorrer com listas próprias ou abrir as listas do partido a movimentos independentes, cujos programas não colidam com os seus principios e valores, aí sim fará sentido ir a votos de forma autónoma.
Nunca pensei, nem agora nem quando tinha funções executivas no partido, que as autárquicas devessem ser prioridade da Aliança porque conhecendo bem a realidade do país sei que a implantação autárquica demora muito tempo a fazer e não é por artes mágicas que um partido tão jovem consegue implantar-se nas autarquias.
Veja.se a propósito o caso do Bloco de Esquerda que existe há mais de vinte anos, tem uma sólida representação parlamentar (terceiro partido em número de deputados) e em termos autárquicos é completamente insignificante não detendo a presidência de uma única autarquia.
E por isso as autárquicas devem ser para a Aliança uma preocupação menor.
Fica assim como grande objectivo da Aliança o conseguir representação parlamentar nas legislativas de 2023.
Que ainda vem longe (se não forem antecipadas por qualquer crise em 2021/2022) e dão ao partido tempo para se organizar, para crescer, para se implantar em todo o país de forma sólida e duradoura de molde a em 2023 poder ir a votos numa situação bem mais favorável que a actual.
Ir a votos sozinho ou ir a votos integrado numa ampla e desejável coligação de todo o centro direita que permita criar uma alternativa forte e credível às geringonças que por aí andam, nunca deixaram de andar e cerrarão fileiras em 2023 se virem o poder em risco de lhes fugir.
Sucintamente, e resumindo, creio que a Aliança deve apoiar Marcelo, desvalorizar as autárquicas e concentrar todas as energias nas próximas legislativas.
É esse o caminho da sobrevivência, o caminho que lhe garante futuro, o caminho que os seus fundadores merecem ver continuado.
Porque apesar de tudo continuo a acreditar que a Aliança pode ter um papel a desempenhar ao serviço de Portugal.
Depois Falamos.
P.S. Naturalmente desejo ao meu amigo Paulo Bento, novo líder da Aliança, o maior sucesso nas suas novas e exigentes funções. Não lhe faltam qualidades como a inteligência, a perseverança, a experiência política, a seriedade pessoal , a capacidade de trabalho,a humildade na postura de vida. Oxalá tenha a pontinha de sorte que também é precisa. O seu sucesso será o sucesso de todos que nele acreditam. Eu acredito!
6 comentários:
Muitíssimo bem caro Amigo. Excelente leitura. Se me permites, subscrevo. Acrescento apenas um ponto, aproveitando a tua analise. Seria bom que o Paulo Bento ( e a sua equipa) aproveitassem os quadros q o Partido tem e, como já são poucos, recuperassem alguns q perderam estupidamente. O mais importante são as Pessoas. Todas são importantes, mas nem todas dão para determinados lugares. Um abraço. Depois falamos
Excelente exposição e, mais uma vez, a revelar coerência, lealdade e bons princípios.
Ao fim de ler e reler o texto e a mensagem de Luís Cirilo revejo-me cada vez mais em todas as suas abordagens e muito me honra ter consigo partilhado momentos políticos desafiantes e árduos enquanto Coordenador CI Aveiro e o meu bom amigo enquanto Diretor Executivo Nacional. Fiz aprendizagens que jamais poderei esquecer e, tal como eu costumo dizer "Quando se é um Bom Ímpar será com toda a certeza um excelente par"!
Muito mais poderia dizer, pois o que sinto são imensas verdades que alguns quiseram tornar mentiras. Desejando que com a liderança renovada do partido toda a verdade seja reposta mas principalmente, que o partido encontre o seu caminho de afirmação, pois Portugal e os Portugueses necessitam urgentemente de novas políticas (não radicais) mas sim de centro direita e o Aliança pode ter aqui a sua oportunidade.
(Carlos Iglésias)
Infelizmente sou obrigado a concordar consigo. A vontade era não apoiar o Marcelo que em meu entender tem vindo a trair a sua base de apoio. Pessoalmente não irei votar mas com abstenção. Podia arranjar a desculpa de não votar nas presidenciais por ser monárquico mas tal não colhe. Sempre votei mas Marcelo não. Nem há 4 anos nem agora.
Quanto ao Aliança tenho fortes dúvidas que tenha pernas para andar.
Sinto-me enganado. Aderi de alma e coração sem procurar quaisquer cargos. Não posso perdoar que Santana Lopes tenha saído. Para continuarvquero ver o cumprimento estrito dos estatutos a começar pela Distrital de Braga, aliás creio mesmo que hoje já não existem militantes para constituir uma Comissão Política Distrital. Constatei que muitos aderiram ao Aliança á procura de cargos e, como não os obtiveram debandaram para o Chega. Aguardo por uma assembleia na distrital de Braga. Um abraço.
Concordo com o apoio a Marcelo Rebelo de Sousa, por tudo o que referiste.
Quanto ao congresso teríamos muito para falar.....
Abraço
António Pedro
Concordo com o apoio a Marcelo Rebelo de Sousa, por tudo o que referiste.
Quanto ao congresso teríamos muito para falar.....
Abraço
António Pedro
Caro Anónimo:
Obrigado pelas suas palavras. É uma boa ideia essa de tentar recupera rpara o partido alguns que foram saindo ao longo do tempo. Oxalá a nova direcção o faça.
Caro Carlos Iglésias:
Trabalhar consigo (e com a Joana) foi um gosto porque são pessoas leais, de palavra e que deram o "litro" para a implantação do partido no distrito de Aveiro.
Quanto ao futuro faço minhas as suas pelavras e os seus desejos. Consciente de que será mais difícil porque passou tempo e esse tempo não nos correu bem.
Caro Leite Pereira:
Percebo bem a sua desilusão com o actual estado de coisas. É também a de muitos militantes com quem vou falando. Mas é a realidade que temos e se a ALiança não for capaz de dar um golpe de asa corre o risco de acabar. Por mim continuarei no partido e ajudarei no que puder. Sendo verdade que muitos que aqui não conseguiram o que queriam já demandaram outras paragens. Boa sorte porque cá não fazem falta. Agora há gen te que saiu que não o devia ter feito e espero que o partido tente recuperá-los. Porque tal como o meu amigo não vinham em procura de nada, apenas para ajudar,e ficaram muito desiludidos.
Caro António Pedro:
O apoio a Marcelo é muito mais por falta de alternativa que nos sirva do que por convicção como sabes. E também porque a Aliança precisa de "ganhar" uma eleição. Quanto ao congresso acredito que há muito para dizer. Talvez haja oportunidade.
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