Um dos factores indispensáveis ao sucesso do futebol, e diferenciador
entre os países onde ele é uma indústria de ponta e outros onde não passa de
uma indústria artesanal, é a credibilidade de que as suas competições se
revestem.
Credibilidade de que a Verdade desportiva é absolutamente inseparável.
Sou, de há muito, um admirador do futebol inglês que na soma das suas
diversas componentes considero o melhor do mundo e aquele em que a industria do
futebol tem maior sucesso.
Grandes equipas e grandes jogadores, estádios cheios, grandes jogos,
celeridade nas decisões disciplinares e arbitragem de grande nível e respeitada
de forma geral.
Mas os árbitros ingleses não cometem erros?
Cometem. E alguns bem graves.
Mas são “apenas” erros!
Quase tudo ao contrário do que se passa por cá.
Onde não há grandes equipas, os grandes jogadores são meia dúzia, boa
parte dos estádios estão cheios…de lugares vazios, a disciplina nem é célere
nem isenta e a arbitragem é um permanente foco de problemas e polémicas por
força de actuações que dão origem a suspeições várias quando em jogos de três
clubes que todos sabemos quais são!
O problema, pelo menos para aqueles que percebem que tem de haver
futebol para lá das receitas televisivas, é grave, vem-se agravando e no topo
da responsabilidade estão os dirigentes dos clubes e da Liga que não sabem
defender o negócio do futebol.
Deixo aqui três exemplos.
O sorteio da Liga é falso, fere a verdade desportiva, consagra o princípio
de “filhos e enteados” ao permitir que haja um sorteio para Benfica, Sporting e
Porto com clausulas a seu bel-prazer e outro sorteio para os restantes.
Ora é inaceitável que para a mesma competição, onde direitos e deveres
devem ser iguais, existam dois critérios.
Mas os dirigentes, dos restantes clubes, consentem nesta aldrabice.
E permitem, pelo silêncio cúmplice, que os seus clubes sejam tratados
como “filhos de um deus menor”!
O segundo exemplo é a Taça da Liga.
Regulamentada, organizada e sorteada para ser ganha sempre pelos
mesmos.
Que por acaso tem sido o Benfica (com duas honrosas excepções
protagonizadas por Vitória de Setúbal e Sporting de Braga) mas no espirito da
organização da mesma está que seja sempre ganha por um dos três primeiros da
Liga, que não por acaso são quase sempre os mesmos, e daí o absurdo regulamento
que preside à competição.
E em que, uma vez mais, não há um verdadeiro sorteio mas sim um
“arranjo” que dá aos três clubes “donos disto tudo” francas possibilidades de
disputarem a fase final da competição mais um “intruso” para fazer de conta.
E vem a propósito referir que a “final four”, este ano introduzida e
que constitui uma boa ideia, já começa mal por culpa exclusiva dos dirigentes
da Liga.
Faz algum sentido definir que seja jogada no Algarve antes de se saber
quem são os quatro finalistas?
Imaginemos (e não é preciso grande imaginação) que os grupos são
ganhos por Vitória, Porto, Braga e Varzim quatro clubes a norte do rio Douro.
Que sentido faz jogar no Algarve a mais de 600 quilómetros da região
em que os quatro se situam?
Pensarão os dirigentes da Liga que num futebol reconhecidamente pobre
os adeptos são ricos?
É assim que se defende o futebol?
Mas os dirigentes dos clubes consentem não se preocupando em nada com
a defesa dos interesses dos adeptos.
O terceiro exemplo tem a ver com algo que em Portugal é permitido, e
até relativamente comum, mas noutros lados expressamente proibido.
Refiro-me ao facto de um treinador na mesma época poder treinar duas
equipas do mesmo campeonato (ainda esta semana tivemos um exemplo) com isso
introduzindo instabilidade nos clubes e criando problemas éticos sem os quais o
futebol passaria muito bem.
Tal como noutras Ligas isso poderia ser proibido em termos
regulamentares, salvaguardando a verdade desportiva das competições, mas os
dirigentes consentem indiferentes aos problemas que isso pode causar nos seus
clubes.
São três exemplos.
Poderia ter dado mais, dos jogos em estádios emprestados por causa das
receitas televisivas e que são um atentado à verdade desportiva das competições
ao empréstimo de jogadores entre clubes que geram dependências que depois se
“pagam” com prejuízo da tal verdade desportiva, mas creio que por hoje é
suficiente.
O futebol português bem precisava de ser defendido, prestigiado e
credibilizado.
Infelizmente a maior parte dos dirigentes, com excepção dos da FPF e
dos de um ou outro clube, apenas contribuem para o afundar cada vez mais.
Até um dia…
2 comentários:
Podia ter falado dos jogadores emprestados a clubes da mesma divisão do mesmo país, com possibilidade de retornarem à casa mãe, a meio da época, durante o mercado de Inverno... Também é outra coisa muito má que acontece no futebol português e que tem prejudicado bastante o nosso grande Vitória SC...
Caro Mr Karvalhovsky:
E falei.
"Poderia ter dado mais, dos jogos em estádios emprestados por causa das receitas televisivas e que são um atentado à verdade desportiva das competições ao empréstimo de jogadores entre clubes que geram dependências que depois se “pagam” com prejuízo da tal verdade desportiva, mas creio que por hoje é suficiente."
Pela rama mas falei.
E ainda podia falar de mais coisas mas a coluna é semanal e portanto não faltarão oportunidades. Se quiser dar sugestões são bem vindas
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