Sabe-se quem o escreveu, do que consta e no que deu!
Mas não deixa de ser curioso que na actualidade, 93 anos depois de Hitler o ter ditado a Rudolf Hess na prisão de Landsberg onde cumpria pena depois do falhanço do putsch de Munique, o "Mein Kampf" se esteja a tornar um sucesso editorial um pouco por toda a Europa.
Proscrito por muitos anos, por razões políticas mas também da propriedade dos direitos sobre ele, o livro em que Hitler traça a sua visão programática para a sociedade alemã, e que se viria a tornar no verdadeiro manifesto do nacional-socialismo, desperta hoje uma curiosidade invulgar e torna-se num verdadeiro sucesso de vendas.
Acredito que a esmagadora maioria dos que o compram, como eu por exemplo, o fazem pela curiosidade de conhecerem o seu conteúdo e perceberem melhor porque razão ideias tão reprováveis mereceram o apoio entusiástico de uma enorme maioria de alemães que levaram o seu autor ao poder pela via democrática.
No fundo ler para se poder falar com conhecimento de causa.
Outros o comprarão, acredito que uma pequena minoria, por se identificarem com o ideário nazi e verem no livro um "guia" para as suas práticas politicas.
Entre uns e outros a verdade é que o livro vende.
Ainda agora foi o mais vendido na Feira do Livro de Lisboa , esgotando a segunda edição e levando a editora a lançar uma terceira, naquilo que parece demonstrar uma enorme interesse dos leitores portugueses pela obra.
É curioso, não considero preocupante , mas acho que as democracias devem estar atentas a todos os sinais, por mais ténues que sejam, de interesse das pessoas por ideias totalitárias e criminosas como as expressas no "Mein Kampf".
É que a serpente só é perigosa depois de sair do ovo mas no ovo já está viva...
Depois Falamos
P.S: Tenho o "Mein Kampf" na estante à espera de vez para ser lido. Depois darei conta do que achei.
6 comentários:
Tenho esta edição da "Guerra e Paz" (não deixa de ser curioso o nome da editora tendo em conta o livro que é) pelas mesmas razões: tenho muita curiosidade em saber quais as ideias de Hitler e as ideias que expressa no livro e que conquistaram e convenceram tanta gente mas não me identifico, de forma absolutamente nenhuma, com a ideologia nazi. Muito pelo contrário! E considero que nenhum livro, seja ele qual for, deva ser banido - inclusive este que está e vai estar sempre ligado a um período horrível da história da humanidade.
Quando à edição que tenho (igual à da imagem) acho que está muito bem conseguida por ser acompanhada por imagens e uma introdução sobre o holocausto. Provavelmente os apologistas da ideologia vão procurar outras edições. Vale muito, muito a pena os cerca de 24€, mesmo podendo encontrar o livro a preços mais baixos.
Cara Raquel:
Curiosamente também foi esta a edição que comprei.
Precisamente porque a achei bem conseguida quer em termos gráficos quer no material suplementar que à laia de introdução situa o livro e a ideologia.
Naturalmente que também não me identifico em nada com a ideologia, as ideias e as práticas criminosas do nazismo.
Mas para criticar gosto de conhecer.
E por isso li recentemente uma biografia de Mao (outro criminoso horrível) e tenho em lista de espera uma de Estaline também ele um criminoso abominável.
Depois de ler direi de minha opinião.
Sobre o livro porque sobre as ideias está tudo dito
Boa tarde Raquel, Dr. Luís Cirilo,
Creio que maior parte dos que o compraram, à vossa semelhança, o fazem por pura curiosidade. Mesmo estando obviamente em desacordo com tudo o que o nazismo representou e representa, não deixa de ser fascinante perceber como é que um homem como Hitler conseguiu mobilizar uma nação como a Alemanha para uma campanha horrenda. Como foi possível ?!?!
Vivemos no entanto tempos muito estranhos e uma conjuntura muito específica. Todos nós de uma forma ou de outra já pensamos no nosso íntimo que alguma coisa tem de mudar, o que é que é preciso ser feito para mudar o estado cada vez mais caótico, imprevisível e surpreendente em que o mundo se encontra. A nível económico, social, religioso e político vivemos hoje numa confusão sem precedentes, e o nosso modus vivendi democrático e pacífico não está a conseguir combater. São necessárias rupturas que permitam evolução, espero que as mesmas se façam em contexto democrático, porque há muito boa gente que compra o Mein Kampf com ideais políticos. Não são precisos muitos para conduzir um rebanho por maus caminhos e infelizmente os tempos são propícios ao ressurgir de ideais muito perigosos.
Muito sinceramente, pelo impacto que possa causar, pela tal ruptura que criará, não sei até que ponto o Brexit será uma benção... mas já estou a levar o assunto para outras paragens.
Também comprei. Durante anos tive de usar excertos para estudo (história e ideologia do séc. XX). Foi aborrecido não ter todo o livro, mas penso que os diferentes pedaços eram quase todo o livro.
O livro -ainda não li todo- é "chato p'ra caramba". Mas ensina -no meio da verborreia- a fazer uma campanha politico/ideologica. Aí é um must.
Assim como assim é parecido com o «Das Kapital» -é por isso que os camaradas não o lêem...
Caro Anónimo:
É um fenómeno de massas que ainda hoje está por explicar cabalmente essa da adesão dos alemães a Hitler.
Tem muito a ver com as humilhantes(para a Alemanha) condições da paz na I Grande Guerra que deixaram um profundo ressentimento no povo alemão e um desejo latente de desforra.
Mas daí ao nazismo ainda vai o tal espaço por explicar.
Quanto aos tempos que vivemos concordo consigo.
Há uma crescente insatisfação com a politica, com os regimes politicos, com os governantes e com os modelos de sociedade.
As crises dos refugiados, as sucessivas crises financeiras, uma Europa que parece sem rumo e uns EUA onde Trump pode ser presidente são alguns dos factores que alimentam os estados de alma que refere.
Espero que a democracia consiga arranjar as respostas necessárias.
Mas não duvido que os "ovos da serpente" já estão postos (alguma vez terão deixado de estar?) e à espera da melhor altura para eclodirem.
Tempos difíceis mesmo...
Cara il:
Ainda não li mas já folheei e fiquei com a suspeita de que dever ser um bocado "seca".
Mas vou ler.
"O Capital" já li e é "seca" mesmo.
Por isso passou de moda
Enviar um comentário