É ainda muito cedo para se poder avaliar todas as consequências oriundas da decisão dos cidadãos britânicos em optarem pela saída do Reino Unido da União Europeia accionando a clausula 50 do Tratado de Lisboa.
Creio, contudo, que há algumas conclusões que se podem tirar desde já.
A primeira é que se tratou de uma decisão democrática , com origem no voto popular, prevista nos tratados e ao alcance de qualquer país.
A segunda é que ela representa,tal como a própria saída, uma forte censura à forma como a União Europeia tem sido dirigida pela burocracia de Bruxelas, assente no poder de dois ou três países, e cada vez mais longe dos povos europeus que não percebem as políticas, tomam conhecimento das decisões como factos consumados e suspeitam cada vez mais que o seu papel é apenas figurativo.
Bastará atentar-se no facto de nunca os governos terem querido referendar o tratado de Lisboa dando sequência ao previsto no próprio tratado.
A terceira é que nada ficará como antes no espaço da União Europeia. Porque são já vários os países (Holanda, Itália, França...) onde a exigência de referendar a respectiva permanência na UE se torna cada vez mais forte ao sabor de opiniões públicas indignadas.
A quarta é que este processo de desintegração (é melhor não termos ilusões sobre isto...) da União agrada de sobremaneira à extrema direita e à extrema esquerda europeias que sempre fomentarem os nacionalismos e nunca gostaram da ideia de uma Europa unida.
A quinta é que as reacções à saída inglesa, de Merkel a Hollande de Juncker a Rensi, mostram não só desorientação (a reunião em Berlim dos seis países fundadores apenas serve para irritar as opinião públicas dos restantes 21) como aquele que é, de facto, o grande problema europeu dos últimos anos; a ausência de governantes com dimensão de estadistas!
A sexta é que o Reino Unido acabou.
É apenas uma questão de tempo até novo referendo dar a independência à Escócia e a Irlanda do Norte se juntar à República da Irlanda numa Irlanda unida apesar das diferenças religiosas que as vão separando.
As claras votações na Escócia e Irlanda do Norte a favor da permanência na UE demonstram que esses povos não estão dispostos a serem arrastados para o isolacionismo escolhido por ingleses e galeses e ,portanto, que faz sentido poderem escolher os seus próprios caminhos.
Mas estamos apenas no princípio do Brexit...
Depois Falamos
6 comentários:
Espero que daqui a dois anos, a UE continue forte, e com 28 países, Escócia incluída. Não acredito numa Irlanda unida.
Seria irónico para aqueles que perante o resultado do referendo previram o fim da UE, terem de lidar sim com o fim do Reino Unido!
E claro, daqui a um par de décadas, quando a Inglaterra quiser integrar a UE, as condições impostas sejam, não digo duras, mas pelo menos sem qualquer das ressalvas que possuíam antes de saírem.
Por agora apenas nos resta dizer... depois falamos :)
Caro MF:
Também me parece mais fácil a independência da Escócia do que a reunificação das Irlandas.
Mas nesta Europa em convulsão mais vale não ter grandes certezas acerca de nada.
Quanto a um eventual regresso inglês à UE ...depois falamos.
Mesmo!
A "bomba" que os ingleses queriam lançar sobre um continente e uma União de 27 acabou por lhes cair em cheio no quintal!
Caro Rui:
Vamos agora ver como ficam os vários "quintais" depois disto...
Estamos perante o início de uma nova era. Política, geo-política e de redefinição da Europa. Li algures que, depois da queda do Muro de Berlim, este é o evento mais marcante e decisivo na Europa. Não é descabida a analogia. Se a queda do muro levou à desintegração da URSS, também este Brexit aponta para a desintegração do UK tal como o conhecemos, e à reorganização geo-política dos "dissidentes".
Mas levantará também a poeira noutras zonas da Europa, Espanha principalmente, onde Catalunha e País Basco irão montar neste cavalo.
Por outro lado será interessante acompanhar os desenvolvimentos na UE, que espero perceba os sinais de aviso do Brexit e se assuma como uma UE verdadeiramente europeísta e que recupere os seus ideais fundadores, hoje por hoje esquecidos e entregues ao grande capital. A UE é nete momento governada pela Alemanha e mais um ou dois aios, e quem precisa, como nós, baixa a cabeça e beija a mão. A questão é que os britânicos não precisam de quem os governe e não aceitam ser subservientes a um país com quem ainda têm algumas feridas abertas. Não é por acaso que a maioria dos que contribuíram para o Beexit estão acima dos 60 anos, pessoas que por força da perda de familiares na II Guerra Mundial, ainda não esqueceram quem os bombardeou...
O mundo precisa de mudança, pessoalmente acho deveras interessante a nova era que se avizinha.
Caro Anónimo:
Serão vária as consequências do Brexit e ainda é cedo para prever até onde irão.
Novos referendos noutros países? Provável.
Desmembramento do Reino Unido? Altamente provável.
Reforço das aspirações independentistas como as que refere? Inevitável.
Incapacidade dos burocratas de Bruxelas entenderem na plenitude o que se está a passar? Seguramente.
Talvez deste momento mau advenham momentos melhores porque como diz o mundo precisa de mudança.
E "desta" Europa são cada vez mais os que estão fartos
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