O meu Amigo Rui

Sou amigo do Rui Gomes da Silva há muitos anos.

Já o conhecia das lides partidárias mas tornamos-nos amigos quando a partir de 1999 fomos colegas na Assembleia da República e o contacto se tornou muito mais frequente.

Curiosamente, e muito mais por minha responsabilidade do que dele, as "coisas" nem começaram muito bem por causa de divergências partidárias (eu apoiava Durão Barroso e ele Santana Lopes)mas lá se compuseram e a partir daí construímos uma boa amizade que soubemos manter ao longo de todos estes anos sem que alguma vez aquilo que nos separa se sobrepusesse aquilo que nos une.

Claro que para isso muito ajuda o facto de quando conversamos, seja pessoalmente seja ao telefone, raramente falamos de futebol.

Ambos sabemos que seriam conversas sem futuro!

Recordo até que em duas visitas do Vitória A e B ao estádio da Luz lá nos encontramos, eu como vice presidente do Vitória e ele como vice presidente do Benfica, e falamos de muita coisa menos de futebol que era precisamente motivo pelo qual ali nos encontrávamos.

Dentro da suas virtudes e defeitos, que os tem como toda a gente, há uma coisa que aprecio particularmente nele.

Na vida, na politica, no futebol é um homem de convicções e luta por elas (ás vezes com alguns excessos como naquele programa da Sic-N das segundas à noite) independentemente de ter muitos ou poucos apoios ou de ser mais ou menos popular aquilo que diz e defende.

Acredita e luta pelo que acredita.

Recordo-me que nesses tempos de 1999/2000 ele era uma voz quase isolada dentro do "seu" Benfica.

Viviam então os benfiquistas a ilusão da presidência de Vale e Azevedo e  das suas ideias mirabolantes, iludidos pelas promessas de grandes jogadores, de grandes negócios, de umas finanças resplandecentes, de um novo paradigma de gestão desportiva e da criação da SAD que ia resolver todos os problemas do Benfica e torná-lo num dos maiores clubes do mundo.

A esmagadora maioria dos benfiquistas acreditava.

O Rui não.

E manifestava essa discordância em todos os espaços de que dispunha alertando os benfiquistas para a falsidade das promessas e do perigo que Vale e Azevedo representava para o Benfica.

Arrostando com criticas e calúnias, insultos variados e até riscos para a sua segurança como aconteceu nalgumas assembleias gerais do Benfica em que membros das claques ao serviço de Vale e Azevedo tentaram agredi-lo por mais que uma vez.

Nada disso o demoveu nem desencorajou.

E o Rui continuou, indiferente a ter mais ou menos apoios, a lutar por aquilo em que acreditava e acreditava ser melhor para o seu clube.

Sabemos como a história acabou.

Com Vale e Azevedo na cadeia e Rui Gomes da Silva na vice presidência do Benfica!

Prova de que vale a pena ter convicções e lutar por elas independentemente dos apoios que se tem ou deixa de ter em cada momento.

Porque não há melhor companhia do que a certeza de se ter razão!

Depois Falamos.

P.S Não falo com o Rui todos os dias nem todas as semanas. Passam-se até meses em que não conversamos.

Mas sei, como ele na inversa também sabe, que está ali um amigo que pedindo-lhe algo só não faz se não puder.

E ele não se zangará por eu contar este pequena história.

Tempos atrás(dois ou três anos já não recordo) soube, através de amigos comuns, de um jovem minhoto  que se encontrava em fase terminal de uma doença incurável e que tinha o sonho de ter uma camisola do Benfica se possível autografada por alguns jogadores.

Liguei ao Rui e expus-lhe a situação.

Passados dias, muito poucos, recebi uma encomenda pelo correio.

Uma camisola oficial do Benfica assinada por todo o plantel, por Jorge Jesus, por Rui Costa e por Eusébio!

O jovem morreu poucos meses depois mas ter recebido essa prenda, graças ao Rui, terá sido uma das ultimas alegrias de uma vida tão precocemente terminada.