quinta-feira, dezembro 08, 2011

Cozinhados Federativos

Publiquei este artigo no site da Associação Vitória Sempre.

Esta semana o futebol português, o complexo futebol português, tem um momento importante e decisivo para o seu futuro.
A eleição do novo presidente da Federação Portuguesa de Futebol.
Depois de um longo reinado de 15 anos protagonizado por Gilberto Madail, com coisas positivas mas muitas negativas de que já nem importa falar, é tempo de encontrar o seu sucessor.
Na altura em que este texto é escrito ainda não se sabe se o vencedor é Fernando Gomes ou Carlos Marta os dois candidatos que ficaram.
É a escolha entre um homem do futebol de “gabinete” e um homem do futebol “tout court” que foi jogador, treinador, dirigente, deputado ligado ao desporto e é hoje presidente de Câmara em Tondela.
Pessoalmente, e não por ser amigo dele há uma dúzia de anos, se fosse eleitor votaria em Carlos Marta.
Porque garante um futebol do “futebol” pese embora ter na sua lista algumas pessoas (como F.Gomes também tem) que pouco acrescentam á “causa” e que dão uma imagem que remete para um passado pouco glorioso.
Creio que para os clubes como o Vitória seria (será?) bem melhor o triunfo de alguém que conhece o futebol por dentro, que não está sugestionado pela mania dos chamados “grandes” que sabe olhar e perceber as várias realidade que coexistem numa modalidade tão apaixonante quanto complexa fora dos relvados.
O intrincado universo eleitoral da FPF, sujeito a mil pressões e arranjos de bastidores, decidirá.
Creio que a posição do Vitória, nesta disputa eleitoral, se inclina como a da generalidade dos clubes da Liga para o apoio a Fernando Gomes.
O que se percebe por um lado mas estranha por outro.
Percebe-se porque sendo o Vitória da direcção da LPFP e sendo Gomes candidato dificilmente o clube poderia deixar de ter uma posição solidária com ele.
Estranha por duas razões:
Em primeiro lugar porque se Fernando Gomes foi eleito para um mandato na Liga devia cumpri-lo até ao fim e não a meio tentar (conseguir?) “migrar” para a FPF.
Especialmente quando essa “migração” coincide com outra “migração “ legal para o mesmo organismo e que representa uma transferência importante de poder dentro do futebol.
A da arbitragem e disciplina.
E sabe-se que essas duas áreas, especialmente a da arbitragem, nunca foram isentas connosco e estiveram na origem de alguns valentes desgostos dos vitorianos nestes anos mais próximos, pelo que não vejo que tem o clube a ganhar em continuar a apoiar quem nos demonstrou continua falta de respeito.
Como Vítor Pereira por exemplo.
Por outro lado a anunciada intenção de Fernando Gomes em alterar o regulamento da Taça de Portugal, caso ganhe as eleições, é motivo para fazer soar todas as campainhas de alarme em clubes que não os chamados “grandes.
Porque não é por acaso que essa intenção é anunciada num tempo em que Porto e Benfica já foram eliminados da Taça e aparecem papagaios como um tal Joel Neto a defender no órgão oficial do FCP (jornal O Jogo) que uma final de Taça sem os três estarolas não é a mesma coisa.
Fernando Gomes já tem sobre si o escândalo de patrocinar na LPFP o sorteio condicionado do campeonato, em que três clubes merecem tratamento VIP e os outros tem de aceitar o que lhes calha, perante a vergonhosa passividade de todos os outros.
E bem sabemos o que o nosso Vitória “penou” este inicio de época também por causa disso.
Se ganhar a FPF então, como dois e dois serem quatro, vai tentar alterar os regulamentos da Taça de maneira a proteger os interesses dos três estarolas de molde a que estes possam chegar sempre á fase final da prova.
Seja instituindo grupos condicionados, como naquela palhaçada a que se chama taça da liga, seja aumentado o número de eliminatórias a duas mãos na esperança que a dois jogos as surpresas se tornem muito mais difíceis.
Respeito muito as decisões tomadas por quem legitimado para tal.
Mas entendo que o Vitória não devia apoiar Fernando Gomes.
Porque o que ele defende, e essencialmente o que ele praticou na LPFP, não serve os interesses do Vitória.
E são esses, sempre, que devem estar em primeiro lugar para qualquer vitoriano.

5 comentários:

Amadeu disse...

Sr. Luis Cirilo, disse bem "para qualquer vitoriano".

Não o podendo afirmar, sabe que não se aplica ao ainda presidente do NOSSO clube.

Mas eu afirmo. EMS não é vitoriano nenhum e tem disso tem dado IMENSAS provas.

Daniel Gonçalves disse...

Caro Dr. Cirilo,

embora respeite a sua opinião, discordo profundamente dela.
Compreendo que apoie o Carlos Marta, afinal é seu companheiro de partido, mas o argumento de que ele garante um futebol do "futebol" é falso. Carlos Marta é um político no activo, e, considero eu, a pior espécie de políticos: os autarcas, pois estão habituados a manipular, a chantagear, a pressionar ( sobretudo a direcção do Partido) para conseguir os seus intentos. Quem nos garante que, se fosse necessário algum "favor" do Poder instituído, Carlos Marta não ia bater à porta dos "amigos" de Partido para essa ajuda extra? Quem nos garante que, na eventualidade de infringir algum regulamento ou desrespeitar qualquer código, o Sr. Carlos Marta não ia contar com a ajuda do Poder para "encobrir" qualquer procedimento ilegítimo? Se não queremos promiscuidade entre política e futebol, Carlos Marta não é solução.

Também o argumento de que Carlos Marta seria "imune" aos 3 grandes e não se deixaria influenciar por ninguém é falso. Carlos Marta é benfiquista e nunca se sabe se conseguiria manter uma independência de julgamento que se exige para o cargo. Podem dizer que Fernando Gomes é portista, mas parece assegurar uma independência e isenção que poucos conseguem, não é por acaso que a direcção benfiquista e sportinguista o apoiam.

"alguém que conhece o futebol por dentro" Desconhecia que o Sr. Carlos Marta era alguém que conhecia os meandros do futebol nacional, mas se ele vem de dentro da política "mesquinha" e facciosa do futebol português, então não pode ser um bom argumento a favor da candidatura dele. Sendo assim, é sempre preferível um "teórico" ou homem de "gabinete" que assegura um conhecimento independente. Com isto não quero dizer que Fernando Gomes seja perfeito para o cargo de Presidente da FPF, mas não possui as desvantagens "politiqueiras" de Carlos Marta.

luis cirilo disse...

Caro Amadeu:
Digamos que é um vitoriano "tardio"...
Caro Daniel:
Está a misturar tudo.
Em primeiro lugar eu não apoiava Carlos MArta por ele ser do PSD.
Porque sou do Vitória muito antes de ser do PSD e nunca porei o meu partido à frente do meu clube.
Nunca!
Apoiava a sua eleição porque o conheço bem e sei o que ele pensa sobre o futebol português.
Trabalhei anos com ele na Assembleia da República,nomeadamente na comissão parlamentar de juventude e desporto,e falamos muitas vezes sobre aquilo que o nosso futebol deve ser.
Por outro lado ele é um homem do futebol.
Foi jogador,dirigente,presidiu ao conselho superior do desporto e á comissão parlamentar de acompanhamento do euro 2004.
E jamais defenderia um sorteio da taça de Portugal a defender os eternos privilegiados do nosso futebol como o dr fernando gomes se propões fazer.
Finalmente já que é tão alérgico ás desvantagens da misturas entr epolitica e futebol diga-me duas coisas:
Onde estava Fernando Gomes( o tal que não tem os vicios dos politicos/autarcas) no período negro do "Apito Dourado" ?
E já agora de que partido é ?

Daniel Gonçalves disse...

Dr. Cirilo,

Se não me engano o Fernando Gomes aquando do Processo Apito Dourado era elemento da SAD do FC Porto. E se estão a pensar ligar o nome dele a qualquer "ilegalidade" que esse fatídico processo tentava apurar, a Justiça não descobriu qualquer actividade ilegitima do Fernando Gomes. Aliás se houve alguma ilegitimidade, esse Processo Apito Dourado cometeu as principais, desde atropelos à Lei e ao Estado de Direito, em que o principal objectivo era atacar o FC Porto e os seus méritos, nem que para isso se tivesse de utilizar, ou melhor manipular, a Lei ou uma certa ideia de "Justiça".

"E já agora de que partido é ?" Se o Dr. Cirilo se refere ao Fernando Gomes desconheço qual a preferência partidária do mesmo. Se me esta a perguntar a mim, afirmo que fui, pois já não o sou, militante do P.S.D., e como já vi e ouvi muitas coisas dentro da estrutura partidária, daí o meu conhecimento sobre as manobras e lutas facciosas que existem para alcançar o poder dentro do próprio Partido e a minha opinião negativa sobre os autarcas em geral. De certeza que o Dr. Cirlio também já viu muitas manobras e lutas internas no Partido, e há muitas "facadas" (por parte de pessoas de confiança ou assim se supunha) nas costas de políticos e dirigentes, que nunca sairam para a praça pública. Mas admito, e tenho a certeza, que esta situação acontece em todos os partidos políticos, não é exclusivo de um só, basta vermos a recente ruptura dentro do BE.
Não havia nada de particular no meu comentário acerca do Dr. Carlos Marta, que não conheço particularmente e que posso considerar, em teoria, uma pessoa com virtudes e qualidades.

Cumprimentos.

luis cirilo disse...

Caro Daniel:
Eu sei que o dr Fernando Gomes era administrador da SAD do Porto.
COmo todos sabemos que as absolvições nesse processo não tiveram a ver com inocência mas com meios de prova que não foram aceites.
E não estou a querer,longe disso,implicar o dr FG nesse processo.
Apenas constato que estava "lá" e "lá" se deixou estar.
Quanto á filiação partidária dele,se é que a tem,desconheço.
Com a pergunta apenas quis salientar a irrelevância desse facto para avalaiação de um candidato ou de um presidente da FPF.
Afinal Madail saiu do grupo parlamentar do PSD para ir para presidente da FPF.
Depois de também já ter ocupado cargos pelo PS.