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quinta-feira, maio 31, 2018

Mesquita de Córdoba

Na reduzida, para o meu gosto, actividade turística que tenho desenvolvido ao longo da vida tive já oportunidade de visitar uma dúzia de países (mais coisa menos coisa) de todos eles tendo trazido a memória daquilo que de mais relevante vi e visitei.
Especialmente dos monumentos que são sempre a primeira prioridade de visita.
Nesse naipe de memórias, também por ter sido uma das primeiras viagens turísticas que fiz (há mais de quarenta anos), a mesquita de Córdoba terá sempre um lugar muito especial nas minhas recordações.
Porque raras vezes vi um sítio em que a genialidade e a estupidez humana tenham cruzado caminhos de forma tão evidente.
A genialidade daqueles que no século X construiram aquela magnifica obra de arte que é ,ainda hoje, a marca mais impressiva em solo europeu da cultura e arquitectura árabe.
A estupidez daqueles que depois de Córdoba ter sido conquistado por Fernando III, em 1236, mandaram demolir parte da mesquita para lá construirem uma catedral igual a tantas outras que há por terras de Espanha arruinando boa parte de uma espantosa obra de arte.
Que a avaliar pelo que sobrou, e de que a fotografia mostra uma parte, terá sido uma construção verdadeiramente extraordinária.
Lembrei-me da mesquita de Córdoba (que depois voltei a visitar na década de 90 para a mostrar aos meus filhos) a propósito destes tempos que vivemos e em que um pouco por todo o lado,em Portugal e noutros pontos do globo, se assiste a um recrudescer de fanatismos "religiosos" em torno de questões que apelam à sensatez, ao pensamento racional e à moderação como contraponto aos extremismos.
Depois Falamos.

quarta-feira, maio 30, 2018

terça-feira, maio 29, 2018

Nova Oportunidade

O Parlamento votou hoje, dentro das suas competências e legitimidade própria, o chumbo aos projectos lei de quatro partidos que previam a despenalização da eutanásia dizendo assim aos portugueses que não era o tempo de dar esse passo.
Ou, pelo menos, de dar esse passo com aqueles projectos.
Sou, como já tive oportunidade de escrever por várias vezes, favorável à eutanásia.
Considero ser uma questão, de a ela recorrer ou não, do foro intimo de cada um e que radica numa liberdade individual que é um valor supremo para qualquer cidadão e sobre a qual ninguém tem o direito de interferir.
Ninguém tem o direito de impor o sofrimento a terceiros!
Ou de impedir que através de uma morte medicamente assistida o doente terminal, sujeito a sofrimentos terríveis, possa por sua livre e declarada vontade pôr término a uma vida que é dele e não dos que sobre ela querem impor ditames.
Respeito a decisão do Parlamento e considero-a como uma oportunidade que os deputados deram aos partidos para fazerem as coisas bem feitas e permitirem que os portugueses tenham direito a um amplo e esclarecedor debate sobre a eutanásia que desejavelmente deve terminar com um referendo em que todos possam exprimir livremente a sua vontade.
Creio que o tempo de fazer esse debate é a partir de agora.
E deverá culminar com cada partido a expressar no programa eleitoral com que se apresentará às legislativas de 2019 , de forma clara e insofismável, qual a sua posição sobre a despenalização da eutanásia.
Para que na próxima legislatura quando, e isso é fatal como o destino, a questão se voltar a por as regras sejam claras e cada português saiba com o que pode contar em termos do partido a quem confiou o seu voto.
Sem prejuízo de em termos de referendo cada cidadão assumir o voto que muito bem entender.
Depois Falamos.

P.S. Espero que aqueles que hoje louvam, e com toda a justiça, a decisão soberana dos deputados não se esqueçam do que dizem e do valor da coerência.
Porque amanhã, fatal como o destino uma vez mais o digo, a decisão soberana será outra.

Ensaio

O Portugal-Tunísia de ontem, primeiro jogo da fase final de preparação para o Mundial da Rússia, não permitiu tirar grandes conclusões sobre que selecção vamos ter a partir de 15 de Junho (estreia face à Espanha) porque ainda faltam jogadores que apenas durante esta semana se apresentarão a Fernando Santos.
Não deixo,contudo, de achar algo estranho que a duas semanas da estreia no Mundial ainda existam jogadores em férias enquanto outros, do mesmo clube, já estão ao serviço.
Refiro-me como está bom de ver a jogadores do Sporting.
Quanto a Ronaldo, esse sim, é uma ausência planamente justificada porque jogou a final da Champions no passado sábado e naturalmente apresentar-se-á mais tarde depois de gozar um curto descanso.
Quanto ao jogo de ontem há que dizer que Portugal fez uma boa primeira parte, marcando dois excelentes golos e dando algumas indicações positivas especialmente nos momentos atacantes em que Quaresma, Bernardo Silva e André Silva constituíram um tridente muito eficaz com a ajuda de João Mário e Ricardo Pereira nas jogadas de envolvimento ofensivo.
A defender é que estivemos pior e é ,certamente, a preocupação maior de Fernando Santos.
Até porque para o ataque ainda vai receber o reforço do "melhor de todos" e de Gelson Martins, que pode ser um jogador muito importante para criar desiquilibrios, mas para a defesa são aqueles e mais nenhuns.
Mais dois golos sofridos, mais erros de marcação, mais a sensação de que o centro da defesa é vulnerável porque para lá de Pepe a equipa tem apenas o "pré reformado" Bruno Alves, um José Fonte que para lá (reforma) caminha e um Rúben Dias que não tem nenhuma experiência ao nível a que um Mundial obriga.
Isto para lá de um Raphael Guerreiro que parece fora de forma, o que não é para admirar dado que desde Janeiro apenas acumulou três ou quatro jogos devido a lesões, mas aí Mário Rui pode ser opção muito válida caso necessário.
Sábado frente à Bélgica, previsivelmente ainda sem Ronaldo mas com todos os outros, se poderão tirar mais ilacções.
Depois Falamos.

Dia Grande

Hoje é dia grande do futebol europeu e mundial.
Joga-se a final da Liga dos Campeões, a maior competição mundial a nível de clubes, com o atractivo adicional de ser disputada entre dois dos maiores clubes do velho continente que entre si repartem dezassete triunfos na prova.
Dezassete!
Doze para o Real Madrid e cinco para o Liverpool com ambos os clubes a contabilizarem,ainda, algumas finais perdidas.
Um verdadeiro clássico do futebol mundial e que torna extremamente difícil,para não dizer impossível, fazer prognósticos quanto ao vencedor.
De um lado o "papa troféus" Real Madrid, que tem uma apetência especial por esta prova e a tem dominado nos ´´ultimos anos, que conta com um lote de jogadores de grande valia encabeçados por Cristiano Ronaldo o mais brilhante jogador de toda a história da prova.
Do outro um Liverpool, fortíssimo como equipa e com uma dinâmica de jogo altíssima que torna a vida difícil a qualquer adversário, que não tendo as estrelas individuais do adversário tem, contudo, o melhor jogador e marcador da última liga inglesa o egípcio Salah e um treinador genial como Klopp indiscutivelmente é.
Não faço prognósticos.
Pessoalmente estou é dividido entre uma antiga simpatia pelo Liverpool, que vem dos tempos de Kevin Keagan, Kenny Dalglish, Phil Neal, Jimmy Case, Ian Rush entre outros e a vontade de ver Ronaldo ganhar mais uma liga dos campeões aumentando  assim o seu já estratosférico palmarés na competição.
Que ganhe quem mais o merecer.
Depois Falamos.

sexta-feira, maio 25, 2018

Defeso

O meu artigo desta semana no zerozero.
O  período a que se convencionou chamar de “defeso” é para o adepto de futebol a época mais chata de toda a temporada e que dá a aborrecida sensação de nunca mais chegar ao seu fim de tanto tempo que dura.
Pela simples razão de que é um período sem futebol a nível de campeonatos nacionais.
Vale , para matar o “vício”, que quando acontece como este ano a realização de um campeonato mundial de futebol (ou noutros anos de um Europeu) sempre se passa o “defeso” mais depressa acompanhando essa prova cimeira a nível de selecções que também ela atrai atenções e desperta paixões com fartura.
Já para a comunicação social o período de “defeso” é de intenso trabalho porque para além das muitas movimentações de jogadores e treinadores, com todos os avanços e recuos que isso implica nalguns casos, tem ainda a preocupação de separarem o trigo do joio (notícias verdadeiras de notícias que alguns gostam de “plantar” ao serviço dos interesses de clubes, jogadores e empresários) e numa saudável competição entre orgãos de comunicação procurarem antecipar-se uns aos outros no noticias das transferências mais mediáticas.
É um ritual que todos os anos se repete, que vende jornais (embora desconfie que cada vez menos), que dá audiências televisivas e radiofónicas e estimula a consulta de jornais digitais e sites desportivos onde as novidades por norma aparecem mais rapidamente.
Este ano o defeso português vai dividir-se em cinco grandes focos de atenção:
O Mundial da Rússia onde a selecção nacional participa com expectativas elevadas depois de se ter sagrado campeã europeia há dois anos atrás.
A normal faina no que concerne a transferências, entradas e saídas, movimentações de jogadores e treinadores.
A longa agonia do Sporting.
Os inúmeros casos judiciais que envolvem Benfica e Sporting com suspeitas de manipulação de resultados, suborno de jogadores, “toupeiras”, e-mails e tudo mais que se sabe.
E os habituais “casinhos” que no nosso futebol preenchem quase todos os defesos e que neste terão especial incidência na violação de regulamentos pelo Santa Clara e Vitória de Setúbal e que prometem fazer correr bastante tinta porque matéria não falta.
Explanando cada um deles com uma excepção:
Do Mundial, em que somos candidatos mas não somos favoritos para usar uma terminologia muito do agrado do seleccionador, espera-se que Portugal ultrapasse sem problemas de maior a primeira fase (cuidado com Marrocos...)e depois será jogo a jogo conforme os adversários que forem aparecendo e a resposta que a equipa for capaz de dar às dificuldades.
E nisso vai ser muito importante Fernando Santos conseguir “limpar” a cabeça aos quatro jogadores do Sporting que naturalmente irão para a Rússia muito preocupados com o seu futuro imediato.
Sendo certo que Portugal não pode dispensar o “melhor” Rui Patrício nem tem alternativa directa a William Carvalho face à lesão de Danilo e à não convocação de Rúben Neves.
Em termos internos as movimentações ainda estão no seu início (faltam quase três longos meses para o início da próxima época) mas já é patente que Benfica e Braga estão mais activos, o que se percebe porque um quer reconquistar o titulo e o outro subir mais um degrau, enquanto o Porto vendeu Ricardo Pereira por valores interessantes mas ainda não fez nenhuma aquisição e provavelmente ainda voltará a vender antes de comprar.
Quanto ao Sporting limitou-se a confirmar duas aquisição há muito feitas (Raphinha e Marcelo)mas para os lados de Alvalade as nuvens negras não param de se amontoar e é completamente impossível neste momento prever que plantel e que treinador o clube terá na próxima época.
Quanto ao “meu” Vitória, e para falar apenas de cinco dos maiores clubes nacionais, contratou um bom treinador (Luís Castro) mas vai ter de apostar fortemente no reforço do plantel para não perder o “comboio” da disputa de um lugar nas competições europeias.
E isto numa época em que também na equipa B haverá mudança de treinador e de bastantes jogadores (como é normal nas equipas B) e em que o clube vai ter de formar uma equipa para participar no novel campeonato de sub 23.
Não sei, sinceramente, se não serão frentes a mais para quem tem tanto terreno a recuperar em termos de primeira equipa.
A agonia do Sporting é visível, entra-nos pela casa dentro várias horas por dia e ninguém faz a mínima ideia de como irá acabar.
Certo é que com uma assembleia geral daqui a um mês, para destituir os orgãos sociais, e possíveis eleições quarenta e cinco dias depois (em Agosto!!!) se na AG essa proposta de destituição for aprovada o Sporting corre o risco de passar todo o defeso sem direcção com as consequências terríveis que isso significa.
Certo é que durante o próximo mês, e sem saber se vai ter de enfrentar rescisões de contrato por parte dos actuais jogadores e em que número, o Sporting terá grandes para não dizer inultrapassáveis dificuldades para contratar um treinador (e a rescisão de Jorge Jesus será outro bico de obra) e jogadores de qualidade porque estes recearão não só virem meter-se no vespeiro em que Alvalade está transformada como também serem contratados por uma direcção que daqui a um mês pode cair.
Sobre os casos judiciais em curso nada direi (são a tal excepção) que não seja manifestar o desejo de que sejam resolvidos o mais rapidamente possível, de forma que não deixem duvidas a ninguém e com os culpados a serem severamente punidos.
Já envergonharam o nosso futebol que chegue.
Quanto aos “casinhos”...só mesmo em Portugal.
O Santa Clara desrespeitou os regulamentos ao não incluir na ficha de alguns jogos os jogadores sub 23 estipulados e em vez de ser punido com a perda de pontos nesses jogos levou a bem portuguesa “multazinha” que mais não é um convite a que no futuro outros o façam porque entre pagar multa e ter vantagem desportiva ou cumprir o regulamentado a opção está bom de ver que será sempre a primeira.
O Vitória de Setúbal  conhecedor de que pelos regulamentos da Liga só podia ter três jogadores emprestados pelo mesmo clube (no caso o Benfica) tinha ...quatro porque veio agora a descobrir-se que João Amaral é jogador do Benfica com contrato assinado desde a época passada e estava em Setúbal emprestado pelo Benfica.
Seguramente mais um assunto que vai dar alguma polémica mas dificilmente dará mais do que isso porque as coisa são...o que são!
E venha o Mundial.

Perspectivas...

O chamado "defeso" é a época mais chata do futebol.
Desde logo porque não há jogos mas também porque é a época da especulação desenfreada da comunicação social que para além de noticiar as verdadeiras transferências também se entretém a comprar e vender  por conta própria jogadores aos clubes.
No caso particular do Vitória, uma vez confirmada a contratação de Luís Castro, há agora mês e meio pela frente para constituir um plantel capaz de corresponder às expectativas dos adeptos e estar à altura do que é a nossa História.
No momento em que escrevo este texto são apenas conhecidas saídas do plantel, não havendo ainda notícia de nenhuma contratação, pelo que a avaliação que faço é em função exclusiva dessa realidade de subtrair ao plantel que terminou a temporada aqueles que saíram.
Naturalmente que também não sei se ainda vai sair mais alguém.
Na baliza não vejo problemas porque Miguel Silva e Douglas dão todas as garantias e na equipa B há vários bons guarda redes que poderão ser chamados para suprir a ausência de algum deles com Miguel Oliveira à cabeça.
Nas laterais sabe-se da saída de João Aurélio pelo que Sacko e Vítor Garcia serão os laterais direitos o que sendo suficiente não é, apesar de tudo, bom.
Para a lateral esquerda Konan e Vigário dão conta do recado e ainda há na B um excelente David Luís pelo que a posição está mais que coberta.
No centro da defesa é que são precisos reforços a sério.
Moreno terminou a carreira, Jubal estava emprestado e não há certezas quanto ao futuro ( e em bom rigor aquela posição precisa de quem dê "mais") , João Afonso termina contrato e não deve ficar pelo que restam Pedro Henrique , Dénis Duarte e Marcos Valente que sobem da B. É claramente necessário contratar dois centrais "feitos". 
No meio campo sabe-se que Rafael Miranda e Matheus Oliveira (termina empréstimo) saem sendo provável que também Célis e Hurtado não continuem e que Francisco Ramos seja emprestado pelo que o sector necessita de ser reforçado em quantidade e qualidade.
Há jovens da B que podem subir, como são os casos de Joseph e Kiko, certamente que Tozé regressará mas mesmo assim são bem precisos três ou quatro jogadores para comporem o meio campo.
Na frente consumada a saída de Raphinha, o fim do empréstimo de Heldon (que tem vontade de continuar mas a ultima palavra é do Sporting), a ineficácia de Sturgeon e Rincon são também necessários vários reforços.
Tyler Boyd deve regressar, é possível que Hélder Ferreira seja emprestado para rodar, ignora-se se Tallo continuará e provavelmente Estupinan fixar-se-à na primeira equipa e assim sendo o Vitória (confirmando-se a plena recuperação de Whelton e a continuidade de Rafael Martins) precisará de dois extremos e mais um ponta de lança.
Ou seja dois centrais, um lateral direito, três médios, três avançados são no mínimo necessários a um plantel com a tal ambição atrás descrita.
Em suma e não saindo mais ninguém são bem precisos nove/ dez reforços de qualidade.
Não é pedir muito!
Depois Falamos.

quarta-feira, maio 23, 2018

Eutanásia

A eutanásia, que vai a votos no Parlamento no próximo dia 29, é um dos temas centrais da atualidade política e vem suscitando, como é normal em todos os assuntos que envolvem Valores e considerações éticas , um debate alargado em que as diferentes forças políticas assumem posições radicalmente diferentes.
CDS e PCP votarão contra em bloco, PS, BE e PAN são claramente a favor mas os socialistas darão liberdade de voto aos seus deputados que queiram votar contra, o PEV votará como convier ao PCP e o PSD não tem posição oficial sobre o assunto mas o grupo parlamentar terá liberdade de voto.
No PSD é conhecida a posição favorável de Rui Rio e de Margarida Balseiro Lopes, líderes do partido e da JSD, mas são também conhecidas diversas vozes que se erguem em defesa do "Não" e outras que defendem o "Sim".
Há ainda no partido quem defenda a realização de um referendo e quem seja contra ele a começar pelo próprio Rui Rio.
Não vou aqui enveredar por considerações jurídicas e constitucionais que para além de não serem a minha especialidade também não conheço em pormenor.
Nem preciso porque a formulação de uma opinião tem a ver com outros considerandos.
Pessoalmente e depois de analisar os "prós" e os "contras", sem as tais considerações jurídicas repito, e considerando uma experiência de vida em que já vi muita coisa (e algumas de bem perto) sou claramente a favor da aprovação da eutanásia.
Devidamente regulamentada, com critérios de aplicação bem definidos, mas em que o valor supremo seja a liberdade individual de decidir por parte do doente terminal que quer por termo ao seu sofrimento de forma medicamente assistida.
Tem esse inalienável direito do meu ponto de vista.
E embora respeite muito todas as considerações filosóficas, religiosas, éticas, mistícas e por aí fora tratam-se sempre de objecções de pessoas que bem intencionadas, não o duvido, querem decidir sobre o sofrimento alheio e querem que a dor dos outros sustente as suas tomadas de posições e a tranquilidade das suas consciências.
Creio que nessa matéria o líder do meu partido está absolutamente certo e o dar liberdade de voto é o mínimo que a direcção do grupo parlamentar pode fazer nesta matéria.
Embora, e em linha com o que tenho defendido noutras matérias ( adopção por casais homossexuais, barrigas de aluguer, casamentos entre pessoas do mesmo sexo, etc) , eu preferisse que o PSD tivesse uma posição oficial sobre o assunto e a defendesse sem problemas.
Que neste caso seria o voto a favor.
Quanto a referendar o assunto seria opção que não me chocaria desde que o referendo fosse antecedido de um amplo e esclarecedor debate sobre a lei em apreciação.
É a minha opinião.
Depois Falamos.

terça-feira, maio 22, 2018

Não Aceito

O meu artigo desta semana no Duas Caras.
Não é novidade para ninguém que as sociedades vivem tempos complicados, complexos até, fruto a uma crise de valores que se torna de dia para dia mais evidente e á qual as respostas parecem tão insuficientes quanto tardias.
Esse problema social atinge também o mundo do desporto em geral mas do futebol muito em particular, com a enorme facilidade de tudo aquilo que gera paixões ser suscetível de influências fáceis,  criando situações absolutamente reprováveis de que os últimos dias tem sido pródigos face a uma “cultura” que prolifera de que “vale tudo” para ganhar.
E quando não se ganha está o “caldo” entornado e daí a aparecerem as reprováveis situações de violência, por vezes como no Sporting associadas e moralmente comandadas por um caudilhismo tão patético quanto irresponsável, vai apenas um curto passo que alguns não hesitam em dar ou em mandarem dar.
Todos sabemos o que aconteceu na passada semana em Alcochete na Academia do Sporting com a invasão das instalações por um grupo de bandidos que agrediram, sequestraram e destruíram a seu bel prazer deixando perante o país uma imagem terrível e colocando o nome honrado do Sporting Clube de Portugal pelas ruas da amargura.
Criminosos armados com barras de ferro, material pirotécnico, encapuçados como convém a quem vai cometer crimes, agrupados para o fim específico de semearem o terror e a destruição e mostrando perfeita organização na forma como agiram.
Nunca visto neste país!
Nem mesmo quando no passado supostos adeptos do Benfica atacaram jogadores com petardos numa chegada ao Seixal depois de um mau resultado, quando supostos adeptos do Porto atacaram o então treinador Co Adrianse com petardos atirados para dentro do carro, ou quando em Guimarães supostos adeptos do Vitória interromperam treinos no tempo de Rui Vitória e depois de Pedro Martins para demonstrarem a sua insatisfação.
Entre outros exemplos que podiam ser citados mas que tem em comum o não terem a gravidade do que aconteceu em Alcochete.
Acontece que correndo-se o risco, como conceptualizava uma figura sinistra da História de meados do século passado , de uma mentira repetida muitas vezes se transformar em verdade há que combater com enorme firmeza uma falsidade que vai fazendo o seu mentiroso caminho neste país e que é a de associar a violência a Guimarães e aos adeptos do Vitória como se fossem uns expoentes nacionais da mesma.
E eu não aceito isso!
Não aceito que se faça essa associação, não aceito que se faça dos vimaranenses e dos vitorianos adeptos violentos, não aceito que se queira fazer deste clube e desta comunidade os bodes expiatórios das asneiras alheias.
Não aceito que a SIC, com as responsabilidade que como televisão nacional tem, ao noticiar o sucedido em Alcochete mostre imagens do estádio D. Afonso Henriques, alimentado a tese mentirosa de que Guimarães e o Vitória são sinónimos de violência, quando o sucedido foi na margem sul do Tejo envolvendo supostos adeptos de um clube de Lisboa e sem nenhuma ligação a Guimarães e ao Vitória.
Não aceito que o desvairado que (ainda)preside ao Sporting, tentando branquear as suas pesadas responsabilidades em tudo de negativo que vem sucedendo no clube e muito em especial no criminoso acontecimento de Alcochete, tenha referido acontecimentos passados no complexo desportivo “António Pimenta Machado” como equivalentes ao sucedido em Alcochete e que só não tiveram a mesma divulgação porque não se “tratava de atacar o Bruno de Carvalho(sic)”.
Deixando de lado vários exemplos de acontecimentos mais graves passados com supostos adeptos do clube do outro lado da rua que ele tanto gosta de atacar mas que desta vez poupou para se virar para Guimarães e para o Vitória.
Não aceito que se faça dos vitorianos adeptos violentos quando todas as semanas nos chegam relatos de infracções à lei por parte de claques legais e ilegais (conforme os casos) de Porto, Sporting e Benfica que dentro e fora dos relvados fazem o que querem e lhes apetece e num dos casos ainda sobrou tempo ao respectivo líder para as narrar em livro.
Não aceito que se associe  Guimarães e o Vitória a problemas de violência mas depois quando o clube e os seus adeptos são vitimas de violência várias, que vão de armazéns saqueados por supostos adeptos do Benfica  que provocadoramente ainda colocaram filmes nas redes sociais sem até hoje terem sido punidos pelos actos, às agressões a adeptos do Vitória feita por “casuals” em dias de jogo com Porto e Benfica ou à invasão do nosso estádio num jogo da equipa B com o Braga por um pequeno bando de desordeiros vindos de Braga que se dedicaram a destruir cadeiras e a provocarem os adeptos vitorianos até estes os expulsarem do estádio se branqueiem as responsabilidades dos outros como se roubar o Vitória ou agredir os seus adeptos fosse uma justa retribuição à tal violência que nos imputam por tudo e por nada.
E estes são apenas alguns exemplos de muitos que seria possível serem dados.
Antes que venham os moralistas e os adeptos do politicamente correcto, agora muito em moda em alguns opinadores cá do burgo, afirmar que este texto visa desresponsabilizar alguns adeptos do Vitória de actos de violência por eles cometidos devo dizer o seguinte:
Condeno todo o tipo de violência.
E quando outros estavam calados não tive qualquer problema em condenar invasões aos treinos, actos agressivos para com jogadores ou treinadores, e  outros fenómenos violentos com origem em adeptos vitorianos.
Não há violência boa e violência má. Há violência e toda ela tem de ser condenada firmemente.
Agora não aceito é que por sermos adeptos únicos em termos de paixão pelo clube, por sermos uma comunidade diferente de todas as outras porque unida em volta do seu principal clube sem deixar aos três estarolas outras franjas de apoio que não as residuais que se conhecem, sejamos “punidos” com a permanente associação a fenómenos de violência numa clara tentativa de nos diminuírem e apoucarem de uma forma ignóbil.
E a isto temos todos, vimaranenses e vitorianos, que dizer não.
Não aceitamos que façam de nós aquilo que não somos!

P.S E também não aceito que numa manobra incompreensível de fragilização de Guimarães e do Vitória existam vimaranenses e vitorianos a aceitarem comparações injustas com o acontecido em Alcochete e “descobrindo” eles próprios analogias sem qualquer razão de ser entre o desvairado que preside ao Sporting e conceitos da última campanha eleitoral no nosso clube.

Estrelas

Depois deste fim de semana o firmamento do futebol europeu perdeu duas das maiores, mas mesmo maiores, estrelas que nele brilharam nas últimas duas décadas e encantaram todos aqueles que gostam de futebol.
Andres Iniesta, depois de uma brilhantíssima carreira toda ela feita no Barcelona, entendeu que aos trinta e quatro anos já não tinha a capacidade fisíca necessária a continuar a jogar ao nível e nas competições que o seu clube disputa e por isso é provável que ainda vá fazer mais um ou dois anos na China ou nos Estados Unidos antes do definitivo "adeus às armas".
Antes disso ainda teremos uma última oportunidade de o ver ao mais alto nível, no Mundial da Rússia, onde fará também a despedida de uma selecção em que foi figura de primeiro nível nos últimos quinze anos.
Gianluigi Buffon é mais que um guarda redes. É uma lenda viva.
Mais de vinte anos ao mais alto nível, grande parte deles na Juventus(dezassete épocas!!!) e na selecção italiana, com a conquista de inúmeros troféus mas mais do que isso a conquista do respeito por companheiros e adversários pelo seu altíssimo nível enquanto jogador e pela personalidade que sempre evidenciou e que o tornou uma referência.
Curiosamente no seu início de carreira(seis anos no Parma) fez a sua estreia nas competições europeias frente ao Vitória ,num jogo disputado no estádio D. Afonso Henriques, que fica assim como um marco numa carreira em que jogou 1052 (!!!) partidas repartidas entre Juventus (656), Parma (220) e selecção italiana (176).
Infelizmente não o veremos na Rússia porque a selecção italiana não se apurou e por isso o fim de carreira de Buffon terá sido (salvo se também ele optar por improvável "aventura" asiática) mesmo no passado fim de semana.
O futebol perde assim, e no mesmo fim de semana, duas das suas estrelas maiores que tanto lhe deram e tanto contribuíram para a sua popularidade a nível mundial ficando a dever-lhes dois galardões que bem mereceram mas não conquistaram por isto ou por aquilo.
Iniesta mereceu bem a "Bola de Ouro" que nunca lhe foi outorgada, mesmo quando tanto a mereceu como em 2010, por ter sido "vitima" do açambarcamento da mesma pela dupla Ronaldo/ Messi que venceram as últimas dez.
E Buffon bem merecia ter ganho uma Liga dos Campeões com a "sua " Juventus porque é o único grande titulo a nível de clubes que lhe falta.
Esteve lá perto, várias vezes, mas nunca a ganhou. E bem merecia.
Iniesta e Buffon: Foi um privilégio vê-los jogar.
Depois Falamos.

Os 23 da Rússia

O meu artigo desta semana no zerozero.

No país campeão europeu de selecções não faltam, infelizmente, temas sobre que escrever  mas que gravitando em torno do futebol nada tem a ver com o futebol propriamente dito naquilo que ele tem de melhor.
O jogo, os jogadores, os treinadores, as tácticas, as grandes jogadas, os grandes golos, as grandes defesas e por aí fora.
E por isso rejeitando o “apelo” de escrever sobre tudo que temos visto nos últimos dias, semanas e meses para os lados de Lisboa em torno dos dois maiores clubes dessa cidade mas que envolvem , comprometem e envergonham todo o futebol português (já para não falar de uma sociedade que dá sinais de estar gravemente doente)optei por centrar esta crónica no futebol propriamente dito.
Mais propriamente nas escolhas de Fernando Santos para o Mundial da Rússia , que começa daqui a menos de um mês, e no qual os portugueses que gostam de futebol vão concentrar as suas atenções.
Devo dizer, e tantas vezes tenho discordado das suas escolhas, que considero que Fernando Santos fez uma das convocatórias mais consensuais de sempre.
É evidente que se pode achar sempre que nesta ou naquela posição podia ir este e não aquele jogador, porque cada cabeça cada sentença e nisto de convocatórias cada um de nós é sempre um treinador de bancada, mas globalmente considero uma convocatória bem conseguida.
Por posições:
Na baliza Rui Patrício e Anthony Lopes eram indiscutíveis e depois a opção seria entre a experiência de Beto ou chamar um jovem para ir preparando o futuro numa posição em que Portugal não tem problemas nem de alguma quantidade na qualidade nem geracionais como acontece,por exemplo, no centro da defesa.
Podia ter chamado José Sá, Miguel Silva, Bruno Varela ou Cláudio Ramos, é verdade, mas optou por Beto para terceiro guarda redes (que só por muito azar terá de ser utilizado) e aceita-se até pelo percurso do jogador.
Nas laterais quatro escolhas indiscutíveis.
Cédric que tem merecido sempre a confiança do seleccionador, Ricardo Pereira que fez um grande campeonato e também pode jogar(e bem) como extremo, Raphael Guerreiro que é um dos indiscutíveis mais...indiscutível e Mário Rui que se tornou uma escolha óbvia depois da renúncia de um Fábio Coentrão em quem o talento futebolístico nunca teve equivalência no equilíbrio emocional.
No centro da defesa, onde a veterania começa a pesar sem se verem alternativas à altura, as escolhas de Pepe,Fonte e Bruno Alves eram óbvias mas já a chamada de Rúben Dias me deixa muitas duvidas e é, até, a única das 23 que não merece a minha concordância.
Nunca jogou pela selecção A, não fez uma época particularmente brilhante , nem lhe vejo actualmente (não quer dizer que não possa vir a tê-la) a qualidade necessária a jogar na selecção .
Preferia claramente a chamada de Luís Neto ou Rolando que davam outras garantias.
A verdade é que olhando para os principais clubes portugueses o que vemos?
Marcano/Filipe, Coates/Mathieu, Jardel/Ruben Dias,Raúl Silva/Bruno Viana, Pedro Henrique/Jubal.
Em dez centrais normalmente titulares apenas um é português!
No meio campo nenhuma surpresa.
William Carvalho é o “seis”  indiscutível, depois da grave lesão e consequentemente  grave ausência de Danilo que dava várias soluções ao treinador, João Moutinho é um dos mais experientes e melhores  médios do nosso futebol, Adrien não fez uma grande época no Leicester mas é jogador de grandes jogos e de grandes competições assegurando versatilidade posicional, João Mário idem idem aspas aspas, Bruno Fernandes foi o melhor médio do campeonato português e é um talento em “explosão” e finalmente Manuel Fernandes traz experiência, versatilidade, conhecimento do que é a Russia onde joga há vários anos (e isso tem a sua importância) e fez um grande campeonato sagrando-se campeão pelo Lokomotiv.
Parecem-se seis escolhas indiscutíveis.
Claro que se pode falar de Rúben Neves, de André Gomes e de Sérgio Oliveira mas em bom rigor aqui aplicava-se(bem) a velha e nem sempre feliz máxima de Fernando Santos “mas para ele entrar quem sai ?” e percebe-se porque não foram convocados.
No ataque as dúvidas eram...uma.
Ronaldo é Ronaldo e o treinador já tinha garantido meses atrás que era o único que estava garantidamente convocado, Quaresma tem feito grandes jogos desde que Fernando Santos o recuperou do ostracismo “Paulo Bentiano” e os seus cruzamentos tem valido golos e pontos, André Silva não fez uma boa época no Milan mas foi o segundo melhor marcador da selecção na fase de apuramento e garante uma parceria letal com Ronaldo, Gelson fez um grande campeonato e este Mundial pode significar a sua afirmação a nível...mundial e Bernardo Silva fez uma época sensacional no Manchester City campeão inglês e promete acompanhar Gelson na afirmação a nível mundial.
Estes cinco eram indiscutíveis e grossa surpresa seria se algum não fosse chamado.
Restava o sexto avançado.
E aí havia algumas duvidas.
O histórico Nani que fez uma época discreta mas foi na última meia dúzia de anos uma das principais referência da selecção e em especial no Europeu de França?
Éder que também não fez grande temporada na Rússia (embora tenha marcado o golo do título para o Lokomotiv) mas cuja convocatória poderia ser entendida quase como um amuleto da sorte por razões que todos entenderão?
Ronny Lopes que fez uma bela temporada no Mónaco mas que ainda não tem histórico em termos de selecção A?
A opção foi Gonçalo Guedes e acho que muitíssimo bem.
Fez uma excelente temporada no Valência, pode jogar como extremo ou segundo avançado ( e até dá um jeito como ponta de lança se for preciso)e é um jovem de enorme talento que tal como Gelson e Bernardo Silva pode fazer a sua afirmação neste mundial embora previsivelmente não vá ter tantas oportunidades de jogar como os outros dois.
Em suma , e concluindo, acho que a convocatória de Fernando Santos é excelente, merece a confiança dos adeptos e garante um Portugal competitivo e ambicioso no Mundial da Rússia.
O rolar da bola dirá até onde poderemos ir.

quarta-feira, maio 16, 2018

Vítor Campelos

Na altura em que escrevo este texto não sei se Vítor Campelos vai ou não continuar a dirigir a equipa B do Vitória( embora tudo indique que não) mas isso é completamente irrelevante quanto à intenção que norteia estas linhas que agora entendo escrever.
E essa intenção é salientar o trabalho de excepcional qualidade que o treinador fez nestes três anos em que dirigiu a equipa.
Conseguindo sempre cumprir os dois objectivos principais que são a manutenção e o preparar jogadores para subirem à equipa A.
A manutenção conseguiu-a sempre de forma tranquila, classificando a equipa a meio da tabela e melhorando todos os anos a posição classificativa ( décimo terceiro, décimo primeiro, décimo em igualdade com o Varzim) embora isso não fosse o mais importante.
Esta ultima época, e em termos de equipas B, apenas a do Porto ficou à nossa frente porque  a do Sporting desceu, a do Braga salvou-se miraculosamente de idêntico destino e a do Benfica ficou atrás da nossa.
E é preciso levar em linha de conta que em termos de arbitragens o Vitória B foi espoliado numa boa dúzia de pontos, alguns deles de forma escandalosa, que lhe teriam dado um lugar nos cinco primeiros.
Tudo isto com o treinador a ver-se obrigado a utilizar dezenas e dezenas de jogadores por época, numa delas foram cinquenta e cinco o que deve ser recorde mundial, o que naturalmente obrigava a um esforço extraordinário em termos de entrosamento da equipa, de assumpção por todos os jogadores da ideia de jogo e do estabelecimento de uma equipa base.
Já para não falar da deficiente, e ás vezes muito deficiente, colaboração que recebia do então treinador da equipa A ,Pedro Martins, que nunca teve um ideia global do que era o interesse da colaboração entre equipa A e B.
Em termos de jogadores que passaram pelas suas mãos e ascenderam à  equipa A, alguns definitivamente e outros ainda naquela fase de jogarem por uma e por outra, a lista fala por si.
Miguel Silva, Konan, Pedro Henrique, Dénis Duarte, Hélder Ferreira, Kiko, Sacko,Raphinha, Tyler Boyd, Joseph, Miguel Oliveira, João Vigário, Estupinan, Xande Silva e Marcos Valente para citar apenas quinze de um lote bem mais vasto.
A isto há que acrescentar, com gosto particular, que nas equipas de Vítor Campelos sempre se viu bom futebol e uma ideia consolidada de jogo, que se mantinha com as constantes alterações de jogadores , o que merece natural realce.
Pode pois dizer-se que Vítor Campelos cumpriu brilhantemente o que lhe foi pedido quando assumiu o cargo de treinador do Vitória B.
Aqui chegados, e dado que José Peseiro resolveu não continuar, é caso para perguntar se não seria natural que o treinador da equipa B assumisse a equipa A e desse sequência ao excelente trabalho que vinha fazendo no clube.
Natural era, mas não em Portugal e menos ainda no Vitória onde ser da "casa" e vitoriano obriga ao "pagamento" de um pesado "imposto" junto de muitos adeptos que tem toda a tolerância do mundo para quem vem de fora mas são implacáveis para quem é um dos seus.
Seja treinador seja jogador.
E por isso depois de três anos de objectivos plenamente cumpridos percebo que Vítor Campelos queira continuar a sua carreira noutro clube onde possa mostrar a qualidade do seu trabalho sem estar "vergado" ao peso do seu cartão de sócio e do seu cartão de cidadão.
Para um dia, acredito firmemente nisso, poder regressar ao Vitória pela porta grande por onde sairá agora e assumir o cargo de treinador da nossa equipa A.
E também acredito que esse dia não demorará muito...
Depois Falamos.

terça-feira, maio 15, 2018

Vira o Disco...

O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.

O PS de António Costa é o PS de José Sócrates!
Bastará constatar que no governo de António Costa estão cerca de trinta governantes, a começar pelo próprio António Costa é bom nunca o esquecer, que já tinham integrado como ministros, secretários de estado ou membros dos gabinetes o governo de José Sócrates.
Mais os que no governo ou fora dele continuam a integrar os orgãos nacionais do PS como já integravam no tempo de Sócrates.
São as mesmas pessoas, a mesma forma de fazer política, o mesmo conceito do que é a ligação entre política e negócios, a mesma falta de respeito pela oposição, o mesmo primado da “xico espertice” na gestão da “res publica”.
Trinta!
É , acima de tudo, o silêncio cúmplice com tudo que Sócrates fez no governo e que levou o país à quase bancarrota e o silêncio cobarde mesclado de um constante assobiar para o lado face aos espantosos sinais de riqueza do “chefe” e aos inúmeros casos que manchavam a sua carreira política, profissional e académica.
Foi mais de uma dúzia de anos em no PS quase ninguém viu nada, quase ninguém desconfiou de nada, quase ninguém foi capaz de se por à parte daquela pouca vergonha que se ia conhecendo mas que no PS era um verdadeiro tabu porque a carne é fraca e o poder afrodisíaco.
E quando se fala no PS não estamos a falar apenas da direcção nacional do partido, dos membros do governo ou dos deputados no parlamento nacional ou no parlamento europeu entre outros responsáveis nacionais.
Não.
Estamos a falar das Federações distritais e das organizações concelhias que num grau de responsabilidade evidentemente menor mas nem por isso isentas de... responsabilidade também pactuaram com esse estado de coisas.
Foi o caso, por exemplo , do PS de Guimarães.
Que nunca , mas mesmo nunca, teve uma palavra de duvida, de inquietação, de estranheza pela governação de Sócrates (pedir uma palavra de critica ou de divergência seria evidentemente demasiado para uma secção tão obediente ao chefes) mesmo quando na assembleia municipal a oposição criticava, apresentava factos e argumentos que eram impossíveis de contrariar face às evidências que constituíam.
Nunca duvidaram, nunca viram, nunca suspeitaram.
Bem pelo contrário reagiram (como curiosamente reagem agora) sempre com um ar de virgens ofendidas, mostras de grande indignação e acusações de que a oposição não só não tinha razão como não defendia os interesses de Portugal.
Porque no opinião do PS de Guimarães quem defendia os interesses de Portugal era José Sócrates e o seu governo!
Deu no que deu.
E quando os portugueses se fartaram de Sócrates e do seu governo, recearam a bancarrota e puseram termos ao desvario derrotando o PS em eleições, nem nessa altura se ouviu do PS vimaranense uma palavra de arrependimento, de contrição, de reconhecimento de que se tinham enganado.
E mesmo hoje, sabendo-se tudo que se sabe, continua essa palavra sem ser dita!
Passaram entre os pingos de chuva como se não fosse nada com eles, varreram Sócrates para debaixo do tapete e seguiram em frente como se o “ontem” tivesse sido um século atrás e a memória das pessoas fosse como a dos peixe palhaço que dura uns segundos ao que se diz.
E quando a Sócrates sucedeu António José Seguro, esse sim que nada tinha a ver com a pouca vergonha e sempre tinha mantido uma distância enorme em relação aos erros e tudo o mais do antecessor (demarcando-se especialmente da mistura entre política e negócios), o apoio que lhe deram foi muito mais de conveniência, de não perderem o comboio, do que de pura convicção como se veio a comprovar no dia em que António Costa rasgou o acordo que com ele tinha celebrado e lhe deu uma facada nas costas candidatando-se à liderança ao contrário do que se tinha comprometido a não fazer.
Nesse dia entre as muitas mãozinhas que seguravam a “faca” que Costa cravou em Seguro estava também a mãozinha do PS de Guimarães que na sua enorme maioria já se bandeara para o outro lado deixando cair um líder a quem haviam prometido apoio e alinhando nas hostes que, com razão (às vezes também acertam...) , supunham favoritas a vencer.
O resto da história é conhecido.
Os “Seguristas “ de Guimarães que não quiseram alinhar no “virar de casaca” , de que o maior exemplo é Miguel Laranjeiro rapidamente apeado do seu lugar de deputado sem qualquer vantagem para o PS (mas isso é problema deles), foram varridos para um canto enquanto outros fizeram um rápido “reset” na esperança de que o passado fosse esquecido e pudessem ter o seu lugarzinho na carruagem dos vencedores como nalguns casos veio a acontecer.
São factos.
E por isso quando se olha para o PS de Guimarães vê-se o PS de António Costa e quando se vê o PS de António Costa vê-se o PS de José Sócrates.
São os mesmos!
Porque os que tinham realmente vergonha do que o PS  andou a fazer no governo e no país, esses, eram os do PS de António José Seguro que o PS de Costa e Sócrates mandou para casa mal pôde e da forma que se sabe.

P.S. É factual que a campanha de António Costa para a liderança do PS (contra António José Seguro) foi apoiada financeiramente, entre outros, por Carlos Santos Silva o “banqueiro” privativo de José Sócrates.
“Farinha” do mesmo “saco” e em vários sentidos diga-se de passagem.

segunda-feira, maio 14, 2018

Raphinha

Raphinha terá feito no sábado o seu último jogo pelo Vitória anunciada que está, veremos se se confirma, a sua transferência para o Sporting na próxima temporada.
E digo que terá sido o ultimo, de forma condicional, porque com as voltas que o futebol dá nada nos garante que não volte um dia, mais cedo ou mais tarde, a vestir uma camisola com que foi notoriamente feliz.
Chegou a Guimarães envolto em alguma polémica porque vindo para a equipa B, onde fez 16 jogos e cinco golos, estranhou-se o elevado montante que o Vitória tinha pago pelo seu passe tratando-se de um jogador tão jovem e sem qualquer garantia de sucesso.
A verdade é que se impôs.
E se na primeira época jogando quase sempre pela B (pela A fez apenas um jogo e nenhum golo) teve o rendimento atrás descrito rapidamente convenceu Pedro Martins a integra-lo na primeira equipa onde na temporada passada fez quarenta e um jogos e quatro golos no total das  competições.
Esta época, mesmo com o desolador percurso da equipa a condicioná-lo, melhorou substancialmente os números fazendo quarenta e três jogos e dezoito golos no total das competições e sagrando-se o quarto melhor marcador da Liga apenas atrás dos "inacessíveis" Jonas, Bas Dost e Marega mas sem jogar num candidato ao titulo nem sendo ponta de lança.
Há que reconhecer que foi um rendimento de elevada qualidade que lhe terá valido o interesse do Sporting para onde se mudará na próxima temporada.
Embora com um feitio algo polémico, que o levou até a alguns desencontros com os adeptos, Raphinha foi um bom profissional, um jogador que nunca regateou esforços e que vai deixar saudades em Guimarães pelo muito de bom que deu ao clube.
Aos 22 anos, talvez algo cedo e para o clube "errado" mas isso são contas de outro rosário, vai para um emblema que luta por outros objectivos e deixa um Vitória que tão carente está de jogadores com a sua qualidade e no qual seria sempre uma figura de primeiro plano.
Que seja feliz,,,menos contra o Vitória como se costuma dizer.
Depois Falamos.

P.S, Gostei do gesto humilde e pleno de sentimento que Raphinha teve no fim do jogo com o Porto dando a volta ao relvado para agradecer aos adeptos o apoio que deles sempre recebeu.
Foi um gesto bonito que lhe ficou muito bem.

Acabou!

Era um jogo para cumprir calendário e o calendário cumpriu-se com o Porto a vencer, o Vitória a perder e a época a acabar com enorme alívio dos adeptos vimaranenses fartos de ostentarem nas bancadas uma categoria a que a equipa em campo raramente correspondeu.
E ontem nem foi dos piores jogos da equipa vitoriana.
Que entrou bem no jogo, criou as duas mais flagrantes oportunidades da primeira parte e equilibrou o jogo ao longo dos noventa minutos embora no segundo período o Porto tenha conseguido algum ascendente e criado algumas oportunidades a que Miguel Silva se opôs com a habitual eficácia.
Num lance de bola parada (o nosso calcanhar de Aquiles defensivo ao longo de toda a época)o Porto marcou e depois o Vitória não foi capaz de responder à altura (nem dentro do campo nem a partir do banco!) e isso traçou a sorte do jogo pese embora até ao fim reinasse sempre a esperança de que o empate ainda fosse possível.
Não foi.
E manda a verdade que se diga que quando aos 71 minutos Raphinha teve de sair por lesão, e a opção foi pelo sempre inevitável e sempre ineficaz Sturgeon em vez de Estupinan ou Tallo, também o treinador não fez tudo que estava ao seu alcance para tentar inverter a marcha do marcador.
Terminou assim uma época que deixa aos vitorianos um enorme amargo de boca e a frustração de uma classificação completamente incompatível com a nossa História, as nossas ambições e a qualidade do apoio que os adeptos dão à equipa em todas as ocasiões como ainda ontem foi patente na forma como reagiram de imediato ao golo do Porto.
Muita coisa tem de mudar no próximo defeso para que a época 2018/2019 corresponda aquilo que todos os vitorianos desejam.
Mas esse é assunto a que voltaremos seguramente nos próximos tempos.
O árbitro João Capela, um dos mais consagrados "padres" da arbitragem nacional, comprovou de novo que anda a mais no futebol certamente servindo interesses que do futebol não são.
Mas é o que temos...
Depois Falamos

Moreno

O jogo de ontem com o Porto foi um jogo triste para todos os vitorianos.
Não tanto pela derrota,porque em bom rigor o jogo não contava para nada, nem pelo nono lugar no campeonato que estava previsto há alguns dias mas porque o "capitão" Moreno se despediu dos relvados depois de uma carreira de que se pode orgulhar.
Não se despediu a jogar, como tanto gostaria,mas quis o destino que tivesse de ser apenas com uma presença no relvado onde sentiu o carinho das bancadas e o testemunho de apreço de colegas e adversários que reconhecem nele alguém que sempre deu o máximo pela sua camisola mas com lealdade e desportivismo.
Acompanhei toda a carreira de Moreno desde os escalões de formação.
Foi um jogador que sempre apreciei pela categoria, pela entrega ao jogo, pelo profissionalismo e por um amor sem limites ao Vitória de que sempre deu provas mesmo quando a carreira o levou episodicamente para o Leicester e depois para o Nacional da Madeira.
Mas também porque sempre foi alguém que em campo nunca teve medo de arriscar, fosse em passes em profundidade fosse em remates de meia distância (às vezes perante a impaciência dos adeptos quando saiam mal) quando lhe seria mais fácil passar a bola para dois metros ao lado e eliminar o risco de errar.
Penso que tendo feito uma bela carreira ainda assim podia ter feito uma carreira ainda melhor porque qualidade não lhe faltava para isso.
Talvez lhe tenham faltado,isso sim, mais treinadores que soubessem extrair dele todo o potencial de que dispunha mas que ficou muitas vezes subalternizado face às necessidades das equipas que o impediram de se fixar duradouramente numa posição e não andar a saltar entre defesa e meio campo.
Mas agora nada disso interessa.
A caminho dos 37 anos entendeu que era tempo de pendurar as botas e terminar a sua carreira de futebolista profissional.
É a lei da vida.
Pessoalmente tenho pena de ver o balneário perder a sua última grande referência de vitorianismo, deixando um vazio que apenas Miguel Silva poderá preencher se por cá continuar mais alguns anos, porque é fundamental a presença de homens com a mística do clube no seio dos grupos de trabalho.
Mas a vida continua e até pode ser (não faço a mínima ideia se assim será) que Moreno continue ligado ao Vitória.
Seja como venha a ser ...obrigado "capitão".
Depois Falamos.

sexta-feira, maio 11, 2018

Calendário

Amanhã joga-se um dos menos interessantes Vitória-Porto de que me lembro.
Aquilo a que se chama um jogo para cumprir calendário onde o que está em causa é apenas o respeito pelos espectadores e o profissionalismo de todo os envolvidos que tem a obrigação de se empenharem como se ainda houvesse classificações em disputa.
Em bom rigor até há.
Porque se o Porto já se sagrou, com inegável mérito, campeão nacional e portanto este jogo em termos de classificação já nada lhe traz no que ao Vitória concerne não é tanto assim.
A equipa vitoriana, actualmente classificada num impensável (em Agosto do ano passado) oitavo lugar, ainda pode ambicionar (!!!) subir ao sétimo mas também pode descer ao nono tudo dependendo do que se vai passar nos jogos Boavista-Belenenses e Marítimo Sporting.
E , é claro, também do que se passará no D.Afonso Henriques.
Certo é que no que depende dela própria a equipa apenas pode defender o oitavo lugar porque para mais do que isso terá de vencer e esperar que o Marítimo perca ou empate na recepção a um Sporting em luta pelo segundo lugar.
Seja como for, seja sétimo,oitavo ou nono, o Vitória ficará classificado num lugar completamente incompatível, indigno até, com a sua grandeza, a sua História e aquilo que os seus adeptos merecem face ao apoio constante e incansável que dão à equipa.
É uma época de completa frustração, depois do quarto lugar do campeonato anterior e das expectativas com que se iniciou este, e que se espera ao menos sirva de lição para que nunca mais se repitam os erros que deram origem a este mau posicionamento classificativo.
Espera-se, ao menos, que a equipa amanhã queira acabar a época dando uma pequena alegria aos adeptos e faça tudo que lhe for possível para conquistar os três pontos e assim se despedir do campeonato vencendo o campeão.
Será bonito se assim for.
Depois Falamos.

P.S. Também se espera que a equipa entre em campo de camisola branca, calção preto e meia branca.
Jogamos em casa, não estamos de luto e não somos a Académica nem o Tirsense.

Saber Ganhar

O meu artigo desta semana no zerozero.

Os jogos entre Vitória e Porto, os dois maiores clubes do norte de Portugal, tem larga tradição e inúmeras histórias para contar em volta das peripécias, dos resultados, das rivalidades e de outros temas que dão ao futebol aquele sabor único que ele possui.
Infelizmente o do próximo sábado, e bem ao contrário de tantos no passado, não terá nenhum outro interesse que não o de se esperar um bom jogo de futebol porque não conta para nada em termos classificativos dado que ambas as equipas tem o seu balanço final perfeitamente definido.
O Porto é, com toda a justiça, campeão nacional enquanto o Vitória terá uma classificação decepcionante a meio da tabela e , portanto, muito longe do que deve ser sempre o seu posicionamento num campeonato em que não pode ter ambição menos que ficar entre os quatro primeiros!
Daí o aproveitar esta crónica de hoje para duas reflexões.
Uma, curta, sobre a justiça na conquista do título pelo F.C. Porto e outra mais alargada sobre como é a postura dos “dragões” quando ganham troféus e a forma como se posicionam perante os seus adversários.
O Porto ganhou o campeonato com toda a justiça, já o disse atrás, porque foi a melhor equipa, a que melhor futebol jogou em grande parte da prova e aquela que melhor soube superar as adversidades próprias das provas de regularidade como o são os abaixamentos de forma e as lesões.
Creio que há um enorme mérito de Sérgio Conceição, que desta vez sim surpreendeu pela positiva, quer no fortíssimo espírito de equipa que implantou, quer na ambição que os seus jogadores puseram em campo, quer na forma como extraiu um enorme rendimento de jogadores em relação aos quais havia poucas expectativas de que Marega é seguramente o melhor exemplo porque foi apenas e só, na minha opinião é claro, o jogador mais decisivo deste campeonato.
Penso que o Porto começou a ganhar o título com o “bluff” de Agosto, espalhado aos sete ventos, de que por razões orçamentais não podia contratar jogadores e por isso apenas registava a entrada a custo zero do guarda redes Váná vindo do Feirense.
E era verdade.
Mas não era a verdade toda.
Porque discretamente o Porto fez regressar seis jogadores que tinha a rodar noutros clubes e esses seis jogadores, embora com niveis de participação diferentes, foram excelentes reforços para o plantel e seguramente bem melhores do que os reforços contratados pelos seus rivais.
Refiro-me ,como está bom de ver, a Marega, Aboubakar (os dois melhores marcadores da equipa com mais de vinte golos cada), Ricardo, Hernâni, Reyes e Sérgio Oliveira
E esses seis jogadores, a que em Janeiro se juntaria Gonçalo Paciência também regressado de um empréstimo, deram ao treinador um leque de soluções que se revelaria como decisivo na conquista do campeonato.
E se no ganhar não se põe em causa o mérito e a justiça já no saber ganhar há algumas coisas a dizer.
O futebol português vive de há muitos anos a esta parte uma macrocefalia asfixiante a que por comodismo se convencionou chamar os três "grandes" e que é composta por Benfica, Sporting e Porto.
Mas não foi sempre assim.
Em boa verdade, durante quatro décadas do século passado (do final dos anos 30 ao final dos anos 70) eram apenas dois clubes que disputavam a supremacia do desporto (não apenas futebol) português:
Benfica e Sporting.
Com domínio inicial do Sporting, décadas de 40 e 50 muito por força dos "5 violinos", que ao tempo seria o maior clube português mas depois tudo se transformaria com o momento decisivo que foi a chegada de Eusébio ao Benfica.
Que fez toda a diferença para os 15 anos seguintes.
Que foram de grandes vitórias do Benfica, com as duas taças dos campeões á cabeça, de grandes equipas e grandes exibições que trouxeram ao clube uma enorme legião de adeptos que lhe permitiu tornar-se no maior clube português.
E o Porto?
O Porto, que até tinha sido dos primeiros a ganhar títulos nacionais, vivia numa permanente subalternidade ganhando um campeonato de vez em quando e umas  taças de Portugal de quando em vez.
É então que, em 1976, se dá no Porto um facto de importância equivalente à chegada de Eusébio ao Benfica 16 anos antes.
Não através da contratação de qualquer jogador excepcional mas da tomada de poder interno por uma dupla histórica.
José Maria Pedroto e Jorge Nuno Pinto da Costa.
Um como treinador e o outro como director do departamento de futebol.
Os ideólogos do Porto actual mas também do "portismo" que a seguir definiremos.
O Porto actual conhece-se:
Um clube muitíssimo bem organizado, o clube com mais títulos nacionais do futebol português (campeonatos, taças e supertaças) e de longe o clube português com mais títulos internacionais em que avultam duas ligas dos campeões e duas taças UEFA .
A ideologia que permitiu tudo isso, lançada por Pedroto e Pinto da Costa e ainda hoje em vigor, é o "portismo".
Que se caracteriza basicamente por três premissas:
Criação de um inimigo externo, preferencialmente os clubes de Lisboa e a imprensa quase toda, que permita unir as "tropas" e motivá-las para a guerra.
Passagem da ideia que são todos contra o Porto e que a nível de poder futebolistico(e não só) há uma permanente conspiração contra o FCP.
O Porto é a bandeira do Norte em permanente luta contra o centralismo lisboeta e as suas instituições.
Com base nesta ideologia, e numa organização muito superior há de qualquer outro clube, o Porto vem de há quase 40 anos a esta parte a assumir-se como um clube hegemónico e a ganhar muito mais competições internas que qualquer outro.
Perguntar-se-á então porque é que a ganhar há quase 40 anos o Porto não é hoje o maior clube português em termos de adeptos quando ao Benfica, noutro contexto e noutro regime politico é verdade, bastou pouco mais de uma década para atingir esse estatuto.
A resposta não é simples mas vou tentar dá-la em cinco itens:
Em primeiro lugar o Porto não sabe ganhar com fair play e desportivismo.
Ganha com arrogância, com acinte, sempre minimizando o adversário e exaltando-se a ele próprio.
È uma postura agradável para os adeptos,odiosa para os adversários e desagradável para os indecisos que impede muita gente de aderir ao "portismo".
O Porto não sabe ganhar por si e para si; tem de ganhar sempre contra alguém!
Em segundo lugar , e claramente dentro da ideologia do "portismo", o Porto quando ganha não se limita a ganhar. Ganha contras as conspirações,contra Lisboa, contra a mais diversa espécie de inimigos nos quais inclui com todo o á vontade os clubes vizinhos renegando assim qualquer possibilidade de ser a tal "bandeira" do norte.
É um pouco a sindrome da pequena aldeia gaulesa de Astérix, rodeada de romanos (leia-se lisboetas) por todo o lado e em que a "poção mágica" é a união dos portistas contra o mundo exterior.
Infelizmente para o FCP esta visão do mundo é um resíduo do provincianismo que Pedroto tanto quis combater.
Em terceiro lugar manda a verdade que se diga que o "portismo" e o FCP nunca gozaram dos favores e fretes da imprensa nacional toda ela ,com raríssimas excepções, devotada à glorificação do Benfica e do "benfiquismo" e que tratou sempre o Porto como um clube menor.
E isso, nomeadamente em termos televisivos, faz diferença.
Em quarto lugar os métodos usados para ganhar.
Que muitas vezes não são agradáveis, algumas vezes não são conformes com a verdade desportiva, e indignam muita gente contra a forma como o Porto usa o poder de que dispõe nas instâncias do futebol.
Nada que outros não façam mas o Porto fá-lo com um descaramento despropositado e ainda exibe esse poder como um troféu de que se orgulha.
E isso afasta todos aqueles que acham que ganhar é bom mas não a qualquer preço.
Em quinto lugar o "portismo" tem um intrigante, mas bem vivo,complexo de inferioridade em relação ao Benfica que não tem reciprocidade por parte do clube de Lisboa.
E isso é patente nos cânticos das claques (que são o "portismo" no seu estado puro)contra o SLB mesmo quando o adversário em campo é outro clube qualquer como ainda aconteceu no jogo com o Feirense em que a certa altura lá vieram os cânticos insultuosos contra o Benfica.
Estar na festa do título, com o estádio completamente cheio, e em vez de viverem o momento da sua conquista estarem com o pensamento na perda do adversário é deprimente, é pequeno, é provinciano.
É profundamente irónico que a forma como o "portismo" festeja as vitórias sobre o Benfica dê ao adversário, com a dimensão desses festejos, o estatuto de importância que tanto lhe querem retirar.
O Futebol Clube do Porto é hoje o clube de maior sucesso no futebol português considerando os últimos quarenta anos.
Mais títulos nacionais, melhor organização, melhor curriculum internacional.
Mas não é o maior clube português, em termos de adeptos,  nem me parece que venha algum dia a sê-lo.
Porque o "portismo", afinal a ideologia que o fez começar a ganhar de forma consistente, ironicamente o limita a ele próprio fechando-o dentro de uma barricada que lhe limita o crescimento e cerceia a expansão para fora das "fronteiras" que ele próprio definiu.
Veremos se um dia a História não definirá o "portismo" como algo de essencial ao crescimento do FCP mas que acabou por se transformar no seu mais temível adversário.
Não sei se assim será.
Sei que um dos seus grandes ideólogos já morreu e o outro caminha para a reforma por força da lei da vida.
E o grande desafio para o futuro, nomeadamente o futuro pós Pinto da Costa, será saber se o Futebol Clube do Porto consegue libertar-se do "portismo" e encetar uma nova e diferente fase, igualmente ganhadora, da sua vida mais que centenária.