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quarta-feira, outubro 31, 2018

Évora

 O partido Aliança realizará o seu primeiro congresso em Évora nos dias 9 e 10 de Fevereiro de 2019.
Dito assim parece não ter nada de especial nem encerra outra novidade que não a da cidade escolhido pelo novel partido para realizar o seu congresso fundador e eleger os seus primeiros orgãos nacionais.
Mas a realidade é outra.
Portugal vive em democracia desde 1974 e nos 44 anos decorridos, por incrível que pareça, nunca o Alentejo (distritos de Portalegre, Évora e Beja) acolheu um congresso partidário ou até reuniões de orgãos intermédios dos partidos estruturantes do regime.
Confesso que nunca percebi a razão.
Nos partidos de esquerda, nomeadamente o PCP, é deveras estranho dada a implantação de que sempre gozaram no Alentejo e que faz com  que por lá tenham muitos militantes e simpatizantes que naturalmente gostariam de acolher um congresso.
No PS e no PSD também nunca percebi porque não apostaram no Alentejo para a realização dos seus congressos até como forma de dinamizarem os respectivos partidos na região e aumentarem a sua base eleitoral e de militantes.
O CDS percebo melhor face à sua quase nula representatividade naquela região do país.
Mas o Aliança veio para fazer diferente e fazer melhor.
E por isso entendeu fazer o que os outros nunca tinham feito, dar ao Alentejo a importância que os outros nunca tinham dado e realizar o seu primeiro congresso em Évora reconhecendo que a capital do Alentejo tem todas as condições para a realização de um evento desta natureza.
Que já merecia há muito!
Depois Falamos.

Real Loucura

O  meu artigo desta semana no zerozero.pt.

Há uma declaração de interesses a fazer, em nome da clareza, mas que em nada interfere no conteúdo analítico das linhas que se seguem e que versam o triste estado do Real Madrid no que está a ser um doloroso pós Ronaldo.
E essa declaração de interesses é muito simples e consta de reafirmar que não gosto do Real Madrid !
Nunca gostei.
Porque em regra, e não apenas em Espanha, não gosto das principais equipas sediadas na capital do respectivo país por entender que todas elas (muito mais nuns casos que noutros) tem benesses, benefícios e prebendas que os outros clubes que disputam os respectivos campeonatos não tem nem podem sonhar ter.
O Real Madrid, em Espanha, é um caso por de mais evidente de um clube historicamente levado ao colo pelo poder independentemente desse poder ser democrático, como agora, ou ditatorial como no tempo do general Franco em que a protecção ao clube foi de tal ordem que o governo até interferia na contratação de jogadores como aconteceu no caso de Di Stéfano que ia para o Barcelona e acabou no Real Madrid com todos os efeitos que isso teve na conquista de títulos e troféus pelos “blancos”.
Um pouco o que aconteceu em Portugal com a disputa por Eusébio entre Benfica e Sporting.
Mas essa não simpatia, porque não é mais do que isso como é evidente, estende-se a França onde nunca gostei do PSG, e menos ainda na actualidade quando os milhões de proveniência duvidosa o puseram a jogar “sozinho” na Liga e a ameaçarem a Champions, a Itália onde Roma e Lázio nunca foram clubes que apreciasse, a Inglaterra relativamente a Arsenal e Chelsea (em Londres há tantos clubes que era difícil não gostar de todos ...) e por aí fora em relação a outros países em que regra é a mesma.
Voltemos a Madrid.
Onde tenho alguma simpatia pelo Atlético, que é um clube de grande base popular e que tudo que vence é arrancado a ferros, mas não tenho de facto nenhuma simpatia pelo Real nem pela forma como este clube se posiciona especialmente desde que Florentino Perez chegou à sua liderança muitos anos atrás na sua primeira fase como presidente.
E não aprecio porque a arrogância, a sobranceria, o “posso quero e mando” , a convicção de que a força do dinheiro tudo resolve aliados a uma inegável ignorância futebolística levaram a que o actual presidente madridista se tenha posicionado no mundo do futebol como um autêntico “espalha brasas” convicto de que a sua vontade é lei.
Tudo começou com Figo.
A primeira transferência galáctica do mundo do futebol que quebrou barreiras em termos de dinheiro gasto e abriu uma espiral inflaccionária que nunca mais parou até aos dias de hoje sempre com o contributo do presidente merengue.
A seguir a Figo foi Zidane, depois Beckam, Ronaldo (brasileiro) e por aí fora construindo equipas que ganharam alguns troféus importantes (mal era também se não ganhassem)mas que davam sempre a sensação de que os critérios comerciais pesavam muito mais nas escolhas do que os critérios desportivos.
Para lá de uma falta de escrúpulos e ética desportiva que começaram com a forma como foi buscar Figo ao Barcelona (muito por culpa do próprio jogador também) e foram usados sempre que deu jeito para atingir determinados objectivos.
Um dia chegou a Madrid Cristiano Ronaldo.
Curiosamente a mais importante transferência da História do clube, face ao rendimento do jogador, atingiu os habituais valores galácticos mas não foi feita por Florentino Perez mas sim pelo seu antecessor Ramón Calderón pouco antes de sair  da presidência e dar lugar à segunda etapa de Florentino como presidente.
E pese embora o extraordinário rendimento do jogador durante os nove anos em que vestiu de branco ficou sempre a sensação de que não era um jogador do presidente que por ele nutria o respeito devido a quem tanto fez mas por ele nunca teve o carinho que nutriu por outros como Bale por exemplo.
E em bom rigor de há dois ou três anos a esta parte que se percebia que Florentino não se importaria de prescindir de Ronaldo, desde que bem pago por quem o levasse, para promover a estrela maior do clube um dos “seus “jogadores e preferencialmente Bale.
Foi este ano.
E perante a incredulidade dos adeptos, e do mundo do futebol em geral, Ronaldo foi para a Juventus farto de Florentino Pérez e da falta de reconhecimento do clube perante aquele que foi sem sombra de dúvida o maior jogador do seu historial.
Os resultados estão à vista.
Mas não contente com finalmente se livrar de Ronaldo o presidente madridista, que também se viu privado de um Zidane farto de o aturar, com a falta de escrúpulos que o caracteriza não se importou nada de “rebentar” com a própria selecção espanhola a dois dias de começar o Mundial indo buscar o seleccionador Lopetegui para treinar o seu clube.
Os resultados estão igualmente à vista.
E com dez jornadas disputadas o Real Madrid arrasta-se no nono lugar a sete pontos de um Barcelona que também não está a fazer grande campeonato (ai se estivesse...) mas que mesmo assim chegou para aviar o eterno rival com uma cabazada de 5 a 1 no jogo do passado fim de semana.
Por tudo isso considero que esta época cada derrota do “Real Florentino Pérez Madrid” é uma saborosa vitória do futebol!

Tristezas e Alegrias

O meu artigo desta semana no jornal digital "Duas Caras".

Em semana de Vitória-Braga, e sem querer fazer concorrência aos temas habitualmente abordados pela minha amiga Sandra Fernandes, é incontornável falar um pouco sobre aquele que considero ser o mais importante dérbi do desporto português.
Quando, ainda por cima, está recheado de histórias (quase todas tristes infelizmente) como aconteceu com o da passada sexta feira.
Mas o título da crónica refere também as alegrias e é por aí que quero começar.
Não houve particular alegria no resultado porque o Vitória não ganhou mas houve uma indesmentível alegria em ver um estádio com mais de vinte e seis mil adeptos presentes,dos quais vinte e cinco mil eram vitorianos e mil e quinhentos braguistas, num jogo em que não estavam aquelas equipas a que parolamente se chama “grandes” embora essa grandeza seja em muitos pontos mais que discutível.
E alegria particular no facto de ao contrário do que acontece noutros estádios deste país, e um até bem perto, essa presença massiva de adeptos se ter feito sem recurso a “borlas”, bilhetes oferecidos e outras dádivas que se fazem na tentativa de chamar pessoas aos estádios.
Alegria também para quem gosta de futebol ,independentemente de o resultado agradar mais ou menos, pelo facto de se ter assistido a um excelente jogo (porventura o melhor do presente campeonato)com emoção a rodos, resultado discutido até ao último minuto, lances polémicos e uma entrega notável ao jogo por parte de todos os seus intervenientes.
Foi um verdadeiro jogo de campeonato e um dérbi que não desmereceu de outros grandes dérbis do passado.
Alegria, finalmente, pelo grande espectáculo dado nas bancadas pelos adeptos vitorianos que antes, durante os noventa e seis minutos jogados e no final do encontro deram à sua equipa um apoio inigualável em qualquer estádio português e ao nível do que se vê nos estádios ingleses onde se joga o melhor campeonato do mundo do futebol.
E depois as tristezas.
Desde logo pelo comportamento do Braga, desde muito antes do jogo, com provocações nas redes sociais, comunicados sem qualquer sentido nem razão e declarações do seu ressabiado treinador (nunca pronuncia o nome Vitória mas sempre “o adversário”) que apenas serviram para incendiar ânimos dos adeptos sem qualquer contributo válido para o futebol.
Depois a ainda mal explicada rábula da entrada tardia da esmagadora maioria dos adeptos braguistas, coisa que aliás acontece frequentemente aos vitorianos que vão a Braga sem que os inquilinos da “Pedreira”se incomodem minimamente com isso , que também deu origens a protestos da direcção do Braga com insinuações torpes sobre a responsabilidade de Vitória e PSP no assunto quando afinal parece que a única responsabilidade é mesmo dos adeptos vindos do lado de lá da Morreira que terão tido comportamentos inaceitáveis em plena auto estrada.
Mas como a Liga, desta vez atenta e pressurosa ao contrário do que acontece nos Braga-Vitória em que até tiros já houve, mandou fazer um inquérito aguardemos pacientemente pelo seu resultado na convicção de que se ele for verdadeiro há por aí gente que vai ter de engolir muito do que disse.
Aguardemos...
Mas a tristeza maior deste dérbi, à beira da qual tudo o resto é insignificante, foi mesmo a morte de um adepto vitoriano na bancada nascente que não resistiu a um ataque cardíaco fulminante fruto das emoções ao rubro que se vivem em jogos deste género.
E a sua morte, eventualmente inevitável, foi também oportunidade de se perceber que os meios de socorro nos recintos desportivos estão ainda longe do desejável porque entre o momento em que o adepto se sentiu mal ,e os que o rodeavam começaram a chamar pelos socorristas, e a chegada do socorro passou muito tempo. Demasiado tempo!
E por isso, sem demagogias ou aproveitamentos de qualquer espécie,  espera-se que este infausto acontecimento sirva para melhorar aquilo que precisa de melhorias em termos de socorro nos estádios.

Certeza

Foto: Zerozero.pt

Defendo,de há muito, que Vitória e Sporting de Braga devem manter as melhores relações institucionais ,tantos são os assuntos em que devem convergir no mútuo interesse, deixando para os recintos de jogo e para as bancadas (e aqui de forma racional) a rivalidade que caracteriza a relação de sempre entre os dois clubes.
 Este fim de semana houve mais um derbi. 
Bem disputado no terreno de jogo, com grande apoio nas bancadas a ambas as equipas embora esmagador em relação ao Vitória que tinha 25.000 adeptos no estádio contra os 1500 do adversário, mas infelizmente manchado por jogadas e truques vindos do lado de lá da Morreira para tentarem destabilizar o Vitória e criarem um ambiente incandescente no interesse exclusivo dos seus autores. Foram os comunicados sobre bilhetes e lugares na bancada, foi a rábula ainda mal explicada da entrada tardia dos adeptos bracarenses, foram as tarjas colocadas e roubadas, foi o discurso incendário de um pateta chamado Abel (antes e depois do jogo mais o seu comportamento irresponsável no banco) que não passa da "voz do dono", foram as queixas sobre um apedrejamento ao autocarro que ninguém viu e do qual não existe qualquer prova, foram as provocações nas redes sociais vindas do próprio clube bracarense.
Foram, finalmente, as hipócritas tentativas de pregar moral, do clube e do pateta, sobre factos que em Braga se repetem jogo após jogo com uma gravidade bem maior e consequências bem piores. 
Das demoras da entrada dos adeptos às agressões e apedrejamentos a autocarros adversários.
 A actual direcção do Vitória tem ao longo dos tempos procurado manter um relacionamento civilizado com a direcção do Braga,a bem de ambos os clubes, não relevando provocações, desconsiderações e faltas de cortesia. 
Do meu ponto de vista até aturou bem mais do que seria admissível. 
O excelente comunicado que publicou depois do jogo de sexta feira terá significado, assim espero, o fim da paciência para com o lado de lá da Morreira e para as continuas atitudes de provocação que mais não são do que a demonstração de um inequivoco complexo de inferioridade que nem os resultados desportivos da última década conseguem atenuar. 
E por tudo isto reitero a minha certeza em duas coisas. 
Uma é que Vitória e Braga devem entender-se de forma racional e civilizada no seu mútuo interesse.
 A outra é que isso será impossível enquanto o clube do lado de lá da Morreira for presidido por quem é! 
Porque educação, civismo, fair play, racionalidade são conceitos que desconhece e desconhecendo-os naturalmente não os pratica.
 Melhores dias virão.
Depois Falamos

Dez Conclusões

Foto:zerozero.pt

Dez conclusões sobre o Vitória - Braga:

1) Foi um verdadeiro dérbi, na linha dos grandes dérbis do passado, com emoção, disputa do resultado, equilíbrio e polémica antes,durante e depois do jogo.
2) Grande ambiente no estádio com 25.000 vitorianos  a darem à equipa um apoio inigualável nos estádios deste país perante 1500 braguistas que fizeram o que puderam para se fazerem ouvir.
3)O Os adeptos do Braga entraram no estádio já o jogo decorria há mais de vinte minutos aguardando-se agora que o inquérito entretanto aberto esclareça as razões e os responsáveis. Para já suspeita-se que alguns lamentos se baseiem apenas em hipocrisia.
4) O Braga, jogando fora, alinhou com o seu equipamento principal (como deve acontecer sempre nos dérbis) ficando agora a curiosidade de ver como vai vestir o Vitória no jogo da segunda volta.
5) Luís Castro alinhou um claro 4x3x3 com dois extremos abertos e um único ponta de lança deixando aos laterais e aos "transportadores" André e Tozé a responsabilidade de "alimentarem" o ataque. E o modelo mostrou evolução e consolidação de processos.
6) O Vitória entrou melhor,, a controlar o andamento, e marcou para depois na natural reacção do Braga este chegar ao ataque e conhecer alguma supremacia até ao intervalo. Na segunda parte o Vitória voltou a entrar melhor,desperdiçou duas ou três claras oportunidades, mas depois quando os bancos "falaram" o Braga mostrou argumentos superiores (Paulinho,Fransérgio,Fábio Martins) a que o Vitória não conseguiu responder e acabou o jogo a pressionar o ultimo reduto vitoriano.
7) Na equipa vitoriana Tozé foi o melhor mas Guedes, Wakaso, Sacko e Pedro Henrique também estiveram em bom plano.
8) Nas substituições Luís Castro não esteve particularmente bem. A entrada de Estupiñán foi uma boa decisão mas Rincon em nada justificou a aposta e Pêpê entrou tarde e a substituir o jogador "errado" porque há já alguns minutos que se justificava a saída de André André e não a de Tozé. 
E, em bom rigor, num dérbi com aquela intensidade e peso psicológico talvez se justificasse bem mais a entrada de Célis pela experiência e intensidade do que a de um jovem ainda algo inexperiente neste tipo de jogos.
9) Hugo Miguel fez um trabalho inseguro, miudinho e portanto deveras irritante. Especialmente pela subserviência perante as manifestações desabridas do treinador e restante banco do Braga. Não teve influência no resultado mas teve um desempenho sem qualidade nem coragem.
10) Este jogo fica tristemente marcado pela morte de um adepto vitoriano na bancada nascente  fruto de um ataque cardíaco. Razão mais que suficiente para se repensar seriamente o socorro nas bancadas do estádio D.Afonso Henriques. 

Em suma foi um jogo, intensamente disputado (como convém a qualquer dérbi) e com um resultado final adequado aquilo que se passou em campo durante os 96 minutos da partida.
Se uma das equipas tivesse ganho não seria injusto mas assim foi mais justo.
Manda a verdade que se diga que o Braga ainda tem melhor plantel, e portanto melhor equipa, mas a diferença qualitativa entre ambas as equipas reduziu-se de forma substancial e hoje em termos de valores individuais há um equilíbrio bem maior do que em temporadas anteriores.
Na próxima jornada o Vitória vai ao Boavista e esse é outro jogo em que o triunfo valendo apenas três pontos ...vale mais do que isso!
Depois Falamos.

quinta-feira, outubro 25, 2018

Memórias

Embora o tenha comprado no próprio dia em que saiu ainda não tive tempo de ler o segundo volume das memórias presidenciais de Aníbal Cavaco Silva.
Li o primeiro...e gostei.
Como já tinha lido com todo o interesse as memórias que publicou depois de cumprir dez anos como primeiro ministro e entendeu,como agora, prestar contas aos portugueses daquilo que tinha feito nas funções para que fora eleito.
Pessoalmente gosto imenso de ler memórias, biografias e auto biografias de políticos de relevo porque através delas compreendem-se melhor determinados períodos históricos em que foram protagonistas e influenciaram a vida dos respectivos povos.
Alias é o que há de mais normal em democracia é políticos retirados, e às vezes alguns no activo, publicarem as suas memórias sem que isso constitua motivo para polémica ou para patéticas declarações sobre "sentido de Estado" venham elas de quem vierem.
Vou ler o livro para depois me pronunciar sobre ele com conhecimento de causa e não com base naquilo que se vai lendo, ouvindo e vendo por aí.
Para já registo que irritou os do costume.
Já é um bom indicador.
Depois Falamos

quarta-feira, outubro 24, 2018

terça-feira, outubro 23, 2018

Democracia e Informação II

O meu artigo desta semana no jornal digital "Duas Caras".

Semanas atrás escrevi neste espaço um texto sobre os problemas que a informação livre encontra em democracia, com o mesmo titulo deste, e que versava a temática de as dificuldades económicas que o país viveu nalguns ciclos influenciarem de forma profundamente negativa o pluralismo informativo e portanto a própria qualidade da informação.
Naturalmente que se a nível nacional isso levou à extinção de muitos orgãos de comunicação social, e a que outros funcionem no “vermelho” em termos económicos e também na qualidade (ou falta dela) da informação prestada, também a nível local isso teria de se fazer sentir e de forma ainda mais evidente.
Não conheço em pormenor a realidade informativa do distrito de Braga mas sei o suficiente para constatar que os efeitos das tais crises económicas também tiveram repercussões muito negativas nos orgãos de comunicação social do distrito com o fecho de vários títulos e o funcionamento nos limites de vários outros, nomeadamente rádios locais, não sendo para admirar que em termos futuros o panorama se venha a agravar.
Guimarães não foge à regra.
Quando se deu o 25 de Abril a comunicação social no concelho consistia essencialmente em três semanários  com realidade bem diferentes.
O “Notícias de Guimarães” de longe o mais lido, mais vendido e com mais assinantes no país e no estrangeiro e que dirigido desde o seu início por Antonino Dias Pinto de Castro tinha uma certa abrangência política nele colaborando defensores do antigo regime a par de democratas que posteriormente viriam a assumir algum protagonismo em termos locais e não só.
Existia o “Comércio de Guimarães”, que ainda hoje se publica e é o mais antigo título do concelho em termos de publicação ininterrupta, que vivia com grandes dificuldades e com  muito poucos leitores ao que se sabia então.
E existia o “Notícias de Vizela” com informação essencialmente centrada naquela zona do concelho e muito pouco lido na cidade e noutras zonas concelhias.
Em termos de informação as diferenças não eram grandes porque todos eles vivam debaixo dos ditames da censura que não permitia qualquer tipo de pluralismo em termos de informação e opinião.
O pouco que existia era muito disfarçado nas entrelinhas, nas frases de duplo sentido, naquilo que não era escrito mas era intuído.
Com o 25 de Abril em Guimarães, como no país, tudo mudou.
A começar pelos jornais.
Porque aos que existiam rapidamente se vieram juntar outros aumentando o leque informativo, a pluralidade de opiniões e naturalmente as opções dos leitores que eram então muito mais ávidos de informação do que me parecem ser hoje.
Aquele que merece uma primeira referência é o “Povo de Guimarães”.
Surgido nos primeiros anos pós 25 de Abril assumiu desde logo, até pela orientação dos seus fundadores, um posicionamento claramente de esquerda com colaboradores da área do PS , do PCP e da extrema esquerda sendo agente activo na defesa das posições dos partidos de esquerda “empurrando” o “Notícias de Guimaraes” para uma área mais conservadora e de alguma identificação com o CDS.
O “Povo de Guimarães” teria um papel importante, embora mal reconhecido por quem de direito, na conquista da Câmara ao PSD em 1989 porque no segundo e último mandato de António Xavier fez uma oposição mais visível e eficaz do que o próprio PS.
Com um jornal claramente de esquerda, um “Comércio de Guimarães” também encostado à esquerda e um mais à direita o leque estava algo “incompleto” e a lacuna seria suprida com o aparecimento já nos anos oitenta do “Toural” que surgindo como um jornal independente e pluralista (e sempre o foi) tinha na sua génese a defesa de posições na área do PSD até por força do posicionamento de alguns dos seus fundadores entre os quais me incluía.
Estava assim coberto o leque partidário por quatro semanários , todos muito diferentes uns dos outros, que asseguravam uma larga pluralidade informativa e permitiam que todas as áreas políticas tivessem canais de expressão através dos colunistas e colaboradores desses jornais.
Com a característica comum  a todos de independentemente do seu posicionamento ideológico manterem uma razoável independência dos poderes políticos, financeiros e até desportivos.
Os anos oitenta e noventa do século passado foram, do meu ponto de vista, os melhores tempos da imprensa vimaranense!
Em independência dos poderes, em pluralidade de opiniões, na qualidade da informação que veiculavam.

(Continua)

domingo, outubro 21, 2018

Dever Cumprido

Foto: zerozero.pt

A Taça de Portugal é uma prova mítica, de largo historial e tradição, mas infelizmente sem verdade desportiva por culpa daqueles que se acham "donos disto tudo" e de uma FPF que infelizmente lhes apara o jogo.
Porque para uma prova ter verdade desportiva precisa, desde logo e como característica fundamental, de ter regras iguais para todos independentemente da sua dimensão e influência nos bastidores do futebol.
E nesta edição, como em edições anteriores, de que adianta fazer sorteios condicionados à regra de o clube do escalão inferior receber na sua casa o clube do escalão superior se depois os "donos disto tudo" arranjam sempre forma de desviarem os jogos para estádios pseudo neutros mas em que eles desfrutam de todas as vantagens?
O que aconteceu com o Sertanense (Benfica) e com o Loures (Sporting) tem apenas uma definição:
Pouca vergonha!
E pergunto-me se o Portimonense (Cova da Piedade) e o Nacional (Lusitano de Vildemoinhos) também tivessem desviado os seus jogos para campos pseudo neutros teriam sido eliminados como foram aos jogarem nos estádios dos adversários que os eliminaram.
O Vitória, esse, cumpriu o seu dever.
Jogou em Valença do Minho, num pequeno estádio, os seus adeptos fizeram do jogo uma festa do futebol que mereceu a admiração dos adeptos e dirigentes adversários e a equipa levou o jogo "a sério" entregando-se a ele com grande profissionalismo e conseguindo um resultado dilatado mas adequado ao que se passou dentro das quatro linhas.
E embora a desproporção de forças não permita tirar grandes ilacções tem de ser considerar como muito positivo o facto de Estupinan ter aproveitado o tempo que lhe foi dado para fazer dois golos à ponta de lança, para outros avançados como Guedes,Boyd e Davidson também terem marcado e para a equipa ter estado globalmente bem.
Sexta feira frente ao Braga a "música" terá de ser bem outra mas este triunfo seguramente que terá contribuído para a moralização da equipa e especialmente dos seus avançados.
Depois Falamos.

sexta-feira, outubro 19, 2018

Excelente

A Dra Joana Marques Vidal foi uma excelente Procuradora Geral da República!
Ao contrário de alguns dos seus antecessores, desde o grande "Arquivador" ao grande "Encobridor", transmitiu a ideia clara de que a Justiça é para todos,sejam ricos ou pobre, famosos ou anónimos, e mais importante ainda a prática correspondeu à realidade como é bem visível em todos os mediáticos processos que por aí andam.
Mexeu com interesses poderosos, com personagens da vida financeira e da vida política que se achavam intocáveis, não receou investigar instituições e clubes desportivos que se achavam completamente acima das leis da República.
Devolveu aos cidadãos a esperança e a convicção na Justiça.
Que é um dos mais importantes e insubstituíveis pilares do Estado democrático em qualquer país em que a democracia seja uma realidade estável.
E por isso a sua recondução nas funções para um segundo e último mandato como PGR seria completamente indiscutível em qualquer outro lado que não neste país à beira mar plantado e que vive num regime semi presidencial que está a dar as "últimas".
Estamos em Portugal.
E por isso um governo incomodado com algumas das investigações com a cumplicidade de um presidente da República cujo peso político é inverso ao da popularidades "selfiezesca" substituíram Joana Marques Vidal de forma injusta face ao trabalho realizado e indigna face à forma como tudo foi conduzido em S.Bento e em Belém.
A História (e os eleitores assim espero) os julgará pelo péssimo serviço prestado à Justiça e a Portugal.
Depois Falamos.

Circunstâncias

A vida, toda ela e não apenas a política, é dinâmica e por isso é sempre muito ingrato avaliar o passado à luz do presente quando as circunstâncias, as pessoas, os condicionalismos mudaram e às vezes de forma radical.
É um pouco como avaliar os Descobrimentos à luz de critérios, valores e pressupostos éticos actuais.
Não faz qualquer sentido.
E por isso nunca me arrependi, em já muitos anos de vida política incluindo o ser cidadão eleitor desde 1979, das opções que fiz em cada momento por entender que elas eram as melhores e as que mais correspondiam ao meu pensamento e posicionamento.
E isso aplicou-se quer a eleições nacionais (autárquicas, legislativas e presidenciais) quer a eleições europeias em que de uma forma geral votei sempre no partido em que militei durante 43 anos ou nos candidatos por ele apoiados embora aqui ou ali com alguma....dificuldade.
A única excepção, tanto quanto me recordo, foram as presidenciais de 1991 em que pela única vez na vida me abstive porque era absolutamente incapaz de votar quer em Mário Soares quer em Basílio Horta,os principais candidatos, quer num dos outros candidatos que a elas concorreram.
Também nas eleições internas do partido em que fui militante optei sempre por um dos candidatos à liderança (naquelas em que havia mais que um candidato) e devo dizer que aí nunca tive razão para me arrepender independentemente de eles terem sido ou não eleitos.
Houve até casos, como José Manuel Durão Barroso e Luís Filipe Menezes, em que primeiro perderam e depois ganharam.
Noutras eleições, como por exemplo autárquicas e presidenciais, já tive uma ou outra vez (remotas e recentes) boas razões para me arrepender mas não o faço pela simples razão, atrás exposta, de que no momento em que votei entendia serem a melhor opção!
Depois percebi que me tinha enganado e que me tinham enganado, porque pareciam uma coisa e eram outra, mas foi...depois!
E desses pouquíssimos casos, pese embora o tempo que já passou (32 anos) , aquele em que estou mais perto do arrependimento foi o voto em Freitas do Amaral nas presidenciais de 1986.
Porque no momento pareceu-me a melhor opção mas de lá para cá foram desilusões atrás de desilusões com um personagem que é um exemplo acabado de falta de coerência ideológica e de enorme oportunismo político.
Nunca perceberei, mas em bom rigor também para nada me interessa, como é que alguém que foi vice primeiro ministro de Francisco Sá Carneiro conseguiu depois ser ministro num governo de José Sócrates e andar permanentemente de braço dado com uma esquerda e uma extrema esquerda que passaram anos a insultá-lo , a hostilizá-lo e até a perseguirem violentamente o partido de que foi líder noutros tempos.
Depois Falamos

terça-feira, outubro 16, 2018

A Obra

O meu artigo desta semana no jornal digital "Duas Caras".

No final do artigo da passada semana tinha anunciado que no de hoje escreveria sobre a comunicação social de âmbito local dentro da temática “Democracia e Informação” que tinha começado a desenvolver no referido artigo.
Contudo, e isto de formular opinião exige alguma flexibilidade temporal, um tema dos últimos dias parece-me merecer uma reflexão imediata face ao interesse de que se revestes e às implicações políticas e desportivas que encerra pelo que o artigo prometido ficará para próxima oportunidade.
Refiro-me ao lançar da ideia, e neste momento é apenas isso, de o Vitória vender os terrenos do complexo desportivo para um projecto imobiliário de significativa dimensão e com o dinheiro arrecadado no negócio construir um moderno centro de estágio fora da cidade e num espaço suficientemente grande para preencher todas as necessidades do clube para os próximos largos anos.
A ideia foi lançada por Júlio Mendes, em entrevista a “O Jogo”, e como é normal numa proposta que tem tudo para ser polémica face às idiossincrasias próprias do clube já divide opiniões quer nas redes sociais quer na assembleia geral  do passado sábado em que das poucas intervenções sobre o assunto não colheu grande apoio.
Penso que é uma ideia interessante, que merece uma reflexão alargada e uma ponderação serena tão ao arrepio do que é moda nas redes sociais, mas que pode ter pernas para andar se as coisas forem bem feitas.
Vejo ,à partida, dois problemas que poderão por em causa a realização do negócio :
A zona onde hoje se encontra o complexo desportivo “António Pimenta Machado” (que eu saiba o nome é esse e nenhum outro) tem já em redor do mesmo uma elevada densidade construtiva  e os terrenos onde está implantado não poderão permitir novas construções salvo se o PDM for alterado de molde a torna-los zona de construção.
E fácil será prever que qualquer tentativa de os urbanizar será fortemente contestada com argumentos ambientais, ecológicos e até de qualidade de vida.
Esse é um primeiro problema que só a Câmara poderá, em princípio, resolver nada podendo o clube fazer que não seja pressionar o município nesse sentido mas sem qualquer garantia de sucesso porque a autarquia quando se trata do Vitória para dar um “presunto” quer em troca um “porco”.
O segundo problema poderá ser o contrato de cedência dos terrenos pela Unidade Vimaranense ao Vitória.
Se bem me lembro de uns documentos que li largos anos atrás,quando desempenhava o cargo de secretário-geral do Vitória,  terá sido estipulado que a cedência desses terrenos ao clube se fazia sob a condição de eles não poderem ser alienados nem utilizados para outros fins que não os desportivos.
Posso estar errado mas creio que o  sentido era esse e dada a extinção da “Unidade Vimaranense” , anos atrás, creio que  ele nunca terá sido alterado.
São, a confirmarem-se, dois problemas muito complicados de ultrapassar .
Quanto à ideia em si ela parece-me muito positiva.
Aliás já na campanha eleitoral de 2010, que opôs as listas de Emílio Macedo e Pinto Brasil, a deste último defendia que se devia construir um moderno centro de estágio , no caso apenas para o futebol profissional, longe da cidade para que as equipas que nele trabalhassem pudessem ter todas as condições de tranquilidade , privacidade e reserva.
Defendendo até que uma parte separada desse centro de estágio devia ser para alugar a equipas estrangeiras que no inverno vem estagiar a Portugal afectando a receita desses alugueres aos custos de manutenção.
Mas a lista de Pinto Brasil perdeu as eleições e a ideia morreu.
Ressurge agora de uma forma mais global pretendendo levar para a zona de Silvares todo o futebol do clube, e não apenas o profissional, de molde a que o Vitória possa ter o seu “Seixal”, “Alcochete” ou “Olival” ultrapassando as lacunas do actual complexo desportivo que tendo sido pioneiro e inovador no seu tempo está hoje ultrapassado e sem espaço para a expansão que todos vemos como necessária.
É a minha opinião e com ela pretendo contribuir para o tal debate reflexivo e ponderado que permita num espaço de tempo razoável tomar as decisões certas naquilo que dos associados do Vitória depende.
Sabendo-se que um moderno centro de estágio potenciará a capacidade competitiva das nossas equipas de futebol profissional mas não fazendo da sua construção a condição única para que essa competitividade exista.

segunda-feira, outubro 15, 2018

A Taça

O meu artigo desta semana no zerozero.

Não há no futebol português nenhuma prova que tenha a amplitude geográfica e afectiva, porque nela participam equipas de todo o país, da Taça de Portugal.
De Norte a Sul, de Este a Oeste, nos dezoito distritos do continente e nas regiões autónomas há equipas a participarem na prova, a sentirem o seu sortilégio, a sonharem com a presença na final do Jamor para inscreverem o seu nome na História do nosso futebol.
É certo que só duas lá chegam, e algumas por repetidas vezes, mas enquanto há vida há esperança e por isso até os clubes mais modestos quando iniciam a sua participação na Taça fazem-no com a expectativa de conseguirem chegar ao jogo derradeiro ou então, o que é apesar de tudo menos improvável, conseguirem encontrar-se pelo caminho com uma equipa da primeira liga e se possível uma daquelas que como Benfica, Porto, Sporting ou Vitória Sport Clube garantem receita de boa dimensão.
Já por diversas vezes ao longo dos anos, e algumas aqui no zerozero, tenho manifestado a minha frontal discordância com o facto de a final se disputar no Jamor que considero um estádio sem condições para um jogo dessa envergadura por mais que o folclore dos piqueniques na mata, o ar helénico das bancadas e a tradição sirvam para a defesa desse palco para esse jogo.
Quem tiver assistido lá à final de 2017 entre Vitória e Benfica perceberá bem o que estou a dizer.
Mas o tema que hoje quero abordar não se prende com o estádio em que se joga a final mas sim com os vários jogos em que se deviam disputar jogos da taça e não se disputam face à realidade mentirosa do nosso futebol.
Um dos sortilégios que sempre contribuiu para a popularidade da Taça de Portugal foi o facto de ela proporcionar a visita ao interior do país, normalmente arredado da primeira liga, das equipas que as populações dessas zonas normalmente só veem através da televisão e que apenas na Taça tem a possibilidade de ver ao vivo.
O que somado à possibilidade de o clube mais fraco  a jogar em casa, num recinto a que já está habituado e com apoio do seu público, se tornar num “tomba gigantes” acresce uma substancial dose de mística à prova.
Mas estamos em Portugal.
E por isso ao contrário do futebol verdadeiro, o que se disputa em países como Inglaterra, Espanha,Alemanha, Itália ,etc, onde essas manobras seriam impossíveis, no Portugal actual (dantes não era assim) mal algumas equipas sabem o seu destino ou seja a casa do “pequeno” a que se deslocam começam logo a arranjar pretextos para levarem o jogo para outro campo que lhes seja mais propício.
Ou é o relvado que não serve, ou os balneários que não tem condições, ou as bancadas possuem pouca lotação, ou não há condições para a transmissão televisiva, ou qualquer outro pretexto que lhes permita transformar um jogo com algum grau de dificuldade num passeio agradável e pouco cansativo.
Normalmente os interpretes destas manobras são Benfica,Porto e Sporting.
Que com essas manobras, em que às vezes se insere a oferta ao anfitrião da totalidade da receita, conseguem deturpar por completo a verdade desportiva da competição transformando-a numa prova em que há filhos e há enteados.
Como em todas as outras aliás.
Veja-se a titulo de uma das centenas de exemplos possíveis ao longo dos últimos trinta anos o que se vai passar no próximo fim de semana.
Enquanto o Vitória vai ao campo do Valenciano, o Braga ao do Felgueiras, o Nacional ao do Lusitano de Vildemoinhos, o Moreirense ao do S. Martinho, o Chaves ao do Pedras Salgadas, o Vitória Futebol Clube ao do Armacenenses, o Marítimo ao do Moura, o Feirense ao do Mirandela e até o Porto ao do Vila Real  (este ano não terão conseguido deslocar o jogo para outro lado), entre outros exemplos possíveis o que acontece com Benfica e Sporting?
O Benfica em vez de ir à Sertã, como aconteceu por exemplo com o Porto em duas ocasiões, conseguiu desviar o jogo para o estádio Cidade de Coimbra com o pretexto de que o relvado do Sertanense não estava em condições e tem um jogo europeu na semana seguinte.
O Sporting em vez de ir a Loures jogará noutro estádio (à hora a que escrevo ainda não se sabe qual) em que as dificuldades serão presumivelmente menores com o argumento da lotação e da iluminação serem insuficientes.
Claro que os dirigentes dos visitados são seduzidos por receitas muito maiores (e com a tal nuance de às vezes até poderem ficar com a totalidade) e anuem à pretensão dos visitantes fazendo tábua rasa do interesse dos seus adeptos que apoiando as suas equipa ao logo de toda o ano bem gostariam de ter esses jogos nos palcos habituais.
Há que dizer que isto não é sério, não respeita a verdade desportiva, não defende os interesses do futebol.
E é pena que ninguém queira tomar medidas para acabar de uma vez por todas com esta autêntica pouca vergonha que transforma uma prova fantástica como a Taça de Portugal num arranjinho para favorecer alguns no percurso para o Jamor.
Mas estamos em Portugal.
E o futebol português é isto!

domingo, outubro 14, 2018

Boa Onda

É indiscutível que a selecção nacional está numa dinâmica de vitória independentemente do adversário e das experiências que Fernando Santos vem fazendo na equipa para fazer frente a abaixamentos de forma, ausências mais ou menos...inexplicáveis e jogadores que pela lei da vida vão terminando as suas carreiras.
Não é certamente por acaso que o seleccionador já deu a internacionalização a trinta e oito jogadores incluindo as estreias , hoje, de Hélder Costa,Pedro Mendes e Cláudio Ramos que cumpriram os seus primeiros minutos como internacionais A.
Depois do triunfo na Polónia, em jogo a contar para a Liga das Nações, hoje foi a vez de visitar a Escócia (longe dos seus melhores tempos) para um particular que tinha como objectivo rodar jogadores menos utilizados e em simultâneo permitir ao treinador ver em acção alguns estreantes bem como jogadores que ultimamente não tinham sido chamados.
Por isso procedeu a dez alterações no equipa inicial em relação ao jogo anterior, apenas se mantendo Rúben Dias ele próprio com muito pouca experiência ainda em termos de selecção, nas quais algo inexplicavelmente não se incluiu Cláudio Ramos que apenas jogou os últimos minutos (não sei que dúvidas tem em relação a Beto e que futuro tem este na selecção aos 36 anos...) mas da qual fizeram parte o estreante Hélder Costa e os quase estreantes Kevin Rodrigues, Sérgio Oliveira e Bruma.
E Portugal não estranhou as rotações fazendo uma exibição tranquila, especialmente a partir da meia hora de jogo, controlando completamente o adversário e desenvolvendo algumas jogadas de bom recorte sem nunca descurar a segurança defensiva.
Fez três excelentes golos por Hélder Costa, Eder e Bruma e sofreu um no ultimo minuto do jogo, no melhor lance de ataque dos escoceses, que deram ao resultado uma expressão justa e que se adequa ao decorrido ao longo dos 90 minutos.
Dir-se-à que esta Escócia é hoje uma equipa de terceiro nível europeu mas isso não retira mérito a Portugal que também jogou, sem desprimor para os utilizados, com quase uma equipa B face às ausências ou não utilizações de Ronaldo, Bernardo Silva, Rui Patrício, André Silva,Pepe, José Fonte,William Carvalho Quaresma,etc.
Dos estreantes há a registar a prometedora exibição de Hélder Costa enquanto Pedro Mendes e Cláudio Ramos tiveram muito pouco tempo de jogo para se poder fazer qualquer tipo de juízo sobre as suas exibições. Outras oportunidades terão assim se espera.
Em suma a seleção está numa boa sequência de triunfos (Itália,Polónia,Escócia) a que urge dar consequência nos jogos do próximo mês em Itália e com a Polónia em Guimarães.
Depois Falamos

sábado, outubro 13, 2018

Manaca

A propósito de uma publicação do meu amigo José Paulo Fafe ,na sua página de facebook, em que referia o antigo jogador Manaca num contexto comparativo,digamos assim, relembrei esse célebre jogo com o Sporting em que um auto golo desse jogador deu o triunfo aos "leões" e desatou uma indignação sem fim em Guimarães.
Ao ponto de o jogador, ao que me recordo, nunca mais ter vestido a camisola do Vitória.
É um jogo e um auto golo de que ainda hoje se ouve falar com frequência, especialmente em Guimarães, porque tendo decidido a partida a favor do Sporting teria também peso decisivo na conquista do campeonato pelos lisboetas dado tratar-se da penúltima jornada da prova.
E como Manaca tinha vindo para o Vitória precisamente do Sporting todas as teorias da conspiração apontavam para um frete ao antigo clube e um auto golo propositado para facilitar o triunfo leonino e consequente conquista do titulo.
Foi em 1980, há quase quarenta anos, mas recordo-me de ter assistido ao jogo tal como me recordo bem do lance do auto golo em que Manaca em disputa com um adversário, creio que Jordão mas disso não tenho a certeza, cabeceou na direcção da própria baliza sem que o guarda redes Melo pudesse fazer algo.
E devo dizer que ainda hoje estou convencido que não houve intenção e que o auto golo resultou de um lance fortuito como tantos que acontecem no futebol em que apenas ao azar próprio do jogo se podem atribuir responsabilidades.
O azar do Manaca foi que os condicionalismos desse Vitória-Sporting(jogo decisivo para o titulo, penúltima jornada, ter vindo para Guimarães de Alvalade) estavam contra ele e por isso ainda hoje se lhe aponta o dedo como responsável de um frete que estou perfeitamente convencido que não cometeu.
Por mim prefiro recordar Manaca como um bom  jogador que fez ao serviço do Vitória duas excelentes temporadas e que apenas saiu por esse infortúnio.
Depois Falamos

quinta-feira, outubro 11, 2018

Vontade Popular

Acompanhei com pouco interesse, devo dizê-lo, as eleições presidenciais no Brasil.
Nenhum dos candidatos me pareceu à altura do que um país como o gigante sul americano (ou qualquer outro em bom rigor) necessita, menos ainda nestes tempos complexos que o mundo vive, pelo que o interesse foi mesmo residual.
Mesmo quando um dos candidatos foi vitima de um atentado que o impediu de fazer campanha mas em nada terá prejudicado a sua votação.
Percebi que em Portugal havia muita gente a arrepelar os cabelos com a hipótese de Bolsonaro ganhar, nalguns casos os mesmos que se mantém em enorme silêncio face ao que se passa na Venezuela, outros que achavam que nem um nem outro serviam e também os que legitimamente entendiam que Bolsonaro era o melhor.
O Brasil votou.
Em Liberdade.
E a primeira volta deu um claro triunfo a Bolsonaro com cinquenta milhões de votos contra os trinta milhões de Haddad, a vitória em 16 Estados contra nove do seu opositor e uma percentagem de 46% contra os 29% do candidato do PT.
Ou seja em condições normais Bolsonaro vencerá a segunda volta o que, aliás, todas as sondagens indicam com larga margem e ao abrigo de qualquer margem de erro.
E assim sendo essa será a vontade do povo brasileiro que é naturalmente tão legítima como a de qualquer outro pese embora alguns que se acham sempre no direito de pensarem pelos outros com base numa ridícula arrogância pseudo intelectual.
Sei o que Bolsonaro pensa e propõe pelo que em pouco ou nada estou de acordo com ele.
Mas ele tem o direito de pensar assim.
E se aqueles que como eu acham que o sistema eleitoral americano está errado face aos tempos presentes (mas esse é problema dos americanos e de mais ninguém), e lhes custou ver Hillary Clinton ter mais três milhões de votos que Trump e não ser eleita, mas sem por em causa a legitimidade de quem venceu como não aceitar a vitória de um candidato que teve cinquenta milhões de votos e mais vinte milhões que o seu oponente?
Como se dizia dantes, curiosamente também por alguns que não reconhecem aos brasileiros a capacidade de escolherem os seus destinos, é preciso respeitar a vontade popular.
Mais nada. 
Depois Falamos

P.S. A vitória previsível de Bolsonaro tem também outro significado, em linha com o que se vem passando na Europa, que é o de mostrar sociedades cansadas dos partidos tradicionais e desejosas de novas propostas políticas.
Assunto a que voltarei.

terça-feira, outubro 09, 2018

Democracia e Informação

O meu artigo desta semana no jornal digital "Duas Caras".

Não existem aparelhos que por si sós possam aferir da qualidade da democracia que se pratica num país, numa região, num distrito ou num município o que não deixa de ser pena porque certamente proporcionaria algumas surpresas face aquilo que se vai vendo por aí e conformaria que nalguns lados é mais fachada do que essência.
Mas seguramente um dos indicadores que melhor nos mostram essa tal qualidade( ou falta dela) da democracia é a existência de imprensa livre,  independente dos poderes políticos e que pratique uma informação isenta onde todas as correntes de opinião possam ter expressão adequada.
Portugal viveu muitos anos, os da ditadura, sem que existisse liberdade de expressão e com a comunicação social que não era estatizada ( RTP , a então chamada Emissora Nacional hoje RDP e alguns jornais) a ter como condição da sua sobrevivência o não criticar o regime para lá do que a censura lhe  permitia e que era...nada!
Mas havia sempre umas frases de duplo sentido, umas afirmações nas entrelinhas, umas referências que pareciam ser a uma coisa mas eram a outra que escapavam ao lápis azul dos censores mas que uma vez “identificadas” como gestos oposicionistas valiam aos seus autores e aos jornais que as publicavam sérios aborrecimentos.
Foi assim durante 48 anos embora os últimos quatro ou cinco, equivalentes ao governo de Marcelo Caetano tivessem sido de algum afrouxar da censura e consequente possibilidade de se começarem a ler algumas coisas que nas quatro décadas anteriores não se liam.
Foi, por exemplo, o caso do semanário Expresso que fundado em 1973 teve um primeiro ano de vida de constantes enfrentamentos com a censura muito por força da sua irreverência em abordar temas até então proibidos e também da coluna “Visto” assinada por Francisco Sá Carneiro e que muito irritava o regime.
O 25 de Abril , com a conquista da Liberdade, teve entre outros o efeito de abrir o mundo da comunicação social surgindo então muitos e muitos jornais que da direita à esquerda proporcionaram uma cobertura extremamente abrangente do fenómeno político e que conheceram êxitos de vendas num tempo em que os portugueses estavam ávidos de acederem ao máximo de informação possível.
Com a curiosidade de se terem vindo juntar a muitos que já existiam durante a ditadura porque a democracia encerrou muito poucos .
E Portugal teve então dezenas de jornais diários, matutinos e vespertinos (hoje não existe um único), semanários de grande informação e revistas naquilo que foi um verdadeiro maná para quem gosta de ler e de andar informado.
Depois com o passar dos anos muitos desses projectos foram desaparecendo porque o mercado publicitário se revelou incapaz de sustentar tantos títulos e as vendas não chegavam por si só para fazerem frente a todas as contas que havia para pagar no final de cada mês.
E assim fecharam diários históricos como os portuenses “ O Primeiro de Janeiro”e “Comércio do Porto”, o também portuense tri semanário “Norte Desportivo” enquanto em Lisboa títulos históricos como os diários “Diário Popular”, “Século”, “Diário de Lisboa”, “República” acompanhados pelos semanários “O Jornal”, “Tempo”, “independente”, ”Se7e”, pelos desportivos “Gazeta dos Desportos” e “Mundo Desportivo” e por revistas como a “Flama”, “Vida Mundial”, “Século Ilustrado”, “Grande Reportagem” ou “Kapa”  conheciam igual sorte.
Eles e outros que também poderiam ser citados.
É do meu ponto de vista inquestionável que estes encerramentos, na sua esmagadora maioria provocados pelos tais constrangimentos económicos, prejudicaram gravemente a pluralidade informativa e reduziram drasticamente o espaço de opinião que todos esses títulos abundantemente garantiam.
O que tem óbvio reflexo na informação que temos hoje concentrada em poucos diários, poucos semanários, pouca irreverência, pouca investigação, pouca independência do poder económico e por tabela do poder político.
E se é assim a nível nacional, se são esses os problemas e respectivos reflexos, a nivel regional e local são naturalmente agravados.
Assunto que abordarei na próxima semana!

Desapontamento

Votei em Marcelo Rebelo de Sousa.
Parecia-me, e ainda hoje estou certo disso, o melhor candidato presidencial dentro do naipe que se apresentou às eleições e que ofereceu aos portugueses a escolha quanto a quem queriam como Presidente da República.
E nesse contexto não estou arrependido do meu voto.
Mas admito, sem qualquer problema, que o seu mandato me tem causado um desapontamento em crescendo por razões que se prendem com o posicionamento político mas também com a interpretação pessoal que faz do exercício da presidência.
Não gosto da colagem ao governo ,em que me parece esquecer a isenção a que está obrigado dando a ideia de ser "controlado" pelo PM, nem da forma como agiu na substituição da PGR Joana Marques Vidal em que deu a clara ideia de andar a baralhar as pessoas (há vichyssoises eternas ?) para no fim fazer o que o governo queria e que do meu ponto de vista não era o que o país precisava e menos ainda da forma como em relação a Tancos exibe uma impotência que desqualifica o cargo com repetidas exigências de apuramento da verdade a que ninguém parece dar ouvidos.
Mas também não gosto de algumas posturas pessoais.
São demasiadas selfies, demasiados momento de banalização do cargo como as várias entrevistas em calções de banho, demasiadas declarações públicas em que se pronuncia sobre tudo e razoável numero de vezes sobre "nada", demasiados momentos televisivos que o levam a aparecer com a mesma frequência do apresentador do boletim metereológico!
Mas é na colagem à popularidade do desporto que ultimamente me tem desiludido mais.
Se já tinha esfregado os olhos de espanto ao ver o Presidente da República aparecer no "flash interview" de um jogo da selecção nacional a comentar o jogo como um treinador ou jogador e tivera dificuldade em acreditar quando o vi "invadir" o balneário de João Sousa enquanto o tenista tomava banho depois de vencer o Estoril Open a minha dose de tolerância perante tanto populismo esgotou-se com a declarações quanto a este triste caso em que está envolvido Cristiano Ronaldo.
Um assunto sobre o qual um PR em nome da sensatez, prudência, recato e respeito pelo caminho que a Justiça há de fazer evitaria sequer um comentário num circulo de amigos quanto mais uma declaração publica nos termos em que foi feita.
Um Presidente da República não comenta assuntos daqueles.
Nunca!
E por isso não sendo daqueles que jura por todos os "santinhos" que nunca mais vota em Marcelo sou daqueles, muitos acredito, que gostariam de o ver rectificar seriamente a forma como exerce o cargo de Presidente da República para em 2021 poderem olhar a sua inevitável recandidatura com...simpatia digamos assim.
Depois Falamos

sexta-feira, outubro 05, 2018

Sugestão de Leitura

Devo dizer, antes de mais, que é um dos livros mais interessantes que tive oportunidade de ler nos últimos largos tempos.
Escrito por dois professores de Ciência Política na universidade de Harvard estuda a forma como as democracias se tem vindo a fragilizar em todo o mundo e nos principais riscos que as ameaçam no tempo presente.
Concluindo que o principal risco para as democracias europeias e latino americanas já não são os golpes de estado mas sim a fragilização das instituições como os tribunais, da permeabilidade dos orgãos de comunicação social, dos fenómenos emergentes de populismo e do desgaste de normas respeitadas durante muitos anos.
Mas o tema central do livro é mesmo uma investigação sobre se a democracia norte americana foi enfraquecida pela presidência Trump.
Os autores concluem que sim  mas que há soluções para resolver o problema se houve ruma firme determinação em combater os fenómenos de autoritarismo.
Em suma uma obra extremamente interessante de leitura indispensável para se perceber o que se passa hoje no Estados Unidos e noutras democracias.
Depois Falamos