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segunda-feira, junho 18, 2018

Não a Guimarães

O meu artigo desta semana no zerozero.

Começado o Mundial andam os portugueses entusiasmados com a sua selecção por força daquele épico empate com a Espanha (a melhor equipa que vi até agora na prova) esquecendo-se um pouco que ele resultou muito mais do imenso talento individual de um jogador do que da valia de um colectivo que deixou bastante a desejar e que terá de melhorar muito para justificar um estatuto de candidato a ficar na Rússia até meados de Julho.
Mas hoje não vou escrever sobre a participação da selecção neste Mundial.
E também não o vou fazer, embora me apetecesse bastante porque é assunto para que já alertei neste espaço, sobre o papel maléfico do VAR na deturpação da verdade desportiva de alguns jogos sempre a favorecer os teoricamente mais fortes naquilo que mais não é que defender o negócio em volta do futebol e aqueles que para ele mais contribuem.
Já tínhamos experiência disso na nossa Liga mas quando na prova maior do futebol mundial se assiste ao que se vem assistindo não podem existir mais dúvidas sobre o real significado da sigla VAR que é “Vamos Ajudar (os) Ricos”.
Assunto a que talvez volte brevemente.
Hoje escreverei sobre um assunto estranho, com contornos de misterioso até, que é a má relação da selecção nacional com a cidade de Guimarães e com o estádio D.Afonso Henriques mais propriamente.
Estádio que detém há muitos anos a quarta melhor média de assistências de Portugal (tem público), estádio onde os seus habituais frequentadores criam um clima de apoio à equipa que lá joga consensualmente reconhecido como dos mais espectaculares e fervorosos do país (há apoio vibrante) , estádio onde, contudo, a selecção nacional rarissimamente joga por opção inexplicável da Federação Portuguesa de Futebol.
A FPF foi fundada em 1914, cento e quatro anos atrás, mas a selecção nestes mais de cem anos apenas jogou em Guimarães...seis vezes!
Estreou-se em 16 de Fevereiro de 1983 (já a FPF tinha 69 anos de idade) num jogo particular com a França de Platini e Cia, que apenas um ano depois se sagraria campeã europeia depois de bater Portugal naquela meia final de Marselha e a Espanha na final do Parque dos Príncipes, num jogo disputado a meio da tarde de um dia normal de trabalho (uma quarta feira) porque o estádio ainda não tinha iluminação.
Como não tinham outros onde a selecção disputava jogos oficiais.
Depois foi preciso esperar dezasseis (!!!) anos para a FPF voltar a marcar um jogo para a cidade berço.
E, quanta generosidade, um jogo oficial com o Azerbaijão a contar para a fase de apuramento para o Europeu de 2000 que Portugal venceu por robusto sete a zero (que foi durante anos a mais dilatada vitória da selecção) e que ficará para a pequena História por ter sido nesse jogo que Pauleta se estreou a marcar pela selecção de que é, ainda hoje, o segundo melhor marcador de sempre apenas superado por Ronaldo e por ter sido a primeira internacionalização de Pedro Espinha ao tempo guarda redes do Vitória.
Esse jogo foi disputado à noite, com as bancadas a terem uma configuração muito parecida com a actual, e casa cheia num apoio vibrante à selecção.
O “agradecimento” da FPF foi só ter voltado a marcar um jogo para o estádio D.Afonso Henriques quatro anos depois, um particular com a Espanha que perdemos por 0-3, já em fase de aquecimento dos motores para o Euro 2004 e em que a equipa de Scolari fez uma exibição muito abaixo do expectável.
Ou seja entre 1914 e 2004 (noventa anos)a selecção jogou em Guimarães três vezes!
Dois jogos particulares e um oficial num ostracismo absolutamente inexplicável.
Em 2004 disputou-se o Europeu em Portugal e para o efeito foram construidos de raiz seis novos estádios ( Alvalade,Dragão, Municipal de Braga, Algarve, Luz e Municipal de Aveiro)e modernizados quatro (D.Afonso Henriques,Cidade de  Coimbra, Magalhães Pessoa em Leiria e Bessa) ficando o nosso país com dez modernos estádios todos eles aptos a receberem jogos da selecção nacional.
De lá para cá como tratou a FPF a cidade de Guimarães?
Cinco (!!!) anos depois do Euro 2004 (a 14/10/2009) lá marcaram um jogo , com Malta na fase de apuramento para o Mundial de 2010, que Portugal venceu por 4-0 em mais uma noite de gala com as bancadas do DAH cheias de um público entusiasta.
Talvez por isso, talvez por alguma má consciência, talvez por coincidência (o mais provável) cerca de um ano depois (mãos largas...) novo jogo oficial na estreia da fase de apuramento para o Euro 2012 face a Chipre.
Não correu lá muito bem e o empate final, a quatro golos, foi um dos mais caricatos resultados de sempre da selecção portuguesa embora a responsabilidade do mesmo não possa ser atribuída ao estádio nem ao  público.
Resultado?
Mais três anos de “seca” até ao particular com o Equador, em Fevereiro de 2013 em plena fase de apuramento para o Mundial do Brasil, que se saldou por uma derrota por 2-3 face a umas bancadas com menos público do que o habitual porque os vimaranenses já começavam a estar fartos de comer gato por lebre,ou seja, verem marcado jogos oficiais com selecções de terceiro ou quarto escalão europeu (Malta,Chipre, Azerbaijão)enquanto os jogos com selecções de primeira linha (e apenas França e Espanha) eram particulares.
Esse jogo com o Equador, em 2013, marcou a ultima aparição da selecção nacional no estádio D. Afonso Henriques.
De lá para cá , cinco anos decorridos,nunca mais foi vista !
O que significa que nas fase de apuramento para o Europeu de 2016 e para o Mundial de 2018 a selecção nacional de futebol não veio a Guimarães disputar um único jogo, fosse ele particular fosse oficial,naquilo que constitui uma imensa falta de respeito pela cidade e pelo concelho de Guimarães que , como foi dito atrás, garantem ao futebol português há muitos anos a sua quarta melhor média de assistências e nunca faltaram à selecção com o seu apoio entusiasta nas seis escassas vezes em que ela jogou em Guimarães.
Desde 2004, altura em que Portugal passou a ter os tais dez estádios modernos e com todas as condições para jogos oficiais da selecção, como se distribuíram os jogos da mesma?
Jogou vinte e uma vezes em Lisboa (Luz e Alvalade mas curiosamente evitando o tal Jamor que nos gostam de vender como excelente para outro tipo de jogos), dez vezes no Porto (Dragão e Bessa), oito vezes no desértico estádio de Leiria onde nem o União actualmente joga,sete vezes no Algarve num estádio que nem jogos (e público)de campeonato tem, cinco vezes em Aveiro outro estádio ao abandono dado que o Beira Mar deixou de o utilizar), quatro vezes em Coimbra e outras tantas em Braga e as tais três vezes em Guimarães o que deixa o estádio da cidade berço como o menos utilizados dos dez do Euro 2004.
Os números não mentem e mostram, de forma clara, que a FPF não gosta de Guimarães nem de marcar jogos para o estádio D. Afonso Henriques.
Não por falta de condições, muito menos por falta de público e do seu apoio caloroso, mas apenas porque todos os interesses económicos que se movem em volta da selecção apontam para outros palcos e para outros clubes a serem favorecidos financeiramente com jogos da selecção nos seus estádios.
É comum em Guimarães, cada vez mais comum e não apenas nas bancadas do estádio D.Afonso Henriques, ouvir-se dizer que “ a nossa selecção é o Vitória”  num claro repúdio pela forma como a FPF trata  a cidade berço.
E ninguém pode levar a mal que assim se pense.
A isso fomos levados por muitos anos de um ostracismo e um desprezo que nada justifica e que Guimarães, e a selecção de Portugal, não merecem!

4 comentários:

  1. Já por várias vezes tenho abordado este assunto, junto daqueles que me são mais próximos.

    Esta situação, só demonstra a "azia" dos os estarolas por nós, e dos outros que gostavam de ser como nós.

    Pior do que isso, é a prova provada de como o vitória não tem voz nas altas instãncias desportivas, nomeadamento no Futebol.

    E como não há 2 sem 3, a condecoração ao presidente da FPF na última gala vitoriana....

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  2. Caro ON:
    Seja qual for a razão ou razões a realidade é que a selecção não vem a Guimarães.
    E bem gostava d eperceber as razões dessa má vontade federativa ao longo dos anos porque seis vezes em mais de cem anos é inaceitável.
    Quanto ao galardão dado ao presidente da FPF na Gala também não percebi a razão.

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  3. Em Guimarães, no dia 6-Fev-2013, no Portugal-Equador os adeptos locais passaram o jogo todo a assobiar o Custódio (que por acaso até é natural do concelho de Guimarães). Na altura, era ele jogador do SC BRAGA. Se em Guimarães não sabem separar as águas, acho muito bem que a FPF não marque para lá jogos para não se correr o risco de voltar a assistir a episódios desses.

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  4. Caro Anónimo:
    Esse é um argumento completamente ridiculo e que apenas dá vontade de rir.
    Já vi ao vivo em vários estádios deste país (todos os do Euro com excepção do Algarve) dezenas de jogos da selecção nacional. E já a vi algumas vezes, felizmente muito poucas, ser mais assobiada do que foi esse jogador nesse jogo.
    Nomeadamente na Pedreira de Braga já que percebo bem de onde vem esse comentário disparatado.

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