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sexta-feira, abril 22, 2022

O "Caso" Quaresma

 O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Num clube que vive o seu dia a dia com pemanente interesse dos associados e adeptos qualquer assunto que fuja ao nornal, digamos assim, suscita logo curiosidade a que muitas vezes se sucedem as inevitáveis polémicas.
E quando isso envolve treinadores e jogadores, por natureza os mais expostos à observação dos adeptos, é normal ( no Vitória) que os assuntos sejam logo transformados em “casos” muito sérios e que suscitam enormes discussões em seu torno.
Ricardo Quaresma é, sem qualquer dúvida, o futebolista com melhor curriculo que alguma vez vestiu a camisola vitoriana e por isso a sua chegada ao castelo (mais ao Paço dos Duques de Bragança e a cavalo!) suscitou incredulidade seguida de enorme entusiasmo porque ver um jogador com tal estatuto no clube era um sonho transformado em realidade.
E na sua primeira época de branco Ricardo Quaresma cumpriu com as expectativas.
Participou em 31 jogos, fez quatro golos e seis assistências, foi dos jogadores mais utilizados pelos vários treinadores que passaram pelo banco vitoriano numa temporada algo atribulada e em que a equipa ficou longe dos objectivos a que se tinha proposto.
O que não admirará muito se constatarmos que ao longo da época passaram pelo banco quatro treinadores (!!!) começando por Tiago Mendes, depois João Henriques, seguindo-se Bino Maçães e com Moreno a fazer os dois últimos jogos.
Mas não foi, seguramente, por responsabilidade de Quaresma que os objectivos deixaram de ser atingidos.
Na época em curso o panorama mudou.
Desde logo porque chegou ao banco um novo treinador- Pepa- e com este a equipa tem tido em termos de direccção técnica a estabilidade que lhe faltara na época passada com as várias trocas de treinadores mas também porque o plantel está melhor apetrechado para a luta pela Europa pese embora as saídas de Janeiro (Edwards,Sacko e André André) tenham reduzido de forma importante o seu valor qualitativo muito em especial pela falta que o talento do jovem inglês faz á equipa.
Para Quaresma as coisas também mudaram embora neste caso para pior.
Participou em menos jogos, fez apenas um golo e uma assistência, e embora tenha começado a época como titular foi perdendo esse estatuto ao ponto de na segunda volta ter participado em apenas cinco jogos e sempre enquanto suplente utilizado, não saindo do banco nos jogos com Braga e Porto e não sendo convocado nos jogos restantes por lesões e por opção técnica do treinador.
Ricardo Quaresma tem trinta e oito anos.
O fulgor físico, a velocidade, a forma explosiva como saía dos dribles para os seus cruzamentos letais já não são o que eram porque as leis da vida cobram o seu preço e o jogador não foge a elas.
Mas o resto está lá.
A exceppcional qualidade técnica, a experiencia de muitas batalhas, a capcidade de do nada criar um lance de perigo ou fazer um golo, a ambição de ganhar sempre que o transforma num líder e num exemplo para os colegas.
Mas também o profissionalismo, a comprensão do meio que o rodeia, o bom balneário para que contribui com atitudes positivas bem conhecidas de quem com ele lida no dia a dia.
Ricardo Quaresma, como escrevi no início deste texto, tem um curriculo impressionante ao ponto de muito poucos futebolistas portugueses, ou que jogam no nosso campeonato, possam sequer tentar comparar-se-lhe.
Tem 80 internacionalizações e dez golos por Portugal.
Foi campeão europeu de selecões e clubes.
Foi campeão nacional em Portugal, em Itália e na Turquia.
Ganhou Taças em Portugal, Inglaterra, Itália e Turquia.
Jogou no Sporting, Porto, Barcelona, Inter, Chelsea e Besiktas.
E isso confere-lhe um estatuto muito próprio que não o isentando de cumprir exemplarmente as suas obrigações profissionais ( o que faz) lhe dá o direito de ver a sua carreira respeitada e o seu estatuto reconhecido a cada momento.
Aos 38 anos, e com o fim da carreira a aproximar-se, Ricardo Quaresma não pode ter a veleidade de querer jogar sempre e, jogando sempre, jogar o tempo todo.
Ele, melhor que ninguém, sabe que isso já não é possível.
Tem que se fisicamente gerido de acordo com as suas possibilidades e com os interesses da equipa.
E nessa gestão tem de entrar, obviamente, uma relação franca com o treinador que tem de lhe dizer para que conta com ele e como tenciona rentabilizar as suas prestações jogo a jogo de molde a que todos possam tirar partido do muito que ainda pode dar à equipa.
Partindo do princípio de que está bem fisicamente então Quaresma, basicamente, ou joga de início e sai quando o cansaço imperar ou entra numa altura em que ainda haja tempo para a equipa aproveitar o acréscimo qualitativo que a sua presença em campo significa.
E se isso lhe fosse claramente dito, e praticado, não duvido que ele teria aceite de bom grado e sem dar origem a qualquer tipo de contestação.
Agora um jogador com a qualidade de Quaresma, e o estatuto (insisto neste ponto porque me parece a chave que explica o “caso”) que indiscutivelmente tem, ver-se remetido a última ou penúltima opção a que se recorre no banco dando-lhe entrada depois de colegas que jogam na mesma posição e que aportam muito menos à equipa é que me parece compreensivelmente mais difícil de aceitar.
Já para não falar de fazer dele substituição a que se lança mão para queimar tempo nos últimos minutos e quando a equipa está a defender um resultado, como aconteceu recentemente na Madeira, porque isso é simplesmente impossível de ser compreendido e aceite por um jogador com o estatuto (lá está...) que Quaresma tem.
E não é uma questão de profissionalismo porque esse é inatacável e o jogador, ao que se sabe, continua a trabalhar com o empenho de sempre mas sim de respeito por uma carreira que o merece.
A quatro jogos do fim do campeonato é provável que Quaresma não volte a jogar pelo Vitória.
E é pena não só porque nalguns jogos a sua qualidade podia ainda fazer a diferença mas também porque a sua passagem pelo Vitória merecia bem ter outro desfecho que não este.
Mas falhou a gestão de um jogador com a sua idade, carreira e estatuto daí nascendo um “caso” que era tão fácil de evitar.
E aí a responsabilidade maior não me parece ser dele.

4 comentários:

  1. Não concordo, o Vitória está acima de tudo! O jogador não rende não joga, tão simples quanto isso.
    Tudo o resto é expeculativo e não serve os superiores interesses do nosso clube.

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  2. Caro Anónimo:
    É o seu ponto de vista.
    Mas não é o meu. De resto se o rendimento fosse critério absoluto há um ou outro que não jogavam nunca.

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  3. Estou de acordo consigo. Há muito que aguardava ver uma opinião sobre este assunto e ainda bem que é essa. Há qualquer coisa de "sina" nisto. Não é a primeira vez que o Q é deixado de fora, ou metido nos últimos minutos dum jogo, mesmo quando está na melhor forma física. Muitos treinadores têm dificuldade em preparar uma equipa com ele. Talvez por ser imprevisível. O último que o usou de forma massiva foi o Senol Gunes. E se for ver as críticas turcas, diziam que a táctica de Gunes era simples: fazer todo o jogo de ataque passar pelo Quaresma. E achavam que era lastimável, péssimo! Só que o Besiktas ganhou dois títulos consecutivos do campeonato assim, foi a loucura. Faz lembrar, salvo as distâncias, os dois títulos que o Nápoles ganhou com o Maradona: veja-se se há algum outro jogador do mundo hoje com importância comparável...Agora, o Vitória precisava, e muito, dum Quaresma apoiado e no seu máximo. Mas o Pepa parece contentar-se com um campeonato mediano e umas tácticas que ele lá sabe... A lição que tiro disto é que a mediocirdade sempre se deu mal com o génio.

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  4. Caro Anónimo:
    Concordo por inteiro com o seu comentário. E tenho a desconfiança, que por razões óbvias nunca será certeza, que com outra utiização do Quaresma o quinto lugar nunca nos teria fugido. Ter Estupinan, provavelmente o melhor cabeceador do campeonato, e Bruno Duarte , que joga bem de cabeça, e não utilizar muito mais o jogador que melhor cruza em Portugal parece-me um contrasenso. Porque o que se pode esperar de Quaresma nesta fase final da sua carreira é que pondo-lhe a bola no pé no ultimo terço do terreno ele levante a cabeça e a ponha no sítio certo para a finalização dos pontas de lança. Com a cabeça ou com os pés. Infelizmente a opção foi outra e por isso tivemos jogos em que os cruzamentos foram muito poucos e nem sempre com qualidade. Mas também me lembro de um jogo em que o Quaresma entrou a vinte minutos do fim e fez cinco cruzamentos perigosos. Enfim...

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