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quinta-feira, julho 30, 2020

O Caneco da Liga

O meu artigo desta semana no zerozero.

A taça da Liga, coitada dela, tem muito pouco prestígio e credibilidade então é melhor nem falar.
Popularmente conhecida como “taça da carica”, taça “Lucílio Baptista” e outras alcunhas, algumas delas impublicáveis, entrou no anedotário nacional face à forma “sui generis” como foram decididas algumas das suas finais que em nada contribuiram para que a prova se credibilizasse.
Sendo certo que mais que esses episódios o que realmente contribui para que a prova seja uma competição menor e descredibilizada  é o absurdo regulamento ao abrigo da qual é disputada e que é, para não sermos antipáticos, uma autêntica aberração.
Partindo do princípio que uma Liga é constituida por clubes profissionais, que agrupados em duas divisões disputam os respectivos campeonatos, entende-se que essa Liga deve defender os interesses dos seus filiados por igual, com isenção e competência, porque o negócio futebol não se deve compadecer com favoritismos, diferença de tratamentos, políticas de filhos e enteados.
Creio que será assim por toda a Europa onde há Ligas a organizarem provas mas não é assim em Portugal onde desde sempre a Liga nunca teve pejo nem vergonha em favorecer três e tratar como parceiros menores todos os outros.
E isso está expresso de forma clara no regulamento da famigerada taça.
Todo ele feito para a competição seja sempre ganha por Benfica, Porto, ou Sporting com a divisão em quatro séries  cujos cabeças são os quatro primeiros classificados do campeonato, onde esses três clubes só muito excepcionalmente não se classificam, o que os coloca desde logo numa posição de privilégio com vista ao triunfo na competição porque, entre outras razões, isso evita que se encontrem antes das meias finais contrariamente a todos os outros que tem de fazer percursos mais árduos para lá chegarem.
É certo que esse regulamento manhoso já foi contornado por Moreirense, Braga e Vitória FC que conseguiram vencer a competição mas mais não são do que as honrosas excepções que apenas confirmam a vergonhosa regra.
Mas, há que dizê-lo, esse regulamento  absurdo de uma competição sem credibilidade apenas existe porque ao longo dos anos em sucessivas assembleias gerais da liga os clubes o aprovaram pese embora ser lesivo dos interesses da sua esmagadora maioria.
De facto é incompreensível que trinta e um clubes aceitem um regulamento em que são tratados como parceiros de segunda , em que são obrigados a competir em situação de desigualdade, em que os seus emblemas não são respeitados, sem que tenham a dignidade de chumbar liminarmente essa aberração regulamentar.
Diz muito sobre a qualidade do dirigismo que temos e sobre o “amor” de alguns dirigentes aos seus clubes. Para não dizer pior!
Mas se a situação era má...agora piorou!
Com base em problemas de calendário, que são reais mas não são inultrapassáveis, a Liga decidiu uma aberração ainda maior para a disputa da próxima edição da sua taça.
Que é a de disputar uma edição da taça da Liga para apenas alguns clubes da Liga enquanto todos os outros ficarão de fora uma vez mais relegados para o papel de parceiros menores de uma instituição que a todos devia tratar por igual.
E nem o tosco regulamento inventado para este efeito, dispondo que a competição a oito (de 34...) será disputada pelos seis primeiros classificados da liga NOS e pelos dois primeiros da Liga PRO em Novembro, tentando atirar poeira para os olhos de quem quiser ser enganado com a falsa ideia de que estarão todos em plano de igualdade para a disputa dessas posições ( na PRO podem estar mas na NOS não estão de certeza absoluta) disfarça a realidade de ser mais um arranjinho para o desprestigiado “caneco” ser ganho por Benfica, Porto ou Sporting.
Com a inexplicável conivência de todos os outros.
Porque com as honrosas excepções de Marítimo e Sporting que votaram contra (eu sei que houve sete abstenções mas nunca caso destes abster corresponde a consentir ) todos os outros votaram favoravelmente um regulamento que os vai excluir na sua esmagador maioria da disputa da competição.
Absolutamente incompreensível a posição dos dirigentes de todos esses clubes.
Naquilo que foi mais um passo para desprestigiar uma taça da Liga que, coitada repetimos, já não tem prestígio nenhum.
Mais valia terem evocado o pretexto da falta de datas e não disputarem este ano a competição.
Tinham prestado bem melhor serviço ao futebol português.

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