O meu artigo desta semana no zerozero
Portugal é, como se sabe, um país onde o que de mais moderno se faz lá
pelo estrangeiro demora a cá chegar e ainda mais a implementar quando se trata
de inovações com aplicação local chamemos-lhe assim.
E por isso o futebol português, precisamente por ser português, não
foge a essa regra e tal como a Coca-Cola primeiro estranha e só depois entranha
aquilo que é novo.
Foi o caso das equipas B.
Que há una anos atrás apareceram em meia dúzia de clubes mas sem um
enquadramento competitivo que as tornasse interessantes e por isso foram
efémeras e rapidamente extintas em todo o lado excepto, salvo erro, no Marítimo
que manteve sempre a sua equipa B em funcionamento e com resultados
compensadores.
Meia dúzia de anos atrás, provavelmente inspirada no exemplo de
décadas da existência de equipas B noutros países, nomeadamente Espanha, a Liga
resolveu abrir aos clubes a possibilidade de terem equipas B sendo que aquelas
que pertencessem a clubes da I liga começariam o seu percurso no escalão
imediatamente abaixo e no âmbito das competições profissionais.
Foi assim que Vitória, Sporting, Braga, Porto e Benfica criaram as
suas equipas B que se vieram juntar ao resistente Marítimo B e em 2012/2013
essas seis equipas disputaram pela primeira vez a II liga.
Hoje resistem nela apenas cinco porque os madeirenses desceram ao
terceiro escalão (o Vitória B também já desceu, precisamente na época
inaugural, mas voltou a subir no ano seguinte) e mais nenhum clube da 1ªliga
apostou em equipas B embora, curiosamente, existam na II liga clubes que tem
equipas B a disputarem competições não profissionais como é o caso do Varzim e
do Aves entre outros.
Creio que as equipas B são hoje uma realidade consolidada e qualquer
um dos cinco clubes de primeiro escalão que tem equipa B já dela tirou
evidentes proveitos desportivos com a maturação de jovens talentos que depois
viriam a ganhar as respectivas “esporas de cavaleiro” ao serviço das equipas A
dos seus clubes.
Exemplos?
Paulo Oliveira no Vitória, Renato Sanches no Benfica, Gelson Martins
no Sporting, André Silva no Porto são exemplos de jogadores que cumpriram os
seus percursos de formação, passaram pelas equipas B dos seus clubes e depois
de se afirmarem nas equipas principais até chegaram a internacionais A.
E alguns deles até já nem estão nos clubes que os lançaram.
Penso, isso sim, que cinco anos depois do início dessa nova fase do
nosso futebol talvez fosse tempo de reformular algumas das condições em que as
equipas B competem tirando ensinamentos não só destes cinco anos como também
adequando a sua realidade à de um futebol que também ele evoluiu.
Dou três exemplos.
Penso que as equipas B deviam poder ter em cada ficha de jogo três
atletas com mais de 23 anos (actualmente só podem ter um) porque isso não só
lhe daria solidez competitiva como também permitiria que as equipas A tirassem
outro partido das suas equipas B nomeadamente para rodarem jogadores menos
utilizados.
Devia ser imposto um limite de estrangeiros nas equipas B, muito mais
restritivo, de molde a que essas equipas fossem cada vez mais um espaço de
afirmação dos jovens talentos portugueses e não, como aqui e ali acontece, um
espaço que os empresários de futebol utilizam para exporem os seus “produtos”
alguns dos quais vindos sabe-se lá de onde.
E finalmente, admito que mais polémica esta ideia, as equipas B deviam
poder participar na Taça de Portugal e na Taça da Liga.
Há objecções, é verdade, mas também teria vantagens e recordo sempre
que em 1979/1980 o Castilla (assim se chamava então a equipa B do Real Madrid)
fez um percurso tão brilhante na Taça do Rei que chegou à respectiva final na
qual encontrou pela frente o…Real Madrid.
A final foi no Santiago Bernabéu (onde havia de ser?) e a equipa
principal venceu 6-1.
As equipas B são uma aposta ganha.
Agora o desafio é dar-lhes condições para poderem ir mais longe
reforçando a sua competitividade e permitindo que os jogadores que as integram
possam ter desafios ainda mais competitivos.
Estou certo que valerá a pena.
P.S. A equipa B do Vitória tem inegável sucesso desportivo.
Por lá passaram jogadores como Paulo Oliveira, Ricardo Pereira, Tiago
Rodrigues, João Pedro, Bernard e Hernâni já transferidos (embora estes dois
últimos tenham regressado como emprestados) e titulares da actual equipa A como
Josué, Miguel Silva ou Konan.
A equipa B do Vitória é de longe a que tem melhores médias de
assistência de todas as equipas B, teve épocas em que foi a que teve mais
assistentes na II liga e está época, mesmo com vicissitudes de que falarei,
está nas vinte primeiras equipas das competições profissionais em número de
espectadores.
Acontece que o Vitória só tem um estádio para duas equipas.
E por isso a Liga (e a sport-tv) deviam ter essa realidade em atenção
quando calendarizam jogos da equipa A e terem mais respeito pelo clube.
O Vitória jogou ontem à noite (domingo) com o Rio Ave e por isso a
equipa B, que recebe o Cova da Piedade, vai ter de jogar hoje, segunda-feira,
às 15.00 h uma hora completamente imprópria para uma competição profissional.
Já não é a primeira vez que tal acontece e isso prejudica, como está
bom de ver, as suas médias de assistências.
Custaria alguma coisa a equipa A ter jogado no sábado à tarde para que
a B pudesse jogar no domingo?
Creio que todos estaremos de acordo que não!
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