O meu artigo de hoje no Duas Caras
Há expressões curiosas para caracterizarem situações da vida política.
“Folhas caídas” é uma delas.
Confesso que não a conhecia mas com ela simpatizei mal me foi
explicado o seu sentido que em si contém uma história curiosa e de alguma forma
adaptada a nuances bem actuais da vida política vimaranense.
No programa “Contraponto” do passado sábado, na Rádio Fundação, um dos
temas propostos para debate aos comentadores era o discurso do presidente da
câmara no jantar de reis do Partido Socialista de Guimarães e muito
especialmente o anúncio “sui generis” da captação para a candidatura socialista
de presidentes de junta do PSD.
Digo num aparte que cada um tem as suas prioridades e enquanto outros
municípios vizinhos se dedicam a captar investimento e população em Guimarães
privilegia-se a captação de autarcas de outros partidos!
Enfim…
Pois nos momentos que antecediam o programa e naquelas conversas ainda
fora do estúdio (às vezes tão ou mais interessantes que as que decorrem no
programa) o meu amigo Torcato Ribeiro do PCP contou-nos que o falecido líder
comunista Álvaro Cunhal se referia aqueles que abandonavam o partido, muito em
especial aos que o faziam para concorrerem por outros partidos, como as “folhas
caídas”.
Achei a definição genial.
Porque de facto para as árvores viverem, terem saúde e se manterem
viçosas tem de proceder a uma regeneração contínua das suas folhas mantendo as
que estão em bom estado e deixando cair as que estão danificadas, podres ou
atingidas por qualquer forma de imprestabilidade que as torna inúteis.
Na política passa-se o mesmo.
Periodicamente acontecem transferências de autarcas de uns partidos
para os outros, sempre no sentido do poder e nunca no sentido contrário, que os
“aliciadores” veem como reforço dos seus quadros mesmo que isso signifique o
desprezo pelos que já lá estavam enquanto os “aliciados”, normalmente gente
fraca nas convicções e duvidosa na coerência, tentam justificar com a estafada
e mentirosa desculpa da defesa do interesse das populações e a consonância de
hoje com projectos políticos com que não se identificavam ontem.
Quando em bom rigor a sua preocupação primeira, quando não única, é
apenas manterem-se em cargos remunerados e para isso não se importam de darem o
dito por não dito, de apoiarem o que anteriormente rejeitavam.
Devo dizer, em opinião meramente pessoal, que cada vez que isso
acontece no PSD com gente a sair para outro partido, na esmagadora maioria das
vezes para o PS, fico extremamente satisfeito com isso.
Desde logo porque se trata de alguém que efectivamente não merecia
estar no seio de um partido onde ninguém é obrigado a permanecer mas cuja permanência
deve obedecer a regras de coerência e lealdade que os transfugas não estão
obviamente à altura de cumprir.
Depois porque prefiro mil vezes um “traidor” identificado do que um
“espião” oculto atendendo aos danos que um já não causa e o outro ainda pode
originar com a sua permanência onde não é digno de permanecer.
Acho que a democracia no seu continuo aperfeiçoamento deve zelar por
uma cada vez maior transparência nas relações entre partidos, políticos e
eleitores que eliminem todos os factores de desprestígio para a vida
democrática como as “folhas caídas” inequivocamente são.
E uma das formas de isso acontecer seria a lei proibir que quem numa
eleição foi candidato por um partido na eleição seguinte pudesse ser candidato
por outro ou por ele apoiado de forma mais ou menos velada.
Até lá, ou forma semelhante de purificar a vida democrática, espero
que as “folhas caídas” continuem a contribuir para que a “árvore” seja cada vez
mais forte, mais saudável, mais atractiva para quem dela queira fazer opção.
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