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quarta-feira, outubro 09, 2013

O Pretexto

Um país que atravessa uma terrível crise,como Portugal, precisa de um bom governo, de uma boa oposição, de um patronato consciente e de um sindicalismo responsável.
Deixando de lado governo, oposição e patronato reflictamos sobre o sindicalismo que temos.
Que infelizmente é ,pelo menos a nível de chefias, do mais irresponsável que se tem visto.
Toda a gente percebeu que a escolha do sindicalista profissional Arménio Carlos para liderar a CGTP outro objectivo não tinha que radicalizar posições, criar conflitos, impossibilitar entendimentos e usar os trabalhadores como arma de arremesso contra o governo.
Uma estratégia,aliás, que já vem dos anos 70 mas que se agrava sempre que os governos são liderados pelo PSD.
A questão da manifestação na ponte é apenas mais uma prova disso.
Existem em Lisboa e Almada, como é sabido,imensos locais para a CGTP organizar livremente uma manifestação.
Mas desta vez o sindicalista profissional caprichou.
Quer fazer uma marcha de Almada para Lisboa pela ponte 25 de Abril.
Perfeitamente insensível aos imensos transtornos que isso causará aos milhares de pessoas que todos os dias a tem de atravessar para trabalharem ou regressarem a casa.
E que com esse número de circo do sindicalista profissional se veriam obrigados a enormes transtornos de tempo e um maior custo da viagem se optassem pela ponte Vasco da Gama.
Mas o senhor Arménio Carlos quer lá saber disso.
Importa é o número de circo.
Acontece que as autoridades emitiram dois pareceres técnicos a desaconselharem a manifestação no tabuleiro da ponte por razões de segurança!
Segurança!
Aceitou o sindicalista profissional os pareceres de quem é competente para o efeito?
Nem pensar.
Alega motivos políticos para a proibição, argumenta com provas de atletismo (chama-lhe corridas...)como se uma coisa tivesse a ver com outra, está disposto a todos os "escândalos" para levar a sua avante (termo muito apropriado...) e fazer o número de circo.
Espero que o governo seja firma no respeito pelos pareceres técnicos e proíba a manifestação na ponte.
Os defensores das "amplas liberdades" vão fazer um ruído que é fácil de supor; mas os defensores do Estado de Direito respirarão aliviados.
Ainda não são os eleitos por braço no ar que imporão a sua vontade aos eleitos pelo povo(de forma universal,livre e secreta) para o representar.
Depois Falamos.

P.S: Não fora a extinção dos governos civis e seria o governador civil de Lisboa a decidir se a manifestação seria autorizada.
Nunca fui governador civil de Lisboa mas fui de Braga.
E em circunstância análoga não teria a mínima duvida,com base nos pareceres técnicos, em não autorizar a manifestação.

5 comentários:

  1. Caro Amigo : Não sei se hoje se pode ainda escrever sobre socialismo e social democracia num mundo dominado pelo liberalismo económico, sem fronteiras. Quando analiso as medidas de Passos Coelho, as do passado e as futuras, não acho que sejam realmente medidas "sociais democratas" ou "socialistas". Passos Coelho aplica as instruções da "Troïka", isto é, dos credores. Para estes, serem reembolsados é a única preocupação. Que as medidas sejam quase selvagens na sua aplicação violenta e as consequências sejam trágicas para muitas famílias, pouco lhes importa . O capitalismo não tem esse género de contemplações sociais, como também não lhe compete criar empregos mas sim criar mais valias para os accionistas.

    O que, como Português, (mesmo se não tenho vivido na minha Pátria neste ultimo meio século), me suscita grande desagrado, é a impressão que Passos Coelho não quis, não soube ou não pôde, negociar melhor as condições do reembolso da divida soberana. Porque todos os economistas dignos desse nome o escreveram e escrevem todos os dias : a austeridade prolongada impede a recuperação da economia, e por isso mesmo não permite eventualmente de respeitar os compromissos assumidos. Mesmo Madame Lagarde, no FMI, o disse estes últimos dias.

    Quanto ao socialismo, qual socialismo ? Pode dizer-se realmente, que, por exemplo, as recentes medidas de Hollande para a reforma das ..reformas, isto é, o alongamento dos anos de cotização para a reforma, 43 anos, é digna do socialismo? Foi a primeira vez que na historia da 5a República francesa que uma maioria de esquerda ataca este símbolo do progresso social adquirido no curso de muitos anos de luta. Nem Chirac, nem Sarkozy, ambos da direita e de sensibilidade néoliberal não tinham ousado retardar a partida para a reforma!
    Esta reforma, é entretanto, exigida pela Comissão de Bruxelas, que prevê igualmente o aumento da cotização de velhice e portanto uma baixa dos salários. Ora tudo isso é um contra-senso! De facto, ela agrava a austeridade para as pessoas idosas que não atingiram o numero de anos de trabalho , e que verão as pensões e reformas baixar automaticamente, e para os jovens que entrarão mais tarde no trabalho por causa da partida tardia dos seniores para a reforma.
    Economicamente, a baixa dos salários devida à subida da cotizações e baixa das pensões e reformas provocarão uma diminuição do consumo, portanto da actividade económica, a qual se traduzirá por uma subida do desemprego, numa baixa das rendas do Estado (impostos não pagos pelos novos desempregados) e uma subida das despesas sociais ( pagamento dos subsídios de desemprego).
    A repercussão destas medidas, impostas por Bruxelas, quer seja em Portugal ou em França, vão ao encontro do interesse geral e as categorias mais modestas da população e não são certamente socialistas.

    Freitas Pereira

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  2. Segunda parte.

    Por isso creio, Caro Amigo Dr. Cirilo, que o discurso partidário deve ser reactualizado, porque a realidade da República, hoje como ontem, contrasta tristemente com as declarações dos diferentes grandes leaders sociais democratas e socialistas, que eles sejam Sá Carneiro ou Mitterrand.

    O governo moderno , socialista de nome, ou social democrata, não é nada mais que um comité que gera os negócios comuns da burguesia , debaixo do olho poderoso da finança internacional, que tomou conta por muito tempo da economia mundial e do nosso destino.

    O Estado não está ao serviço de todos, mas serve somente os interesses privados de alguns. A policia, os governos civis, a justiça, os deputados, os ministros, etc, não são os representantes de toda a sociedade. O presidente da República não é o presidente de todos os cidadãos. O presidente gera o Estado contra o interesse geral em proveito do interesse particular, do seu, e o da classe dominante. E mais ele serve os interesses da burguesia mais se afasta dos interesses do povo.

    E o que é mais escandaloso, é que , no momento em que se exige da população sacrifícios cada vez mais pesados, cada mais insuportáveis, os representantes da burguesia, eles, permitem-se de " esconder o seu tesouro" nos paraísos fiscais, servindo-se abundantemente nos cofres do Estado e permitindo-se imensos privilégios.

    A corrupção, também ela substitui o interesse publico pelo privado?. Ela elimina as fronteiras entre os dinheiros públicos e as rendas privadas. Os homens e as mulheres politicas sem escrúpulos podem servir-se, com um sentimento de impunidade, como se tratasse do seu património.

    Mas o problema não é portanto a existência da corrupção, dos escândalos financeiros, dos negócios e outros privilégios, mas o do capitalismo selvagem que os gera. Houve no passado, há no presente e haverá no futuro escândalos enquanto este sistema sem lei existir. O verdadeiro escândalo, é o capitalismo selvagem actual ele mesmo.

    Freitas Pereira


    PS) Mil desculpqas, Caro Amigo, pela extensao do texto.

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  3. Caro Freitas Pereira:
    Eu é que agradeço a qualidade da reflexão que aqui deixou e que subscrevo por inteiro.
    A profundidade com que o meu amigo analisou o mundo de hoje e os nefastos efeitos do capitalismo selvagem em que vivemos não merecem nenhum tipo de contestação porque são factuais.
    Mas o que ressalta disto tudo, da esquerda á direita, é uma gritante falta de estadistas.
    Desses que sonharam uma Europa diferente e deram passos essencias para a sua concretização.
    Hoje dificilmente se encontra uma liderança politica que não seja produto de um trabalho de marketing aturado e da construção de uma imagem de forma laboriosa e consoante as modas de cada momento.
    Homens politicos com a dimensão politica e intelectual de Sá Carneiro, Salgado Zenha, Alvaro Cunhal ou Amaro da Costa (para citar todos os quadrantes)ou não existem ou andam a fazer outras coisas que não politica no activo.
    E a nível internacional é o mesmo:
    Onde há os novos Palme, Adenauer,Miterrand,Gonzalez,Kohl e por aí fora?
    Não há.
    E por isso a nível nacional(e creio que em boa parte da Europa)por estas e outras razões o pessimismo todos os dias ganha terreno ao optimismo.
    Creio que as gerações vindouras olharão para os politicos de hoje sem qualquer espécie de gratidão.

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  4. O camarada Arménio devia levar a medalha de mérito do governo.É que enquanto todos falam ponte, ou não ponte, ninguém vê os cortes nos salários e nos serviços públicos, para o próximo ano, nem mais um aumentito dos impostos.

    Claro que fazer um desfile na auto-estrada e numa ponte a 70m de altura só de camaradas.

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  5. Cara il:
    Devo dizer-lhe que embirro solenemente com esse taliban.
    Acho-o o paradigma do que não deve ser um sindicalista responsável

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