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sábado, novembro 16, 2024

Impossível ?

O meu artigo desta semana no zerozero.pt
Sou daqueles, não sei se muitos se poucos mas isso também não é por agora o mais importante, que acredita firmemente que no século XXI só faz sentido uma rivalidade entre dois clubes vizinhos se ela for inteligente e construtiva.
Refiro-me especificamente ao Vitória Sport Clube e ao Sporting Clube de Braga.
Velhos rivais, protagonistas de uma rivalidade já centenária em termos de clubes mas milenar em termos de comunidades que considero ser a maior do país, que vivem quase permanentemente de costas voltadas embora nem sempre tenha sido assim.
Entendo que essa rivalidade faz todo o sentido nos recintos desportivos em que equipas dos dois clubes se defrontam e nas bancadas que os rodeiam (e não estou só a falar de futebol bem entendido) onde os adeptos as apoiam fervorosamente  mas deve circunscrever-se a esses espaços porque depois faz todo o sentido que ambos os clubes não só se entendam no que é importante para ambos como também sejam os mais importantes protagonistas de um núcleo de clubes interessados em mudar o "status quo" do nosso desporto em geral e do futebol muito em particular onde tudo parece existir em função de Sporting, Benfica e Porto remetendo os restantes para o papel de comparsas destinados a abrilhantar, mas sem dificultarem excessivamente, os triunfos desses três.
Porque o nosso desporto e muito particularmente o futebol vive numa política de filhos e enteados que é uma vergonha para a verdade desportiva , castra o desenvolvimento da competitividade dos campeonatos e mantém o país num sub desenvolvimento primário  em termos de cultura desportiva
E por isso entendo, há muito tempo, que Vitória e Sporting de Braga deviam ser os motores de uma alternativa a que facilmente se juntariam bastantes outros clubes à medida que os respectivos adeptos se fossem conscencializando que a cumplicidade de muitos dos seus dirigentes com os interesses desses três clube é completamente inaceitável nos tempos de hoje, e reporta exclusivamente ao bi clubismo de muitos deles, pelo que se não mudam de comportamentos então tem os adeptos que mudar de dirigentes.
Concentrando-nos no futebol basta atentar na forma como alguma decisões são votadas nas assembleias gerais da Liga para perceber até que ponto vai essa cumplicidade que devia envergonhar os que a protagonizam mas não envergonha.
Como, por exemplo, votarem favoravelmente um regulamento da taça da liga que exclui os seus clubes.
Ou aceitarem regulamentos disciplinares que preveêm multas exorbitantes por tudo e por nada que ajudam a tornar ainda mais difícil a situação económica dos clubes porque nem todos tem as disponibilidades financeiras e as ajudas fiscais e bancárias desses três.
E por isso acredito que os dois rivais do Minho tem o dever de estarem na origem de uma mudança substancial deste estado de coisas pelo que o primeiro passo seria (será...) entenderem-se entre eles e definirem o que querem e podem fazer para depois atrairem para esse projecto de mudança tantos quantos mais clubes melhor.
A questão é que isso não tem sido possível.
Porque se é verdade que nos finais do século XX ainda houve alguns entendimentos entre Vitória e Braga, mas também com Famalicão e Gil Vicente nos tempos em que os quatro clubes eram presididos por outros dirigentes, é igualmente verdade que depois da viragem do século isso nunca mais foi possível no que respeita aos velhos rivais.
E há que dizer, sem subterfugios, que a responsabilidade disso é exclusivamente do actual presidente do Sporting de Braga.
Que por legítima estratégia, não ponho isso em causa, aposta as fichas todas em ser o quarto "grande" (algo que nunca será diga-se de passagem) ao invés de contribuir para acabar de uma vez por todas com essa lógica dos "grandes"  e respectivas consequências que tanto mal tem feito aos restantes clubes incluindo o dele.
E a prova maior dessa estratégia sem futuro foi quando anos atrás o então primeiro ministro António Costa recebeu para um almoço em S.Bento os presidentes da FPF e da LPFP que insolitamente se fizeram acompanhar dos presidentes desses três clubes e se assistiu a dois tipos de reacções.
Os então presidentes do Vitória e do Marítimo (mas também foram os únicos o que comprova a cumplicidade bi clubista de outros) insurgiram-se contra a presença dos três presidentes de clubes considerando que não deviam lá estar enquanto o actual presidente do Braga se insurgiu por não ter sido convidado!
E não foi porque a lógica vigente nem lhe reconhece esse estatuto de quarto "grande" nem nunca o reconhecerá a outros clubes que o podiam reivindicar como Belenenses e Boavista (que também foram campeões) ou Vitória que é o quarto clube com mais participações na primeira liga.
Mas as coisa são o que são.
E por isso tendo o presidente do Braga conhecido seis presidentes do Vitória não só não conseguiu um entendimento duradouro com nenhum deles como ainda se registaram ao longo dos anos vários comportamentos e atitudes da sua parte que levaram à indignação de vários homólogos vitorianos ao ponto de até as relações entre os dois clubes terem sido cortadas em 2011.
E por isso me interrogo se será algum dia possível que os dois clubes se entendam de forma inteligente e construtiva em torno de um projecto de mudança deste "status quo".
Não conheço a posição do actual presidente do Vitória sobre essa hipótese, mas admito que seja favorável, mas sei (com uma excepção) que  todos os seus antecessores desde  pelo menos 1980 estavam disponíveis para isso desde que fosse um entendimento sólido, entre dirigentes com palavra e sem hesitações nem recuos tácticos ao sabor de interesses momentâneos de um ou outro clube.
Como sei que da parte do actual presidente do Sporting de Braga nunca houve interesse nisso ou se houve nunca se deu por isso.
E portanto para que um dia isso seja possível ou o actual presidente do Braga muda de estratégia, de forma credível e consistente, ou muito mais provável será que esse entendimento só seja possível um dia que o Braga tenha já outro presidente.
Com a profunda convicção de que cada dia que passa é um dia perdido para os dois clubes e para todos os outros que querem de facto mudar o muito que está mal no nosso futebol em particular e no desporto em geral acabando com a política de filhos e enteados e contribuindo para competições com muito mais verdade desportiva e maior equilibrio entre os participantes.

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