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terça-feira, fevereiro 26, 2019

A Coligação

O meu artigo de hoje no jornal digital "Duas Caras".

Em 1979 , era o PSD era liderado por Francisco Sá Carneiro, Portugal vivia tempos muito difíceis devido à instabilidade política advinda de vários governos de iniciativa presidencial, às dificuldades económicas que já tinham originado uma intervenção do FMI e à tutela do Conselho da Revolução sobre o sistema político-partidário que impedia a plena consolidação do Estado de Direito.
Regressado à relativamente pouco tempo à liderança do partido, depois de convulsões internas que deram origem à ASDI, Sá Carneiro com a lucidez política e a visão estratégica que fizeram dele “primeiro entre os primeiros” entendeu que só seria possível dar a volta à situação e conseguir um governo credível , corajoso e competente se unisse em torno de um projecto político renovador as forças e partidos que não se reviam naquele estado de coisas.
À esquerda não era possível.
O PS, como sempre preso entre a hesitação, o tacticismo e os complexos de esquerda não se mostrou nunca disponível para um entendimento que viabilizasse esse tal governo de que Portugal tão desesperadamente necessitava e por isso o líder do PSD virou-se para os partidos à sua direita para com eles conseguir o tal entendimento.
E a opção foi falar com o CDS, que nesses tempos tinha em muitos pontos do país um relacionamento dificílimo com o PSD, e com o PPM que não tendo representação parlamentar tinha um líder carismático e de prestigio reconhecido (Gonçalo Ribeiro Teles) e algumas “bandeiras” na área do Ambiente e do Ordenamento do território que Sá Carneiro considerava essenciais a um projecto mobilizador e abrangente.
Convidou ainda o Movimento Reformador (António Barreto, Medeiros Ferreira, Sousa Tavares, etc) que não sendo partido e portanto também não tendo representação parlamentar tinha um conjunto de pessoas e ideias que ajudavam a credibilizar o projecto de mudança.
E assim nasceu a Aliança Democrática.
Que foi uma convergência de ideias, de vontades, de pessoas, de capacidade dos seus protagonistas de porem os interesses de Portugal em primeiro lugar.
E as coisas correram bem.
Francisco Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Teles criaram entre si um entendimento pessoal e político tão perfeito que frequentemente até viajavam no mesmo carro em acções de campanha, os três partidos e os Reformadores entenderam-se programaticamente de forma exemplar, as bases dos partidos perceberam que era possível actuarem em conjunto e depois de uma campanha eleitoral extraordinária a AD venceu as eleições.
E venceu porque concorreu em coligação.
Porque se os partidos tivessem concorrido em separado tal nunca teria sido possível porque para além de o método de Hondt favorecer as coligações  existiu também uma motivação galvanizadora do eleitorado em torno de gente e partidos que sabiam entender-se e punham o interesse de Portugal acima dos interesses partidários.
A chamada bipolarização pela qual Sá Carneiro sempre se bateu.
Mas não se pense que foi fácil.
Desconheço o que se passou no CDS (embora tenha notícia de que Freitas do Amaral e Amaro da Costa tiveram de se empenhar para a coligação ser aceite pelo partido) e no PPM mas recordo-me bem que no PSD as coisas não foram nada fáceis em termos de o partido aceitar a coligação.
Diria até que aqueles que ao lado de Francisco Sá Carneiro se batiam pela coligação pré eleitoral eram uma minoria ao lado dos que rejeitavam qualquer coligação à direita (a maioria) e os que a admitiam apenas depois das eleições que eram também em número significativo.
Mas o PSD tinha um líder extraordinário.
Um líder, na verdadeira acepção do termo, que se batia pelas ideias em que acreditava , que tinha uma visão política que lhe dizia claramente que apenas uma coligação pré eleitoral das forças não socialistas podia gerar a galvanização eleitoral necessária a vencer eleições e um líder que não tinha a ambição de ser vice primeiro ministro de Mário Soares nem de fazer do PSD o suporte menor de um governo socialista.
Os portugueses deram-lhe razão!
A AD venceu as eleições intercalares e depois de um ano de governo voltaria a vencer as eleições legislativas aumentando a maioria de que já dispunha na Assembleia da Republica demonstrando dessa forma que os portugueses acreditavam (e votavam) em quem tinha a coragem de romper, de fazer diferente, de pensar Portugal em primeiro lugar.
Memórias de um tempo extraordinário.
Que Portugal bem precisava de repetir!

3 comentários:

  1. Caro L. Cirilo

    Neste ponto dou toda a razão ao Rui Rio.Não cabe na cabeça de alguém, fazer uma coligação pré-eleitoral com alguém que acaba de fazer uma cisão. Se a Aliança eleger um deputado nas Europeias,mostrará que tem espaço político e poderá crescer,se não o conseguir irá ás legislativas lutar pele sobrevivência.
    Após as legislativas e mediante o resultado ai sim poderá ser encarada uma coligação do centro/direita para governar.

    Cumpts.
    J.M.

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  2. OBRIGADA AMIGO, POR ESTA LEMBRANÇA , AO PSD DE HOJE....

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  3. Caro J.M.
    A área não socialista nunca ganhará eleições se não for em coligação. O que o PSD vai faze ré oferecer a vitória ao PS. É o que acontece quando a azia se sobrepõe à razão.
    Cara Leitora atenta:
    O PSD de hoje quase nada tem a ver com o de Sá Carneiro. Infelizmente começa a parecer uma cópia do PS em algumas coisas. Eles lá sabem...

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