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quinta-feira, setembro 27, 2018

Dinheiro

O meu artigo desta semana no zerozero.

O passado tendo um lugar importante na nossa memória deve ser contextualizado como algo que teve o seu tempo, não volta, e por isso não vale a pena ficarmos agarrados a ele como se contivesse alguma solução para o futuro.
O futebol, modalidade mais que centenária e com expressão mundial inigualável, tem naturalmente o seu passado, as suas lendas, as suas memórias dos grandes jogos,dos grande jogadores e treinadores, das grandes competições.
Mas não pode viver disso.
Porque caso contrário os recintos ainda seriam pelados, não haveria substituições, as botas dos jogadores continuariam a ter travessas, não haveria transmissões televisivas e por aí fora naquilo que podia ser um estendal de diferenças em relação ao presente.
Vivemos outros tempos.
E por isso na actualidade o dinheiro tem um papel absolutamente decisivo no futebol relegando para as memórias longínquas conceitos tão engraçados como o “amorà camisola” ou o “amadorismo” dos praticantes.
Hoje tudo se faz e gira em volta do dinheiro.
DO dinheiro das televisões, essencialmente, do dinheiro dos patrocínios, do dinheiro do merchandising, do dinheiro da publicidade.
E quem tem dinheiro tem ambições porque quem não tem está cada vez mais relegado a um papel secundário,de figurante, perante aqueles que dispõe de meios superiores que lhes permitem fazer a diferença na qualidade futebolística das suas equipas.
Dir-me-ão que sempre assim foi e que já no tempo das “balizas às costas” havia os mais ricos e os pobres em função do número de adeptos e consequentes receitas de bilheteira e cotizações que era o que nesse tempo fazia a diferença.
É verdade.
Mas as diferenças nesses tempos eram menores em relação aos tempos actuais em que se vai verificando que em quase todo o lado (a Inglaterra será a saudável excepção) os ricos estão cada vez mais ricos e os outros cada vez mais remediados.
Uma das grandes responsáveis disso foi e é a UEFA.
Que mais do que defender o futebol e a sua competitividade, que está na génese da paixão mundial por esse desporto, se preocupa cada vez mais é em defender o negócios e os interesses das gigantescas multinacionais que nele investem em troco de lucros chorudos.
A Liga dos Campeões foi o primeiro passo na subversão do futebol.
Porque criou uma falsa élite (quantos clubes jogam na Liga dos Campeões que nunca foram ou não são há muito tempo campeões de coisa nenhuma ?) a quem vai enchendo de dinheiro com isso cavando fossos internos nos respectivos campeonatos que são cada vez mais intransponíveis e minam a competitividade e interesse dos mesmos.
Olhemos alguns países a titulo de exemplo.
Em Portugal,Porto e Benfica.
Em Espanha, Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid.
Em França,  PSG, Marselha e O.Lyon.
Na Alemanha, Bayern e Borússia Dortmund.
Em Itália, Juventus, Nápoles, Inter e Roma.
Na Rússia, Zénit e CSKA de Moscovo.
Na Holanda, Ajax e PSV
NA Suiça, o Basileia.
Na Bélgica, Anderlecht e Brugges.
Na Ucrânia, Dinamo de Kiev e Shaktar Donetsk.
Nestes dez campeonatos, dos mais competitivos da Europa, os clubes que referi são aqueles que estão sempre na Liga dos Campeões (pode um ou outro falhar uma ou outra vez mas é a excepção que confirma a regra)e que por isso cada vez recebem mais dinheiro quer pela presença, quer pelos pontos conquistados,quer pelas diversas etapas que vão ultrapassando e por isso estão cada vez mais senhores de um poder financeiro que os seus concorrentes internos não tem.
Na muito mais democrática Inglaterra, onde se valoriza o negócio mas  ama o futebol, embora haja “clientes” habituais da Liga dos Campeões (os dois de Manchester, Liverpool, Arsenal, Chelsea) o acesso à mesma está mais aberto e permite que outros clubes como o Tottenham, e o Leicester (como campeão convém recordar) também lá possam chegar como representantes de um país que já conheceu vinte e quatro campeões nacionais de futebol!
É evidente que o segredo disso está na paixão pelo futebol e na negociação centralizada dos direitos televisivos mas não é disso que quero hoje falar especificamente.
O que está em causa, verdadeiramente, é o ser a própria UEFA que com esta política financeira da Liga dos Campeões está  a cavar fossos imensos nas competições nacionais entre os que tem o dinheiro europeu e os que tem de se contentar com receitas nacionais.
Objectivo?
Muito simples.
Tornar as competições nacionais tão monótonas e desinteressantes que torne obrigatória a criação da tão desejada (pela UEFA e pelos patrocinadores) super liga europeia com os fabulosos proveitos financeiros que se adivinham para quem nela investir e para os clubes que nela participem.
Os outros,bem, os outros ficarão remetidos para as competições nacionais que serão uma versão profissional dos “solteiros contra casados” a jogar quando as competições europeias lhes derem tempo e espaço.
Pessimismo?
Apenas realismo facilmente confirmável por quem andar atento a estas coisas dos campeões e dos milhões.

2 comentários:

  1. É bem verdade o que diz neste texto. O que nós dá mais gosto no futebol é ver a equipa improvável conseguir ganhar uma grande competição. E querem acabar com isso para serem sempre os mesmos a ganhar. Qual será o interesse da competição? Estar em Portugal e ver mais adeptos do Real ou da Juventus que adeptos das equipas portuguesas? Se a Europa, representada no futebol pela UEFA, é isto que quer então defendo já um brexit desportivo!
    Querem acabar com a igualdade de direitos e oportunidades também no futebol?

    Miguel Leite

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  2. Caro Miguel Leite:
    É esse o caminho que está a ser seguido.
    Sem que ninguém a nível de Federações se preocupe com isso tanto quanto se sabe.
    E vai ver que o processo vai acelerar nos próximos dois ou três anos porque os investidores querem receitas o mais depressa posssível

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