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terça-feira, abril 24, 2018

Emílio Macedo da Silva

Longe vai o tempo em que os presidentes eram factores de grande união entre os vitorianos ao ponto de os irem buscar a casa quando hesitavam,ou até negavam, ser recandidatos à presidência do clube e os associados entendiam que eram imprescindíveis.
Lembro-me bem , a titulo de exemplo,de no fim de uma assembleia geral no início dos anos 70 se ter formado um enorme cortejo automóvel para ir a Pevidém pedir a António Rodrigues Guimarães para assumir a presidência do clube.
Com o longo consulado de António Pimenta Machado, em que sócios nasceram e atingiram a idade para votar sempre com o mesmo presidente,o paradigma foi mudando e paulatinamente os presidentes,a começar pelo próprio Pimenta Machado nos seus últimos anos de mandato, passaram a ser factor de alguma desunião entre a massa associativa sempre ao sabor dos insucessos desportivos mas não só.
Vítor Magalhães que chegou à presidência com um largo consenso favorável, mas já com um sector do clube a não poder vê-lo nem pintado, foi o exemplo mais flagrante de alguém que passou do oitenta ao oito num ápice por força dos maus resultados e que não resistiu a isso.
Depois veio Emílio Macedo da Silva, porventura o mais contestado de todos os presidentes do clube (mas já lá vamos) que nunca teve sequer um "estado de graça" mas mesmo assim foi reeleito em 2010 e depois Júlio Mendes que eleito em 2012 em disputa eleitoral com Pinto Brasil viria a ser reeleito sem oposição em 2015 e agora em 2018 por uma unha negra.
Mas voltemos a Emílio Macedo.
Deixando claro, desde já, que sou seu amigo há mais de trinta anos o que não obstou a que de forma tão leal quanto frontal tenha contestado muitas das suas decisões quer em assembleias gerais quer noutros espaços de opinião sem que isso tenha causado qualquer abalo nessa velha amizade é justo que se diga.
Porque apesar dessas criticas que lhe fiz, e algumas bem duras, nunca deixamos de conversar e trocar opiniões sobre o Vitória.
Dizia atrás que Emílio Macedo nunca teve "estado de graça" junto dos associados, e isso foi bem patente na primeira assembleia geral após a subida de divisão em que se ouviram criticas e vaias às suas intervenções, talvez por não ter um currículo vitoriano ,talvez por ter um estilo de intervenção que os associados não apreciavam ou por ser conhecida a sua velha simpatia pelo Benfica.
E ainda hoje para muitos associados falar-lhes de Emílio Macedo é falar-lhes do...diabo!
Creio que é importante fazer-se um ponto de ordem em tudo isto.
Porque tendo feito algumas coisas más, e bem más por sinal, o mandato de Emílio Macedo também teve aspectos bons que os vitorianos devem,com justiça, reconhecer.
O que fez de mau?
Quatro coisas essencialmente.
A primeira, que o clube ainda hoje anda literalmente a pagar, foi uma gestão financeira absolutamente imprudente que criou uma enorme dívida que quase atirava com o clube para a bancarrota da qual não teria regresso.
É verdade que o fez na tentativa de construir excelentes equipas de futebol mas deu passos muito maiores que a perna.
A segunda foi a completamente inaceitável, sob qualquer ponto de vista, mistura entre os negócios das suas empresas e os profissionais do Vitória a quem vendia apartamentos como parte integrante da negociação dos respectivos contratos.
A terceira foi a submissão do Vitória aos interesses do Benfica, com a absurda queixa contra o Porto na UEFA, que resultou na até hoje imparável ascensão do Braga que aproveitou muito bem o espaço deixado pelo Vitória.
A quarta foi a retirada ao voleibol da gestão financeira autónoma que esteve na origem de um declínio de que a modalidade nunca recuperou e que teve como corolário a triste descida de divisão já nesta época.
Mas também fez coisas que merecem ser elogiadas.
A primeira das quais, e ainda hoje há quem não saiba dar a isso o justo valor , foi ter agarrado no clube com a equipa perdida no décimo primeiro lugar da II Liga e mesmo assim ter conseguido uma quase miraculosa subida de divisão sem a qual o nosso futuro podia ter sido catastrófico.
Teve então uma coragem que merece louvor.
Mas foi também um presidente com ambição desportiva que procurou sempre construir boas equipas(embora aqui e ali à custa da tal imprudência financeira) e tornar o Vitória cada vez mais competitivo encurtando a distância para os chamados "grandes".
Foi com ele que ficamos pela última vez em terceiro lugar (e não fora o "sistema" e teríamos ficado em segundo) e foi também com ele que pela primeira, e até agora única, vez nos apuramos para a Liga dos Campeões onde não passamos da pré eliminatória por causa da vergonha de Basileia.
Mas é justo reconhecer que não foi só no futebol que foi ambicioso.
Com ele fomos campeões nacionais de voleibol pela primeira vez (e única até hoje) , com ele ganhamos taças de Portugal em voleibol e basquetebol (e fomos a uma final de taça em futebol) e se mais não ganhamos não foi por falta de esforço nesse sentido.
Recordo aqui uma pequena história, que se passou comigo em 2009 salvo erro, quando Vitória e Espinho disputavam a hegemonia do voleibol português numa rivalidade que muitos ainda recordarão com saudade.
Sabendo de algumas amizades que eu tinha para os lados de Espinho um dia pediu-me se conseguia marcar um almoço com o Miguel Maia que era então o grande jogador dos espinhenses, capitão de equipa, e provavelmente o melhor voleibolista português de todos os tempos.
Lá se marcou o almoço, em Gaia, no qual Emílio Macedo se fez acompanhar por Eugénio Rodrigues (responsável pelas modalidades) e no qual estive com  Miguel Maia e mais um amigo comum.
E fui testemunha do enorme esforço que Emílio Macedo fez para contratar Miguel Maia e mais três ou quatro dos principais jogadores espinhenses o que teria permitido que o Vitória se tornasse hegemónico na modalidade durante uma boa meia dúzia de anos.
Não foi possível (embora tenha depois existido uma segunda reunião em que não estive e em que a proposta vitoriana ainda teria subido) por força de alguns compromissos do jogador com a Câmara de Espinho e patrocinadores locais que acabaram por falar mais alto mas a verdade é que Emílio Macedo bem tentou.
O que prova que foi um presidente desportivamente ambicioso, e não apenas no futebol o que merece relevo, e que teve uma presidência com evidentes sucessos desportivos em várias modalidades.
E "deixou" no clube Rui Vitória e alguns jogadores que bem jeito deram posteriormente como é bem sabido.
E é justo que se reconheça tudo isso.
Pese embora os erros que cometeu, graves e nalguns casos indesculpáveis, o tenham colocado para sempre numa posição de "mal amado" pelos associados e adeptos do Vitória.
Depois Falamos.

P.S. Devo dizer que gostei de ver Emílio Macedo da Silva aparecer para votar nas últimas eleições do clube. Porque é triste constatar que há ex presidentes e ex dirigentes que antes de o serem nunca foram vistos no Vitória e depois de o deixarem de ser voltam a desaparecer.

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