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quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Derbi Milenar

O meu artigo desta semana no zerozero.

Em semana do mais antigo, mais importante e mais “clássico derbi do futebol português que é aquele que se trava entre Vitória Sport Clube,de Guimarães, e Sporting Clube de Braga,de Braga, importa aqui deixar aqui algumas palavras sobre a rivalidade entre os dois clubes mas também sobre a rivalidade em geral.
Eu sei que para aqueles que acham que o centro do mundo está na segunda circular de Lisboa ou na avenida Fernão de Magalhães no Porto as palavras anteriores devem fazer muita confusão mas a verdade é que a rivalidade quase centenária entre Vitória e Braga é apenas a versão mais recente de uma rivalidade milenar entre Guimarães e Braga pelo que qualquer derbi à beira deste é muito recente e de importância relativa!
A rivalidade faz parte da própria essência do futebol.
Nela ao longo dos anos assentou o crescimento, a popularidade, a divulgação do jogo como a modalidade desportiva mais apaixonante de todo o planeta.
A rivalidade não tem dimensão única.
Existe em todos os tamanhos.
Desde as turmas da escola, passando por ruas vizinhas, colectividades populares da mesma comunidade, até atingir a dimensão máxima que lhe é dada pelos grandes clubes de futebol.
Em que muitas das vezes a rivalidade atinge picos entre clubes da mesma cidade de que o melhor exemplo que conheço é a existente entre os dois maiores clubes de Sevilha.
O Bétis e o Sevilha.
Mas há muitas outras conhecidas a nível europeu e mundial.
Manchester United - Manchester City, Arsenal -Tottenham, Liverpool - Everton, Milan - Inter, Flamengo - Fluminense, River Plate - Boca Juniores, Juventus- Torino, Barcelona-Espanhol, Lazio-Roma, Benfica-Sporting, Porto-Boavista, Corinthians-Santos e por aí fora.
Depois há as rivalidades entre polos opostos no mesmo país.
Barcelona – Real Madrid, Liverpool – Manchester United, PSG- Marselha, Porto-Benfica, Milan-Juventus entre tantas outras.
São rivalidades assentes na competição desportiva mas a que não escapa, em muitos dos casos, uma componente política normalmente associada ao facto de um dos clubes ser da capital do país e o outro de uma grande cidade que se considera injustiçada face aos privilégios da capital.
Barcelona, Porto e Marselha são três casos claros de que a rivalidade desportiva tem uma forte componente de reivindicação regional!
Mas a rivalidade que quero aqui hoje falar é outra.
A existente entre Vitória e Sporting de Braga.
Ou entre Guimarães e Braga se quisermos ser mais abrangentes.
É uma rivalidade entre duas comunidades, que nos últimos quase 100 anos se reflectiu e alcançou expressão máxima na disputa desportiva entre os dois clubes, que ao longo da História sempre reclamaram uma primazia de importância de uma face á outra.
Tem Guimarães e Braga bons argumentos, é indiscutível, para cada uma delas se reclamar mais importante do que a outra face aos indicadores que lhe dão jeito.
Uma é no comércio e serviços a outra na indústria.
Uma na sua importância histórica enquanto berço da nação e a outra o seu significado religioso face à importância da Igreja na construção de Portugal ao longo dos séculos.
Guimarães foi a primeira capital de Portugal.
Braga é capital de distrito e o seu arcebispo é primaz de Portugal e das Espanhas conforme o seu título.
Vitória e Braga não escapam a esse confronto de “importâncias”.
O Vitória tem a seu favor a posição no ranking de todos os campeonatos, nos quatro terceiros lugares que já alcançou, nas inúmeras vezes que se superiorizou ao seu rival nos antigos campeonatos do Minho, no facto de ter muito mais participações na 1ª divisão do que o seu oponente.
Mas também no facto de ter um estádio, um pavilhão e um excelente complexo desportivo seus enquanto o Braga nem uma sala tem para fazer as suas assembleias gerais.
Tendo, o Vitória, como cereja em cima do bolo uma massa associativa incomparável em dimensão, entusiasmo e dedicação exclusiva ao clube que lhe permitem ser de forma consistente o quarto clube português em médias de assistência apenas atrás dos do “costume”.
Curiosamente o Vitória B é também o quarto clube em média de assistências na II Liga depois de em anos anteriores ter chegado a liderar essa estatística e ter entrado no ranking dos vinte clubes com mais espectadores à frente de algumas equipas da primeira Liga.
Entre muitas outras coisas.
O Braga esgrime com as “suas”duas taças de Portugal, o seu vice campeonato, a participação na final da Liga Europa,a taça ctt, o crescimento sustentado ao longo dos últimos quinze anos, a crescente fidelização de uma nova geração de adeptos ao clube ultrapassando a tradição de muitos anos do bi clubismo que os caracterizava.
Creio que hoje, friamente analisado, o Braga vai desportivamente á frente do Vitória.
Fruto do tal crescimento sustentado, das boas opções desportivas, da escolha correcta de aliados.
Mas o Vitória, esse, mantém o seu maior trunfo.
Uma massa associativa que é do clube, só do clube, e que no seu pior momento dos últimos 50 anos (a passagem pela II liga) deu uma resposta espantosa de dedicação e amor à instituição.
Os vitorianos provaram, e provam todos os dias,que são do Vitória.
Falta os bracarenses provarem que são do Braga e não das vitórias e troféus que o Braga tem alcançado nos últimos anos.
Concluo com duas notas:
A primeira para dizer que não trocaria nunca a nossa História pela História do Sporting de Braga.
Tenho muito orgulho em o Vitória ser como é, e ser o que é.
A segunda para constatar o belo desafio que se põe à direcção vitoriana que sair das eleições de 24 de Março:
Com base num trabalho racional e sustentado, em estreita ligação com a massa associativa, devolver o Vitória ao seu lugar de quarto clube português em termos desportivos.
Porque no resto, e é muito esse resto, nunca deixou de o ser!

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