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segunda-feira, janeiro 29, 2018

Um Futuro Incerto

O meu artigo desta semana no zerozero.

A propósito de um excelente artigo publicado aqui no zerozero ( Por onde passa o futuro das equipas B? ) em que se analisam as perspectivas do futuro próximo das equipas B, face às conclusões de um grupo de trabalho constituído no seio da Liga , aproveito para aqui deixar algumas reflexões sobre o assunto.
Como é sabido as equipas B não são um exclusivo do nosso futebol antes pelo contrário são uma realidade há muito existente nos mais variados países europeus com especial destaque para Espanha e Inglaterra onde existem há muito e há muito que se revelam um sucesso.
Em Portugal, depois de algumas tímidas tentativas que se revelaram como um fracasso, a Liga conseguiu em 2012 criar um quadro competitivo em que as equipas B dos clubes que as quisessem criar teriam entrada directa nos campeonatos profissionais e portanto começariam a competir num escalão de evidente interesse para os clubes.
Nessa época foram seis aqueles que quiseram criar as suas equipas B.
Vitória, Sporting, Benfica,Braga e Porto criaram-nas de origem (embora alguns deles já as tivessem tido no tal passado sem sucesso) e o Marítimo manteve a equipa que já tinha e que era a única que tinha restado dessas experiências anteriores que não vingaram.
Seis anos decorridos, e com excepção do Marítimo B que desceu de divisão e não voltou a subir até agora, todas as outras equipas B se mantém no segundo escalão (a do Vitória desceu no primeiro ano mas subiu na época seguinte)e com resultados bastante proveitosos em termos de aproveitamento de jogadores que completaram nas equipas B o seu período de formação e subiram às equipas principais registando-se,até, casos de jogadores que já foram transferidos para o estrangeiro como são os casos de João Pedro e Cafu (Vitória) , Bernardo Silva e Nelson Semedo(Benfica) André Silva (Porto) Bruma (Sporting) ou Xeka (Braga) entre outros.
E até as selecções nacionais, como e muito bem refere o artigo atrás citado, tem beneficiado muito da existência das equipas B porque nos escalões abaixo da selecção A os resultados das diversas equipas tem beneficiado bastante de sucessivas “fornadas” de jovens talentosos que  depois de abandonarem os escalões de formação continuam a competir num escalão (II liga) que lhe permite uma evolução continua ao invés de irem jogar para escalões inferiores nas condição de emprestados ou aquecerem o banco das equipas principais dos seus clubes.
Acredito que esta experiência extremamente positiva da existência das equipas B, com proveito para o futebol português em geral , devia ser um estimulo à sua continuidade ainda que na sua regulamentação se torne evidente que são necessárias algumas correcções nomeadamente quanto a uma maior restrição à inscrição de estrangeiros e uma maior flexibilidade no trânsito entre equipas A e equipas B dentro dos clubes.
Mas estamos no futebol português onde tudo que corre bem faz “impressão” a alguns.
E por isso quando a Liga, dentro de uma perspectiva que se entende, cria um grupo de trabalho para estudar mudanças no segundo escalão o que resulta desse grupo de trabalho é um conjunto de propostas que levadas a bom (leia-se péssimo) termo dificilmente representarão outra realidade que não o fim das equipas B.
"Repesco" do referido artigo as principais propostas desse grupo:
  • Redução do número de equipas secundárias na competição: em 2018/19 e 2019/20, as equipas B que obtiverem a pior classificação, descem automaticamente, independentemente da posição obtida. O objetivo é chegar a 2020/21 com três equipas B, num total de 18 equipas;
  • Aumento do custo da inscrição das formações secundárias, anteriormente de 50 mil euros para todos os clubes, cujo valor seria distribuído, de forma equitativa, pelos restantes emblemas do segundo escalão:
    -Equipas com orçamentos inferiores a 15 milhões de euros, como Braga ou Vitória SC, vão ter de pagar 200 mil euros;
    -Equipas com orçamentos entre 15 e 25 milhões de euros, vão ter de pagar 300 mil euros;
    -Equipas com orçamentos superiores a 25 milhões de euros, como Benfica, FC Porto e Sporting, vão ter de pagar 500 mil euros;
  • Impedimento da inscrição de jogadores com mais de 23 anos nas equipas B. Isto anula, por exemplo, a possibilidade da integração de um futebolista nas equipas secundárias, com o objetivo de ter minutos de jogo.
  • Os clubes «devem identificar um plantel até 27 jogadores, aptos a competir na categoria sénior, com idades compreendidas entre os 16 e os 23 anos», permitindo apenas a passagem de jogadores da equipa B para a equipa principal. Isto altera a atual lei, que permite a inscrição de um máximo de 55 jogadores (28 têm de ser Sub-23) numa lista única.
É evidente que neste cenário não acredito que algum dirigente de Vitória, Sporting, Porto, Benfica e Braga aceitará, por um momento que seja, manter a sua equipa B a competir num quadro competitivo absurdo como este.
E deixo aqui três questões:
Como é possível a Liga criar um grupo de trabalho para estudar alterações à segunda Liga, ainda por cima tão radicais quanto às equipas B, sem que os clubes que tem equipas B estejam nele representados?
Não é por demais evidente que esse  grupo de trabalho  tem como objectivo acabar com as equipas B para depois os clubes da II liga poderem beneficiar de mais jogadores jovens formados nesses clubes (os cinco que tem equipas B na II liga) para empréstimos?
Poderão, no futuro, os clubes que tem equipas B manterem um relacionamento “normal” com uma II Liga que os quer manifestamente prejudicar com a eventual aprovação destas aberrantes propostas?
Espera-se que o bom senso prevaleça e as propostas de alteração à II liga sirvam para melhorar a sua funcionalidade sem por em causa a participação das equipas B.
Espera-se...mas duvida-se!
Estamos em Portugal e, mais do que isso, no futebol português...
  

4 comentários:

  1. Incrível. A única intenção só pode ser mesmo acabar com as equipas B na segunda liga.
    Admira-me não ter visto mais reações a este documento

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  2. Caro luso:
    De facto não vejo outra intenção que não essa.
    Esperemos que os cinco clubes com equipas B na II liga saibam contrariar essa manobra que é lesiva dos seus interesses e dos proprios interesses do nosso futebol

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  3. O grupo de 'reflexão' já devia ter intenções formadas antes de entrar em reunião. As propostas tão absurdas. Exatamente o contrário do que deveria ser.
    Os clubes têm equipas B precisamente para rodarem jogadores da equipa A e de Juniores que necessitem deste patamar para terminar a formação...
    Em relação aos estrangeiros bastava a regra de, por exemplo, não poderem usar mais de 5 jogadores estrangeiros em cada jogo. Mas não sei se isso iria contra os princípios da UEFA.
    A correção que a mim,me parece a única necessária seria alargar o número de jogadores com mais de 23 anos.

    Não sei em que é que as equipas B perturbam o quadro competitivo da segunda Liga? Acho até que os B vieram dar mais competitividade ao campeonato. O que me parece é que deveriam reduzir o número de equipas do escalão independentemente do número de equipas B. Além disso o 3º classificado deveria disputar a subida com o antepenúltimo da primeira.

    Miguel Leite

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  4. Caro Miguel Leite:
    Estou de acordo consigo na análise que faz.
    Concordo que devia ser autorizado mais que um jogador com 23 anos (no máximo 3) mas já quanto aos estrangeiros acho que o número limite devia ser dois no máximo três.
    É evidente que as equipas B melhoraram a competitividade da II liga bem como a média de assistências.
    Infelizmente os outros clubes querem fazer delas o bode expiatório das suas insuficiência e em simultâneo uma galinha dos ovos de ouro que os ajude a compor orçamentos.
    Este grupo de trabalho representa o que o futebol português tem de pior.

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