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terça-feira, dezembro 19, 2017

Bairrismo

O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.

Ao longo de muitos anos de vida politica, desportiva e essencialmente profissional tenho tido a oportunidade de trabalhar em vários pontos do país conhecendo diferentes realidades e levando comigo a minha “realidade” vimaranense e naturalmente vitoriana.
E tenho constatado, de há muitos anos a esta parte e com confesso orgulho, que Guimarães e os vimaranenses suscitam por todo o país alguma admiração, algum espanto e também aqui ou ali alguma invejazinha mal disfarçada.
Porque toda a gente acha que nós em Guimarães somos diferentes.
E então no que ao Vitória se refere somos mesmo muito diferentes de qualquer outra comunidade.
Radicalmente diferentes diria.
E isso suscita-me, num tempo natalício em que se deve fazer alguma pausa nos debates (não tantas como alguns querem bem entendido...) e nas polémicas, uma pequena reflexão sobre aquilo que é e deve ser o bairrismo no século XXI.
Começando pela ironia de considerar que nos tempos presentes o bairrismo   deve ser algo quase antagónico do entendimento que normalmente se dava ao conceito e que durante muitos anos foi uma espécia de trave mestra do conceito conforme ele era entendido.
Tradicionalmente bairrismo entendia-se como a exaltação dos valores da “terra”, fossem materiais ou imateriais, como a glorificação dos seus naturais (quase numa perspectiva da pequena aldeia gaulesa de Astérix) como a depreciação natural do que vinha de fora em detrimento do que era nosso.
Hoje temos de ter do bairrismo uma percepção diferente sob pena de ele em vez de ser uma marca distintiva se tornar num factor que nos cerceie.
Numa sociedade global como aquela em que vivemos seria verdadeiramente suicidário pretendermos fechar-nos em volta de nós próprios, ostracizar o mundo que nos rodeia, e alimentarmo-nos do mito da autosuficiência.
Pelo contrário.
Do antigo bairrismo temos de saber aproveitar o amor à terra, o orgulho de sermos de Guimarães, o papel único que esta comunidade tem na História de Portugal.
E depois competir.
Competir com outras realidades, com outras marcas e produtos, com outros destinos turísticos e de negócios, com outros municípios de tamanho equivalente ao nosso.
Sabendo que umas vezes vamos ganhar e outras perder.
Intuindo que perderemos mais vezes do que ganharemos antes de ganharmos mais do que perdermos.
Mas perdendo ou ganhando o essencial é sermos capazes de competir.
Com os nossos argumentos, o nosso sentimento muito próprio, a mais-valia extraordinária que é o sabermos que em nós começou esta aventura única chamada Portugal.
É por isso que é bom e é único ser de Guimarães.
E essa é uma naturalidade que não trocava por nenhuma outra.

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