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segunda-feira, novembro 27, 2017

Massificação

O meu artigo desta semana no zerozero.

Sou de um tempo em que ver futebol na televisão era um autêntico luxo!
Cinquenta anos atrás a televisão era a preto e branco, existiam apenas dois canais (ambos na RTP) e o futebol estava muito longe de ser uma prioridade na programação televisiva.
Semanalmente havia um programa de futebol, o “Domingo Desportivo” , emitido no final da noite de domingo, e em que para lá dos resultados e classificações da primeira divisão davam dois curtos resumos dos dois principais jogos da jornada que envolviam sempre Benfica e Sporting.
A excepção era quando esses dois clubes se defrontavam e então havia lugar a um segundo resumo que envolvia outros clubes que eram quase sempre o Porto e o Belenenses porque nesse tempo o resto do país era pura paisagem.
Às vezes quando um dos clubes da segunda circular jogava longe de Lisboa e as imagens não chegavam a tempo lá havia lugar ao resumo do jogo do Barreirense ou do Atlético que ficavam ali à mão dos estúdios do Lumiar.
Jogos em directo é que nem vê-los!
Os do campeonato era impensável porque jogavam-se todos aos domingos às 15 horas e portanto a transmissão de um tiraria público a todos os outros (era essa a mentalidade) pelo que tínhamos de nos limitar aos tais resumos do programa desportivo onde aqueles que não fossem adeptos dos tais dois clubes passavam semanas a fio sem verem uns minutinhos do seu clube na televisão.
No que concerne aos jogos da selecção era ligeiramente diferente.
Transmitiam alguns, não todos, nas fases de apuramento e com isso tínhamos de nos contentar porque com a excepção do Mundial de 1966 a “equipa de todos nós” regra geral não se apurava para as fases finais pelo que dessas só víamos as outras selecções em competição.
Restavam as noites europeias do Benfica (porque os outros tinham passagens sem história pelas competições fora de portas) e aí era sempre um suspense até ao último minuto porque umas vezes a RTP chegava a acordo com o clube e havia transmissão mas noutras isso não era possível e não havia nada para ninguém.
Nos anos 70 e 80 as coisas evoluíram e as transmissões televisivas foram-se tornando mais comuns e passaram a ver-se dois/três jogos por jornada na RTP com natural preferência por alguns clubes mas com uma “democratização” maior daqueles que iam aparecendo nos ecrans tornando-se comum a transmissão de jogos em que não participavam os chamados “grandes”.
Depois apareceram os operadores privados,SIC e TVI, e posteriormente a sport-tv banalizando-se a transmissão televisiva dos jogos dos nossos campeonatos bem como de outras ligas como a italiana, espanhola,inglesa, alemã ou francesa com jogos a quase todas as horas e para quase todos os gostos.
Curiosamente, e à excepção da selecção e de um jogo por jornada da liga dos campeões e da liga Europa, o futebol desapareceu dos canais abertos sendo apenas possível vê-lo em canais pagos.
O que não obstou a que se assista e uma enorme massificação do futebol em termos de televisões.
Porque para lá das transmissões, que ao fim de semana contemplam dezenas de jogos, ainda temos “direito” a inúmeros programas de pseudo debate desportivo, mas que em boa verdade não passam de arruaça televisionada, bem como notícias sobre futebol (leia-se Benfica,Porto e Sporting) em todos os telejornais de todos os canais televisivos todos os dias.
É demais!
E mesmo para quem gosta muito de futebol, como é o meu caso, torna-se insuportável tanto futebol, tanto programa futebolístico, tanto noticiário sobre futebol (a maior parte das vezes sem qualquer interesse) em que se mostram e propagandeiam até à exaustão-do telespectador- sempre os mesmos clubes, sempre os mesmos personagens, sempre a mesma “banha da cobra” clubística.
É futebol a mais para um país que devia ter muitas outras prioridades e para televisões que deviam ter bem melhor e mais equilibrada programação do que insistirem na “futebolização” dos seus telespectadores.
Ainda por cima num tempo em que do futebol e dos seus principais protagonistas (exceptuando jogadores e treinadores) a nível de dirigentes os exemplos que vem são simplesmente lamentáveis.
Rui Vitória, que para além de ser um excelente treinador é um cidadão que se preocupa em pensar o futebol para lá do...futebol, alertava um destes dias para a diminuição de público nos estádios e de audiências televisivas por causa das inúmeras polémicas em que a modalidade está continuamente envolvida.
Tem razão.
As polémicas afastam espectadores do futebol.
E o futebol “ a mais” nas televisões também!

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