Sendo claro que desde que me conheço o meu clube é o Vitória, como é natural sendo nado e criado em Guimarães, nunca padeci desse mal tão português que é o de depois ser adepto de um dos três outros em questões de luta para o titulo.
Para mim a questão é simples; enquanto o Vitória não lutar para o titulo, e acredito que um dia o fará, a questão do titulo é assunto que pouco me interessa porque não diz respeito ao meu clube e assim sendo não me diz respeito a mim.
Mas noutros países da primeira linha do futebol europeu tenho as minhas simpatias, tenho clubes que gosto de ver ganhar e que me fazem ver os seus jogos sempre que possível na vasta oferta televisiva que felizmente temos de outros campeonatos.
Por razões diversas, com graus de simpatia variados, há contudo algo que é comum a todos eles e que é facto de nenhum desses clubes, como adiante se verá, estar sediado na capital do respectivo país o que traduz uma aversão pessoal a tudo que cheire a centralismo e a poderes ocultos.
Deixando Espanha para o fim, porque sendo razão deste texto merece desenvolvimento maior, façamos então uma pequena viagem pela Europa do futebol.
Começando por França onde, curiosamente, nunca tive particular simpatia por nenhum clube provavelmente por não gostar ao longo dos anos da forma como o país se posicionou no mundo do futebol com uma arrogância e uns tiques de superioridade que nunca tiveram nenhuma expressão prática na afirmação internacional dos seus clubes.
A nível de selecção sim, sem dúvida, mas de clubes não.
O que se passou anos atrás com o Marselha , campeão europeu com base na corrupção, e se passa agora com o PSG que quer afirmar-se ao mais alto nível despejando no futebol sacos de dinheiro não contribui em nada para que algum dia tenha simpatia pelo futebol francês.
Passando para Itália tenho clara simpatia por dois emblemas: Nápoles e Milan.
Os napolitanos por causa de Maradona, um futebolista excepcional que fez de um até então apagado clube um clube campeão e vencedor de troféus nacionais e internacionais, e também pelo impressionante apoio que os seus adeptos lhe dispensam e que se traduz em me´dias de assistência das mais elevadas de Itália num S.Paolo sempre cheio e vibrante.
O Milan claramente por causa do tempo dos holandeses (Van Basten-Gullit-Rijkaard) que com o auxilio de italianos de grande valia (Baresi-Maldini-Donadoni-etc) construiram uma das melhores equipas mundiais das últimas décadas.
Na Alemanha uma ligeira simpatia pelo Borussia de Dortmund muito por força da admiração que tenho pelos seus excepcionais adeptos que jogo após jogo enchem o estádio permitindo ao clube a melhor média de assistências do futebol alemão e mostrando ao mundo do futebol aquela esmagadora “parede amarela” que seguramente os ajuda a ganhar muitos jogos.
Em Inglaterra uma já muita antiga simpatia por dois clubes. Liverpool e Newcastle.
O Liverpool por força das suas grandes equipas dos anos setenta e oitenta, com Keegan,Dalglish, Rush, dos seus excepcionais adeptos , da bancada “Kop” uma das mais admiráveis do mundo do futebol e da enorme mística de que o clube goza construida através de muitas e muitas conquistas.
O Newcastle por razões diferentes.
Não é um dos maiores clubes ingleses(como Liverpool, Manchester United, Arsenal, Chelsea), tem pouquíssimos títulos e troféus, mas é de uma cidade com grande tradição histórica, tem adeptos de uma fidelidade extraordinária ao clube, o seu “St James Park” regista das melhores médias de assistência do campeonato inglês e as suas cores principais são o branco e o preto!
Acho que não preciso de explicar mais razões para simpatizar com o Newcastle.
Na Holanda a minha simpatia vai desde sempre para o Ajax.
Pelas suas fabulosas equipas dos anos 70 lideradas por Johan Cruyff e também por ser um clube com uma bem sucedida política de formação no que é um exemplo para o mundo do futebol.
E vamos a Espanha.
Onde os “meus” clubes são desde sempre o Barcelona e o Atlético de Bilbau.
Por razões idênticas no que se refere a serem clubes que incorporam na sua essência uma fortíssima identificação com as regiões em que estão inseridos e de que foram sempre “bandeiras” a que acrescem outras razões que a seguir adianto.
No caso dos bilbaínos pela sua política de utilizarem apenas jogadores bascos, o que limitando o seu mercado de recrutamento também reforça a identidade da equipa, e ainda pelo ambiente extraordinário que sempre se viveu na sua “catedral” de S. Mamés um estádio sempre muito difícil para os visitantes.
No caso do Barcelona porque para além dessa identificação com a Catalunha, de que foi o grande porta bandeira no tempo do franquismo, soube ao longo dos anos construir grandes equipas pelas quais passaram alguns dos melhores jogadores do mundo.
Se numa curta resenha considerarmos que no Barcelona jogaram Bala, Cruyff, Neeskens, Simonsen, Schuster, Maradona, Laudrup, Stoichkov, Koeman, Ronaldo, Rivaldo, Romário, Ronaldinho, Figo, Iniesta, Xavi,Messi, Ibrahimovic,Etoo e Neymar entre outros constataremos que dificilmente outro clube do mundo terá alinhado tantos jogadores de tão alto nível.
Mas é precisamente essa ligação profunda à Catalunha, o ser interprete dos sentimentos autonómicos e independentistas de muitos catalães, que põe hoje o Barcelona perante um dilema tremendo que não estará nas suas mãos resolver.
Sabe-se o que se passa na Catalunha.
E sabe-se qual a posição do Barcelona defendendo a independência da região.
Não é tema para estas páginas a análise política do enorme problema catalão que ninguém sabe como vai terminar tal o imbróglio criado e o extremar de posições entre o governo de Madrid e a Generalitat catalã.
Mas se por hipótese a independência vier a ser um facto (e ninguém pode negar que essa possibilidade existe) que vai ser do Barcelona?
Não disputará o campeonato de Espanha (que sem os dérbis com o Real Madrid nunca mais será o mesmo) porque a Liga espanhola, e bem do meu ponto de vista, não quer nenhum acordo que permita que isso aconteça.
Se não querem ser Espanha não tem que jogar no campeonato espanhol.
Um campeonato da Catalunha com o Espanhol (outro clube histórico que poderá pagar divergências políticas em que nunca se meteu), o Girona e clubes de divisões inferiores é “curto” para a sua dimensão.
Jogar noutra Liga europeia parece-me problemático a vários níveis porque sendo um clube que valorizaria qualquer liga seria,também, um clube a introduzir factores de desequilíbrio que até então não existiam dado tratar-se de um enorme candidato ao titulo em qualquer campeonato europeu.
Benfica ,Porto e Sporting gostariam de concorrer com o Barcelona? Não me parece.
PSG, Mónaco e Lyon? Também não.
Bayern, Dortmund, Leipzig, Leverkusen, Hamburgo? Acho que também não.
Manchester United, Manchester City, Arsenal, Liverpool, Chelsea? Duvido muito.
Talvez Itália fosse a melhor hipótese mas nem isso é certo.
O futuro dirá se teremos uma Catalunha independente e a terrível ironia de a sua marca identitária-ligação à região- e aquilo que lhe deu tantos triunfos-a sua grandeza- se transformarem em imensos problemas capazes de porem em causa a continuidade do Barcelona como um gigante do futebol europeu e mundial.
De facto política e futebol nem sempre são um “casamento” feliz!
Bom dia,
ResponderEliminarAceita parceria (troca de links) entre os nossos dois sites?
politicaportuguesaeinternacional.blogspot.pt/
O meu é um blog de actualização de notícias e de opinião pessoal sobre política e relações internacionais de dois colegas de carteira do curso de RI da UAL. Destaque para política portuguesa, europeia, brasileira e americana e claro para a nossa paixão comum as relações internacionais mundiais.
Desde já os meus parabéns pelo seu trabalho e acho que podemos ganhar os dois com esta parceria.
O que lhe parece?
Cumprimentos
Tiago Wemans
Caro Blogger, acho que o problema apresentado é um... não problema, simplesmente porque o futebol de hoje é um super negocio e uma mega "industria" onde infelizmente só vale uma lei, a lei do dinheiro!
ResponderEliminarPor isso, mesmo que a Catalunha se torne um estado independente, tenho a certeza que a Liga Profissional Espanhola vai arranjar maneira de incorporar as equipas do estado Catalão, nem que para isso convide uma ou duas de Andorra, de Gibraltar ou até de Portugal!
Usando assim o argumento que é uma Liga Ibérica e não somente espanhola para poder justificar o facto de manter um dos mais ricos clubes do mundo.
Não seria a primeira, nem a ultima Liga "transnacional" do velho continente.
A premiere league incorpora equipas do Pais-de-Gales (já se tendo falado no acrescento das equipas escocesas); o Vaduz do Leichtenstein joga na liga da vizinha Suiça; equipas do Canadá jogam na vizinha MLS e claro, o Monaco na liga Francesa, sendo que este ultimo é o único caso onde não existe federação de futebol própria pois todos os outros tem federações nacionais.
Confesso que neste momento estou muito, mas muito mais preocupado com o "para onde vai" o Vitória, do que o "para onde vão as equipas catalãs"!
Caro Cirilo:
ResponderEliminarComo Aragão -que englobava a Catalunha- já foi senhor do sul de Itália (a mãe da rainha santa era neta de Frederico Hohenstauffen e os Sicilianos pediram que os socorresse e expulsasse os franceses, partidários do papa) podem jogar contra a Mafia :)))
Caro Tiago:
ResponderEliminarA ideia parece-me interessante mas gostava que explicitasse sobre que forma se concretizaria.
Troca de links mas sobre que temas e com que periodicidade?
Fico a aguardar.
Um abraço.
Caro Francisco Guimarães:
É evidente que também estou mais preocupado com o Vitória mas compreenderá que não é tema único do meu interesse porque caso fosse viraria obsessão.
Quanto às equipas catalãs, e conhecendo razoavelmente Espanha, creio que se a independência fosse realidade (espero que não seja por razões que não tem obviamente a ver com desporto) não haveria espaço para elas em nenhuma liga espanhola.
Os outros exemplos que cita, e que são verdadeiros, versam situações existentes há décadas e em nenhum dos casos houve um "divórcio" traumático entre os seus países e os países onde disputam competições na actualidade.
Sem embargo de considerar que a situação existente no Reino Unido onde há um país político-o Reino Unido- e quatro paises desportivos-Inglaterra,Escócia,País de Gales e Irlanda do Norte-me parece desde sempre absurda.
Cara il:
Esperemos que não seja preciso e que a Catalunha continue a fazer parte de Espanha. O tempo não está, em vertente nenhuma, para a emergência de nacionalismos
olá,
ResponderEliminarobrigado.
basta colocar o link na sua lista de leituras que eu farei o mesmo
Caro Tiago:
ResponderEliminarCombinado
Já agora, há uma excepção ao facto dos seus clubes preferidos serem todos sediados fora das capitais. O Ajax é de Amsterdão, capital da Holanda (mais corretamente, Países Baixos ou Netherlands em inglês). Haia não é formalmente a capital, mas apenas a cidade onde está localizado o parlamento.
ResponderEliminarCaro jj:
ResponderEliminarAinda que Amesterdão seja a capital e Haia a sede do governo não me parece que isso seja relevante para o conteúdo da análise que fiz