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segunda-feira, julho 10, 2017

Filhos e Enteados

O meu artigo desta semana no zerozero.

Este assunto não é novo, diria que quase tão antigo como o futebol português, mas infelizmente repete-se ano após ano e por isso creio que são poucas todas as vozes que se levantem contra este estado de coisas.
O assunto é, evidentemente, a protecção que desde sempre é dada por todas as instâncias do nosso futebol mais a generalidade da comunicação social a três clubes que são uma espécie de “donos disto tudo” na versão desportiva.
Esses clubes são o Benfica, o Porto e o Sporting.
São tantos e tão variados os exemplos que nem vale a pena estarmos a referir-nos a um passado recheado de “fretes” (na versão mais moderna chamam-lhe “colinho” ) a esses clubes que lhes valeram inúmeros triunfos e alguns títulos em prejuízo da verdade desportiva das competições e de todos os outros clubes.
Sempre assim foi.
Sempre!
Contudo nos últimos anos face à impunidade, que é a característica maior do nosso futebol face a esses três clubes, de que gozam o descaramento chegou ao ponto de esses favorecimentos serem patrocinados pela própria Liga face ao deleite dos três e a um silêncio tão incompreensível quanto cobarde de todos os outros que assistem a esta pouca vergonha sem tugirem nem mugirem.
Vou dar o mais concreto dos exemplos.
O sorteio do campeonato.
Uma prova profissional, que envolve somas elevadíssimas em salários e transferências(que levaram alguns clubes à quase ruína), que tem espectadores pagantes que merecem respeito e que se supões igual em direitos e deveres para todos os dezoito clubes que nela participam.
Supõe...mas não é!
Porque numa inaceitável, vergonhosa e inqualificável política de “filhos” e “enteados” é a própria LPFP que logo no sorteio da prova faz questão de dizer alto e bom som, com uma desfaçatez que só não envergonha porque a vergonha há muito que desapareceu do nosso futebol, que o campeonato não é de dezoito clubes mas sim de três mais quinze!
Porque há três-Benfica,Porto e Sporting- que tem direito a condições especiais no sorteio de molde a melhor protegerem os seus interesses enquanto todos os outros tem de sujeitar a esses condicionalismos como se fossem filhos de um deus menos.
Detalho:
No ponto um define-se que esses três clubes não podem jogar entre eles nas duas primeiras jornadas.
Porquê? O campeonato não é uma prova de regularidade em que todos jogam com todos aos longo de 34 jornadas?
No ponto três que não podem jogar entre eles em duas jornadas consecutivas e que nenhum deles pode defrontar os outros dois em casa na primeira volta.
Porquê? Tem medo que os meninos se cansem?
E depois há um caricato ponto seis, invenção deste ano, que define que nas duas primeiras jornadas os clubes que disputam a supertaça (Vitória e Benfica) não podem jogar com o Sporting devido a este disputar a pré eliminatória da Liga dos Campeões.
Simplesmente ridículo.
Desde logo porque o Benfica e Sporting nunca poderiam defrontar-se nessas duas primeiras jornadas face ao aberrante e vergonhoso ponto um.
Depois porque fica claro que há uma intenção clara de defender o Sporting de jogos mais complicados porque ao Vitória não lhe daria seguramente transtorno nenhum jogar com o Sporting numa dessas duas primeiras jornadas.
Ironicamente o sorteio destinou um Vitória-Sporting na...terceira jornada.
Dir-me-ão que a Liga quis defender os interesses de um clube português nas competições europeias.
Era, mesmo assim, um fraco pretexto mas que ainda podia ser aceite se fosse verdadeiro e visasse a defesa global do nosso futebol.
Mas visa apenas a defesa de um dos “donos disto tudo”.
Provas?
Simples.
Se a LPFP quisesse realmente defender os interesses do futebol no seu todo incluiria então uma clausula a impedir que o Sporting de Braga e o Marítimo, que também vão disputar pré eliminatórias europeias, tivessem de jogar nas duas primeiras jornadas com os clubes que se classificaram à sua frente na Liga de 2016/ 2017.
Mas a Liga não quis saber disso para nada e por isso na primeira jornada teremos um Benfica-Braga jogo que certamente os bracarenses prefeririam noutra altura por razões óbvias.
Mas é o futebol que temos.
De “filhos “ e “enteados”.
Em que uns mandam a seu bel prazer, põe e dispõe, fazem do nosso futebol uma coutada dos “donos disto tudo” enquanto os restantes de forma servil são incapazes de levantarem a voz para defenderem os seus direitos e exigirem verdade desportiva de principio a fim em todas as competições.
Porquê?
Ou porque estão à espera das “migalhas” (leia-se jogadores emprestados) que os outros( SLB/FCP/SCP) vão deixar cair da “mesa”, ou porque acham que estando caladinhos e bem comportados ainda vão ter alguma sorte por não incomodarem os “donos disto tudo”, ou porque neste ou naquele casos são dirigidos por pessoas que à no fundo são mas é benfiquistas,portistas ou sportinguistas e põe isso à frente dos interesses dos clubes que dirigem, ou por qualquer outra razão a verdade é que calam.
E calando consentem.
Depois, com a prova a decorrer, vamos ouvi-los a queixarem-se dos árbitros, dos castigos, da disciplina , das multas.
Nessa altura deviam era lembrar-se que foram eles próprios, através do silêncio cúmplice, a permitirem que desde o sorteio a LPFP determinasse que há “filhos “ e “enteados” , que as provas são de três mais quinze, que há clubes que tem regras especiais a pautarem a sua participação nas competições.
Arbitragem e Disciplina limitam-se a seguirem as orientações superiores!
É a vida...

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