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segunda-feira, junho 19, 2017

Três Pontos

O meu artigo desta semana no zerozero.pt.

Andam cada vez mais revoltas as “águas” do nosso futebol ao sabor de sucessivos acontecimentos que vem ocupando as primeiras páginas dos jornais, e dos noticiários em geral, nestes últimos dias e que prometem continuar na ordem do dia por algum (bastante?) tempo mais.
Hoje vou referir aqui três assuntos, diversos entre si, mas bem demonstrativos da intranquilidade que por aí anda.
O primeiro é, inevitavelmente, o caso dos e-mails.
Que começou pela divulgação de uma troca de e-mails entre Pedro Guerra e Adão Mendes mas já atingiu proporções bem maiores e implicando muitas outras pessoas com responsabilidades no futebol bem maiores do que dos dois protagonistas iniciais.
Ao que se sabe hoje, mas não esquecendo que cada terça feira traz a promessa de mais e mais gravosas actualizações do assunto, há já matéria mais que suficiente para que o Estado se envolva de forma empenhada no cabal esclarecimento do assunto usando todos os meios ao seu dispor para que a Verdade seja esclarecida e as responsabilidades assacadas a quem de direito.
Polícia Judiciária, Procuradoria Geral da República, seja quem for tem de investigar profundamente os bastidores do nosso futebol e fazê-lo de forma determinada, eficaz, isenta face aos envolvidos e tão célere quanto possível.
Na defesa do futebol, da verdade desportiva, dos clubes, dos árbitros e de tudo que rodeia uma modalidade que não merece estar mergulhada no lodaçal para que certo dirigismo desportivo a tem conduzido nas últimas décadas.
Investigue-se tudo e investiguem-se todos!
Instaurem-se inquéritos, reabram-se processos se necessário for, corte-se a direito no apuramento do que realmente se passa no submundo do futebol e que sucessivos escândalos nos últimos anos tem posto a lume com uma clareza que só não vê quem não quer e a que o Estado não pôs cobro ainda por uma reiterada cobardia face ao poder do futebol e de alguns clubes.
É impensável que a próxima época desportiva comece (a 5 de Agosto com a disputa da supertaça entre Vitória e Benfica) debaixo deste ambiente de suspeição, com uma tensão tremenda entre clubes e a arbitragem debaixo da pressão terrível que sobre ela se exercerá face a todas estas suspeitas.
O segundo ponto tem a ver com a selecção nacional.
Que lá longe na Rússia participa ,como campeã europeia em título, na taça das confederações procurando conquistar para Portugal mais uma grande prova internacional na qual participa pela primeira vez e graças ao triunfo no Europeu de França.
E não deixa de ser uma ironia cruel que o país campeão da Europa de selecções enquanto vê a equipa de todos nós a participar numa grande competição internacional esteja mergulhado no lodaçal atrás referido , absolutamente indigno de um país civilizado e de um Estado de direito que funcione normalmente, que desqualifica a nossa imagem internacional e deixa os nossos jogadores da selecção como a brilhante ponta de um icebergue de sujidade.
Não merecem eles, não merece o brilhante trabalho que a FPF vem fazendo a nível de selecções, não merecem muitos (não todos) adeptos que gostam de futebol e de futebol com Verdade desportiva.
A participação não começou da melhor forma, quer exibicionalmente quem em termos de resultados, mas já é tradição bem portuguesa começar as competições “assim assim” e depois encarreirar e construir bons resultados.
Esperemos que assim seja e que também Fernando Santos suba de forma (deixar Gelson, André e Bernardo Silva no banco para dar a titularidade a Nani foi um fiasco) para que a máquina da selecção carbure em pleno como aconteceu após a entrada dos dois primeiros e que quase deu para ganhar o jogo.
O terceiro ponto tem a ver com Ronaldo.
E com o facto de Espanha tendo porventura os dois maiores clubes do mundo (Barcelona e Real Madrid) ,e neles jogando os dois melhores futebolistas mundiais da última década (Ronaldo e Messi), fazer pouco por merecer a excelência que esses dois jogadores dão às suas provas e os troféus internacionais que tem ajudado os seus clubes a ganhar.
E porquê?
Porque um é português e o outro argentino e isso “cai” muito mal ao orgulho espanhol que convive pessimamente com a realidade de os melhores do mundo joguem em dois clubes espanhóis sem serem dessa nacionalidade.
Não vou entrar aqui, até por não perceber nada da matéria, em análises individuais ou comparativas dos processos em que ambos se viram envolvidos pela fiscalidade espanhola e que tantos rios de tinta tem feito correr.
Registo, apenas, a satisfação com que na imprensa de Madrid se acompanharam os problema de Messi e que foi correspondida pela satisfação da imprensa catalã no acompanhamento do que está a acontecer com Ronaldo.
E se isso se pode inserir na rivalidade tradicional entre Madrid e Barcelona já não entendo, a não ser por esses despeito atrás referido, a forma como o Real Madrid tem agido em todo este processo.
É verdade que fez um comunicado a apoiar Ronaldo (também era o que faltava não o ter feito) mas simultaneamente andou a pedir aos jornais para nas notícias que publicassem sobre o assunto não inserirem fotografias do jogador com a camisola do clube!
E isso é simplesmente miserável.
A fazer lembrar, ressalvadas as diferenças que são muitas, o que aconteceu no Canadá quando Ben Johnson ganhou a épica final dos 100 metros nos Jogos Olimpicos de Seul frente a Carl Lewis.
No dia do triunfo alcançou o estatuto de herói do Canadá e assim era tratado pela imprensa local.
Dois dias depois, quando se conheceram os resultados positivos do controlo anti doping, deixou de ser o herói do Canadá e passou a ser o filho de emigrantes jamaicanos transformando-se num quase vilão de épicas proporções.
No Real Madrid a linha de raciocínio a nível directivo, que não dos adeptos, é idêntica.
Quando dá ao clube títulos e troféus é o melhor jogador do mundo, um herói madrileno, o melhor da História do clube. Quando aparecem problemas como este passa a ser o...”português”.
Tudo porque há muito “bom “ espanholito e madrileno que não suporta a ideia de que o melhor jogador de sempre do Real Madrid, que vai deixar no clube recordes que vão durar gerações, é orgulhosamente português e não espanhol como tanto gostariam que fosse.
Percebo bem a vontade de Ronaldo sair do Real e de Espanha.
Inveja, ingratidão e xenofobia são realmente difíceis de suportar.

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