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terça-feira, junho 20, 2017

Insólito

O meu artigo desta semana no jornal digital "Duas Caras".

Há casos em que a realidade consegue ultrapassar largamente a ficção proporcionando-nos momentos tão insólitos e inesperados que é preciso lermos duas vezes algumas notícias para acreditarmos nos nossos próprios olhos.
E creio que nem a onda de calor, que pode perturbar alguns cérebros mais sensíveis a esse tipo de influência, pode explicar o sucedido nestes últimos dias entre Guimarães e Braga.
Refiro-me, como está bom de ver, ao inacreditável comunicado do Sporting de Braga acerca das declarações do candidato à Câmara de Guimarães, André Coelho Lima, à saída de uma reunião com a direcção do Vitória.
A história conta-se em pouca palavras.
Depois de uma reunião com a direcção vitoriana, a exemplo de muitas outras que tem mantido com os mais diversos clubes do concelho ao longo dos anos, o candidato comparou os apoios que os clubes vimaranenses, e particularmente o Vitória, recebem da respectiva câmara municipal com aqueles que são dados a clubes de concelhos vizinhos como Braga, Famalicão, Barcelos ou Fafe.
Que são em todos eles muito maiores e especialmente em Braga em que até o clube de andebol ABC recebe mais que o Vitória e o Moreirense em conjunto.
Referindo ainda, o que é rigorosamente verdade, que se para clubes que disputam idênticas competições os apoios municipais são de valores substancialmente diferentes isso acaba por ter um reflexo directo na competitividade das suas equipas (não apenas no futebol)e nos resultados alcançados.
Bastará referir a titulo de exemplo que aos Vitória são atribuídos cem mil euros por ano, para todas as modalidades, que na verdade são apenas cerca de cinquenta mil porque o clube gasta por ano um verba próxima dos quarenta e cinco mil euros apenas no aluguer de pavilhões para as suas equipas treinarem e nalguns casos competirem.
Daí que o candidato, criticando a falta de apoio da Câmara de Guimarães aos clubes concelhios, tenha explanado a sua visão do que deve ser a política desportiva do município que passará por um maior apoio aos clubes e pela atribuição directa desses apoios em vez de passarem por uma cooperativa municipal como é a velha prática socialista.
Até aqui tudo normal.
Como normal seria a resposta a estas declarações vir do PS de Guimarães caso delas discordasse ou da situação tivesse uma leitura diferente o que até à data não aconteceu pelo que me dispenso de aplicar aqui um velho provérbio popular que a todos ocorrerá sem dificuldade.
Mas não.
Quem ficou muito incomodado com estas declarações foi o...Sporting de Braga e o seu presidente António Salvador.
Que de imediato deram à estampa um absolutamente insólito comunicado recheado de insinuações, omissões e falsidades naquilo que constitui uma intromissão nunca dantes vista, em lado nenhum, de um clube desportivo numa disputa política que ocorre noutro concelho que não aquele em que está sediado e onde é um dos principais clubes em termos de apoio popular.
Não comentarei ponto por ponto o fastidioso comentário do Braga.
Sobre ele direi apenas o seguinte no que me parece mais relevante:
O comunicado do Braga não desmente André Coelho Lima.
Porque embora discordando dos valores apresentados pelo candidato admite que o Braga recebe anualmente da câmara de Braga mais do triplo do que o  Vitória recebe da câmara de Guimarães.
Está lá escrito.
A justificação de que essas verbas são para apoio às modalidades e não ao apoio profissional é pura redundância porque nunca nas declarações do candidato foi mencionado para que fim era destinado o apoio que o Vitória recebe da respectiva Câmara.
E depois o Braga entra por um caminho de delírio que nem o calor explica ao referir-se aos gastos com os estádios de Braga e Guimarães.
Ao afirmarem que o Vitória ficou com o estádio pelo valor simbólico de um euro estão a mentir.
Não foi um euro mas sim cinco mil o que sendo igualmente simbólico não deixa de ser uma diferença significativa em termos de valores e o seu não reconhecimento apenas pode ser explicado pela excelência dos critérios de gestão que notabilizaram alguns bracarenses “clientes” habituais dos noticiários jornalísticos sobre falências de empresas.
Depois o Braga “esquece-se” de referir que dispõe de dois estádios municipais, o 1 de Maio e a “Pedreira” .
Que custam ao erário público muitíssimo mais do que os cem mil euros que a Câmara de Guimarães gasta com o Vitória sendo que no segundo deles só os juros dos empréstimos bancários que permitiram a sua construção atingem valores  de milhões de euros que serão pagos ao longo das próximas duas décadas.
O Braga perdeu, pois, uma rica oportunidade de estar calado.
Porque cobriu-se de ridículo, meteu-se onde não era chamado, comentou o que não lhe dizia respeito e em nada conseguiu desmentir o candidato André Coelho Lima.
Mas deste insólito comunicado há uma concluso final que não pode deixar de ser tirada:
A política desportiva preconizada para o município de Guimarães e para os seus clubes por André Coelho Lima e pela coligação “Juntos por Guimarães” desagrada ao Sporting de Braga e ao seu presidente António Salvador.
E apenas isso pode justificar, ainda que remotamente, a emissão de um comunicado onde o incómodo é bem evidente e a simpatia , não expressa mas de fácil intuição, pelo “status quo” existente é inegável.
O que não deixa de ser um dado muito interessante que os vimaranenses devem valorizar no tempo certo.

5 comentários:

  1. Saganowski8:39 da manhã

    Caro Luis,

    De lamentar apenas o facto de, hoje em dia, este status quo de que o Braga beneficia, ser ainda suportado pelo PSD, que a meu ver, deveria ter acabado com isto. A nao ser que esteja amarrado a algum acordo a que, infelizmente, nao possa renunciar.
    De qualquer modo, acho que o Vitoria tem de ser mais apoiado pela edilidade, mas sem ser considerado uma coutada da mesma.
    Alias, Pimenta Machado sempre foi contra a intromissao politica na estrutura vitoriana.
    Por alguma razao seria...

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  2. Caro Saganowski:
    O que está mal não é o apoio que a Câmara de Braga dá aos seus clubes mas sim o que a Câmara de Guimarães não dá aos seus.
    Disto excluo, é claro, os custos brutais associados ao financiamento da "Pedreira" mas esses são contratualizados com a banca e a Câmara nada pode fazer.
    Se quem estiver no clube e na câmara souber o seu lugar nunca haverá intromissões e aproveitamentos politicos relativamente ao clube.
    Infelizmente o PS de Guimarães acha-se "dono disto tudo" incluindo o Vitória


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  3. O Salvador ainda anda ressentido pelo nosso quarto lugar. Cada vez que alguém de Guimarães diz 'Braga' ele tem sempre de vir dizer alguma coisa. Fala muito de nós para não falar das contratações e vendas do clube dele porque ainda não se viu nada. E a 3ª eliminatória da Liga Europa já daqui a um mês...

    Miguel Leite

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  4. Não concordo que os municípios gastem muito dinheiro com clubes desportivos profissionais. O Vitória deve ser capaz de financiar sua própria atividade. Os municípios têm outras prioridades.

    Em Setembro de 2016 a Câmara Municipal de Braga colocou à venda a sua parte de ações da SAD do SC Braga: 200 mil unidades a 1 euro. Com este negócio o município de Braga perdeu de 800 mil euros!!!
    Citação da comunicação social: "As ações foram vendidas por um valor acima do cotado em bolsa, mas "substancialmente abaixo" do valor pelo qual foram adquiridas, pelo município, à data da constituição daquela SAD: 5 euros"

    Com as recentes notícias de que um Banco brasileiro oferece 9 milhões, por ações do Vitória que há 4 anos atrás valiam 3 milhões, o Salvador deve estar a roer-se todo de inveja. A valorização da SAD do Vitória permite que não se venda a qualquer preço como era prática durante o período de saneamento financeiro.

    Miguel Leite

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  5. Caro Miguel Leite:
    Claro que o presidente do Braga está ressabiado com os oito pontos de diferença e a necessidade de jogar uma pré eliminatória a que já não estava habituado.
    Esperemos que se habitue.
    Quanto aos municípios não podemos esquecer que o Vitória não é só futebol profissional.Tem centenas de atletas em modalidades amadoras, a maior parte dos quais em escalões de formação, e com isso presta um relevante serviço à comunidade.
    Nessa medida e para esse fim deve ser apoiado pela Câmara.
    Quanto à SAD creio que está bem assim. Como vitoriano não tenho a mínima vontade de ver a nossa SAD transformar-se num mero negócio

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