Sobre os trágicos incêndios do passado fim de semana já muito foi dito.
Centenas de hora de televisão e rádio, incontáveis artigos de jornal, especialistas sobre incêndios, florestas, política floresta, técnicas de combate a incêndios a pronunciarem-se com uma tão douta sabedoria que só me admira que num país com tantos especialistas na matéria ainda haja um único incêndio que seja!
A propósito do sucedido também já assistimos a manobras de política e de politiquice, a estratégias de diversão e outras de encobrimento de responsabilidades, a factos tão espantosos como políticos que falam todos os dias terem ficado repentinamente mudos e outros pensarem que os portugueses são todos parvos e terem vindo para a opinião pública com declarações aberrantes e inenarráveis como esse poço de mau carácter que é o ministro da agricultura.
Já muito se disse.
Já se fizeram declarações num sentido posteriomente corrigidas por declarações em sentido oposto ou quase, já se fizeram apelos ao "nacional porreirismo" que noutros casos bem menos graves mas com governos diferentes nunca existiram por parte de quem agora os propõe, já apelou ao salazarista sentimento de "união nacional" para justificar o injustificável e para adiar o inadiável.
O incêndio está extinto, os mortos sepultados e os feridos em tratamento hospitalar.
Agora é o tempo de apurar responsabilidades e responsáveis.
De apurar o que correu mal, a que se deveu o caos das primeiras horas na coordenação do combate aos incêndios, porque houve falhas gritantes na estratégia, porque razão se recusaram ajudas estrangeiras e ainda por cima com declarações muito pouco respeitosas para quem se propunha ajudar (" excesso de voluntarismo"), porque metade da frota dos caríssimos helicópteros de combate a incêndios se encontra imobilizada por falta de manutenção, qual a razão de um caríssimo sistema de comunicações (Siresp) falha durante horas na altura em que era mais preciso e essencialmente como é possível dezenas de pessoas morrerem queimadas num espaço de poucas centenas de metros de uma estrada.
Entre muitas outras perguntas que já vi formuladas mas para as quais ainda não vi resposta.
Mas essas respostas tem de aparecer.
Sem politiquices, sem manobras dilatórias, sem estratégias de "spin" a quererem convencer-nos que foi tudo uma soma de azares, sem o empurrar de responsabilidades de um lado para o outro, sem inquéritos que nada resolvem e apenas empurram o assunto para um inevitável esquecimento ao sabor do passar do tempo, sem o usual e enfadonho "ping pong" entre partidos a acusarem-se mutuamente.
64 mortos e 257 feridos exigem respostas rápidas, precisas e Verdadeiras.
Doa a quem doer.
As famílias enlutadas ou com entes queridos nas camas dos hospitais, o heroísmo das corporações de bombeiros, a ajuda desinteressada e generosa de tantos e tantos portugueses merecem que se saiba a Verdade.
Ao menos isso.
E não é pedir muito.
Depois Falamos
P.S. Claro que a ministra da administração interna já se devia ter demitido ou sido demitida pelo primeiro ministro.
Em nome de uma responsabilidade política a que não podem fugir.
Como fez Jorge Coelho na questão de Entre-os-Rios (na qual não tinha nenhuma responsabilidade) ou como fez António Guterres ao demitir Armando Vara por causa da "Fundação para a Prevenção e Segurança".
Mas a esta ministra e a este primeiro ministro pedir assumpção das responsabilidades e vergonha na cara é manifestamente algo que está para lá das suas possibilidades.
Mas parece-me que não tudo.
ResponderEliminarÉ consensual que o eucalipto é uma das árvores potencialmente perigosas na floresta portuguesa e que nos últimos anos tem tido um incremente excepcional.
Em setembro de 1937 (Decreto-Lei nº 28039) a plantação de espécies de crescimento rápido, incluindo o eucalipto, foi regulamentada impedindo e condicionando a sua implantação em determinados locais.
Esta legislação foi revogada pelo Decreto-Lei nº96/2013, de 19 de Julho liberalizando praticamente a plantação de eucaliptos.
Em 80 anos muito mudou: houve casas e até aldeias que foram rodeadas de eucaliptais, aliás Portugal está a transformar-se num eucaliptal.
Face à tragédia recente a consciência daqueles que assinaram este último decreto-lei deve estar a "arder".
P.S.: Não sou dos Verdes, nem ecologista extremo. Este ano transplantei diversos tipos de árvores de fruto, oliveiras, sobreiros e até eucaliptos.
O loby do eucalipto manda, compra, e também contribui com ofertas generosas.
Pobre Portugal que vai de mal a pior.
Francisco Ferreira
Estou de acordo consigo.
ResponderEliminarAté agora ainda ninguém assumiu responsabilidades. Aliás, ontem ouvi o Sr. Marques Mendes na SIC a comentar que ainda nem sequer existe no terreno uma investigação aquilo que se passou. Se for verdade, parece-me vergonhoso!
Gostava de saber o que é que a Protecção Civil tem a dizer sobre o que se passou. Porque é que aquela gente foi mal informada e não houve a devida coordenação entre todos os meios...
É preciso perceber porque é que agora temos incêndios de Fevereiro a Outubro! Não me parece que seja tudo derivado do aquecimento global... Ter empresas privadas que lucram com o combate aos incêndios e cobram balúrdios por cada hora de voo não me inspira grande confiança.
Porque é que o exército não volta a ser parte activa no combate aos incêncios, pois tem meios, aeródromos, pilotos, mecânicos, etc?
Esta tragédia toda serviu também para o reavivar da discussão sobre a limpeza das matas nacionais. Se o proprietário privado não faz a sua obrigação tem de sofrer as devidas consequências, sendo aplicadas coimas em conformidade.
Obviamente que o estado tem de dar o exemplo em primeira instância...
E a plantação excessiva do Eucalipto por todo o lado, ao invés de haver uma mata mais variada, com Carvalhos, Sobreiros, Castanheiros...? Como é do conhecimento geral, o Eucalipto é uma árvore importada, que seca tudo à volta e arde com uma facilidade incrível. Sendo assim, é preciso perceber porque é que continua a ser plantada em tal abundância... Será por interesses dos madeireiros pois cresce muito mais rapidamente?
Bombeiros voluntários são solução?
Estas e outras questões têm de começar a ser respondidas.
Tem de haver mais planeamento.
O país tem de ter mais meios para o combate.
As matas de Portugal estão a desaparecer...
Caro Francisco Ferreira:
ResponderEliminarNa realidade o eucalipto transformou-se num enor me problema graças à ganância das celuloses e à falta de autoridade do Estado em fazer cumprir algumas determinações legais.
Se a isto juntarmos, como refere e bem, o muito dinheiro/poder que gira em volta do eucalipto percebe-se bem a razão pela qual o nosso país está realmente a transformar-se num eucaliptal.
E o mais trágico, desconfio, é que daqui a três meses o incêndio de Pedrogão estará reduzido a uma soma de estatisticas, ao azar de um dia em que tudo correu mal, à completa ausência de responsáveis.
E eucaliptos continuará rei.
Caro Mr Karvalhovsky:
Essas e muitas outras são questões que exigem resposta.
Infelizmente creio que muitas perguntas ficarão no ar sem alguma vez serem respondidas.
Porque além das que referiu, e dos assuntos que levantei no texto, ainda há muitas outras que nos indignam e fariam corar de vergonha um governo de gente honrada.
Desde os corpos amontoados num carro de transporte de alimentos porque o veiculo da protecção civil destinado a esse fim estava avariado até às casas assaltadas por falta de protecção policial depois de os proprietários terem de delas sair para se porem a salvo.
Passados mais de oito dias continua a não have rum inquérito aberto estando o governo à espera do parlamento como se fosse competência deste nomear imediatamente uma comissão de inquérito sem prejuizo de averiguações posteriores.
Um escândalo e uma vergonha.
Quanto aos eucaliptos a sua proliferação deve-se à ganância das celuloses e à falta de actuação legislativa de sucessivos governos.
...«Jorge Coelho na questão de Entre-os-Rios (na qual não tinha nenhuma responsabilidade)»
ResponderEliminarAi tinha, tinha! Ele não quis que se tivesse percebido que um mês antes e perante o visível descalabro da ponte ele quis obrigar um eng. a assinar que estaria tudo bem, depois de uma camada de alcatrão. O eng. recusou e disse que não assinava uma ruina, nem se responsabilizava -foi colocado num buraco e dias depois cai a ponte. Se tivesse assinado estava na cadeia.
Ouviu o que a bicharada xucialista hoje dizia na Ant 1? Que fogo foi posto; quem lucrou foi a direita/PPC, logo foram estes a por o fogo. Querem é derrubar o excelente governo, diziam.
São de vómitos! Agora "foi o Coelho com fósforos e acendalhas"! Depois da pobre e "criminosa árvore" -que não convenceu ninguém. Viu a foto da dita? Alguém a esgalhou partindo o caule na horizontal. Se fosse um raio estaria rachada na vertical!
Também me dá vontade de rachar qualquer coisa -como os costados da canalha
Cara il:
ResponderEliminarDesconhecia esse detalhe que refere quanto a Jorge Coelho.
Quanto ao resto vindo das esquerdas já nada me admira embora ainda existam coisas que me indignam.
Um país de Galambas e Catarinas é um país doente e sem futuro.
Quanto À árvore é uma pobre narrativa que se insere na das trovoadas secas que ninguém viu ou ouviu.
Mas desde Camarate que há sempre desculpas muito bem elaboradas para o que se percebe não ter sido nada assim