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terça-feira, junho 27, 2017

24 de Junho

O meu artigo desta semana no Duas Caras.

Portugal é um país singular em muitas coisas.
Umas que o tornam uma referência pela positiva e outras que dele fazem um mau exemplo que não deve ser seguido por a nada conduzir.
O 24 de Junho, dia 1 de Portugal por força de nessa data se ter travado a batalha de S. Mamede, é um exemplo claro, mas paradoxal, da conciliação num único facto daquilo que Portugal tem de melhor e simultaneamente de pior.
De melhor porque nessa data um grupo indómito de guerreiros, liderado por D. Afonso Henriques, fez frente a uma hoste galega em bem maior número e derrotando-a lançou as sementes do que viria a ser um país.
Foi há quase novecentos anos mas desde essa data Portugal nunca desistiu de ser independente, de lutar pelas suas fronteiras perante um vizinho bem mais poderoso, de dar o seu contributo para “dar novos mundos ao mundo” como é comum dizer-se.
E essa luta pela Liberdade, pela independência, pelo direito a ser um país e a escolher os seus caminhos é um exemplo extraordinário.
Mas depois há o reverso da medalha.
Constituído pelo facto de sermos uma Nação que nalguns aspectos não sabe reconhecer os seus valores, não sabe ser grata a quem por ela fez muito, cultiva determinadas formas de inveja e troca prioridades e factos por conveniências politicamente correctas.
Tal como muito vimaranenses, e não só, sou daqueles que me indigno e indignarei a vida toda pelo facto de Portugal nunca ter querido reconhecer o dia 24 de Junho como verdadeiro dia um de Portugal e festejá-lo nessa qualidade com a pompa e a circunstância que lhe são devidas.
Pior.
Portugal (deve ser caso único em todo o mundo…) festeja a reconquista da independência a um de Dezembro de 1640, com direito a feriado nacional e tudo o mais, mas não festeja a data da conquista da independência que foi o referido 24 de Junho de 1128.
Festejar a reconquista sem festejar a conquista reconheçamos que é obra.
Mas a não seguir seja onde for.
E por isso contra tudo o que seria justo e defensável assistimos a um país ser ingrato, desde sempre verdade se diga, perante a data da sua Fundação enquanto festeja outras datas que sem ela nunca teriam o significado que tem.
Resta Guimarães.
Onde felizmente temos memória, temos respeito pela nossa História, gratidão pelos nossos fundadores e por isso se festeja o 24 de Junho com o significado próprio e se lhe atribuiu, e muito bem, o estatuto de dia do município.
Devo dizer, e não o faço pela primeira vez, que defendendo a distinção que sucessivos executivos municipais tem dado à data, e a forma como tem procurado valorizá-la ao longo dos anos, estou cada vez mais longe de concordar com os mais recentes programas de comemoração do dia.
Porque os programas, com esta ou aquela variante, são cada vez mais iguais e repetindo-se ano após ano nos seus pontos principais o que lhe retira simbolismo e pouco contribui para acrescentar ao dia a dimensão que seria necessária para o afirmar perante o país em todo o seu significado.
É a missa solene, um carrossel de inaugurações, umas provas desportivas, uma sessão solene recheada de discursos e culminada com o habitual “cesto” de medalhas distribuídas quase irmãmente por quem as merece (e nalguns casos o merecimento é indiscutível)e por quem as recebe ora porque o poder entende que há equilíbrios políticos a fazer ora porque é preciso “medalhar”, e pouco mais.
Não estou com isto a acusar, que fique claro, nenhum executivo em particular porque o modelo é o mesmo há muitos anos.
Mas não posso deixar de pensar, e penso-o há muito tempo, que é preciso encontrar outro modelo de comemoração do 24 de Junho para poder afirmar a data perante o país de forma diferente e consolidar o caminho de a tornar numa efeméride nacional e não apenas concelhia como até hoje tem sido.
Nada tenho contra a missa solene embora num estado laico e em cerimónias oficiais seja no mínimo...discutível, nem contra a realização de provas desportivas que dão uma componente popular à data que não pode ser descurada.
Mas as inaugurações  e as medalhas deviam ser repensadas.
As inaugurações porque dão um ar “parolo” à data, com um cortejo de personalidades a percorrer o concelho e a descerrar placas, remetendo para as nada saudosas “peregrinações” de governantes e do almirante Américo Tomás pelo país , no tempo do antigo regime,a fazerem inaugurações e a suscitarem o agradecimento das populações por algo que nada tinham a agradecer.
Quanto às medalhas, e sem entrar em desnecessários pormenores, acho que a sua atribuição devia ser restrita aqueles que de facto contribuíram para o engrandecimento de  Guimarães de forma notória nas suas actividades profissionais ,comunitárias, desportivas, artísticas e de outros géneros e sejam reconhecidos por isso no concelho de forma evidente.
Acredito que é possível melhorar muito a comemoração do 24 de Junho.
Como acredito que um dia a data poderá merecer a nível nacional a importância e distinção que merece pelo que significa para a História de Portugal.
Num e noutro caso...Haja vontade!

7 comentários:

  1. Caro Luis,
    Quanto às medalhas, e sem entrar em desnecessários pormenores, acho que a sua atribuição devia ser restrita aqueles que de facto contribuíram para o engrandecimento de Guimarães de forma notória nas suas actividades profissionais ,comunitárias, desportivas, artísticas e de outros géneros e sejam reconhecidos por isso no concelho de forma evidente.
    Ou seja, não se devia nunca misturar profissionais da bola com gente que, efectivamente, ajudou e ajuda Guimarães a ser um local cada vez melhor para viver.
    Basta observar os medalhados deste ano para se perceber que há por ali 2 "corpos estranhos", cujos criterios de atribuição de medalha de merito deveriam ser bem claros e muito explicados.
    José Vieira de Castro

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  2. Caro José Vieira de Castro:
    Nada tenho a opor, como é evidente, a que sejam medalhados desportistas profissionais ou amadores desde que os seus méritos os justifiquem. Já o foram no passado e certamente continuarão a ser no futuro. Mas espero que o sejam por feitos relevantes que tenham elevado o nome de Guimarães. Eles e quaisquer outros medalhados.
    P.S. Sem comparar com ninguém, nem criticar quem quer que seja, acho que Pedro Mendes,por exemplo, mereceu bem a medalha.

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  3. Olhe que nao Luis. Especialmente esse. Mas esta é uma história para para outros sitios.
    Disse bem, desde que os meritos o justifiquem, o que nao é de forma nenhuma qualquer dos casos aqui em apreço.
    Jose Vieira de Castro

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  4. Saganowski8:35 da manhã

    Quanto a medalhas, acho que a do Pedro Mendes foi mais do que merecida, pois teve uma grande carreira tanto em Portugal (ganhou um campeonato e uma Liga dos Campeões pelo Porto) como no estrangeiro (ganhou um campeonato na Escócia e duas Taças em Inglaterra, tendo numa delas festejado com um cachecol do Vitória no pulso!).
    Quanto a muitos outros dos medalhados, desconheço-os, bem como os seus méritos. E isto não é uma crítica ao valor dos medalhados, mas ao desconhecimento sobre as vidas e/ou carreiras de alguns deles.

    Relativamente a inaugurações, não me parece bem ver aquelas enormes comitivas a "passearem-se" pelo concelho e a inaugurarem obras a torto e a direito em sítios onde nunca sequer foram, nem sequer voltarão a ir num futuro próximo.

    No que à importãncia do 24 de Junho a nível nacional diz respeito, acho que deveria também ser função dos deputados municipais (e dos nacionais que representam Guimarães na Assembleia da República), exigir que esta fosse uma materia a discutir. Se há feriados por causa de Santos Populares, por que não haver um feriado a celebrar o facto de sermos NAÇÃO desde 24 de Junho de 1128?

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  5. Caro José Vieira de Castro:
    Não estamos de acordo nisso.
    Pedro Mendes mereceu a medalha pela brilhante carreira que fez e na qual sempre prestigiou Guimarães e o Vitória.
    Caro Saganowski:
    Estou de acordo com a generalidade do teu comentário. Realçando que Pedro Mendes mereceu a medalha e que as comitivas das inaugurações são bem dispensáveis. Como as próprias inaugurações desse dia

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  6. Caro Cirilo:
    «...por que não haver um feriado a celebrar o facto de sermos NAÇÃO desde 24 de Junho de 1128?» Saganowski

    Pois é aqui é que está a explicação. Os republicanos socialistas e laicos odeiam que Portugal SEJA, daí o esquecimento...

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  7. Cara il:
    Alguma explicação haverá para este ostracismo que nos envergonha em relação à data em que Nasceu Portugal.
    P.S. Se estiver com a "candidata" explique-lhe que fazer campanha não é andar pendurada no líder.

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