Páginas

terça-feira, maio 30, 2017

Protagonismo Barato

O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras
Não é de agora, nem foi em Guimarães que isso foi descoberto, que o mundo do desporto dá um enorme protagonismo àqueles que dele não fazendo parte podem dele tirar dividendos políticos se estiverem no sítio certo na hora certa.
É uma constatação que atravessa transversalmente todos os quadrantes políticos (vem a talhe de foice – sem piada à foice – lembrar que na União Soviética o desporto era uma questão de Estado encarada como forma de afirmação política) da direita à esquerda porque no que toca à captação de votos as diferenças acabam por não ser tantas como às vezes se pensa.
E Portugal não foge à regra.
Bastará pensarmos no aparato com que selecções e atletas são recebidos, agraciados e condecorados quando obtém triunfos, títulos e medalhas em competições internacionais sejam campeonatos europeus, mundiais ou Jogos Olímpicos nas mais diversas modalidades pelos diversos agentes políticos desde presidentes da república a governos e autarquias locais debaixo daquele principio de que “se há festa há que ficar nas selfies da festa”.
E então se a selfie puder ser com grandes campeões como Cristiano Ronaldo ou Nélson Évora, entre outros exemplos possíveis, ainda melhor.
É assim há muito tempo.
Ainda anteontem, para não ir mais longe, na tribuna de honra do Jamor lá estavam o Presidente da República e o primeiro-ministro (o que não acontece em mais nenhum país numa manifestação desportiva deste género) mais alguns membros do governo e autarcas dos dois concelhos cujos clubes disputavam a final todos eles denotando evidente satisfação por ali estarem naquela que é a grande festa do futebol e que tem audiências televisivas na casa dos milhões de telespectadores.
Sempre assim foi, embora noutros tempos nem tanto, e assim continuará a ser.
Naturalmente que o Poder Local, também ele, não perde oportunidade de ver os seus agentes ganharem popularidade e simpatias junto da comunidade aparecendo nos momentos de festejos desportivos e fazendo passar a mensagem subliminar de que quem aparece junto a campeões também campeão é!
E por isso as câmaras adoram receber as equipas que ganham títulos, os atletas que batem recordes e/ou ganham troféus, os desportistas pertencentes à comunidade e que se evidenciam ainda em equipas de outros concelhos ou noutros países onde desenvolvem a prática desportiva.
Guimarães, concelho de fortes tradições desportivas, não foge evidentemente à regra e os seus autarcas têm nos últimos anos tido a oportunidade de aparecerem em múltiplas ocasiões junto de equipas e atletas vimaranenses que ganham competições.
E, claro, com direito às selfies da praxe.
Mesmo em casos, a sua esmagadora maioria para não dizer totalidade, em que nenhum dos méritos associados a títulos e troféus pode ser minimamente assacado à acção do município ou dos seus dirigentes políticos.
Para não ser exaustivo no exemplificar lembro, ao correr da pena, as homenagens a João Sousa, ao Moreirense vencedor da Taça da Liga e muito recentemente às basquetebolistas seniores do Vitória pela subida de divisão que tiveram “direito” a uma selfie com o presidente da câmara que muito provavelmente não assistiu a um único dos seus jogos mas que não resistiu a colar-se ao seu sucesso.
Claro que quando se trata do Vitória, o maior clube do concelho e que tem mediatismo nacional e internacional, a tentação de colagem aos seus sucessos é absolutamente irresistível (até pelo peso emocional do clube na comunidade) pelo que nenhuma ocasião de promoção à custa do clube pode ser desperdiçada.
E por isso anteontem, quer no almoço oficial da final da taça de Portugal quer na tribuna de honra do Jamor, lá estava o presidente da câmara a aproveitar o mediatismo que o Vitória confere, o que não o tornando diferente de muitos dos seus congéneres ainda assim merece um severo reparo pelo que a seguir explicitarei.
Como é sabido, não importa agora se bem se mal, o Vitória esta época decidiu uma política de patrocinador principal para as camisolas que implica a venda do espaço jogo a jogo pelo que foram várias as empresas que ao longo da época apareceram na frente das camisolas vitorianas.
A final da taça não fugiu, nem podia fugir, à regra pelo que a SAD vitoriana numa inatacável lógica de rendimento comercial vendeu o espaço à região de turismo do Porto e Norte de Portugal que terá sido quem melhor proposta apresentou.
Fez bem o Vitória ao vender ao melhor preço e fez bem a região de turismo ao aproveitar a oportunidade de se promover num evento televisionado para muitos milhões de pessoas.
Mas fez mal, muito mal, a Câmara de Guimarães ao não aproveitar esta oportunidade de ouro para divulgar o nosso município, fosse em termos do seu centro histórico património mundial fosse na promoção da candidatura de Guimarães a “capital verde” europeia, como já fizera no passado outra câmara do mesmo partido (mas com outro presidente) em relação à CEC 2012 patrocinando as camisolas com que o Vitória defrontou o Porto na final de taça de 2011.
Assim do Vitória a Câmara só quis o protagonismo conferido pela presença do seu presidente no Jamor nada se importando que as camisolas do principal clube do concelho fizessem publicidade expressa ao Porto e a uma região de turismo de que Guimarães faz parte mas sem que o seu nome apareça na designação oficial da mesma o que significa que é um facto desconhecido da esmagadora maioria das pessoas.
Ou seja a Câmara e o seu presidente colheram sem semearem, sem investirem, sem pagarem.
Foi só lucro.
Em Guimarães o protagonismo à custa do Vitória está barato…

5 comentários:

  1. Assino por baixo.
    Excelente artigo, que põe o dedo na ferida que é sem dúvida a menoridade mental
    dos nossos políticos actuais. É por demais evidente que estas aparições nos
    acontecimentos desportivos com mais visibilidade como foi a final da Taça de Portugal
    tem contributos apetecíveis, já que também se aproximam as eleições autárquicas.
    Na minha modesta opinião, a política e o desporto, neste momento já estão indissociáveis
    de tal forma que as atitudes dos protagonistas até já se confundem nos seus comportamentos
    cívicos.
    Cps

    ResponderEliminar
  2. Caro Anónimo:
    Creio que se perdeu a noção de vergonha quando se trata de politizar os sucessos desportivos.
    Tudo se torna pretexto para aparecer junto aos vencedores, para figurar nos grandes acontecimentos, para não faltar nas "obrigatórias" selfies.
    Não me referi a isso no artigo, é assunto a que voltarei, mas também critico aqueles que nessas alturas, por conveniências eleitoralistas, até fazem de conta serem adeptos deste ou daquele clube apenas e só porque ficar na selfie dá jeito.
    E isso tanto acontece com quem está no poder como com quem está na oposição.

    ResponderEliminar
  3. Saganowski9:10 da manhã

    Caro Luis,

    Estava a ver que não ias dizer nada sobre as camisolas!
    Ainda bem que o fizeste, pois também eu, quando vi a apresentação das camisolas da Taça, fiquei admirado e revoltado.

    Admirado por ver que o Vitória não deu primazia a nenhum dos seus patrocinadores deste ano (em alguns jogos chegou mesmo a repetir a publicidade a uma empresa de electrónica que nem sequer é de Guimarães, pasme-se...), nem sequer aproveitou esta oportunidade para fazer publicidade à cidade ou aos seus eventos (vamos ter brevemente um festival de música no nosso estádio...).

    Fiquei revoltado por ver que num evento em que poderíamos (e deveríamos) aproveitar para valorizar o que é nosso (de Guimarães), preferimos valorizar a região de turismo Porto e Norte de Portugal.
    Não estou em desacordo que se valorize o norte de Portugal, mas todos sabemos que quando se fala em turismo, Porto e Norte, apenas se destaca o Porto e o Douro, fazendo com que tudo o resto seja "paisagem" sem interesse...
    Além do mais, pareceu-me mais uma tentativa de afirmação de uma luta estúpida entre norte e sul. Ou, quem sabe, uma tentativa "portista" de estar presente na Taça...

    Em suma, não gostei que alguém se aproveitasse de nós (do Vitória e de Guimarães) para fazer publicidade em causa alheia.
    Foi, mais uma vez, a "teoria do eucalipto" em acção. Não gostei! O Vitória e Guimarães têm valor por si próprios!

    ResponderEliminar
  4. Estou bastante em desacordo com esta opinião.
    Primeiro porque homenagear e participar são factos totalmente distintos.
    Por exemplo, o presidente da república quando atribui uma condecoração não está a pretender uma cota parte de responsabilidade no mérito que está a premiar, mas sim está, em nome do país, a agradecer um comportamento que engrandece o país.
    Neste caso diria que é uma situação paralela; o presidente da câmara não tem que ter mérito na carreira do João Sousa, para lhe agradecer a notoriedade que dá a Guimarães.
    Segundo, essas homenagens são feitas em nome de um concelho, em nome de um povo que não o pode fazer individualmente.
    Eu acredito na bondade da política e dos políticos. Se sistematicamente acharmos que a motivação de todos os atos de um autarca ou de um político é apenas a sede de protagonismo, estaremos a rebaixar a política e os políticos.
    É sem dúvida a moda do momento, essa pretensão populista de superioridade moral sobre tudo o que mexe na política. Comigo não, obrigado

    ResponderEliminar
  5. Caro Saganowski:
    O Vitória limitou-se a aceitar a melhor proposta e não deve ser criticado por isso.
    A Câmara é que não soube estar à altura das suas responsabilidades e não defendeu os interesses de Guimarães da forma devida.
    E por isso fomos para o Jamor a fazer publicidade ao Porto.
    Caro luso:
    É a sua opinião , respeito, mas não é a ninha como se constata no artigo.
    Agora não aceito é acusações de populismo quanto aos políticos.
    Quem lê este blogue, como é o seu caso, sabe bem que os tenho defendido em muitas ocasiões face precisamente à facilidade com que são atacados. De resto eu próprio fiz politica a tempo inteiro entre 1999 e 2011 pelo que seria de uma enorme falta de coerência vir para aqui alinhar nesses populismos.

    ResponderEliminar