Páginas

quarta-feira, abril 12, 2017

Distritais & Autárquicas

A organização de umas eleições autárquicas é tudo menos um processo simples e de fácil realização para qualquer partido político.
São 308 realidades diferentes, 308 eleitorados com características próprias, 308 concelhos com as suas especificidades.
O líder de um partido não está, nunca esteve nem nunca estará, em avaliação numa eleições deste tipo embora tenha obviamente as suas responsabilidades na condução do processo,e intervenção directa nalgumas escolhas para além das responsabilidades próprias de liderança do partido.
Nisso o PSD não foge à regra.
E embora Pedro Passos Coelho tenha as suas responsabilidades como líder, presida à CPN que dirige o partido , tenha nomeado essa "aberração estatutária" que é a comissão autárquica e intervido directamente nalgumas escolhas é evidente que não terá a sua liderança em risco se eventualmente o resultado for abaixo das expectativas.
Até porque, para lá da tal meia dúzia de casos (se tantos) de intervenção directa do líder, as escolhas não são da sua responsabilidade mas sim de concelhias e distritais- essas sim estão em avaliação nas eleições autárquicas-  dentro de uma larga margem de autonomia nas escolhas no âmbito das responsabilidades que lhes estão estatutariamente cometidas.
E é essencialmente nas distritais e concelhias que estão os responsáveis pelas vitórias e pelas derrotas no próximo dia 1 de Outubro.
Pelas escolhas que fizeram, pelas escolhas que deixaram fazer, pelo envolvimento nas eleições, pelas estratégias adoptadas, pela competência ou incompetência demonstradas.
Conheço o caso de uma distrital, que como todas as outras tinha até 31 de Março para encerrar o processo de escolhas, e que em meados de Abril ainda tem 40% dos seus concelhos sem candidato escolhido.
40% !!!
E num dos casos, por acaso na capital do distrito, em que o candidato já estava escolhido pela respectiva concelhia, o acordo de coligação com CDS e PPM fechado e a pré candidatura a correr sobre rodas a distrital, apenas porque o seu presidente tem más relações pessoais com o candidato (presidente da respectiva concelhia), atrasou tanto a aprovação da candidatura, arranjou problemas onde eles não haviam e mostrou inequívoca má vontade e falta de colaboração que o candidato, que tem profissão e não vive da política, desistiu da candidatura e mandou a distrital resolver ela o assunto.
As eleições nesse distrito ameaçam correr mal para o PSD face a tudo que se tem passado e ao número de concelhos que ainda não tem candidato por falta de capacidade das concelhias e da distrital.
Será que se pode responsabilizar o líder do partido por esse eventual insucesso?
É evidente que não.
Em 1997, na liderança de Marcelo Rebelo de Sousa, as comissões políticas distritais deixaram de ser eleitas em assembleia distrital e passaram a sê-lo pelo universo de militantes do distrito naquilo que foi uma inequívoca democratização do processos de eleições dos dirigentes distritais.
Ao tempo era vice presidente da distrital de Braga e fui dos que apoiei (e a distrital também) essa alteração estatutária.
Hoje vinte anos passados tenho duvidas sobre se o processo beneficiou o partido em termos de qualidade das distritais e de resultados do seu trabalho.
Porque no tempo em que as distritais eram eleitas em assembleia pelos respectivos membros quem quisesse candidatar-se a uma distrital tinha a possibilidade de contactar todos os delegados eleitores, de forma personalizada, e até convencê-los a votarem de forma diversa à da sua concelhia.
Recordo bem que em 1996 a primeira distrital de que fiz parte foi eleita ainda em assembleia e houve secções, como Guimarães por exemplo, em que os delegados se dividiram pelas duas candidaturas em competição.
Agora basta duas ou três concelhias com muitos militantes porem-se de acordo para escolherem e perpetuarem o poder distrital indiferentes aos resultados do exercício desse poder quer nas escolhas das listas de deputados quer, essencialmente, na condução dos processos autárquicos.
O que significava que ontem escrutínio e avaliação do trabalho das distritais (bem como a exigência quanto à qualidade política dos seus membros)eram muito maiores do que são hoje ,em que elas são eleitas por todos os militantes (e isso continua a ser o factor mais positivo do processo) mas num voto muito mais "corporativo", e em que os delegados às assembleias perderam o peso conferido pelo facto de também serem os eleitores do orgão CPD .
Aliás basta ver o que são actualmente as reuniões da maioria das assembleias distritais para se perceber que o debate de ontem foi substituído pelo desinteresse e pelos amens de hoje  com notório prejuízo para a democraticidade interna.
Tenho por isso, nos dias de hoje, as maiores duvidas sobre se o ter-se trocado a política pela aritmética como forma de eleger as distritais trouxe algum ganho ao PSD.
Acho que não.
E esse é hoje um dos problemas maiores do partido.
Ainda que muitos prefiram assobiar para o ar e não o admitirem..
Depois Falamos.

2 comentários:

  1. Caro Cirilo:
    A democracia directa tem esses inconvenientes, sobretudo quando há comportamentos/elementos mafiosos em acção.
    Acaba-se a discussão, acaba-se o trabalho político, não há militantes na rua … a médio prazo não há votos. Lisboa é um case study.

    ResponderEliminar
  2. Cara il:
    Sem qualquer duvida.
    Infelizmente pelas piores razões

    ResponderEliminar