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sábado, abril 08, 2017

Jamor

O meu artigo desta semana no zerozero

E depois de meses e meses de competição, da disputa de largas dezenas de jogos, são conhecidos os finalistas da presente edição da Taça de Portugal.
Vitória e Benfica reeditam a final de boa memória (para os vitorianos) de 26 de maio de 2013 e, na tarde de 28 de maio, subirão ao relvado do Jamor em busca da conquista do troféu que será o segundo para o Vitória ou o vigésimo sexto para o Benfica.
É precisamente sobre o Jamor que deixo a primeira nota quanto a esta final. 
De há muito que defendo, e com uma convicção cada vez maior, que é um disparate a final da Taça ser jogada num recinto que não tem as condições condignas para um jogo com esta importância em que se decide o vencedor da segunda prova mais importante do nosso futebol.
Começando pela lotação, é simplesmente ridículo, especialmente num Vitória x Benfica dois clubes que arrastam multidões, distribuir pelos finalistas pouco mais de vinte mil bilhetes a dividir pelos dois e que não vão chegar a …nada.
Depois, os acessos, a ausência de casas de banho em número adequado, as bancadas descobertas que sujeitam os espectadores à inclemência do sol ou ao rigor da chuva consoante a meteorologia do dia (falo com conhecimento de causa porque já lá vivi ambas as situações) tudo isso desaconselha a utilização de um estádio antiquado, ainda por cima num país que tem dez estádios modernos construídos ou reabilitados para o Euro 2004. Que prova melhor que este estádio já não serve para jogos destes que o facto de a própria FPF não o utilizar para jogos oficiais (nem particulares) da seleção nacional há muitos anos? Nem da A nem das outras, em bom rigor.
Dir-me-ão que é a tradição, a mitologia do Jamor, os piqueniques nas matas e a confraternização entre adeptos (quando ela é possível, porque há confrontos em que nem pensar…) que justificam a teimosia em manter o jogo naquele vestígio arqueológico de um futebol que já não existe. 
Pobres razões.
Hoje o futebol é, a todos os níveis, uma atividade demasiado séria para se compadecer com sentimentalismos e tradições quando se trata de oferecer aos espectadores pagantes condições de visualização do jogo, incluindo segurança e conforto, compatíveis com o preço do bilhete que pagaram.
Já para nem falar do absurdo que é obrigarem clubes do norte e do sul a irem sempre a Lisboa jogar uma final que, em alguns casos, podia perfeitamente ser jogada nas imediações das suas cidades, como já aconteceu, por exemplo, com o Vitória, que jogou duas finais no Jamor com o FC Porto (ou a final do ano passado, entre Sporting de Braga e FC Porto), com tudo que isso significa de conforto e poupança para os respetivos adeptos.
Já sei que alguns virão com o exemplo de Wembley, onde se joga sempre a final da Taça de Inglaterra. 
Não serve como exemplo.
 É um estádio moderníssimo, de grande capacidade, onde a seleção inglesa joga sempre e onde, para além da final da Taça, também se joga a final da Taça da Liga, da Supertaça e de outras competições como o play-off de acesso à “Premier League”.
Podemos, e devemos, importar muitos exemplos do futebol inglês, mas esse não. Prefiro, isso sim, o modelo espanhol em que o estádio da final é escolhido pela Federação em acordo com os clubes finalistas e respeitando, tanto quanto possível, uma equidistância entre as cidades dos dois clubes. 
O que aplicando esse modelo a esta final da nossa Taça levaria a que o jogo, por questões de lotação, devesse ser no Dragão ou em Alvalade já que os estádios “intermédios” (Aveiro, Coimbra, Leiria) têm capacidades equivalentes ao Jamor.
Quanto aos finalistas, direi apenas (é assunto a que voltarei noutra crónica) que quer Vitória quer Benfica tiveram percursos não muito difíceis (exceto nas meias-finais) nesta edição, com o Vitória a eliminar o Santa Iria, o Boavista, o Vilafranquense, o Covilhã e o Chaves, enquanto o clube de Lisboa eliminou o 1.º de Dezembro, o Marítimo, o Real Massamá, o Leixões e o Estoril.
Sendo certo que ambos tiveram umas meias-finais bem mais difíceis do que era suposto, com o Vitória a passar em Chaves depois de um grande susto e o Benfica a apurar-se frente ao Estoril com o credo na boca face à possibilidade de ser eliminado em casa depois de ter ganho fora.
E com a curiosidade suplementar, mas bem típica do nosso futebol, de o Vitória se ter apurado apesar de em Chaves sofrer um golo em fora de jogo, enquanto o Benfica se apurou por na Amoreira ter marcado um golo em fora de jogo! É o futebol que temos.
Uma nota final para destacar que, se no futebol o mérito fosse condição absoluta para a conquista de troféus, esta edição da taça devia ser ganha pelo…G.D. Chaves!
 Depois de eliminar União da Madeira, FC Porto, Torreense e Sporting, e da forma como se bateu com o Vitória no segundo jogo da meia-final, bem mereciam ganhar a Taça porque nesta edição ninguém fez tanto como eles para o merecer.

P.S.: Anuncia-se que a final da Taça será o primeiro jogo oficial a ter a utilização do vídeo-árbitro. Não me parece muito sensato começar essa desejável prática, que contribuirá para a verdade desportiva, sem qualquer dúvida, num jogo com a carga emotiva da decisão de um troféu sem que haja a habituação dos intervenientes (e dos espectadores…) a essa nova tecnologia. Parecer-me-ia mais adequado começar por outras competições.
 Oxalá corra bem. 

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