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quarta-feira, março 25, 2015

Peço Desculpa

                                     
Peço desculpa de alguma insensibilidade que possa parecer transparecer do texto que se segue mas em boa verdade não é nada disso.
Ontem caiu mais um avião.
Que fazia a viagem entre Barcelona e Dusseldorf e que por razões ainda desconhecidas se despenhou sobre os Alpes franceses matando as 150 pessoas que seguiam a bordo.
Maioritariamente alemães e espanhóis mas.ao que se sabe, nenhum português.
Todos os dias morrem pessoas em acidentes do mais diverso género, desde acidentes de circulação a acidentes de trabalho, e isso faz parte do dia a dia de todos nós.
É evidente que 150 pessoas de uma vez é mais invulgar,é verdade, mas ainda a semana passada morreram no Iemen 142 pessoas num atentado bombista e o assunto não teve sequer um décimo da repercussão do acidente de ontem.
Como todos os dias morrem dezenas,centenas, milhares de pessoas no Sudão, na Somália,na Síria, no Iraque e noutros teatros de conflito sem que a comunicação social portuguesa lhes dedique mais do que notas de rodapé.
Ontem, hoje e nos próximos dias tudo será diferente com este acidente.
Atraídas pelo sangue como borboletas pela luz as televisões portuguesas montaram um autêntico arraial em volta de um acidente que se lamenta mas que a nós portugueses não diz nada directamente dada a ausência de compatriotas nesse voo.
Querem RTP, SIC, TVI lá saber disso.
Enviados especiais a Barcelona, a Dusseldorf, ao local do acidente, ligações em directo várias vezes ao dia, o que importa é alimentar o "voyeurismo" de quem se "alimenta" deste tipo de informação e notícias.
Lamentável.
Mas ,em boa verdade, nada que nos admire vindo de onde vem
Depois Falamos

8 comentários:

  1. Como eu costumo dizer ... 'morrer por atacado é um privilégio!'
    Mas não se resume apenas à comunicação social portuguesa, pois ou muito me engano ou ainda vamos ter direito a uma mensagem do Papa Francisco!

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  2. Caro MF:
    Uma mensagem é uma mensagem e faz sentido.
    O que as televisões portuguesas fazem é que não tem sentido nenhum.
    Além de revelarem uma parolice total.

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  3. não é bem questão de quantos morreram.
    Acidentes de aviação são raros e por isso têm tanta repercussão.

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  4. VALOR DUMA VIDA e MEDIAS

    O valor duma vida humana nunca foi tão variável como nos tempos de hoje. Há o preço duma vida, o preço de "grosso" - dezenas ou centenas de seres humanos - e o preço para grandes quantidades - dezenas ou centenas de milhares.
    Depois há a origem das vítimas. Segundo o continente, a diferença de valor pode ser exponencial.

    O drama aéreo da German Wings é humanamente terrível. Ninguém pode sentir a dor das famílias como elas mesmas, mesmo se somos todos sensíveis a um tal drama.

    Mas o Dr. Cirilo aponta para uma anomalia no tratamento dos dramas humanos pelos media. A importância do drama não se mede pela dor humana mas pelo impacto da notícia. A audiência faz lei.
    Tantos outros dramas de muito maior amplitude surgem todos os dias no planeta. Mas este é o "nosso", e a ética ocidental impõe que seja este que mereça todas as atenções. O mercado o impõe.

    Penso neste momento às 290 vítimas dum voo Iran Air, de Teerão a Dubai, há alguns anos, cujo Airbus A 300 foi abatido por engano pelo cruzador americano Vincennes no Golfo Pérsico, com 66 crianças a bordo.
    .George Bush pai, fez o comentário seguinte:" Nunca apresentarei desculpas em nome dos EUA ((I will never apologize for the United States — I don't care what the facts are... I'm not an apologize-for-America kind of guy). ».
    Traduzidos perante a Corte Internacional de Justiça, os EUA foram condenados. O preço da "vida humana" foi neste caso 300 000 $ por pessoa.
    Os homens do cruzador receberam a condecoração do Combat Action Ribbon pelo alto feito! A notícia desapareceu dos radars dos media em dois dias !
    Os advogados da Union Carbide , quando fixaram o montante das indemnizações às vitimas do desastre de Bhopal, na Índia, em 1984, 20 000 mortos, fixaram-no facilmente: A renda "per capita" da India sendo na época de 250$, e a renda dos EUA sendo de 15 000 $, concluiu-se que a "vida indiana" valia 8 300 $, ao passo que a "vida estadunidense" é de 500 000 $. As companhias costumam utilizar este tipo de avaliações para aumentar as sua margens

    O facto que o capitalismo ( e não Marx) calcula desta maneira o valor da vida humana põe um duplo dilema, um ético e o outro lógico.
    Algo de ilógico nesta companhias de bandeira, neste caso a Lufthansa, é que quando os aparelhos chegam a uma idade vetusta, neste caso 25 anos, "passam-nos" à companhia "low-cost " filial, como se a segurança que os obriga a modernizar a frota aérea da casa mãe não devesse ser a mesma para os clientes "low-cost".
    Aqui é a lógica capitalista que impera.

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  5. Rui Cordeiro da Silva8:46 da manhã

    O caso ganha relevância porque foi um desastre aéreo em plena Europa, algo que há muito não acontecia.

    Além disso, foi o primeiro na Europa com uma companhia de baixo custo.

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  6. José Duarte1:07 da tarde

    Obrigado, senhor Joaquim de Freitas. O seu texto contribui para o esclarecimento da política do lucro, morra quem morrer. Alguém ainda espera que sejamos humanos...

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  7. Caro luso:
    Percebo que despertem atenção.
    Mas o que a CS portuguesa faz é pura obsessão.
    Caro Joaquim de Freitas:
    Já Orwell dizia que os animais são todos iguais mas há uns que são mais iguais que os outros.
    No caso dos seres humanos é o mesmo.
    Depende muita da nacionalidade e do continente.
    E da audiência, como diz e bem, que nos tempos que vivemos dita as prioridades.
    Esse "detalhe" que refere de as companhias de bandeira mandarem os aviões velhos para as low cost é particularmente preocupante porque além da lógica de capitalismo selvagem que mostra que também para as transportadoras há passageiros que merecem mais segurança do que outros. Mais uma vez a "lei de Orwell" a funcionar.
    Caro Rui:
    Não foi o primeiro. O ano passado um avião holandês foi abatido ao sobrevoar a Ucrânia pelos separatistas pró russos.
    Agora nas companhias low cost foi realmente o primeiro de que me lembro

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  8. Caro José Duarte:
    É a verdade crua dos factos.
    Mas nunca devemos desistir de ser humanos

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