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quinta-feira, maio 20, 2010

Causa e Efeito


Publiquei este artigo no site da Associação Vitória Sempre.

Acabada a época desportiva com o insucesso de todos conhecido, importará agora reflectir alguma coisa sobre esta preocupante tendência do Vitória para se afastar cada vez mais das posições que tradicionalmente eram as suas.
Claro que podemos sempre, se nos quisermos enganar a nós próprios, atirar responsabilidades para cima dos árbitros que nos prejudicaram ou para o escasso golo (é, foi um golo não um ponto que nos pôs em inferioridade perante o Marítimo) que nos impediu de ir á Liga Europa.
Mas árbitros, azares vários, pontos e golos são apenas o efeito visível dos erros cometidos a montante e que nos afastam quer da Europa quer do Braga.
Porque árbitros e azares explicam muita coisa mas são altamente insuficientes para justificarem trinta pontos de atraso em relação ao velho rival minhoto.
Então onde está o verdadeiro problema?
Do meu ponto de vista não é apenas um problema mas sim uma mistura deles que todos juntos contribuem para estarmos numa fase da vida do clube em que as alegrias são cada vez menos e as preocupações cada vez mais.
Tipificarei três:
O modelo de gestão, a concepção do futebol, a percepção do clube.
Começando pelo primeiro não deixa de ser uma curiosa ironia que o Vitória tenha tido direcções colegiais no tempo da ditadura e pouco depois da restauração da democracia tenha enveredado por formas de presidencialismo que roçaram nalguns casos o verdadeiro posso quero e mando. Nessa matéria andamos um pouco ao contrário da História.
Mas sejamos claros e sem hipocrisias: Foi assim porque os sócios quiseram, e continuam a querer, que assim seja.
Durante mais de vinte anos tivemos o presidencialismo exacerbado de Pimenta Machado, um tempo em que o Vitória cresceu estruturalmente, cresceu desportivamente e ganhou voz no contexto do futebol nacional. Infelizmente nada se modernizou em termos de gestão e de compreensão da evolução do futebol.
Mesmo assim foi o tempo em que o clube ganhou o estatuto de 4º grande.
A seguir veio o presidencialismo envergonhado de Vítor Magalhães.
Eleito com um enorme capital de esperança por parte dos sócios (não com o meu voto) que depois dos tais vinte anos de Pimenta Machado ansiavam, naturalmente, por um estilo de gestão diferente.
Mais participada, com uma Direcção em que os seus membros tivessem autonomia e capacidade de decisão, um modelo mais consentâneo com os novos tempos.
Foi ilusão de pouca dura.
Porque o Presidente eleito pouco demorou a dizer ao que vinha: Debaixo do slogan do “homem sério” e de uma simpatia devidamente estudada depressa se percebeu que queria era mandar como o seu antecessor.
Infelizmente a cópia saiu pior que o original e Vítor Magalhães conseguindo imitar Pimenta Machado nalgumas das coisas que este tinha de pior nunca dele se conseguiu aproximar no que tinha de melhor.
Visibilidade nacional, capacidade reivindicativa, algum respeito das estruturas do futebol.
Faço-lhe contudo a justiça de reconhecer que teve algum azar (para o qual também contribuiu com a absurda substituição de Manuel Machado por Jaime Pacheco!) nos resultados desportivos dado ter sido o último presidente que investiu a sério na equipa de futebol. Bastará recordar que no ano da descida tínhamos equipa para ir á Europa de caras.
É claro que esta sequência presidencialismo exacerbado, presidencialismo envergonhado dificilmente poderia deixar de dar no que deu; o presidencialismo desorientado de Emílio Macedo da Silva.
Que quer tanto mandar como os anteriores, com a legitimidade de o poder do Presidente ser algo que os sócios sufragam há três décadas, mas sob uma capa de democraticidade interna baseada nos vice-presidentes.
Que são, eles vice-presidentes, a prova provada do presidencialismo desorientado.
Um que admite, impávido e sereno, a afronta de Paulo Sérgio usar as nossas instalações (apetecia-me ironizar mas fica para outra oportunidade) para falar aos sportinguistas.
Outro que esteve, saiu no meio de um chorrilho de acusações mútuas, e agora volta exactamente para o mesmo sítio como se a memória das pessoas fosse algum conceito abstracto.
Um terceiro que não passa de um comissário politico, na posição de “controleiro”, sem o mínimo jeito para as funções que ocupa e sem que da ocupação que faz do cargo se vejam vantagens para o Vitória.
Há um quarto, provavelmente o mais capaz de ter uma intervenção positiva na gestão do clube, mas que curiosamente é o mais invisível de todos.
Ou seja, e para concluir este ponto, o Vitória continua sem um modelo de gestão capaz de responder aos tremendos desafios que o futebol profissional hoje acarreta.
E por isso “navega” á vista, sempre na ânsia de uma receita extraordinária que permita equilibrar um orçamento cronicamente deficitário, obrigado a vender jogadores ao sabor das suas necessidades mais prementes e não ao valor de mercado que esses jogadores tenham.
Quanto ao modelo de futebol, e porque o artigo já vai longo, o Vitória tem de fazer opções.
Ou quer ser um clube formador, que assente a base do seu plantel nos jogadores feitos nas camadas jovens, e depois contrate cirurgicamente jogadores bem avaliados para posições específicas sempre na perspectiva de formar-utilizar/valorizar – vender e assim manter uma bitola competitiva que tenha o 5º lugar como a pior classificação possível.
Ou então continua a desperdiçar alegremente os jovens talentos da formação, emprestando-os a clubes da III Divisão onde nunca conseguirão evoluir ao nível de saltarem para a I liga, e constituindo o seu plantel com base nas sobras dos amigos de ocasião (ontem o Porto, hoje o Benfica, amanhã…o Braga?), nas propostas dos empresários, nas viagens ao Brasil de quem calha, ou em jogadores de percurso desconhecido e que depois se revelam flops.
Finalmente, e porque o mais importante, a percepção do clube.
O Vitória tem que ser gerido por quem o perceba.
Ao clube, á comunidade, aos sócios, a Guimarães.
Todos sabemos que o Vitória tem um potencial tremendo, uma massa associativa impar (mas as imitações já por aí andam e a crescerem..) uma comunidade que o acarinha. Mas também sabemos que tanta dedicação sem contrapartidas cansa.
As desilusões não matam mas moem.
E isso acaba por se reflectir na compra de cadeiras, na assiduidade ao estádio, na aquisição de merchandising, no acompanhamento da equipa. E o vermos o vizinho do lado numa tremenda dinâmica de crescimento em nada nos ajuda. Porque em termos de dedicação não tememos comparação. Mas os resultados das últimas década estão claramente do lado deles.
Porque tem sido quase sempre melhores.
Melhores classificações, mais apuramentos europeus, e agora o vice campeonato através de um segundo lugar que nunca obtivemos.
Um dos nossos maiores orgulhos era o sermos o único clube fora de Lisboa e Porto que já tinha estado no pré eliminatória da Champions.
Agora já não somos.
E com o risco de vermos o Braga chegar á fase de grupos, ao pote dos milhões, á possibilidade de com mais dinheiro ser maior, mais forte e mais competitivo.
Oportunidade que nós desperdiçamos. Não por um fiscal de linha desonesto (embora também) mas porque quem nos dirige não percebeu as oportunidades extraordinárias que ali estavam de darmos o grande salto em frente.
No dia em que nos saiu o Basileia, como ultimo obstáculo á entrada na fase de grupos, tínhamos de apostar tudo. Correr riscos e reforçar a equipa de molde a garantir a passagem.
Contratamos o Gregory e o Wénio, zangamo-nos com o Porto e envolvemo-nos numa aventura trágica com o Benfica.
Que só podia acabar como acabou. Porque quem nos dirige não percebeu.
Creio que todos estes problemas, e outros de menor escala, tem estado na origem da nossa irregularidade classificativa e da frustração que todo nós sentimos quando vemos um grande clube como o nosso a ficar muito aquém das suas possibilidades.
Estes problemas não são de hoje, vem de trás, mas importa reconhecer que os últimos anos os têm agravado significativamente.
Olho com preocupação a próxima época.
Quer quanto ao número de sócios (é ano de renumeração), quer quanto às cadeiras vendidas, quer quanto á qualidade do plantel e às opções em termos de clube satélite.
Chega de pedir aos sócios que não falhem. Porque eles nunca falham.
É tempo de outros não falharem.
Porque já basta o que basta.

9 comentários:

  1. Espectacular artigo.Assino por baixo tudo.

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  2. Caro lafuente:
    Já depois do artigo escrito e enviado á AVS soube da venda do Targino!
    Ao desbarato tanto quanto parece.
    Parece porque os contornos reais não se sabem.
    O que só confirma o que escrevi.
    E ,já agora,acrescento: Se é verdade que o acordo estava feito desde o inicio da época agora terminada (se for verdade é inqualificável)foi pena que na campanha eleitoral o sr Presidente não tivesse disso informado os sócios.
    É o conceito de transparência desta direcção.

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  3. boas..
    É escusado bater sempre na mesma tecla, esta direcção é incompetente! já sabemos.. mas fomos "nós", 61% k os voltamos a por lá, e por isso culpo também mt os Vitorianos por tamos como tamos..
    A lista a k o Sr.Cirilo pertencia aquando as eleições no Vitória só perdeu devido à péssima escolha do candidato à presidência, mas tb pela campanha negativa e "utópica" k fizeram... (e por isso tb os culpo)
    O Vitória merece mais e melhor k isto... merece ter Amor, Competência e Dedicação a gerir o seu futuro... merece ter VITORIANOS!!! (e isso irá acontecer.)
    cumprimentos vitorianos..

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  4. Caro Mcnuno23:
    Vamos por partes:
    Que esta direcção não tem correspondido ás necessidades do clube é verdade que todos sabemos.
    Que foi legitimada por 61% dos votantes também é verdade mas isso não a torna imune a criticas.
    O meu artigo,contudo,vai muito mais no sentido de diagnosticar problemas e propor caminhos do que bater repetidamente nos "ceguinhos".
    Quanto á Lista de que tive a honra de fazer parte não é verdade que tenha feito uma campanha negativa e utópica.
    Denunciamos os problemas e propusemos soluções várias para todas as áreas do clube.
    67 propostas.
    Os sócios quiseram outro caminho é com ele que vamos ter de viver.

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  5. foi vendido a quem o targino? ao Benfica?

    não vejo isso confirmado em lado nenhum, tem a certeza?

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  6. Subscrevo inteiramente o texto, reproduz aquilo que tenho pensado sobre o Vitória e o seu contexto. Até nem acho que seja longo, pois há nele aspectos que mereceriam maior detalhe.
    Nos últimos anos, tem faltado massa crítica na Direcção do Vitória, gente com poder de intervenção e que se antecipe às situações (uma Direcção a sério teria procurado resolver a questão do acesso à Europa no jogo contra ao Rio Ave, em que a exibição foi uma lástima!). Gente que conheça a moral do Vitória, que acompanhe as tendências do futebol nacional e internacional.
    Comungo da opinião de que as sucessivas Direcções não conhecem o 'sentir Vitoriano', quer pelas estratégias defendidas, quer pelas afrontas que têm sido cometidas aos sócios.
    Contudo, deixe-me acrescentar que a "oposição" não tem sabido ser alternativa credível. As próximas eleições ganham-se já, numa espécie de 'governo sombra', mas desde que actue esclarecida e com justa causa, pois de outro modo apenas serve para destabilizar. Mas isso, dava assunto para mais texto comprido...
    Com tanta adversidade, como foi possível à actual Direcção continuar a ganhar as eleições!

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  7. Meus amigos eu não posso deixar passar em branco uma notícia, em que o nosso vice presidente Paulo Pereira afirma, que 450mil euros pelo Gustavo é muito dinheiro. Eu que à uns tempos tinha aqui escrito noutro comentário, que 500mil euros pelo nosso treinador até nem era mau, mas caso este levasse algum jogador atrás dele, seria péssimo. Pois bem o que eu temia aconteceu (grande novidade!). Ora bem, se 450mil euros para o nosso clube são números exagerados para se pagar por um jogador, então 500mil euros a dividir por presidente e vices na transferência do Pelé são o que?? Este homem quer matar o nosso vitória! Quem oferece 350mil euros pelo milhazes (sem provas dadas e agora já se viu que é mesmo fraco), se diz que 450mil por um jogador com provas dadas, ou é doente ou está a querer esconder algo...ou seja, o que poderia ele querer esconder? Eu diria que mais uma vez o nosso presidente só se lembra de fazer negócios à última da hora e que como chegou tarde, o jogador já recebeu propostas melhores e já não quer assinar por nós, logo diz que é muito dinheiro, como quem atira areia para os nossos olhos. Pois bem, não é preciso tirar nenhum curso para se saber, que quando os melhores jogadores não te interessam, o resultado só pode ser um...mais um ano de maus resultados.
    Peço ao senhor luis cirilo que se empenhem ao máximo para retirar este homem da frente do vitória o mais depressa possível e nas assembleias que tragam estes podres todos ao de cima!

    João Teixeira

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  8. Agora respondendo ao comentário do senhor Mcnuno, eu também critico severamente os vitorianos que votaram novamente no EM, porque sei perfeitamente que se fosse agora já não votavam. Mas quem tem medo de arriscar não ganha nada...isso já eu sei à muito, mas parece que aqui preferem continuar mal, que arriscar ficar muito melhor..

    João Teixeira

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  9. Caro Anónimo:
    Tem sido noticia em todos os jornais.
    Caro Sá:
    Um clube desportivo não pode funcionar numa lógica politica de governo/oposição.
    Houve eleições,os sócios escolheram,quem ganhou dirige o clube e quem perdeu não tem direitos especiais por ter concorrido.
    Agora é evidente que a Lista A acabou no dias das eleições.
    Os seus elementos,enquanto vitorianos,certamente que vão acompanhar de perto o andamento do clube.
    E o cumprimentos das promessas eleitorais.
    Nomeadamente quanto á equipa de futebol.
    Caro Joao Teixeira:
    Concordo com a sua análise.
    E certamente que nas assembleias gerais esses e outros assuntos serão focados.
    Quanto a tirar de lá a direcção penso que isso só poderá ser feito por quem os pôs lá.
    OS sócios.
    E salvo circunstâncias excepcionais,que não desejo mas admito possiveis,os mandatos devem ser cumpridos.
    Tal como as promessas.

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