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terça-feira, dezembro 08, 2009

"Colaboradores mediocres são sinal de fragilidade"

Li,e não resisti a transcrever,este notável artigo de opinião publicado hoje no jornal i.
Para ler,reflectir e compreender.
Depois Falamos
É impressionante ver a transformação de algumas pessoas de condição modesta quando atingem posições importantes em termos de fama, de riqueza e de poder. Ainda hoje recordo um contínuo que todos os dias vinha ter comigo a lamentar-se da pouca saúde, dos problemas da mulher e dos filhos. Quando passou a contínuo-chefe, deixou de vir ter comigo e começou logo a atormentar os contínuos que dependiam dele.
Tenho visto muitos casos semelhantes entre operários e empregados. Já para não falar do que se passa na política. Antes das eleições, alguns políticos cumprimentam-nos calorosamente e pouco falta para nos abraçarem. Depois, assim que conseguem um cargo, tornam-se inacessíveis. Em alguns casos, é impossível contactá-los por telefone e não respondem a cartas. Com o tempo, acabei por perceber que agem assim por estarem convencidos de que o poder tem por base o medo. No início da carreira, invejam os superiores. Como os temem, para lhes caírem nas boas graças, comportam-se de forma reverencial, servil e até, como acontecia com o meu queixoso contínuo, tentam obter a piedade deles. Contudo, se os observarmos bem, percebemos que, no fundo, são pretensiosos e ávidos.
Não confiam nos colegas, não os respeitam, vêem-nos como adversários. Para alguns, os subordinados não passam de indivíduos invejosos e hostis que se comportam com deferência apenas por medo. É por isso que, após uma promoção, se tornam autoritários e déspotas: apenas se sentem seguros quando os subalternos obedecem a tremer. Quando conquistam cargos ainda mais importantes, todos os outros se tornam rivais. É por essa razão que apenas escolhem colaboradores medíocres que concordam com tudo. Felizmente, também há indivíduos que se comportam de forma oposta e que vêem o poder como uma liderança assente na criatividade, no mérito e na capacidade de obter resultados. E alguns, ao contrário dos primeiros, não sentem receio no início da carreira, porque confiam em si próprios e nas suas capacidades e apenas desejam poder exprimir--se e mostrar aquilo de que são capazes. Quando chegam ao poder, não vêem os seres talentosos como potenciais adversários; pelo contrário, procuram colaboradores com valor e rodeiam-se de especialistas, de homens de cultura e de artistas, a quem pedem opiniões e conselhos. No caso dos primeiros, o principal objectivo é aumentar o poder; os verdadeiros líderes têm ideais, sonhos e rodeiam--se de todos aqueles que desejam partilhá-los, para uma realização conjunta.

Francesco Alberoni in Jornal i
Sociólogo, escritor e jornalista

5 comentários:

  1. Caro Círilo,
    isto é o retrato do Governo???

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  2. Caro Pedro:
    Também.
    Mas aplica-se igualmente aos partidos.
    E não só...

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  3. O povo tem um provérbio, que sintetiza muito bem este magnífico artigo de Alberoni.
    Numa única frase: "Não sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu"...

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  4. Ou outro provérbio «se queres ver o vilão, dá-lhe o bordão».

    Por esta escolhe de mediocres é que o PSD-Lx chegou a notícia na página do crime. Mas em Portugal a perseguição à inteligência é muito antiga.

    Se quiseremos personalizar podemos dizer, como D. Afonso V, que se considerava um grande rei, porque tinha vassalos ricos e poderosos. Temos do outro lado, D. João II, que foi um grande rei, porque assassinou toda a possível oposição/concorrência. Em termos financeiros: ou uma população rica e um estado pobre; ou uma população miserável e um estado rico. Este, para ter apoios 'compra-os'. É ver os escândalos que por aí proliferam -negócios com magestáticas...

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  5. Caro Jose Rialto:
    Tal e qual.
    Caro Anónimo:
    É um bocado assim de facto.
    Embora os padrões porque se regia D.João II fossem um bocado diferentes dos actuais.

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