Pontas de Lança

A convite do Paulo Machado, "velho" amigo das andanças desportivas e jornalisticas,iniciei hoje uma colaboração semanal no diário "Correio do Minho".
A "meias" com o António Duarte, homem sobejamente conhecido no dirigismo desportivo (Sporting de Braga, Liga,AFB) todas as semanas teremos um Vitória de Guimarães-Sporting de Braga nas páginas do jornal.
Como será fácil perceber o assunto central dos(meus) artigos será o Vitória e a temática sempre á volta do desporto.
Aqui fica o primeiro,publicado na edição de hoje.
Aceitam-se criticas e sugestões.
Depois Falamos

UM CAMPEÃO MINHOTO

Nada como começar um novo espaço lançando uma provocação aos leitores.
Podem o Vitória de Guimarães ou o Sporting de Braga serem campeões nacionais ?
Eu acho que sim.
Nunca o foram, é certo, mas o Vitória já lá andou perto duas ou três vezes e o Braga ainda no tempo em que era treinado por Jesualdo Ferreira deu sinais claros de que poderia lá chegar.
Para isso, para podermos ter um clube médio a disputar e ganhar o titulo que será então preciso fazer ?
Desde logo acreditar que é possível.
Olhar para Espanha e perceber como o Corunha, o Atlético de Bilbau,a Real Sociedade (para já não falar de Atlético de Madrid ou Valência) conseguiram ganhar campeonatos perante as superpotências Real Madrid e Barcelona.
Ou, em Itália, o Nápoles, a Lázio ou a Sampdória.
Creio que o segredo não está em grandes orçamentos nem na aquisição de grandes vedetas que em boa verdade não estão ao alcance de Vitória e Braga.
A não ser por sorte ou desleixo dos chamados “grandes”..
Creio que essa possibilidade passa por factores de ordem interna e externa aos dois clubes.
Ordem interna que só deles depende e ordem externa que infelizmente depende de outros factores e que é aquela que explica a razão porque até hoje ainda não foi possível alcançar esse sonho.
Ordem interna:
Sendo certo que Vitória e Braga nunca poderão competir em termos orçamentais com os outros três podem ainda assim potenciar o crescimento dos respectivos orçamentos (especialmente das receitas) para valores que permitam, ao menos, competirem num plano de relativa igualdade.
Isso passa por um marketing agressivo , pela captação de novos sócios, pela obtenção de receitas publicitárias mais substanciais, pelo potenciar o aproveitamento dos respectivos estádios para uma utilização mais frequente do que um jogo de 15 em 15 dias.
Passa também, na vertente da captação de sócios, pelo permitir ás pessoas terem outras vantagens em serem associados do que a simples entrada no estádio.
Hoje ir ao futebol é caro.
Os bilhetes, as deslocações, as refeições .
É preciso os clubes serem mais imaginativos nas contrapartidas que dão aos sócios.
Conheço menos bem a realidade do Sporting de Braga mas o Vitória,com 31.000 sócios pagantes e 20.000 lugares anuais vendidos está no caminho certo em termos de envolvência humana da equipa.
Em Guimarães, e bastas vezes fora(especialmente em períodos de empolgamento), o Vitória joga perante uma maioria de adeptos seus.
E quantas vezes isso faz a diferença.
Mas um campeão minhoto passa também por outras vertentes.
Aposta na formação, séria e continuada, de molde a tornar os clubes pouco dependentes de contratações estrangeiras ,de empresários, ou de “alianças” duvidosas com aqueles cujos lugares ambicionamos ocupar.
Passa pela construção de planteis coesos, ambiciosos e compostos por jogadores que entendam essa filosofia de conquista que os dois clubes devem ter e não apenas encarem a passagem por Guimarães e Braga como um patamar de passagem para Porto, Benfica ou Sporting.
Devem ambicionar, isso sim, partirem do Minho para Itália, Espanha ou Inglaterra.
Passa, finalmente em termos internos, pela contratação de técnicos que ,também eles sejam ambiciosos, desassombrados e recusem “vassalagens” aos 3 que sabemos.
Hoje, com Manuel Cajuda e Jorge Jesus, os clubes minhotos estão muito bem servidos de treinadores.
Pessoalmente não os trocaria por Jesualdo Ferreira, PauloBento ou Quique Flores.
Porque nada lhes devem em capacidade, visão técnico/táctica ou metodologias de treino.
Se os dois clubes fizerem bem o trabalho de casa, os tais factores internos, tem boa parte do caminho andado.
Em próximo artigo falaremos dos tais factores externos.