Antes das eleições de Março as coisas estavam claras em termos do que delas podia sair em termos de resultados.
PSD ou PS venceriam as eleições, nenhum teria maioria absoluta e o Chega consolidaria a sua posição de terceiro partido em número de deputados.
Assim foi.
Os dois primeios disputaram até ao último voto o triunfo acabando por vencer a AD (já lá vamos) por curta margem e o Chega cresceu mais do que o esperado alcançando os 50 deputados e ficando numa posição que lhe permitia fazer maioria com o vencedor.
Vamos então à AD que surge como vencedora das eleições.
Foi entendimento do PSD que uma coligação pré eleitoral com o CDS, reeditando velhos tempos e velhas denominações, seria vantajosa em termos de abrangência , captação de votos e usufruto da vantagem que as coligações tem em termos de método de Hondt e foi entendimento do CDS aceitar essa coligação de braços abertos porque sem ela corria o muito sério risco de continuar fora do parlamento.
Na altura entendi e escrevi que era a melhor solução pela razão de aproveitar o sistema eleitoral mas hoje fazendo um balanço do que as eleições foram e do que de lá para cá se passou jão não sou exactamente da mesma opinião porque considero que o PSD sozinho teria provavelmente conseguido melhor resultado do que aqueles que conseguiu em coligação.
O PSD deu ao CDS dois deputados permitindo o seu regresso ao parlamento, deu-lhe um ministro e
dois secretários de estado mais respectivos assessores e em troca recebeu para a coligação dois bons deputados (Paulo Núncio e João Almeida) , um resultado eleitoral aquém do esperado dado que a coligação não foi tão mobilizadora quanto o esperado e ainda alguns embaraços oriundos do ministro do CDS e de declarações públicas deste desde Olivença à eleição do PAR.
Não foi bom negócio para o PSD embora seja fácil dizê-lo agora e mais difícil prevê-lo antes das eleições.
Seja como for o PSD/AD sabia duas coisas antes do acto eleitoral.
Uma era que não tinha maioria e a outra que para poder governar teria de contar com o apoio do Chega ou a condescendência do PS enquanto este a considerasse vantajosa para si próprio.
E aí a AD arriscou bastante.
Porque podendo fazer maioria à direita através de um acordo parlamentar ou até de uma coligação governamental com o Chega decidiu bater essa porta com estrondo (o famoso "não é não") e pôr todas as fichas num volúvel e inconstante PS actualmente dirigido por burgueses com complexos de esquerda e muito mais propenso a novas geringonças do que a permitir à AD governar.
E se face a tudo que aconteceu depois das eleições, e até a alguns episódios de campanha eleitoral, tenho bastantes dúvidas se o Chega é um parceiro confiável (mas ainda falta fazer a prova definitiva disso) tenho também a absoluta certeza que o PS não o é como nunca o foi em 50 anos de História com uma ou outra rara excepção.
Mas foi o PS a opção que a AD fez por um parceiro preferencial.
Tão preferencial como único porque dificilmente o Chega, pese embora propenso a rápidas mudanças de opinião, aceitará ser uma espécie de pneu sobresselente se num amanha próximo o pneu PS deixar de rolar.
Foi, pois, esta opção pelo PS um arriscar enorme que se permitiu neste OE petiscar uma abstenção socialista é claramente um petisco único porque o PS não voltará a viabilizar um OE da AD e não é descartável que num cenário que agrade às oposições venha a apresentar uma moção de censura ao governo.
A sorte , e sabedoria também, da AD é que se o governo continuar a governar bem, a resolver problemas que o PS em oito anos não foi capaz de resolver, e a consolidar a sua imagem na opinião pública dificilmente haverá um cenário em que interessem eleições antecipadas à oposição e bem pelo contrário podem até interessar é ao governo.
Porque para lá do que dizem, até para não ficarem mal na fotografia, os partidos da oposição sabem que eleições seriam para eles um arriscar que dificilmente lhes permitiria petiscar.
O PS não as ganharia, o Chega perderia deputados, a IL continuaria a marcar passo, BE e PCP ficariam mais próximos da extinção, o Livre seria uma IL de extrema esquerda no marcar passo e o PAN deixaria de constituir a despesa mais inútil de todo o Orçamento de Estado.
E por isso a AD vai continuar a arriscar com a esperança de conseguir petiscar.
Para o próximo ano as coisas estarão garantidas.
Depois logo se vê.
De resto já Francisco Sá Carneiro dizia que " política sem risco é uma chatice e sem ética uma vergonha".
Não falte nunca a ética porque o risco, esse, está garantido.
Mas até pode compensar.
Espero que sim.
Depois Falamos.
Sem comentários:
Enviar um comentário