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sexta-feira, outubro 18, 2024

PSD : Arriscar e Petiscar

Antes das eleições de Março as coisas estavam claras em termos do que delas podia sair em termos de resultados.
PSD ou PS venceriam as eleições, nenhum teria maioria absoluta e o Chega consolidaria a sua posição de terceiro partido em número de deputados.
Assim foi.
Os dois primeios disputaram até ao último voto o triunfo acabando por vencer a AD (já lá vamos) por curta margem e o Chega cresceu mais do que o esperado alcançando os 50 deputados e ficando numa posição que lhe permitia fazer maioria com o vencedor.
Vamos então à AD que surge como vencedora das eleições.
Foi entendimento do PSD que uma coligação pré eleitoral com o CDS, reeditando velhos tempos e velhas denominações, seria vantajosa em termos de abrangência , captação de votos e usufruto da vantagem que as coligações tem em termos de método de Hondt e foi entendimento do CDS aceitar essa coligação de braços abertos porque sem ela corria o muito sério risco de continuar fora do parlamento.
Na altura entendi e escrevi que era a melhor solução pela razão de aproveitar o sistema eleitoral mas hoje fazendo um balanço do que as eleições foram e do que de lá para cá se passou jão não sou exactamente da mesma opinião porque considero que o PSD sozinho teria provavelmente conseguido melhor resultado do que aqueles que conseguiu em coligação.
O PSD deu ao CDS dois deputados permitindo o seu regresso ao parlamento, deu-lhe um ministro e 
dois secretários de estado mais respectivos assessores e em troca recebeu para a coligação dois bons deputados (Paulo Núncio e João Almeida) , um resultado eleitoral aquém do esperado dado que a coligação não foi tão mobilizadora quanto o esperado e ainda alguns embaraços oriundos do ministro do CDS e de declarações públicas deste desde Olivença à eleição do PAR.
Não foi bom negócio para o PSD embora seja fácil dizê-lo agora e mais difícil prevê-lo antes das eleições.
Seja como for o PSD/AD sabia duas coisas antes do acto eleitoral.
Uma era que não tinha maioria e a outra que para poder governar teria de contar com o apoio do Chega ou a condescendência do PS enquanto este a considerasse vantajosa para si próprio.
E aí a AD arriscou bastante.
Porque podendo fazer maioria à direita através de um acordo parlamentar ou até de uma coligação governamental  com o Chega decidiu bater essa porta com estrondo (o famoso "não é não") e pôr todas as fichas num volúvel e inconstante PS actualmente dirigido por burgueses com complexos de esquerda e muito mais propenso a novas geringonças do que a permitir à AD governar.
E se face a tudo que aconteceu depois das eleições, e até a alguns episódios de campanha eleitoral, tenho bastantes dúvidas se o Chega é um parceiro confiável (mas ainda falta fazer a prova definitiva disso) tenho também  a absoluta certeza que o PS não o é como nunca o foi em 50 anos de História com uma ou outra rara excepção.
Mas foi o PS a opção que a AD fez por um parceiro preferencial.
Tão preferencial como único porque dificilmente o Chega, pese embora propenso a rápidas mudanças de opinião, aceitará ser uma espécie de pneu sobresselente se num amanha próximo o pneu PS deixar de rolar.
Foi, pois, esta opção pelo PS um arriscar enorme que se permitiu neste OE petiscar uma abstenção socialista é claramente um petisco único porque o PS não voltará a viabilizar um OE da AD e não é descartável que num cenário que agrade às oposições venha a apresentar uma moção de censura ao governo.
A sorte , e sabedoria também, da AD é que se o governo continuar a governar bem, a resolver problemas que o PS em oito anos não foi capaz de resolver, e a consolidar a sua imagem na opinião pública dificilmente haverá um cenário em que interessem eleições antecipadas à oposição e bem pelo contrário podem até interessar é ao governo.
Porque para lá do que dizem, até para não ficarem mal na fotografia, os partidos da oposição sabem que eleições seriam para eles um arriscar que dificilmente lhes permitiria petiscar.
O PS não as ganharia, o Chega perderia deputados, a IL continuaria a marcar passo, BE e PCP ficariam mais próximos da  extinção, o Livre seria uma IL de extrema esquerda no marcar passo e o PAN deixaria de constituir a despesa mais inútil de todo o Orçamento de Estado.
E por isso a AD  vai continuar a arriscar com a esperança de conseguir petiscar.
Para o próximo ano as coisas estarão garantidas. 
Depois logo se vê.
De resto já Francisco Sá Carneiro dizia que " política sem risco é uma chatice e sem ética uma vergonha".
Não falte nunca a ética porque o risco, esse, está garantido.
Mas até pode compensar.
Espero que sim.
Depois Falamos.

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