A propósito do enigma que se mantém quanto à aprovação do Orçamento de Estado para 2025 deixarei em três textos diferentes alguns apontamentos sobre o papel desempenhado neste assunto pelos partidos/coligações que interessam, ou seja os que o podem aprovar ou chumbar, porque os restantes são com todo o respeito pela IL e nenhum por BE, PCP , Livre e PAN inuteis nessa equação.
Começando pelo Chega aqui deixo a minha visão em dez pontos:
1) Considero o Chega um partido da direita radical mas não de extrema direita, e muito menos fascista como alguns utilizadores de cassetes avariadas pelo tempo gostam de o apodar, dado sempre ter manifestado respeito pelo regime democrático, sendo europeista, no que difere claramente da extrema direita europeia, e defendendo a presença de Portugal na NATO ao contrário dos partidos da extrema esquerda nacional que uns são lacaios de Putin e admiradores de Maduro e outros adoradores dos terroristas do Hamas e do Hezbollah.
2) No que toca a ao OE creio que o Chega cometeu vários erros. O primeiro foi falar demais e contradizendo-se. Se tivesse mantido a sua posição final reservada manteria em aberto várias opções e a divulgação agora da sua decisão teria muito mais impacto e condicionaria ainda mais o governo e o PS. Ou seja o anuncio do voto contra antes de se saber a posição do PS é estrategicamente bem jogado mas muito prejudicado pelos ziguezagues deste último mês.
3) Falar demais é um erro que o Chega partilha com o BE.
Porque cansa os ouvintes e mais do que os cansar confunde-os com a sucessão de posições diversas.
4) Percebe-se que um partido com apenas um deputado, ou quatro ou cinco, tenha necessidade de aproveitar todas as ocasões para aparecer a passar a sua mensagem. E no tempo em que André Ventura era deputado único fez isso com acerto e capitalizou da forma que se vê. Quando passaram para doze ainda se perceberia, embora menos, mas com cinquente deputados era mais que tempo de o Chega perceber que o estatuto mudou.
Deixou de ser um partido de protesto para ser um partido de poder.
E se o partido de protesto tem de aparecer muito o partido de poder tem de aparecer bem.
E o Chega não está a conseguir fazer essa transição.
5) Sobre o OE o Chega teve, pelo menos estas posições:
- Não negociava porque estava fora do processo.
- Anunciou o voto contra.
- Admitiu voto a favor se houvesse um referendo à imigração.
- Anunciou que sem referendo votava contra.
- Voltou a admitir o voto a favor se o PS votasse contra em nome da estabilidade.
-Anunciou o irrevogável voto contra.
Lembro-me destas posições, não garanto que não haja mais, mas creio que friamente até os dirigentes do Chega concluirão que elas não só em nada contribuiram para a credibilidade do partido como até o fizeram cair no rídiculo com a patética ideia do referendo.
6) Depois a novela das reuniões e supostas promessas do primeiro ministro é outro episódio negativo.
Não ponho e causa que as reuniões se tenham realizado mas tenho as maiores dúvidas de que Luis Montengro tenha feito as promessas que André Ventura diz ter ouvido.
Mas se fez e AV tem provas então que as mostre de uma vez por todas em vez de andar a falar de processos judiciais que todos sabemos que não acontecerão. E apresentando as provas que diz ter então André Ventura deixará de estar reduzido a uma nova versão do famoso boneco do Contra Informação "Octávio Malvado " (Octávio Machado) e a sua famosa frase ..." vocês sabem do que é que eu estou a falar..."
7) A afirmação de um partido, a sua implantação no país e os sucessos eleitorais assentam muito na credibilidade e confiança que esse partido e os seus dirigentes consigam transmitir aos cidadãos/eleitores e a forma como o Chega geriu todo este processo foram em boa parte a antitese disso com tantas e tão diversas posições sobre um mesmo assunto.
8) O espectacular e meritório crescimento do Chega de um para doze e de doze para cinquanta deputados em apenas cinco anos é uma realidade a que o partido parece não se ter ainda adaptado totalmente. E por isso comete erros admissiveis num partido de protesto mas inacreditáveis num partido que legitimamente ainda quer crescer mais e ser poder. A eleição do Presidente da Assembleia da República foi o maior até à data. Porque deram de borla à esquerda o que ela nunca teria face aos resultados eleitorais e à representação dos partidos.
É verdade que o presidente do CDS e um VP do PSD também ajudaram á "festa" mentedo-se onde não eram chamados mas nada que um simples telefonema com quem decidia, o presidente do PSD, não tivesse resolvido.
Faltou maturidade e sensatez.
9) Sou dos que posso falar desse assunto com alguma moral porque sempre achei "o não é não" uma opção errada que estreitou o caminho ao governo e facilitou a vida ao PS como se tem visto desde Março. E continuo a pensar assim mesmo com este processo de aprovação do OE a mostrar um Chega pouco confiável em termos de coerência de posições. Mas também considero que o Chega devia-se ter empenhado em mostrar ao lider do PSD e primeiro ministro que estava errado e não em viver no que parece um permanente amuo.
10) E eis-nos perante a questão nuclear. O Chega é um partido que mereça a confiança do PSD para eventuais entendimentos futuros ?
Digo com toda a clareza que o seu comportamento desde as eleições não tem sido indutor disso e tem-se esforçado por dar razão ao "não é não".
Mas dito isto também não deixo de dizer que alguns ataques que lhe tem sido desferidos por dirigentes do PSD me parecem excessivos porque por muitos defeitos que o Chega tenha há um que não tem de certeza. Nunca impediu o PSD de liderar um governo e governas depois de ter ganho eleições!
Outro partido de poder não poderá dizer o mesmo.
E se o Chega com estes ziguezagues se tem revelado merecedor de muito pouca confiança o PS, liderado pelo esquerdista que arquitectou a geringonça e que está rodeado na direção do partido por bloquistas envergonhados, não merece confiança rigorasamente nenhuma.
Não merece hoje nem mereceu nunca com raríssimas excepções.
E quem quiser recordar os 50 anos de democracia do ponto de vista do PSD sabe bem que assim é.
Depois Falamos.
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